Pronunciamento do presidente Lula no lançamento do Plano Juventude Negra Viva
Meus queridos e queridas companheiras de Brasília, da Ceilândia e do Brasil. Meus queridos companheiros ministros de Estado. Companheira Anielle Franco, da Igualdade Racial. Margareth Menezes, da Cultura. Wellington Dias, do Desenvolvimento, da Assistência Social, Família e Combate à Fome. A nossa querida Luciana, ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação. Nossa querida companheira Marina, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Nosso querido André Fufuca, ministro do Esporte. Nosso querido Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania. Nossa querida Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas. Meu querido Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República. Nosso queridos Clécio Luís, governador do Amapá. Senadora Leila Barros, do PDT do Distrito Federal. Eu não vi nem a Leila aqui, mas está aqui o nome dela, sabe, da Leila. Não está aqui. Quero cumprimentar a Benedita da Silva, nossa deputada federal. O Clodoaldo Magalhães; a Dandara Tonantzin, do PT de Minas Gerais. O pastor Henrique Vieira, do PSOL do Rio de Janeiro. Reginaldo Veras, do PV do Distrito Federal. Talíria Petrone, do PSOL do Rio de Janeiro. Valmir Assunção, do PT da Bahia. Companheiro Ronald Luiz dos Santos, secretário Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República. Márcia Lima, secretária de Políticas de Ações Afirmativas, Combate à Superação ao Racismo do Ministério da Igualdade Racial. Deputados distritais Max Maciel, do PSOL; Ricardo Vale, do PT; Gabriel Magno, do PT; Chico Vigilante, do PT; e Fábio Félix, do PSOL. Florbela Fernandes, representante do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil. Jiberlandio Miranda, presidente do Fórum Nacional de Gestores Estaduais de Juventude. Rayane Soares, coordenadora do Programa Jovem de Expressão. Ricardo Andrade, representante dos Movimentos Sociais Negros, Juventude e de Terreiros. E Manuella Mirella, representante do Conselho Nacional de Juventude.
Queridas companheiras e queridos companheiros. Penso que não esqueci ninguém aqui na minha nominata. Queria também dizer para vocês que hoje é um dia muito importante. Hoje é o Dia Internacional das Florestas. Nós, que somos o país que tem a maior quantidade de florestas em pé no planeta Terra, nós temos que ter orgulho do que, dentre outras coisas, o Brasil pode contribuir para salvar o mundo, evitando as queimadas e a derrubada das nossas florestas. Portanto, hoje é um dia importante. Mas também é o Dia Nacional de Valorização dos Povos de Terreiro de Matriz Africana. Parabéns, companheiros.
Bem, eu, antes de vir pra cá, eu estava preocupado e, quando cheguei aqui, falei com a Anielle e falei com o Márcio. Esse é um programa muito complexo, porque é um programa que envolve 18 ministérios. É um programa que tem muitas ações. O nome é pequeno: Plano Juventude Negra Viva. Mas a complexidade da quantidade de ministros envolvidos é muito grande. E eu queria lembrar vocês que, ao fazer um decreto, ao fazer uma lei, ao fazer uma portaria, nada disso é totalmente suficiente se vocês não entenderem, concretamente, para que que serve a política que nós estamos anunciando.
Portanto, vocês serão a nossa televisão, a nossa internet, o nosso rádio, o nosso jornal, em divulgar as coisas que foram anunciadas aqui pelo governo.
Segunda coisa: é importante que os ministros que participam desse programa. Eu detectei, na última reunião do ministério, Marina, que tem muitas políticas, que envolvem muitos ministérios, e eu terminei a reunião preocupado, porque eu preciso saber quem está tomando conta de cada política, porque, se tem muita gente tomando conta e não tem um coordenador para assumir a responsabilidade, a gente pode correr o risco dessas políticas não estarem sendo efetivadas tal como diz o decreto, tal como diz a portaria e tal como diz a lei.
