Pronunciamento do presidente Lula na inauguração do Ginásio Educacional Olímpico e implantação de novo campus do IFRJ
Eu não vou ler a minha nominata e não vou ler o discurso, porque nós estamos com 1 hora de atraso para ir no Complexo do Alemão. E eu já satisfeito aqui pela fala do nosso prefeito e do nosso ministro da Educação.
Eu só queria dizer para vocês umas coisas que eu considero importante. Durante muito tempo, neste país, a educação nunca foi levada a séria para o povo mais humilde e mais necessitado. Nunca. Quem podia estudava nos bons colégios públicos e depois tinha acesso às melhores universidades públicas e, quem não podia, estudava nas piores escolas públicas e não tinha acesso à universidade pública, tinha que ir para universidade privada. Era contradição. O pobre estudava em escola de menor qualidade no ensino fundamental e o rico estudava em melhor. Depois, o rico ia para universidade de melhor qualidade, que eram federais; e o pobre, se quisesse estudar, tinha que pagar uma universidade particular, sem poder pagar. Essa era a contradição histórica desse país. E isso tem uma razão de ser. O Brasil foi o último país do mundo a ter uma universidade. Dá para acreditar? Dá para acreditar que o Peru teve sua primeira universidade em 1554 e o Brasil só teve sua primeira universidade em 1920, porque o rei da Bélgica vinha para cá e, para um rei visitar um país, era preciso dar um título de doutor honoris causa para ele. E aí se juntou um monte de faculdade e se criou a Universidade Brasil.
Então, o que nós resolvemos fazer? Embora eu não seja uma pessoa muito letrada, eu aprendo muita coisa por ouvido. E eu sei que não existe exemplo de nenhum país do mundo, desenvolvido, sem que antes ele tenha investido em educação. Acontece que, aqui no Brasil, colocar dinheiro na educação é utilizado como se fosse gasto. Ou seja, quando você precisa aumentar o salário do professor, não é investimento, é gasto. Quando você precisa fazer uma sala de aula, não é investimento, é gasto. Quando você precisa melhorar a situação de uma escola, tudo tem uma rubrica chamada gasto. Que é uma visão equivocada para desmoralizar o serviço público. É só isso. É para desmoralizar o serviço público. E o serviço público no país, historicamente, ele atendia pouca gente, mas, se você pegar os grandes cientistas, os grandes pesquisadores, os grandes intelectuais brasileiros, todos estudaram em escolas públicas. Todos. Estudaram em escola pública, não precisaram ir para nenhuma universidade no exterior.
Então, o que nós estamos fazendo é tentando dar ao Brasil, no século 21, uma oportunidade que não deram para ele em nenhum século. Ou seja, é tentar apostar que o povo brasileiro é tão inteligente quanto qualquer outro povo. E o que ele precisa é apenas ter oportunidade de ter acesso às coisas que todo ser humano deveria ter. É por isso que eu, embora seja um presidente que não tenha diploma universitário, tenho orgulho de ser o presidente que mais fez universidade federal neste país, que mais fez extensão universitária. E eu e a presidenta Dilma, isso é importante vocês saberem, quando eu cheguei na presidência, em 2003, esse país tinha 140 institutos federais. O primeiro foi feito em 1909 pelo presidente Nilo Peçanha, na cidade de Campos. Ou seja, em um século, eles fizeram 140. A Dilma e eu, em 16 anos, fizemos 682. E vou fazer mais 100 agora, para que a gente possa dar à juventude brasileira a oportunidade de não precisar ir para o narcotráfico. De não precisar ir pro crime organizado. De não precisar ter uma vida tortuosa, quando a gente pode, através da educação, fazer com que todas as crianças tenham oportunidade de se transformarem em cidadãos e cidadãs de primeira categoria neste país. É isso que nós queremos. É por isso que nós estamos aqui.
