Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de pagamento da primeira parcela do Programa Pé-de-Meia
Bom, primeiro, eu queria dizer para vocês, companheiro Jaques Wagner, nosso líder no Senado; companheiros deputados aqui presentes; ministros, Márcio (Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República), Rui Costa (Casa Civil); nosso querido vice-governador da Bahia (Geraldo Júnior) que está aqui representando Jerônimo (Rodrigues, governador da Bahia); deputados federais; companheiras que participam do Ministério da Educação; possivelmente pais e mães de vocês; companheiros e companheiras; jovens, meninos e meninas que vão participar desse Pé-de-Meia.
Vocês sabem que o Brasil tem uma eterna dívida com a educação brasileira. A gente nunca aprendeu na escola que, possivelmente, o Brasil tenha sido o último país do mundo a ter uma universidade federal. Eu digo sempre — as pessoas, muitas vezes, não gostam de ouvir — que a elite econômica e política que dirigiu esse país durante 500 anos nunca gostou que o povo brasileiro estudasse, porque o filho de rico ia estudar lá fora, na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Espanha, na Alemanha, e o filho do pobre ficava aqui, porque o lema era que o filho do pobre tinha que trabalhar, trabalhar e trabalhar. Isso com o tempo foi mudando, nós tivemos muitos educadores brasileiros que marcaram história brigando para que a gente tivesse uma evolução na educação brasileira. Alguns foram presos, outros desapareceram, o mais famoso de todos eles é o Paulo Freire, que vocês já ouviram falar.
Bem, nós temos uma preocupação, e o Camilo (Santana, ministro da Educação), como governador do Estado do Ceará, foi um dos governos que mais conseguiu resultados positivos na educação, sobretudo no ensino fundamental. Eu não sabia, quando eu cheguei na presidência em 2003, que existia uma coisa chamada Olimpíada da Matemática. E essa Olimpíada da Matemática era feita apenas nas escolas privadas, não tinha escola pública fazendo Olimpíada da Matemática. Na época, o Tarso Genro era ministro da Educação. Nós fizemos uma reunião com a professora que era presidente do Instituto de Matemática Aplicada, a Suely Druck, e ela me apresentou os alunos que ganharam medalha de ouro, e nós, então, ousamos tomar a decisão de que a gente iria fazer a Olimpíada da Matemática para os alunos de escola pública.
Houve muita gente, muita gente mesmo, que dizia que era uma bobagem querer levar a Olimpíada da Matemática para a escola pública, porque os alunos não teriam disposição de fazer as Olimpíadas. Em 2005, nós tivemos a coragem de fazer a primeira inscrição das Olimpíadas. Qual foi a novidade? 10 milhões de crianças se inscreveram para fazer a primeira Olimpíada da Matemática. Em 2006, 14 milhões de crianças se inscreveram. Quando eu deixei a presidência em 2010, tinha 18 milhões de meninos e meninas se inscrevendo nas Olimpíadas da Matemática, que passou a ser a maior Olimpíada da Matemática do mundo. A maior até então era a Rússia, que tinha 1,2 milhão de alunos. Nós fomos para 18 milhões de alunos. De lá para cá, não parou mais.
Depois, nós tivemos vontade de fazer Olimpíada de Português, porque eu ouvia dizer que as crianças e os adolescentes tinham mais dificuldade de fazer as provas de português, redação. E eu falava: “Então é preciso a gente fazer uma Olimpíada de Português para que as pessoas fiquem afiadas, sabe, na leitura e que possam ganhar prêmios.”
Fizemos a Olimpíada da Matemática, que eu nem sei se está funcionando mais, Camilo. Nós fizemos em convênio… Não, de matemática está, a de português, nós fizemos duas vezes, eu lembro que a gente tinha um convênio com o Banco Itaú, aquela Neca (Setúbal), diretora do Itaú, que ela cuidava da educação, e depois resolvemos fazer de Ciência. Que era pegar aquelas matérias consideradas mais difíceis e fazer com que o aluno pudesse aprender a gostar da matéria.
