Pronunciamento do presidente Lula no anúncio de investimentos em Belford Roxo, no Rio de Janeiro
São de pequenas coisas que a gente vai fazendo, que a gente vai construindo uma pátria educadora. Uma pátria em que as pessoas começam a sentir que elas têm direitos e que os direitos delas são atendidos por aqueles que governam. Porque é para isso que nós somos eleitos. Veja, o ricaço não precisa do governo, mas são os que mais tomam dinheiro emprestado do governo. Um cara que tem carrão chique não precisa de transporte coletivo, mas são eles os donos do transporte coletivo.
Então, veja: aquela menina que falou do câncer aqui. O câncer é uma doença muito ruim. Eu tive câncer na garganta. Eu sei o que é fazer 33 radioterapias, fazer quimioterapia, eu sei o que é ter câncer. Mas hoje o câncer é uma coisa já dominada pela ciência. Há uma evolução extraordinária. E quando a ministra Nísia (Trindade, da Saúde) vem aqui em Belford Roxo e fala pra vocês: “Nós vamos construir um hospital do câncer aqui em Belford Roxo”, eu disse pra ela: “Nós vamos prometer e nós vamos inaugurar ainda enquanto eu for presidente da República desse país, nós vamos inaugurar o hospital”. Para que as pessoas sejam tratadas com decência e com respeito. Porque não é possível que quem tem dinheiro pode ir em qualquer lugar do mundo se tratar e quem é pobre morre sem conseguir uma consulta nesse país, às vezes espera meses e meses, dependendo da doença não é nem atendido.
Então, é preciso ter consciência de que eu voltei a ser presidente desse país para a gente tratar do povo com respeito, com carinho e com muita decência. Eu digo todo dia: “Eu não estou governando o Brasil. Eu quero cuidar do povo, eu quero cuidar de cada homem, de cada mulher, de cada criança, de cada idoso que agora também começa a virar o problema, porque a gente está vivendo mais e é preciso cuidar dos pais, das mães, cuidar dos avós e não abandonar. É preciso que a gente aprenda a voltar a viver em comunidade, a se respeitar, a estender a mão, a ser solidário. E é por isso que eu vim aqui, de forma desaforada falar para o meu reitor da universidade federal: aquele cubículo que tinha aqui é uma vergonha para o Instituto Federal, para o nosso país. Uma cidade com 600 mil habitantes, uma cidade que tem um prefeito da qualidade do Waguinho (Wagner dos Santos Carneiro, prefeito de Belford Roxo), que não teve medo dos negacionistas, não teve medo dos malucos e resolveu me apoiar em 2022.
Eu não esqueço nunca aquela noite que eu vim aqui, Waguinho, aquela noite trazido pelo André Siciliano, eu tive a oportunidade de conhecer você e de conhecer a Daniela (Carneiro). E queria dizer pra você: “Se ninguém acredita, eu posso dizer para vocês: amor à primeira vista existe e foi o que aconteceu na minha relação e a Janja com você e com a Dani. Porque você é motivo de orgulho para a Baixada Fluminense, você é motivo de orgulho. Eu liguei para o companheiro Waguinho na última enchente que estava aqui. Normalmente tem prefeito que não está na cidade, e onde estava o Waguinho? Ele estava junto de vocês, dentro da água, atendendo telefonema. Porque é esse o papel do prefeito, é estar junto com o seu povo. E o Camilo disse uma coisa que eu quero que vocês prestem atenção. É muito importante.
Se a gente não cuidar da educação dos nossos meninos e das nossas meninas, sobretudo quando ele sai do ensino fundamental para o ensino médio, a gente está jogando fora, quem sabe metade da vida do nosso filho ou da nossa filha. Porque uma pessoa que não tem profissão é quase nada no mundo. Uma pessoa que tem profissão é quase tudo.
E eu vou contar pra vocês a minha história. Eu sou filho de uma mulher que teve oito filhos, na verdade a minha mãe teve 12. Quatro morreram. Meu pai era pai de 26 filhos. 14 com outra mulher e 12 com a minha mãe. A minha mãe teve coragem de se separar do meu pai com todos os filhos menores. Nós fomos morar num barraco lá em Santos, e a minha mãe nunca mais voltou para morar com o meu pai. Porque o meu pai batia na gente. Eu sou o único filho da minha mãe, eu fui o primeiro a ter o diploma primário. Eu fui o primeiro a ter um curso técnico. Por conta do curso técnico eu consegui um bom emprego. Por causa desse bom emprego, eu fui pro sindicato. Por causa do sindicato eu tô aqui presidente da República desse país por conta de vocês.