Eu não sei se esse instituto vai atender todos os bairros com a precisão que as pessoas querem. O que eu fiquei sabendo é que a Cidade de Deus tem 140 mil habitantes. Uma cidade com 140 mil habitantes pode ter um instituto. Nós vamos inaugurar isso aqui e vamos ver se esse aqui atende, a contento, a Cidade de Deus, porque tem transporte, tem uma série de coisas, e nós precisamos fazer escolas para preparar a meninada para entrar no instituto. Aí cabe à prefeitura gastar um pouquinho mais, só milhões, não, bilhões, para a gente preparar a nossa meninada.
Uma outra coisa importante que eu queria dizer para vocês. Eu pensei que o Camilo ia contar, mas eu não vi ele contar outra vez. Esse cearense, é importante vocês saberem porque o Camilo é ministro da Educação. É porque o estado do Ceará, em todas as avaliações, da primeira série à última série, em todas as avaliações, é o estado mais bem avaliado em educação nesse país. Se você quiserem saber o que é ousadia cearense, é que 40% dos alunos que passam em vestibular para fazer o ITA, em São José dos Campos, são feitos no Ceará. Acreditam nisso? E é por isso que nós, para agradecer o Ceará, resolvemos levar o ITA para Fortaleza. Fortaleza vai ter um ITA para formar engenheiros com a mesma qualidade que se forma em São José dos Campos.
E, por isso, também, eu agradeço ao nosso prefeito aqui, a Faculdade de Matemática para a gente aproveitar os nossos gênios da matemática. Vocês sabem que o Brasil não tinha Olimpíada da Matemática em escola pública, era só escola privada. E o estado que mais tinha estudante nas olimpíadas era exatamente o Ceará. E eu resolvi criar as Olimpíadas da Matemática na escola pública. As pessoas diziam que: "Não, não é possível, as crianças pobres não têm interesse, não vão participar". Na primeira convocação que nós fizemos na escola pública, se inscreveram 10 milhões de pessoas. Na segunda, se inscreveram 14 milhões de pessoas. Na terceira, se inscreveram 18 milhões de jovens para participar das Olimpíadas da Matemática. Então, agora, o que que a gente vai fazer? A gente vai pegar os meninos e as meninas que ganharam medalha de ouro e a gente vai fazer uma espécie de vestibular entre os gênios da medalha de ouro e vai separar, este ano, os primeiros 100. E vamos levá-los para a Faculdade de Matemática que está pronta e que, segundo o prefeito, a primeira aula vai ser em março. Vai ser dia dois de abril, vai ter uma aula inaugural. Então, vai ter 100 alunos. No segundo ano, mais 100, 200. No terceiro ano, mais 100, 300. Depois 400 alunos. Já tem apartamento comprado pela prefeitura para que esses jovens venham para a Faculdade de Matemática e tenham hospedaria, tenham restaurante, porque a gente não quer que os nossos gênios se retirem do Brasil. A gente quer que eles se formem no Brasil e prestem serviço para este país.
Uma última coisa de educação, querida vereadora Luciana. Eu não pude descer para te dar um beijo aí, mas fica um beijo dado a distância para você, querida.