Porque tem uma coisa que vocês que estão na escola sabem: uma coisa é a gente ir para a escola com vontade, outra coisa é a gente ter professor que a gente gosta de ouvi-lo falar, ou professora, que a gente adora a aula, tem gente que vai na escola só para ver a aula daquele professor, daquela professora. Outra coisa é você ir numa escola que você não tem vontade de ir, acorda mal humorado, a situação das aulas não são boas, por isso, assustou quando o Camilo apresentou os dados da pesquisa do IBGE que 480 mil pessoas desistiram do ensino médio no ano passado.
Isso é muito grave, porque são meio milhão de adolescentes, na idade mais extraordinária da vida da gente, a idade que a gente mais sonha, a idade que a gente mais tem aspiração, um jovem que desiste de ir na escola, porque tem que ajudar o pai, tem que ajudar no orçamento da família, tem que ajudar a mãe, ou seja, esse jovem está jogando fora a perspectiva de um futuro brilhante, de um futuro promissor, dele fazer uma carreira, sabe, numa universidade, virar uma figura intelectualmente importante, profissionalmente importante.
Então, surgiu a ideia de criar o Pé-de-Meia. Na verdade, Camilo, o Pé-de-Meia, com esse nome, só agora, mas quando a gente descobriu o petróleo do pré-sal, muito de vocês acho que estava engatinhando ou estava no colo da mãe ainda, quando a gente descobriu o petróleo do pré-sal, que a gente foi fazer a regulamentação da lei do petróleo, a gente aprovou que 75% do royalties iria tudo para a educação. Está aqui, está aqui, esse jovem era da UNE (União Nacional dos Estudantes) na época, ajudou muito. Então, a gente aprovou um fundo que era só para investir em educação, depois, quando chegou no Congresso, colocaram saúde, colocaram ciência e tecnologia.
Mas, o dado concreto é que, em 2010, a gente já tinha pensado em criar uma coisa só para melhorar a educação do povo brasileiro, para que a gente deixasse de ser um país atrasado, para que a gente deixasse de ser um país, como ele disse, com 69 milhões de pessoas que não fizeram o ensino técnico, o ensino médio. Ou seja, era preciso, e em algumas regiões do país a coisa era mais grotesca ainda, sobretudo no Nordeste brasileiro e no Norte, muitas crianças desistiam da escola, nem terminavam o ensino fundamental porque tinham que trabalhar, e o ensino médio também desistiu.
Bem, o que nós estamos fazendo é dando o início em algumas coisas importantes. Essa semana foi muito gratificante para mim, essa semana não, esses últimos 15 dias, porque o Camilo anunciou a Escola de Tempo Integral, sabe, para um milhão duzentas e poucas mil crianças, num total de três mil e quatrocentos que a gente quer chegar até o final do ano, isso só nesse governo.
Nós anunciamos há pouco tempo atrás, mais 100 institutos federais, eu sei que alguns de vocês estudam já nos institutos federais, mais 100. E nós agora estamos anunciando — não, estamos anunciando, não, nós agora vamos entregar o primeiro cartãozinho do Pé-de-Meia para vocês. Na verdade, eu pensei que vocês estavam todos com a meia do Pé-de-Meia. E, depois, é o seguinte, um conselho de quem tem um pouco mais de idade do que vocês: tem que lavar essa meia bem lavada para não pegar chulé, sobretudo esses meninos que andam de tênis, que chutam bola, que chutam qualquer coisa, tem que tirar a meia e lavar, e não é esperar a mãe lavar não, é ir para debaixo do chuveiro tomar banho e aproveitar lavar sua meia, porque o Camilo não vai poder distribuir meia todo mês. Essa vocês têm que guardar. Eu não uso meia porque a minha eu queria dar para vocês, mas vocês estão de meia, eu não posso dar a minha.
Mas, então, deixa eu falar, quando se pensou nisso, é para a gente tentar salvar uma parte ou salvar toda a juventude brasileira, dando a vocês a oportunidade de não desistir da escola por causa da ajuda aos familiares. É sagrado, é sagrado para um país, eu tenho certeza que é sagrado para o pai e para a mãe de cada um de vocês, a gente garantir que vocês fiquem na escola.
