Pronunciamento do presidente Lula no lançamento da Seleção Petrobras Cultural – Novos Eixos
Eu pedi para o Stuckinha (Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual da Presidência) ir buscar o meu óculos, porque eu não sei como é que as pessoas conseguiram ler no escuro. Não sei.
Eu queria dizer para vocês que o momento que estamos vivendo aqui, no MAM, é mais do que a retomada de investimento em cultura feita pela Petrobras. Nós temos que lembrar que nós estamos em uma empresa que não era para ter nascido. Quando se pensou em criar a Petrobras, houve uma parte da elite conservadora brasileira, aqueles que vivem de complexo de vira-lata, de inferioridade, que queria abortar a Petrobras. Hoje, eles são contra o aborto, mas, naquele tempo, eles queria abortar o surgimento de uma empresa de petróleo que pudesse dar a esse país a dignidade e a decência de um país soberano.
A duras penas, a Petrobras foi vivendo e foi sobrevivendo, até que ela cresceu. E, quando ela cresceu, vieram os defensores do Consenso de Washington e resolveram que era preciso mudar o nome da Petrobras. Não era um nome bonito Petrobras. Era preciso criar uma coisa mais para lubrificante do que para uma empresa de petróleo de verdade. Mas o povo conseguiu, tanto no nascimento, como depois, não permitir que a Petrobras mudasse.
E, mais recentemente, houve outra tentativa de abortar a nossa Petrobras. E se criou, em torno da Petrobras, um sem número de calúnias e, por conta disso, eu estava vendo o orgulho dos meninos de camisa cor de abóbora, cor de laranja. E, durante muito tempo, eram ofendidos, porque utilizavam essa camisa nas ruas do Rio de Janeiro. Porque ser da Petrobras era ser confundido com corrupção, com malversação de patrimônio. Mas houve, outra vez, resistência. E cá estamos nós. Da mesma forma que houve a tentativa de se abortar a Lei Rouanet. Quantas vezes se disse, nesse país, de que não era possível ter uma lei que pudesse dar isenção de imposto para investimento na cultura, que cultura é uma coisa que interessa a poucos, e não a muitos e que, portanto, não seria conveniente essas políticas de incentivo.
E, obviamente, que quem está aqui fazem parte das pessoas que resistiram a todas as tentativas de destruir o sonho de criar uma empresa poderosa. Quando a gente descobriu o pré-sal, muita gente achou que era sorte do presidente Lula. E, ao invés de ter a inteligência de entender que não era sorte, era que nós tínhamos aumentado, em dez vezes, o dinheiro de investimento em pesquisa na Petrobras. E a descoberta do pré-sal foi resultado de pesquisa. Depois que a gente descobriu o pré-sal, aqueles que vivem pregando maledicências contra a Petrobras, disseram que era uma bobagem ter descoberto o pré-sal, porque a gente não ia ter capacidade de explorar, porque ele estava muito profundamente fundo, a 6, 7, 5 mil metros de profundidade. E que, portanto, era uma doce ilusão a gente ficar fazendo propaganda da Petrobras. Eis que, outra vez, a sorte, não minha, mas a sorte deste país, é que o investimento em tecnologia e na formação de profissionais da Petrobras, a gente, hoje, consegue tirar um petróleo a 6 mil metros de profundidade, quase igual ao preço do petróleo que é tirado na Árabia Saudita, à flor da terra. Por simples sorte de uma empresa que investe em competência, investe em tecnologia, investe na formação das pessoas.
Então, o que nós estamos, aqui, hoje, comemorando, não é que nós voltamos, é que nós nunca saímos. Tentaram que nós saíssemos, mas nós continuamos. E nós, hoje, estamos aqui para dizer que faz parte, sim, faz parte dos interesses de uma empresa nacional, que tentaram privatizar tantas vezes e que, ao não conseguirem privatizar, porque tinha que passar pelo Congresso Nacional, resolveram fatiar e vender parcelas da Petrobras, como eles fizeram com tantas outras empresas. Mas, outra vez, a gente resistiu. Quem é que acreditava que a gente ia voltar a governar esse país, depois de tudo que nós passamos. Quem é que achava que a gente podia voltar depois do homem que governou, destruindo esse país, quatro anos, gastou quase o equivalente a 60 bilhões de dólares para não sair do governo. Quem é que imaginava que nós pudéssemos, aqui, juntos, hoje, estar ouvindo, da boca do presidente da Petrobras: “Nós vamos colocar 250 milhões para investir em cultura novamente na Petrobras”. E a contrapartida que uma empresa do tamanho da Petrobras tem que dar ao povo que tanto fez para que ela fosse criada é investir em coisas que interessam ao povo. E cultura pode não interessar a um ditador. Cultura pode não interessar a um negacionista. Mas cultura, simplesmente, interessa ao povo, tanto quanto interessa um prato de comida. Quanto tanto interessa qualquer outra coisa que esse ser humano faz.