Eu sei o que é uma menina ou um menino sair para procurar emprego. Um homem ou mulher, quando o cara tem profissão, ele chega num lugar para pedir emprego, o cara pergunta: “o que você sabe fazer?”. “Ah eu sou técnico disso, sou técnico naquilo, sou especialista nisso”. O cara faz o currículo, pega o telefone e fala “nós vamos telefonar”. Quando você não tem profissão, nunca mais você é chamado e você passa a andar horas e horas com a carteira profissional do bolso da bunda e ninguém aceita a sua carteira. Por isso que é importante cada pai ou cada mãe aqui fazer um esforço muito grande, não deixar o filho desistir do ensino médio, não deixar. Pelo amor de Deus. Muitas vezes eles dizem que vão desistir porque têm que ajudar em casa. Não aceite esse discurso. Não permita que o filho de vocês deixe de estudar.
A consagração dele está em estudar, fazer um curso técnico e depois poder fazer universidade. E se ele fizer isso, ele vai poder se transformar numa pessoa de bem, que vai casar, que vai ter filhos, que vai ajudar a mãe, que vai ajudar o pai, ajudar o avô, a avó. Ele vai mudar a qualidade de vida da família. É por isso que nós criamos o Pé-de-Meia. Eu pensei que o Camilo (Santana, ministro da Educação) ia falar tudo. Mas o Camilo também ficou “ah, o Lula quer falar, deixa eu parar de falar”. Deixa eu lhe falar: Nós vamos dar, a partir de março, para os meninos que estão fazendo o ensino técnico, nós vamos dar R$ 200 por mês para cada criança. Ele vai receber todo mês R$ 200 depositado na continha dele. No final do ano, nós vamos depositar mil reais.
Tem duas exigências. A primeira é que ele tenha 80% de comparecimento na escola. A segunda é que ele passe de ano. Significa que ele tem que estudar. No segundo ano, a gente vai continuar depositando R$ 200 por mês, até o final do ano. E depois vamos depositar mais mil na poupança. Ele não pode sacar os mil, mas ele vai ter que, para continuar recebendo outra vez, ter 80% de comparecimento e ele vai ter que passar outra vez. Aí quando chegar no terceiro ano, ele vai receber outra vez R$ 200 por mês. No final do terceiro ano, ele vai ter mais mil. Ou seja, ao todo, se ele for um moleque que sabe aplicar o seu dinheiro, ele pode terminar o ensino médio com R$ 9 mil na conta dele e ele pode traçar o seu futuro melhor. Tem muita gente que fala assim pra mim: “Ô Lula, você tá gastando dinheiro, dando dinheiro para essa molecada”.
Eu falo: “Não, gastar dinheiro eu tô gastando quando eu tiver que fazer cadeia para colocar esse moleque. Eu tenho é que fazer escola e gastar dinheiro na escola”. Quando eu tiver colocando eles na escola, eu tô garantindo que ele não vá para o narcotráfico, que ele não vá para o crime organizado, eu tô garantindo que ele não pratique delitos, que ele vai ser orgulho do pai e da mãe e dos irmãos dentro de casa.
O reitor, o nosso querido reitor, que se prepare e trabalhe porque eu quero vir inaugurar essa escola no ano que vem, 2025. Nós não vamos deixar obras paralisadas. Sabe quantas obras paralisadas eu encontrei quando eu voltei pra presidência dia 1º de janeiro? Nós encontramos mais de 87 mil obras paralisadas. Nós encontramos, só na escola, quase 10 mil obras paralisadas, creches, escolas, escolas técnicas. Me parece que o maluco que governou esse país era um aloprado. Ele não entendia nada, a não ser de falar bobagem, a não ser de pregar o ódio e a não ser de ofender os outros.
O cara não entendia. O cara deixou morrer 700 mil pessoas nesse país dizendo que o Covid era uma gripezinha. Ignorante. Um cara ignorante como ele jamais deveria ter chegado a Presidência da República. Ele deveria ter ido para outro lugar e de lá nunca mais sair. Era isso que ele deveria ter ido.
Então companheiros e companheiras, eu, quando tomei a decisão de voltar a ser candidato a presidente da República, era porque eu achava que esse país estava abandonado. O que nós tínhamos feito, até o governo da presidenta Dilma (Rousseff), era muita coisa para o povo pobre. Só para vocês terem ideia: eu falei 87 mil obras paradas, não. Era 87 mil casas do Minha Casa, Minha Vida paralisadas. Hoje eu fui a Magé, eu fui inaugurar, entregar casa para 860 famílias. Casas que começaram a ser feitas em 2011, que pararam em 2016, e estavam paralisadas até o ano passado quando cheguei à Presidência.
E um monte de gente esperando casa para morar. E esses desgraçados não fizeram as casas para o povo e ficaram mentindo para o povo. Pois bem, nós vamos fazer mais dois milhões de casas para esse povo. Mais dois milhões. E sabe o que aconteceu, companheiro Aloizio Mercadante (presidente do BNDES): as casas que eu fui entregar hoje lá em Magé, o pessoal não precisa pagar mais, as famílias receberam as casas e não precisam pagar porque são pessoas pobres.