Que nada, que nada, que nada, gente, e eu peço agora como presidente, como pai, como irmão, como amigo, como companheiro: não desistam nunca. Não desistam, porque a desistência pode ser um caminho sem volta. E, muitas vezes, a desistência leva a gente para um caminho torto, e a escola é o grande lugar em que a gente, além de aprender, a gente vai conviver, sabe, com outras pessoas, trocar ideias, sabe, viver democraticamente, fazer amizade, compartilhar a fraternidade, compartilhar a solidariedade, porque eu, há muito tempo atrás, eu dizia: felicidade é uma coisa que ou a gente reparte ou a gente perde. Porque é muito difícil ser feliz sozinho.
Então, a escola é um lugar extraordinário para vocês viverem em comunhão, para vocês viverem em harmonia, para vocês divergirem, ficar de cara feia, mas depois ficar de cara bonita, não pode brigar para sempre.
E o que nós estamos fazendo é uma experiência, uma experiência, sabe, que é um bom investimento, mas nós ainda temos muita coisa para fazer, muita coisa. Como nós ficamos séculos sem investir na educação, a gente vai ter que fazer muito, muito. E o nosso sonho é fazer com que a escola do ensino fundamental e o segundo grau, que normalmente é da responsabilidade dos governos estaduais, normalmente a responsabilidade do ensino fundamental e ensino médio é dos estados, e o papel do Governo Federal é contribuir para que a gente possa compartilhar com os estados a ajuda necessária para que a escola seja de boa qualidade. É por isso que nós criamos esse programa. É por isso.
Esse programa é um incentivo, um pequeno incentivo, que se vocês souberem, se alguém quiser fazer economia no futuro, já começa sabendo como é que vai guardar o seu dinheirinho, como é que vai aplicar. E quando terminar os três anos de ensino médio, vocês vão estar com o dinheirinho na poupança de vocês, se não gastar, de R$ 9 mil ou um pouco mais. Aí, sim, já dá para começar uma coisa mais forte para garantir o futuro de vocês. E também, se vocês precisarem utilizar os 200 mensais, é para vocês utilizarem — dinheiro não é para a gente ficar olhando ele no banco e a gente passando fome, não, é para comer o dinheiro que a gente tem.
Então, eu queria que vocês, primeiro, batessem uma salva de palma para o nosso ministro Camilo Santana, que é o companheiro… Eu já tive o melhor ministro da educação do Brasil, que foi o Fernando Haddad, e eu digo para o Camilo que ele agora tem a responsabilidade, como ele foi o governador que teve mais sucesso na educação no estado do Ceará, mais sucesso, 40% de todos os alunos que passam no vestibular para fazer o ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, passam no Ceará, 40%.
Ou seja, então pelo fato dele ter tido sucesso na educação do ensino fundamental e no ensino médio, ele foi premiado para ser o ministro da Educação, e agora ele tem a responsabilidade de ser o ministro da Educação, que tem que fazer mais do que o Haddad fez, mais. Não sei se vocês sabem: o Brasil, em 100 anos, de 1909 a 2003, o Brasil construiu 140 institutos federais, em 100 anos. Nós, em menos de 13 anos, nós estamos entregando 782 institutos federais ao povo brasileiro. E nós, que tínhamos apenas 3,5 milhões de estudantes em universidade, passamos para 8,5 milhões.
E nós ainda temos que fazer mais universidade, mais universidade, porque os filhos das pessoas mais humildes, os filhos das pessoas mais humildes, do trabalhador, sabe, das pessoas que ganham menos neste país, têm que ter o direito de ser doutor, tem que ter o direito de formar naquilo que ele quiser.
Eu já sei que aqui tem menina que quer ser médica. Eu já sei que aqui tem gente que quer ser advogado, aqui tem gente que já está sonhando alto e é bom sonhar, porque quando a gente sonha pequeno, a gente acorda e nem lembra do sonho. Sonho esquecido não é sonho, é sofrimento. Sonho bom, é aquele que a gente sonha grande, grande, e vocês podem sonhar o que vocês quiserem e quando acordar lembrar desse sonho e tornar esse sonho uma busca na vida de vocês.
