Discurso do presidente Lula no encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Colômbia
Primeiro, eu quero cumprimentar os empresários brasileiros, as empresárias que se dispuseram a sair do Brasil e participar deste evento organizado por Colômbia e Brasil.
Quero cumprimentar os empresários colombianos que resolveram animar e participar deste evento.
Quero cumprimentar os ministros da Colômbia e as ministras que participaram deste evento.
Cumprimentar os ministros brasileiros e as ministras que vieram comigo.
E quero cumprimentar o companheiro Jorge Viana.
Quero dizer que a Apex foi uma instituição criada por mim no meu primeiro mandato de presidente da República. E tem feito um trabalho extraordinário, muito extraordinário, em todos os eventos que eu tenho participado em qualquer país do mundo.
Quero cumprimentar o companheiro Márcio Elia. O nosso companheiro secretário-executivo do Ministério da Indústria e Comércio. Na verdade, o ministro é o meu vice-presidente, o companheiro Geraldo Alckmin.
Quero cumprimentar o meu querido ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, a quem a cada dia, em cada país que eu visito, aumenta a sua responsabilidade, porque nós vamos ter que trabalhar muito mais para fazer acontecer as coisas que nós queremos que aconteçam nesse Brasil.
Eu tenho dois momentos aqui no meu discurso com o companheiro Petrus: Um, como de praxe, é um discurso formal, escrito, para que eu diga apenas aquilo que é necessário. E o outro é um discurso que eu quero falar diretamente para você, para que os empresários brasileiros, os diplomatas brasileiros, a imprensa brasileira, a imprensa colombiana, saiba o que eu penso sobre integração na América do Sul.
A primeira coisa é que, há 20 anos, tive a satisfação de inaugurar a primeira Rodada de Negócios Brasil-Colômbia, em São Paulo.
Naquele momento, afirmei que, em poucos anos, poderíamos dobrar o comércio bilateral, que era de apenas 847 milhões de dólares.
Hoje nosso intercâmbio é de mais 6 bilhões de dólares.
O Brasil já é o terceiro maior fornecedor colombiano.
Fomos escolhidos como país-homenageado em eventos como a Feira Aeronáutica de Rionegro (julho/23), da Feira de Café, Cacau e Agroturismo de Huila (setembro/23) e da Feira Internacional de Construção, Engenharia, Arquitetura e Desenho de Medellín, no próximo mês de agosto.
Ainda nesta tarde, terei a satisfação de estar na Feira do Livro de Bogotá, onde o Brasil é convidado de honra.
Nossa pauta vem se diversificando, impulsionada pelas complementaridades existentes nos segmentos agroindustrial, automotivo, químico, têxtil e farmacêutico.
Das mais de 60 empresas brasileiras instaladas na Colômbia, 20 são de Tecnologia da Informação e Comunicação e atuam em áreas de ponta.
O estoque de investimentos diretos dos dois países somou quase 7 bilhões de dólares em 2023.
Esses avanços podem ser maiores.
Estamos falando de duas das três economias mais importantes da América do Sul.
Juntos somamos 255 milhões de consumidores.
A vocação para unir o Caribe, o Pacífico e a Amazônia torna a Colômbia um sócio indispensável.
Estamos bem posicionados para fazer frente ao imperativo da transição ecológica e da reindustrialização de nossas economias.
A nova política industrial brasileira se propõe a aumentar a complementaridade com os vizinhos e adensar nossas cadeias produtivas.
Compartilhamos a maior floresta tropical do mundo, uma reserva de biodiversidade incomparável e fonte de conhecimento e tecnologias valiosas.
Fomentar a bioeconomia pressupõe o uso adequado desses recursos, em harmonia com a natureza e com os povos da floresta, como pactuamos na Cúpula da Amazônia em agosto passado.
A Colômbia estará no centro desse debate ao sediar a COP-16 da Biodiversidade em Cáli, no final deste ano.
O uso de energias renováveis é igualmente central para o desenvolvimento sustentável.
Quando participou da Cúpula de Chefes de Estado da América do Sul, o presidente Petro afirmou que “a América do Sul pode ser a Arábia Saudita da energia limpa”.
Ele tem toda a razão.
A maior parte do fluxo de investimentos entre nossos países já se concentra no setor energético.