Tinha uma mulher que eu entreguei a chave para ela, ela tem a mãe com Alzheimer, ela tinha um filho que tinha problema de deficiência mental que morreu no hospital, ela tem um neto com deficiência mental e ela recebe R$ 300 por mês. Eu falei: “como é possível uma pessoa viver, como é que é possível cuidar da família toda cheia de problema e ainda só ter R$ 300?”. Aí eu falei: “Aloizio, eu vou querer saber do meu amigo Wellington (Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), se o Bolsa Família é R$ 600, porque essa mulher só recebe R$ 300, tem alguma coisa errada. Ou com ela ou com o Wellington, ou com ela ou conosco. Mas não é possível”.
Então, gente, deixa eu falar uma coisa pra você. O Brasil não merece, vocês não merecem passar pelas privações que a gente passa. Não merece. Esse país pode ter dinheiro para cuidar de vocês. Esse país pode ter dinheiro para fazer mais casa, pra fazer mais. Só para vocês terem ideia, a área da saúde, este ano, o orçamento da saúde cresceu R$ 48 bilhões, porque a gente tem que investir na saúde não depois que as pessoas estão doentes. A gente tem que investir na prevenção para evitar que as pessoas fiquem doentes. Porque quando ela fica doente ela custa mais.
É melhor então fazer investimento antes. E é por isso que a gente vai investir muito na educação, na formação profissional, é por isso que a gente vai investir muito em saúde, vai investir muito na geração de emprego, porque não tem nada prazeroso para o homem e para a mulher do que sair de manhã para trabalhar e, no final do mês, com o seu pagamento, ganhado à custo do seu sangue e do seu suor, poder comprar as coisas para a família comer, poder levar comida para casa, poder dar um presente, fazer uma festa de aniversário. É esse país que nós vamos construir.
E por isso eu vim aqui. E vou te falar uma coisa, Waguinho. Não é porque você é meu amigo não. Essa escola técnica que tem aqui, o Camilo não falou porque ele é humilde, mas hoje eu anunciei uma escola técnica em Magé. Amanhã eu vou anunciar uma escola técnica no Complexo do Alemão. Vou anunciar uma escola técnica na Cidade de Deus. Vou anunciar uma escola técnica em São Gonçalo. Uma escola técnica em Teresópolis. E tem outra escola técnica que eu não lembro onde que é, mas tem mais uma que nós vamos lançar.
Então, gente, é o seguinte: quem quiser ficar com raiva que fique. Mas quando eu cheguei no governo, em 2003, preste atenção. Quando eu cheguei no governo em 2003, a primeira escola técnica feita no Brasil, Aloizio, foi feita pelo presidente Nilo Peçanha, na cidade de Campos dos Goytacazes, em 1909. De 1909 até a gente chegar no governo em 2003, tinham sido feita 140 escolas técnicas. A Dilma e eu, com 16 anos de governo, vamos fazer mais de 600 escolas técnicas nesse país para que a gente não fique devendo a lugar nenhum. Por isso, companheiro Waguinho, eu fiz questão de vir à tua cidade. Eu sou muito grato pelo que você me ajudou e quero dizer que eu sou de uma família em que gratidão a gente paga com gratidão. Você é um prefeito que merece respeito, você é um prefeito pela tua lealdade com o povo, pela relação que você tem com a sua mulher, você é um prefeito pelo carinho que você tem a esse povo.
E enquanto você estiver na vida pública e precisar da mão de um companheiro, eu quero te dizer: a mão do Lula estará estendida para ajudar você a fazer o que for necessário fazer. Por isso companheiros, eu quero dar um grande beijo no coração de cada mulher, no coração de cada homem, pedir que Deus continue nos ajudando e que a gente consiga realizar o sonho que nós construímos na nossa vida.
Queria agradecer o Waguinho, que eu ia esquecendo, Waguinho, porque eu fui visitar a creche que leva o nome do meu neto. O meu neto, vocês sabem, ele morreu quando eu estava na Polícia Federal, ele tinha seis anos de idade, e ele morreu de forma muito rápida. Ele chegou em casa com dor de cabeça, deitou, e de manhã quando foi para o hospital já morreu. Foi uma coisa impensada, foi um choque muito grande. E eu quero agradecer porque o Waguinho inaugurou uma creche muito moderna, vai ter mais de mil alunos, é uma creche de primeiro mundo que leva o nome do meu neto. Então, eu, a mãe do Arthur, o pai do Arthur, o tio do Arthur, os amigos do Arthur, agradecemos de coração o coração do Waguinho em construir para nós essa creche.
Um beijo gente, um beijo. Que Deus abençoe vocês.