É como se vocês estivessem determinando o próprio destino de vocês. “Eu quero ser. Eu vou ser. Porque eu não desisto nunca”. Esse tem que ser o lema de vocês. “Eu sou brasileiro. Eu sou brasileira. Eu quero vencer na vida. Eu quero ter o que meu pai não teve. Eu quero ter o que minha mãe não teve. Eu quero ser motivo de orgulho para todos aqueles que vivem na minha comunidade, na minha cidade ou no meu país”.
Por isso, parabéns a vocês. Que Deus abençoe a todos vocês. Abençoe a família de vocês. E que vocês se transformem. Se transformem no gênio que a gente quer que seja. Aliás, para falar em gênio, contar uma coisinha para vocês para terminar minha fala. Dia 2 de abril, Camilo e eu, nós vamos ao Rio de Janeiro inaugurar uma faculdade de matemática. Essa faculdade de matemática é um prêmio para os alunos que foram campeões das Olimpíadas de Matemática, aqueles que ganharam medalha de ouro. A gente está fazendo essa faculdade junto à parceria com o Instituto de Matemática Aplicada e a gente vai começar com 100 alunos, no ano seguinte mais 100, no ano seguinte mais 100 e no ano seguinte mais 100. Serão 400 alunos que vão estudar nessa faculdade de matemática, alunos e alunas vão estudar. Vai ter apartamento para morar, vai ter moradia, já estão comprados os apartamentos, já estão mobiliados os apartamentos, os primeiros 100 que chegar já vão viver lá no Centro do Rio de Janeiro.
Por que a gente está fazendo isso? Porque a gente não quer que as pessoas que tenham, sabe, extraordinária genialidade em determinadas coisas, saiam do Brasil para ir trabalhar lá fora, estudar lá fora, a gente quer que vocês fiquem no Brasil, que vocês estudem no Brasil e que sejam gênios do Brasil para ajudar esse país a se transformar numa grande nação.
Então, a gente vai, dia 2, começar essa aula e isso é uma premiação àqueles estudantes e àquelas estudantes que ganharem a medalha de ouro. A gente vai fazer quase que um vestibular, que tem muita gente que ganha. E aí, outra coisa importante que eu vou dizer para terminar. Camilo, a primeira Olimpíada da Matemática que nós ganhamos, — não sei se o Camilo se lembra — um dos alunos que ganhou medalha de ouro era um menino tetraplégico. O pai dele ia levar ele na escola num carrinho de pedreiro, e ele conseguiu ganhar medalha de ouro na Olimpíada da Matemática. Depois, ele ficou famoso, foi dar aula não sei aonde e, hoje, eu não sei o que ele está fazendo.
Mas, esse exemplo é para vocês nunca se esquecerem. Quando a gente tem 15 anos, 16, 14, 17, 18, 19, 20, quando a gente tem a idade que vocês têm, não há nenhuma razão para vocês acharem alguma coisa difícil ou impossível. Não há. Quando você levantar e você falar: “pô, essa coisa está difícil, eu vou desanimar”. Não, você tem que pensar o seguinte: “Eu sou brasileira, eu sou brasileiro e eu não desisto nunca. Eu vou fazer aquilo que eu acredito”, porque quando a gente acredita, a gente realiza o nosso sonho.
Que Deus abençoe vocês, e cadê o cartão para entregar aqui? Eu vou passar a palavra à Caixa. Agora eu vou dar a palavrinha para o cara que vai cuidar do dinheiro de vocês. Olhe bem para a cara dele, para vocês nunca esquecerem. Esse cara vai cuidar do dinheiro que vocês vão receber durante 10 meses e depois vai guardar os mil também que vocês vão ganhar. Ele é o atual presidente da Caixa Econômica Federal, então vocês sabem que o dinheiro de vocês vai estar muito bem guardado, até que vocês precisem utilizar.
Com vocês, o nosso querido presidente da Caixa.