A Petrobras contribui para o desenvolvimento e a segurança energética da Colômbia há quase meio século e tem investido em pesquisa e desenvolvimento de combustíveis de baixo carbono.
Com foco na COP-30 sobre mudança do clima, em Belém, e no compromisso de caminhar rumo à descarbonização, vamos ampliar os investimentos em energias limpas.
90% da energia elétrica consumida no Brasil tem origem em fontes renováveis.
Desenvolvemos tecnologias eficientes na produção de biocombustíveis e motores “flex” à base de etanol.
A Colômbia tem produção competitiva de cana-de-açúcar e pode produzir biodiesel a partir do óleo de palma.
Os ônibus elétricos que circulam em nossas metrópoles poderiam ser produzidos na América do Sul e não do outro lado do mundo.
As embarcações para navegação em nossos rios também podem ser manufaturadas dentro de uma cadeia regional de valor.
Vamos exportar sustentabilidade!
Faremos isso sem descuidar de pautas tradicionais.
Na área de defesa, não queremos apenas vender aviões ou navios. Nossa proposta é criar parcerias estratégicas, com transferência de tecnologia.
A reativação da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral será fundamental para eliminar entraves.
A criação de um conselho binacional entre a Confederação Nacional da Indústria brasileira e a Associação Nacional de Empresários da Colômbia representa passo adicional nessa direção.
Assinamos acordos que vão dinamizar a cooperação bilateral nas áreas de turismo, promoção comercial, saúde, desenvolvimento agrário, comunicações e conectividade.
Espero que em breve possamos celebrar novos entendimentos no setor automotivo, inclusive em matéria de padrões regulatórios.
A internalização do novo Acordo de Complementação Econômica e do Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos será central para dar segurança jurídica a exportadores e investidores.
O desenvolvimento de infraestruturas comuns é a base para um continente mais próspero e unido.
O novo Programa de Aceleração do Crescimento contempla rotas vitais de integração com nossos vizinhos.
Uma delas prevê integração multimodal entre Manaus e Manta, no Equador, passando por Colômbia e Peru.
Um corredor bioceânico multimodal poderia facilmente conectar Belém e Macapá, no Oceano Atlântico, a Puerto Tumaco, no oceano Pacífico.
A ligação de Letícia e Tabatinga por fibra ótica no marco do programa brasileiro “Norte Conectado” vai integrar nossas regiões de fronteira.
Temos longas distâncias a vencer. Grandes capitais brasileiras como Manaus e Boa Vista estão mais próximas de Bogotá do que de São Paulo.
O voo direto entre nossas capitais, anunciado hoje, ampliará as opções de conexão e contribuirá para destravar o turismo, os negócios e o intercâmbio acadêmico e estudantil.
Senhoras e senhores,
Minha visita representa a renovação de uma parceria fundamental para o futuro da América do Sul.
Colômbia e Brasil trabalham para que os setores público e privado andem juntos e para que nossas economias cresçam e melhorem a vida das pessoas.
O sucesso deste encontro confirma que nossos empreendedores estão plenamente engajados em um projeto de desenvolvimento que garantirá um futuro mais sustentável para todos.
Meus companheiros, amigos e amigas, caro companheiro Petro, amigo do governo da Colômbia. Nós precisamos assumir a responsabilidade de definir que América do Sul nós queremos, que país nós queremos e que política de integração nós queremos. Nós somos um continente colonizado.
A nossa cabeça, historicamente, era voltada de um lado para a Europa onde estavam os colonizadores e do outro lado para a economia mais pujante, sobretudo nos Estados Unidos e América do Sul.
Governos da América do Sul e empresários da América do Sul, de língua espanhola, não acreditavam no Brasil, ou tinham medo do Brasil, tratavam o Brasil como se o Brasil fosse império, que poderia colocar em risco a sobrevivência das empresas ou da política tradicional da América do Sul.
E o Brasil também. O Brasil também ficava de costas para a América do Sul, não olhava para a África e ficava só olhando para a União Europeia e para os Estados Unidos. Todo mundo na expectativa de que de lá, desses lugares mais ricos, é que viriam toda a sabedoria, a inteligência, a cultura e o dinheiro para desenvolver os nossos países.