Portanto, é importante, queridos companheiros da juventude, Márcio Macedo, da Secretaria-Geral, Sorriso, da Secretaria da Juventude, companheira Anielle, companheiros ministros, Wellington, todo mundo aqui tem a obrigação de colocar esse programa, Plano de Juventude Negra Viva, no cotidiano do discurso de vocês. Porque se cada um falar apenas aquilo do seu ministério, as pessoas não sabem. Se cada um só falar das suas coisas, do seu ministério, não adianta um programa com 18 ministros.
Cada ministro tem que adotar o Plano Juventude Negra nos seus discursos, em cada cidade, em cada estado, em cada fórum, para as pessoas saberem o que que é. A companheira Anielle, o companheiro Márcio, todo o pessoal envolvido no Programa da Juventude Negra, têm que viajar esse país. Cada cidade desse país. Cada rincão desse país. Para divulgar, para o povo saber que tem um programa, para o povo poder brigar para que o programa atenda seus interesses. Senão, vira um programa natimorto. Foi anunciado, mas não cumpriu com aquilo que é o objetivo do programa.
Não sei se vocês percebem. A responsabilidade de cada uma e de cada um de vocês que está valorizando esse programa é igual o das ministras e dos ministros e igual do presidente da República. Quando a Margareth Menezes for anunciar alguma coisa de cultura, ela tem que falar do Plano Juventude Negra Viva. Quando a companheira Luciana for falar, lá em Campinas, de Tecnologia e Inovação, ela tem que falar do Plano Juventude Negra Viva. Quando o Wellington tiver no lugar que for que ele for falar da política de combate à fome, ele tem que falar do Plano da Juventude. E, assim, vale pra cada um de vocês, porque o programa é transversal, é do governo, não é do ministério. E, portanto, todo mundo tem obrigação.
Quando vocês se reunirem para fazer crítica ao governo, o que é normal… Olha, quando vocês se reunirem, quando vocês se reunirem no grupo de zap de vocês ou em qualquer outro fórum, no bairro que vocês moram, no lugar que vocês dançam, na escola que vocês estudam, no lugar que vocês trabalham, quando vocês se reunirem pra falar mal do Lula, não tem problema, falem mal, mas lembrem de lembrar que nós lançamos o Plano Juventude Negra Viva e que vocês têm a responsabilidade de fazer esse programa dar certo.
Quando, hoje à noite, ou amanhã, qualquer um de vocês for encontrar com a namorada ou com o namorado, pode se encontrar, dar um beijinho, mas depois falar: “Hoje eu fui no lançamento do Plano Juventude Negra Viva”. E explicar para o parceiro o que que é o programa. Porque, se depender da nossa gloriosa imprensa democrática, vocês não saberão do programa. Vai depender muito de vocês. E o ministério e o governo têm que fazer com que as pessoas recebam, aonde moram, o que que é o programa, uma explicação, para que todo mundo entenda o que que nós estamos lançando aqui. Porque, senão, a política não funciona, tá?
Depois de dado esse recado, eu me encarrego de cobrar vocês e vocês se encarregam de cobrar de mim. Eu me encarrego de cobrar dos ministros. E o Márcio Macêdo e a Anielle se encarregam de viajar esse país com a juventude toda negra, branca, parda, mulher, homem, LGBT, todo mundo, para divulgar o programa. Tá? Essa é a primeira coisa que eu queria falar com vocês.
A segunda coisa que eu queria falar com vocês é que, em sua nova temporada, o Programa Sem Censura, da emissora pública TV Brasil, recebeu na semana passada o dramaturgo negro Clayton Nascimento.
Ele foi falar sobre seu monólogo “Macacos”, no qual faz uma análise profunda e comovente do racismo e do lugar reservado aos negros na sociedade. Recomendo que todos assistam esse programa.
Na conversa com a apresentadora do Sem Censura, nossa querida Cissa Guimarães, Clayton lembrou um episódio que viveu certa noite, depois de sair de uma sessão de cinema na cidade de São Paulo.
Enquanto esperava o ônibus na Avenida Paulista para voltar para a moradia estudantil da USP, onde vivia e estudava teatro, foi acusado por um casal branco de ter assaltado um mercadinho.
Não adiantou negar, nem buscar empatia de outras pessoas que estavam ao redor. Naquela quase madrugada, foi espancado e teve seus pertences levados.