Essa é a grandeza desse gesto que está acontecendo, hoje, aqui, no MAM. O MAM, que vai ser a sede da Cúpula do G20, em novembro deste ano, aqui. Que abrigou, ontem, a reunião dos chanceleres do mundo inteiro, do G20, aqui. E que vai servir para muitas outras coisas, porque eu já disse ao presidente da Petrobras: "Quando terminar o G20, a Petrobras precisa continuar ajudando a cuidar do MAM, porque isso aqui é um patrimônio cultural do nosso país". E quem não cuida do seu patrimônio, não consegue ter história.
Aqui, nós sabemos do sacrifício que os nossos deputados, tem vários aqui, eu não estou com a nominata aqui, mas eu estou vendo aqui, tem sim uma nominata, estou vendo aqui a Benedita da Silva, com seu companheiro Antônio Pitanga. Estou vendo aqui o Chico Alencar. Estou vendo a Jandira Feghali. Estou vendo a Talíria Petrone. Estou vendo o Tarcísio Motta. Não sei se falta deputado, mas, mais importante do que isso, eu estou vendo o triunvirato financeiro do nosso governo, que é o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, sentado aí, direitinho, que também sabem que vão ter que investir muito em cultura. Porque a cultura precisa de crédito. Porque a cultura gera emprego. Porque a cultura gera distribuição de renda. E um país que quer ser um país livre e soberano, vai ter que utilizar todo mecanismo possível, ao alcance das mãos do governo, para que a gente possa fazer desse país aqui uma cultura que não seja proibida e que não seja para poucos, mas que seja para todos. Afinal de contas, afinal de contas, nesse país aqui, tudo aconteceu de forma retardada. É impressionante, meu companheiro Pitanga, é impressionante como, no Brasil, as coisas aconteceram sempre um pouco depois do que aconteceu em outra parte do mundo. Foi assim com a nossa Independência, foi assim com o fim da escravidão, foi assim com o voto da mulher. Sempre as coisas foram acontecendo, acontecendo, depois que acontecia em outros lugares do mundo. E nós cansamos de ser o último. Nós queremos ser o primeiro em alguma coisa. Esse país aqui, a 100 anos atrás, um pouco menos de 100 anos atrás, não poderia tocar um tambor no Teatro Municipal, porque a elite não gostava. Nem pandeiro, nem zabumba, nem dançar capoeira. Tudo era proibido. Esse país é um país engraçado, Aloizio Mercadante. O jogo do bicho é proibido até hoje, mas todo mundo joga no bicho. Mas é proibido. O que é mais grave é que, pior do que o jogo do bicho, hoje é 24 horas por dia de jogo na televisão. O jogo digital. Hoje eu fiquei sabendo de uma coisa que a presidente do Banco do Brasil me disse. As famílias estão gastando, hoje, 14% do que elas ganham no jogo eletrônico. Isso porque cassino é proibido aqui. Porque cassino é jogo do azar, jogo do bicho é jogo não sei das quantas e tal, mas, agora, no jogo eletrônico, pode jogar criança de 5 anos de idade à pessoa de 90 anos de idade. Não tem limite. A ordem é jogar. Como as empresas não pagam imposto ainda, porque a lei não foi aprovada, eles estão ganhando muito e pagando pouco. Esse é o país que nós estamos construindo. Esse é o país que nós estamos de volta.
E quando eu vejo o Barretão aqui, eu falo: "Pô, a cultura voltou e o Barretão ainda está na fila de espera, esperando um pouco de mais de investimento em cultura". É isso que é bonito neste país. É que as coisas vão acontecendo, independentemente das pessoas que governam. Porque esse país quer, ele pode, ele vai fazendo as coisas acontecer.