Eis que, depois de 520 anos de existência, todos nós continuamos pobres. É nesse continente que tem mais desemprego; é nesse continente que, junto com a África, tem mais desnutrição, tem mais fome, tem mais mortalidade infantil e tem menos perspectiva.
E por isso, os Estados Unidos, que deveriam cuidar disso, gerando emprego junto aos seus vizinhos, os Estados Unidos têm uma política de construir um muro para proibir que latino-americanos, à procura de chances de trabalho, na publicidade tão grande que eles fazem, são considerados bandidos.
Pois bem, companheiro Petro, você é o primeiro presidente de esquerda eleito na Colômbia. Eu sou o primeiro operário metalúrgico eleito na Presidência do Brasil. Portanto, nós temos que dizer para a sociedade colombiana, para os países vizinhos nossos e para a sociedade colombiana que política de integração nós queremos fazer para desenvolver a Colômbia e desenvolver o Brasil.
Eu estou convencido, porque já tive a sorte de ter dois mandatos na Presidência da República, e tive a sorte de viver o mais profícuo momento de integração da América do Sul, de 2002 a 2015, quando todos nós tínhamos divergências políticas, mas todos nós tínhamos clareza que, somente em junto, a gente poderia ter nossas indústrias competitivas, a gente poderia ter crescimento econômico, a gente poderia ter política de distribuição de renda, a gente poderia ter mais investimentos nas universidades e a gente poderia gerar mais emprego, que é o que muita gente quer.
Isso foi destruído. Eu só queria dar um dado, companheiro Petro: quando nós chegamos, em 2003, na Presidência da República, o fluxo para toda a América do Sul era menos de R$ 15 bilhões. Hoje está 42, mas poderia ser 60, poderia ser 70, se nós não tivéssemos tanto medo de nós e acreditássemos tanto nos outros.
O que que nós poderemos fazer juntos? Aqui vai para os empresários brasileiros e vai para os empresários colombianos: a Colômbia não é um país qualquer. É um país de 55 milhões de habitantes. É um país com uma pujança cultural extraordinária, é um país com potencial de reserva amazônica extraordinário, é um país que tem um povo politizado.
O que que está faltando para que a gente possa enxergar na Colômbia um parceiro mais virtuoso do que nós enxergamos até agora? O que falta para a Colômbia enxergar o Brasil, sabe, nessa fronteira de mil, seiscentos e quarenta e quatro quilômetros de fronteira, o que falta para a Colômbia compreender que o Brasil pode ser um grande parceiro da Colômbia?
Não apenas na questão ambiental, na questão da Amazônia, mas na questão do desenvolvimento econômico, na questão da parceria das nossas universidades, na questão de parceria científica e tecnológica, na parceria da construção de políticas sociais. O que é que falta?
Nós latinos americanos somos um povo inteligente. Nós não somos mais burro do que nenhum outro ser humano do mundo. Os outros ainda possivelmente sejam menos que nós porque precisam de inteligência artificial. Nós vamos ficar com a nossa mesmo. Vamos fazer o que nós precisamos fazer nesse continente.
Eu quando decidi vim a Colômbia, Petro, eu vim a Colômbia pra fazer um desafio pra você. Depende de você e depende de mim. A gente precisa construir uma parceria estratégica entre Brasil e Colômbia. Os nossos chanceleres e a nossa burocracia da fiscalização precisam se sentar e tentar ver todos os entraves que nós temos que atrapalha a facilitação das nossas negociações.
E mostrar para você e para mim porque é que a coisa está travada. Por que é tão difícil exportar para o Brasil? Por que é tão difícil importar para Colômbia? Por que é tão difícil?
Eu aprendi uma lição de vida extraordinária nos meus mandatos: é que com a América do Sul e com os países da América do Sul, individualmente, a gente tem muitas questões mais fruto comercial do que a gente tem com França, que tem com Itália, que tem com Inglaterra e que tem com outros países, que nós pensamos que são nossos grandes aliados.
Aonde é que nos podemos fazer troca de produtos industrializados, com mão de obra mais especializada? É Entre nós. É descobrir o que é que está atrapalhando isso. É o medo político, é o empresário que não quer que exporte café para o Brasil, ou o empresário que não quer que exporte carro para a Colômbia, ou vice-versa.