A exemplo de tantos artistas negros do Brasil, Clayton transformou a dor em arte. E esse acontecimento, que nos causa tristeza e revolta, o levou a ampliar a pesquisa para o espetáculo “Macacos”.
Também fora dos palcos, essa é a realidade de pessoas negras em todo o Brasil. Uma realidade inaceitável, resultado do racismo estrutural que ofende, machuca e mata, e que o Programa Juventude Viva vem para ajudar a mudar essa realidade.
Queridos companheiros e companheiras,
Todos os dias, pessoas negras – crianças, jovens, adultos e idosos – são vítimas de múltiplas violações de direitos, num contexto de vulnerabilidades que nós, poder público e sociedade, não podemos mais aceitar.
Enquanto estamos aqui reunidos, em algum canto do país há uma pessoa negra sofrendo agressões verbais, físicas, única e exclusivamente por conta da cor de sua pele. Ou pior: confundida com bandido e executada a sangue frio. Ou então vítima de uma bala perdida que, quase sempre, encontra um corpo negro em seu caminho, e que tantas vezes mancha de sangue um uniforme escolar e rouba a alegria e a paz de famílias inteiras no nosso país.
Não podemos achar normal. Não podemos assistir, apáticos, ao extermínio da juventude negra do nosso país. Queremos nossos jovens vivos, com acesso a todas as oportunidades a que eles têm direito.
Queremos um país com mais justiça social, menos desigualdade, e sem nenhum tipo de discriminação, seja de raça, gênero, orientação sexual ou qualquer outro tipo.
O racismo e suas consequências perversas, que nossa sociedade resiste tanto a reconhecer, se revela todos os dias, nos mais diversos ambientes.
Em programas de TV, nas empresas, nas escolas, nos espaços de lazer, nos estádios de futebol e também nas ruas.
Nós, todo sábado, todo domingo, assistimos um dos jogadores de futebol brasileiro mais importante do mundo, que joga no time mais importante do mundo, o Real Madrid, o jovem Vini Jr., ser acusado, difamado e achincalhado dentro dos estádios na Espanha, que é um país considerado rico, um país considerado civilizado, mas que a questão do racismo ainda parece que não saiu da cabeça de uma sociedade branca, que tem a ideia fixa de que a supremacia de tudo é branca e que o negro é cidadão de segunda classe. Quando a gente olhar para o ser humano, seja mulher ou homem, seja negro, branco ou pardo, a gente não está vendo uma cor, a gente está vendo um ser humano, que tem coração, que tem sentimento, que tem desejo, que tem vontade e que quer viver dignamente e, por isso, precisa ser respeitado.
Não por acaso, é preta a cor da maioria dos encarcerados no país. Muitos deles posteriormente declarados inocentes, mas para sempre marcados pelo preconceito e pela dor que só quem é vítima reconhece.
Desde sempre é assim, herança trágica de três séculos de escravidão. A diferença é que nesses últimos anos, mais do que nunca, o povo negro do nosso querido Brasil decidiu levantar a cabeça e dizer “basta”.
O Plano que estamos apresentando hoje é mais do que um compromisso de avançar na execução de políticas que enfrentem as vulnerabilidades sociais e a violência que dizima nossa juventude.
O que nós estamos apresentando são ações concretas para aperfeiçoar o que já foi feito até aqui. Para assegurar que a juventude negra viva em plenitude, sem estar sempre exposta a carências, violências e injustiças.
Que tenha acesso a educação, saúde, cultura, segurança, lazer, emprego de qualidade, remuneração justa e todas as oportunidades para viver melhor, com mais dignidade.
As ações do Plano Juventude Negra Viva convergem para todos esses objetivos. São ações essenciais para a proteção da vida, a exemplo do Programa Nacional das Câmeras Corporais e o Pronasci Juventude, que eu não sei por que que a nossa companheira não está aqui.
Tenho muito orgulho de ter sido o presidente que, junto com a companheira Dilma Rousseff, mais fez pela inclusão dos jovens negros. Criamos, por exemplo, as cotas no ensino superior, que mudaram a cara e a cor da universidade brasileira, e deram aos jovens negros a oportunidade de ocuparem cada vez mais espaços na sociedade.