Então eu queria dizer para vocês que eu fico muito gratificado de ver que a Petrobras não voltou apenas a produzir mais petróleo, a refinar mais petróleo. A Petrobras não voltou a fazer investimento apenas em energia elétrica, energia eólica, biodiesel verde, hidrogênio verde, amarelo, azul, qualquer coisa. Ela voltou a investir em uma energia que é, possivelmente, uma energia revolucionária, que é uma energia formadora de consciência política da sociedade brasileira. Ela voltou a investir em cultura. Esse é o dado extraordinário que eu estou vivendo hoje aqui.
Eu queria falar outra coisa, mas, antes, eu queria que vocês batessem bastante palma para a cultura. Para Petrobras. Para Margareth Menezes.
Então, eu considero encerrado o ato da cultura, porque agora eu vou falar outra coisa. Que também é cultura. Que é um pouco da verdade. E eu quero terminar dizendo para vocês que eu, Luiz Inácio Lula da Silva, filho de dona Lindu, que nasceu e morreu analfabeta, que me colocou no mundo dia 27 de outubro de 1945, que me fez ser candidato a presidente da República tantas vezes, perder três vezes e ganhar três vezes, quero dizer para vocês que, da mesma forma que eu disse quando estava preso, que não aceitava acordo para sair da cadeia, porque eu não trocava a minha dignidade pela minha liberdade, eu quero dizer para vocês agora. Eu não troco a minha dignidade pela falsidade.
E quero dizer para vocês que eu sou favorável à criação do Estado Palestino livre e soberano. Que possa, esse Estado Palestino, viver em harmonia com o Estado de Israel. E quero dizer mais: o que o governo de Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio, porque está matando mulheres e crianças. Não tentem interpretar a entrevista que eu dei na Etiópia, leia a entrevista. Leia a entrevista, ao invés de ficar me julgando pelo que disse o primeiro-ministro de Israel. O que está acontecendo em Israel é um genocídio. São milhares de crianças mortas, milhares de desaparecidas. E não está morrendo soldado, estão morrendo mulheres e crianças dentro do hospital. Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio. Eu quero dizer para vocês que vocês sabem que nós, aqui no Brasil, andamos brigando muito para que a gente tenha uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. Para que ele possa representar o mundo, no século 21, e não representar o mundo de 1945, 1946, 1947 ou 1948. O Conselho de Segurança da ONU, hoje, não representa nada. Não toma decisão para nada e não faz paz em nada. Recentemente, teve uma proposta proposta pelo ministro Mauro Vieira que teve 12 votos favoráveis, duas abstenções e um voto contra, dos Estados Unidos que, depois de votar contra, ele, simplesmente, vetou. Porque tem o direito do veto para os cinco grandes que são membros. Ontem foi aprovado outra decisão, que teve 13 votos a favor, 1 voto contra e uma abstenção. Voto contra dos Estados Unidos. E ele vetou a proposta. Então uma coisa que ganha por 13 a 1, tem um veto, porque a lógica da ONU não é agir de forma democrática.
Então, o Brasil está brigando para que o Conselho de Segurança tenha países da África, tenha países da América Latina, tenha a Índia e tenha outros países. E, somente quando a gente tiver um Conselho da ONU democrático, com mais representação política e, somente quando a classe política deixar de ser hipócrita, somente quando ela tiver coragem de encarar as verdades, porque não é possível que as pessoas não compreendam o que está acontecendo em Gaza. Não é possível que as pessoas não tenham sensibilidade com milhões de crianças que vão dormir, todo santo dia, com fome. Porque não tem um copo de leite, apesar do mundo produzir alimento em excesso. É importante que as pessoas saibam, enquanto é tempo de saber.
Nós precisamos ter consciência que o que existe no mundo hoje é muita hipocrisia e pouca política. E a gente não pode aceitar a guerra da Ucrânia, como não pode aceitar a guerra da Faixa de Gaza, como não pode aceitar nenhuma guerra. Esse país não tem contencioso, a gente gosta de paz. A gente gosta de cultura. A gente gosta de carnaval. A gente gosta de samba. A gente gosta de futebol. A gente gosta de ser alegre. É esse país que nós vamos construir.
Por isso, meus companheiros, obrigado. Que Deus abençoe vocês por ajudarem a gente a manter de pé essa extraordinária empresa chamada Petrobras do povo brasileiro. Um abraço.