A gente não pode imaginar que a gente vai terminar o nosso mandato do tamanho que a gente pegou os países que nós chegamos. Não pode imaginar.
Eu estou convencido que quanto mais forte nós estivermos, mais nós seremos respeitados pelos Estados Unidos, mais nós seremos respeitados pela União Europeia, mais nós seremos respeitados pela China, pela Rússia ou pela Índia.
Não é a subserviência que faz a gente crescer. O que faz a gente crescer é, como diria Celso Amorim, uma posição ativa e altiva para que a gente se faça respeitar no mundo político e no mundo dos negócios.
O que é que os empresários esperam de um grande acordo entre o Brasil e a Colômbia? Primeiro, nós temos que garantir uma coisa que é sagrada na tua vida pessoal, na minha vida pessoal e na nossa vida coletiva. Eu quero estabilidade jurídica de que as coisas que eu fizer vão acontecer e eu não vou ter problema.
Segundo, as pessoas querem estabilidade fiscal. As pessoas querem que as coisas aconteçam sem ninguém fazer nenhuma maluquice à meia-noite ou às duas horas da manhã. As pessoas têm que saber o que vai acontecer.
Terceiro, as pessoas querem estabilidade econômica, que é extremamente importante. É como qualquer um de nós aqui que tiver um dinheiro para depositar no banco, sabe? Por mais socialista que a gente seja, a gente vai escolher qual é o banco que paga mais e qual é o banco que dá mais garantia. A gente não põe o dinheiro em qualquer lugar.
E a terceira coisa é a estabilidade social. Porque, sem isso, a gente também não consegue fazer as outras coisas. O crescimento econômico de um país, o crescimento econômico do empresário, o crescimento econômico de uma cidade tem que estar associado ao crescimento econômico daqueles que trabalham pra ele.
Eu não preciso dizer: quem faz o empresário rico, não é o empresário próprio, são os trabalhadores que trabalham pra ele e os consumidores que compram seus produtos. Então não custa nada repartir um pouco. Melhorar. Fazer aquilo que o presidente da Ford dizia, o Henry Ford dizia, no começo do século passado: “Eu preciso pagar aos trabalhadores que trabalham pra mim um salário justo para que eles possam comprar o produto que eu fabrico”. É simples. É simples.
É compreender uma frase: que muito dinheiro na mão de poucos é concentração de riqueza, aumento de pobreza, aumento de prostituição, aumento de desemprego, aumento de desnutrição, aumento do crime organizado. Mas quando você tem um pouco de dinheiro na mão de todo mundo, aí a gente percebe que as coisas começam a mudar.
E nós, na nossa querida América do Sul, nós, na nossa querida América do Sul, precisamos de uma chance, nós precisamos de uma chance. Não é possível que na América do Sul a gente não tenha nenhuma Holanda, nenhuma Finlândia, nenhuma Noruega, nenhuma Dinamarca. É tudo pobre. É tudo pobre. Passa ano e passa ano. Quando acaba a pobreza, vem o crime organizado. Quando não vem o crime organizado, aumenta a prisão, e quem está na prisão é pobre.
Será possível que a gente não tenha uma chance? Será que Deus não olha para esse continente sul-americano e vê que nós somos bons? E vê que nós somos cuidadosos? Eu acho que o problema está na gente definir o tamanho que a gente quer ser. E a minha proposta aos empresários colombianos e aos empresários brasileiros: vamos parar de ter medo um dos outros. Vamos ter em conta que o Brasil e a Colômbia têm condições de triplicar o nosso fluxo na balança comercial. Triplicar.
Agora, é preciso que a gente se visite mais. É preciso que a gente conheça todos os potenciais industriais da Colômbia. É preciso que a gente saiba qual é a riqueza da cultura colombiana, da ciência, da tecnologia e das universidades.
É preciso que as nossas universidades se juntem para tentar criar uma inteligência artificial sul-americana para a gente não importar inteligência dos outros. É preciso que a gente acredite na gente.
A gente não pode levantar todo dia dizendo: “Eu sou pobre, eu sou pequeno, eu não tenho sorte, eu sou da América do Sul, eu não nasci na América do Norte”. Não, gente.