E eles provaram que só precisavam de uma oportunidade, e hoje são professores universitários, mestres, doutores, engenheiros, arquitetos, médicos, advogados, empresários, diretores de televisão e de cinema.
Avançamos muito. Avançamos muito. Em vez de esperar passivamente, a juventude negra tomou a frente e trabalhou fortemente na formulação do Plano que hoje nós estamos apresentando, depois de um processo participativo que, segundo os organizadores, ouviu aproximadamente seis mil jovens negos.
Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Precisamos de cada vez mais negros ocupando espaços de poder. Procuradores, juízes, ministros dos tribunais superiores, servidores públicos de primeiro escalão, deputados, senadores, ministros e, porque não dizer, até um presidente da República pode, amanhã, vir a ser um negro. E quem sabe, quem sabe, esse presidente pode estar aqui nesse plenário. Pode ser um de vocês, porque eu quero terminar dando um conselho à juventude que, muitas vezes, é rebelde. Muitas vezes, reivindica demais e reivindica corretamente as coisas que precisam ser feitas. Mas eu queria dizer para vocês uma coisa.
Tem uma coisa que vocês não podem desistir: é da família de vocês. Tem outra coisa que vocês não podem desistir: é do sonho de vocês. Porque, se a gente deixa de sonhar, a gente deixa de acreditar. E se a gente não sonha e não acredita, a gente não realiza. A gente, ao invés de ser tudo, a gente vai virar quase nada. Então é importante. E a família é importante, uma família que vive em harmonia, uma família que pai respeita mãe, que mãe respeita mãe, que pai e mãe tratam os filhos com respeito, sem precisar gritar, sem xingar, sem bater, essa família vive melhor do que uma família que tem problema dentro de casa, qualquer que seja.
Então eu queria dizer para vocês. A terceira coisa que vocês não podem desistir é da política. Por que que vocês não podem desistir da política? Veja, normalmente, você, às vezes, acorda de manhã, fica nervoso porque as coisas não estão dando certo, as coisas não aconteceram para você, e você começa a dizer: “Não, porque esse Lula não presta”. “Porque esses deputados não prestam”. “Porque esses ministros não prestam”. “Porque eles não fazem nada”. “Porque eles só roubam e eles não trabalham”. Tem dias que vocês acordam assim. E eu sei, porque eu já acordei assim muito tempo, já fui jovem, já fui adolescente, já fui criança e hoje sou um jovem maduro, de cabelos brancos. Então deixa eu dizer para vocês, para vocês nunca esquecerem: quando vocês levantarem, de manhã, que tiver brigado com a namorada, ou a namorada arrumou outro, ou você quer trocar a namorada, ou brigou dentro de casa porque o dinheiro está curto. E você estiver puto com a política, puto com a política, que você não acreditar em ninguém aqui, que não acredita no Lula, não acredita nos deputados distritais, não acredita em ninguém. Mesmo quando você tiver assim, não desacredite na política, porque o político honesto, o político trabalhador, o político decente, o político inteligente que você deseja, possivelmente, esteja dentro de você. Então assuma a sua responsabilidade política e seja um político que você quer que o Brasil tenha.
Se você assumir a sua tarefa, você percebe que você pode chegar lá. Eu digo sempre para motivo de motivação a vocês: eu sou um cara que saí de Pernambuco com 7 anos de idade, com 8 irmãos agarrados no rabo da saia, para não morrer de fome. Eu sou um cara que só tenho o diploma primário e um curso técnico. Agora, se eu, que saí com 7 anos para não morrer de fome, que não consegui ter um curso universitário, cheguei à Presidência da República, imagine o que vocês podem ser na vida, se vocês quiserem, se vocês acreditarem, se vocês não desanimarem e se vocês não desistirem nunca, porque o nosso lema, mesmo quando a gente acorda em um dia ruim, é dizer: “Eu sou brasileiro” (falha na transmissão).
Beijo no coração, parabéns por esse programa Plano da Juventude Negra Viva. E um abraço!