Agora, Petro, nós não somos mais de um país pobre, de um continente pobre. Nós agora fazemos parte do Sul Global, o que dá uma dimensão de grandeza para nós. Porque nós, nós, se você quiser discutir, sabe, a riqueza da biodiversidade; se você quiser discutir, sabe, a riqueza da concentração de água; se você quiser discutir a riqueza da transição energética; se você quiser discutir a transição do futuro de descarbonização do mundo, quem olhar para o mundo vai ter que olhar para a América do Sul, e que olhar para a América do Sul não pode deixar de ver Colômbia e Brasil, e é por isso que nós precisamos fazer valer aquilo que nós temos.
Nós temos uma classe empresarial competitiva, nós temos trabalhadores em muitos lugares bem formados, nós temos universidades de qualidade, nós temos intelectuais bem preparados, o que é que falta para nós?
Companheiros e companheiras, falta decisão política. E eu estou aqui para dizer em nome do Brasil: o Brasil tem responsabilidade, porque o Brasil também é um país pobre. Mas é a maior economia, é a maior população, é a maior produção. Então, o Brasil é quem tem que tomar a iniciativa para conversar com os nossos vizinhos, não querendo hegemonia. Nós queremos construir parceria, oportunidade para todos. Uma política de ganha-ganha. Uma política que não é só exportar para cá. É exportar e comprar. Porque política boa é aquela via de duas mãos, aonde a gente compra e a gente vende e a gente não tem tanto déficit comercial.
Você sabe, companheiro Petro, que o Brasil inclusive tem a responsabilidade de financiar o desenvolvimento dos nossos países da América do Sul, além do seu próprio, que é o financiamento de obras de engenharia. Não é possível a nossa carência de infraestrutura. Não é possível que um país do tamanho do Brasil, que a gente não tenha condições de criar um banco nosso, um banco da América do Sul, um banco para financiar o desenvolvimento. Não é possível a gente ficar correndo atrás do Banco Mundial toda hora. Nós podemos criar uma coisa nossa, que fale que nem a gente, que pense que nem a gente, que conheça os problemas da gente.
Eu lembro que uma vez eu fui aos Estados Unidos discutir um problema econômico, eu não era presidente, eu era candidato. E um cara ditava regra sobre a política e a economia da Bolívia. Eu falei: “Ô cara,você já foi na Bolívia? Você sabe como é que vive aquele povo? Você sabe as condições desumanas que vive aquele povo mais pobre?”. Não, o cara não sabia, mas o cara dava palpite sobre a Bolívia. E o cara sabia que a Bolívia era pobre porque tinha corrupção.
Será que é verdade? Tem muitos países ricos que, ao invés de ajudar os países pobres, dão o dinheiro para ONG deles, porque não dão o dinheiro diretamente para o governo por causa da corrupção. Foi assim no Haiti. É por isso que, há 15 anos atrás, o único país que deu dinheiro vivo para o Haiti foi o Brasil, que deu 40 milhões de dólares. Ninguém deu, ninguém. Então, nós precisamos mudar. Quando uma pessoa chega à minha idade, Petro, eu não tenho mais o meu longo prazo, apesar de eu querer viver 120 anos, o meu longo prazo é um longo prazo curto.
Por isso eu não tenho tempo de ficar teorizando as coisas. Eu sou um cidadão muito prático, porque as coisas não acontecem do jeito que a gente quer. A máquina administrativa de um país, a máquina administrativa de uma cidade, ela não acompanha o desejo político do presidente. Não acompanha. Por mais bondoso que seja o presidente, por mais compromissado que seja o presidente, entre ele anunciar uma coisa e aquela coisa acontecer, leva meses.
Às vezes, vocês chamam o ministro para perguntar: “E aí, quando é que nós vamos inaugurar?”. “Ah, nem começou, presidente, porque parou não sei aonde, porque parou não sei aonde”. Eu vim aqui em Letícia em agosto e prometi que a gente ia fazer fibra óptica em Letícia. Eu pensei que estava pronto, mas não estava, fica pronto só em maio. Então, Petro, nós não temos muito tempo. A minha proposta para você e para os nossos ministros é que a gente vai ter que trabalhar um pouco mais.
A gente vai ter que conversar um pouco mais, a gente vai ter que colocar as nossas universidades para conversar, a gente vai colocar o Instituto Fiocruz lá no Brasil e o Ministério da Saúde para conversar mais com a Colômbia e com os institutos de pesquisa da Colômbia. A gente vai ter que discutir porque que a Colômbia, que é um país com um potencial extraordinário, um presidente como você, que quer descarbonizar a economia colombiana, porque que não está mudando o combustível que se usa.
O Brasil tem etanol desde 1974, portanto, o Brasil tem carro que anda só a etanol, meio a meio, 30%, 40%. A Colômbia pode dar esse salto de qualidade e o Brasil está disposto a participar com vocês. O Brasil está disposto a compartilhar com vocês, o Brasil está disposto a fazer parceria com vocês. Os nossos bancos estão dispostos a fazer parceria com vocês e, sobretudo, vocês, empresários.
Não precisa ninguém querer comprar o outro. Não precisa comprar. Se associe, se associe, sejam parceiros, para investir aqui, para investir no Brasil, para investir em outro país, porque não é possível. Eu não sei quando, não sei quando, a Colômbia vai ter chance de eleger um presidente compromissado com o povo pobre e com o povo trabalhador como você e respeitoso com a classe empresarial, porque os empresários têm que acreditar que ninguém é contra empresário. O que nós queremos apenas é que a coisa chegue um pouco repartida. Quem trabalha tem valor.
Temos que ter a chance. O que é que é o estado de bem-estar social da Europa? O que que é o estado? O que é que dá tranquilidade à Europa? Dava tranquilidade, porque agora não dá mais. Já teve duas guerras mundiais. Então, nós precisamos dar tranquilidade ao nosso povo. Nós temos, na questão da transição energética, uma oportunidade extraordinária.
Nós temos, na questão da exploração de minerais críticos, uma oportunidade extraordinária, não para exportar, mas para trazer os empresários para vir produzir aqui no seu país, no nosso país.
Por isso, companheiro Petro, eu quero lhe dizer que estou totalmente aberto. Já falei para o seu chanceler e para o meu chanceler que eles precisam conversar, tirar todos os obstáculos, fazer reunião com empresários no Brasil, fazer reunião com empresários na Colômbia, destravar toda a burocracia que atrapalha para investimento, para importação, para exportação, para ver se um dia a gente se transforma numa nação rica, numa nação poderosa, numa nação que não fique precisando de favor da nação mais rica. É só isso, Petro, é só isso que eu acho que nós temos que fazer.
Eu só quero que você saiba que essa minha vinda à Colômbia é para dizer isso: nós queremos fazer uma relação estratégica com a Colômbia. E nós queremos discutir com a Colômbia formas de desenvolvimento do Brasil e da Colômbia.
Aqui tem acho que uns 200 empresários brasileiros. Tem mais. Então, é importante que vocês contribuam e ajudem com isso. Ajudem, tentem construir parceria, vamos produzir aquilo que a gente puder produzir aqui. Não é só exportar, vamos produzir aqui também e vamos comprar um pouco daquilo que a gente produz aqui. Isso é política de desenvolvimento, isso é política industrial, isso é política de uma nação que quer ficar soberana.
Então, companheiro Petro, companheiros empresários, peço desculpas por ter me alongado, mas eu quero dizer para vocês. Eu voltei a ser presidente da República do Brasil com o objetivo de fazer alguma coisa diferente do que eu já tinha feito nos oito anos de mandato. Fazer mais e fazer melhor e recuperar a integração da América do Sul, porque a gente nunca esteve tão separado como a gente está. E tem muita gente que voltou a acreditar: “não, eu só vou crescer se eu estiver bem com os Estados Unidos”. Eu lembro no meu país, do tempo que o Cavalo era ministro da Fazenda da Argentina, e o Malan era ministro da Fazenda do Brasil, eu lembro que ficava apostando quem é que era mais amigo do Clinton, quem era mais amigo dos Estados Unidos. “Eu vou dolarizar a economia que vai resolver o problema.”
Você acha que, se dolarizar a economia resolvesse o problema, nós teríamos problema? O problema é nosso, o problema não é da moeda, é nosso.
Então, queridos companheiros, eu peço a vocês, empresários, empresárias,
aos deputados e deputadas, senadores e senadoras, ministros e ministras, convidados e convidadas, falta só a gente acreditar em nós para que nós sejamos, amanhã, melhores do que nós somos hoje.
Boa sorte e muito obrigado a vocês.