Uma outra coisa de educação. Nós decidimos que vamos fazer o investimento de R$ 7 bilhões e vamos fazer uma coisa inédita: nós vamos pagar para as crianças mais carentes, do CadÚnico, sobretudo, para as crianças estudarem. Por que que nós vamos pagar? Anotem. Nas vilas mais pobres do Rio de Janeiro, a evasão escolar entre o ensino fundamental e a chegada ao ensino médio. Este ano, 500 mil crianças desistiram da escola. O argumento é de que eles se afastam para poder trabalhar. Eu não sei se esse argumento é verdadeiro. Pode ser. Mas o dado concreto é que um país não pode permitir que 500 mil crianças deixem de fazer o ensino médio porque têm que trabalhar. A nossa tese está na nossa Constituição de 88: lugar de criança não é no mercado de trabalho, lugar de criança é na escola, estudando, para, amanhã, adentrar no mercado de trabalho em uma situação mais confortável. Então, veja o que vai acontecer para, a partir de março, agora. As crianças que vão fazer o ensino médio, o segundo grau, na verdade, as crianças vão receber R$ 200 por mês. Vai ser depositado R$ 200 por mês. Ele vai receber R$ 200 durante nove meses, é isso? Dez meses. Ele vai receber R$ 2.000 em dez prestações de R$ 200. No fim do ano, a gente vai depositar R$ 1.000 para ele. Qual é a condição? A condição é ele ter comparecimento na escola de 80%. E a segunda condição é ele ter passado. Se não tiver 80% e não passar, não vai pôr a mão no dinheiro, tá? No ano seguinte, a mesma coisa. E, no terceiro ano, se ele poupou direitinho e foi aprovado, ele vai terminar o segundo grau com quase R$ 9.000 na conta dele, para ele começar uma vida profissional. Tem gente que nem é mal intencionada, mas tem gente que acha que isso é gasto. Tem gente que acha que isso é gasto. E eu tenho dito para as pessoas que isso é investimento. Gasto é o dia que eu tiver que utilizar esse dinheiro para pegar esse jovem que eu não dei oportunidade e tirá-lo do crack. Tirá-lo da droga. Tirá-lo do crime organizado. Tirá-lo da bandidagem ou construir cadeia. Aí sim vai ser gasto. Enquanto eu estiver pagando para ele estudar, eu estarei fazendo investimento para que a família tenha certeza que seu filho está estudando.
Então, esse país não tem mais volta. Ou a gente aposta, verdadeiramente, que, através da educação, a gente vai salvar esse país, ou a gente vai ficar na mediocridade, de ter uma minoria de pessoas que pode mandar seus filhos estudar na Sorbonne, estudar em Londres, estudar em Chicago e ter a maioria que sabe que a criança vai desistir da escola para ir trabalhar, para vender coisa na rua. Então, tem gente que não precisa do Estado, mas tem muita gente que precisa e é para essa gente que o Estado tem que existir. A Isabel tinha razão: o Estado tem obrigação de garantir oportunidade para que todas as pessoas possam vencer na vida. Esse é o papel do Estado, não é atender os megaempresários que, cada vez que vão na presidência, só querem saber de pedir bilhões e bilhões e bilhões e bilhões e bilhões. Pega a dívida ativa brasileira, você vai encontrar quase R$ 2 trilhões de dívida. Veja se os pobres têm dívida. Não tem. Porque o pobre é o seguinte: quando ele compra o pão e o leite fiado e ele não pode pagar, ele para de passar na frente da padaria. Ele tem medo de ser chamado, de que está devendo. O rico não. O rico gosta de dizer que está devendo. Para ele, é uma coisa charmosa dizer: "Eu peguei R$ 5 bilhões no BNDES, juros de longo prazo, cinco anos de carência, e vou pagar em quinze anos". Não é assim, Eduardo? O pobre, não. O pobre a gente empresta um crédito consignado, R$ 500, R$ 1.000, para o cara sobreviver, e ele vai sobrevivendo. E eu queria que houvesse a compreensão dos setores mais altos da sociedade de compreender que o que a gente está fazendo é tentar elevar a classe brasileira, a sociedade brasileira, a subir um degrau na escala social. Ninguém gosta de ser pobre. Ninguém gosta de morar mal. Ninguém gosta de comer mal. Ninguém gosta de estudar mal. Parem de pensar, a gente gosta de coisa boa.
Bem, então, nós vamos fazer essa pequena revolução e eu queria, Eduardo, queria pedir aos educadores que estão aqui, aos professores, eu não sou educador, mas eu vou fazer um pedido de desculpas em nome da educação brasileira. Eu, hoje, acho que eu tenho autoridade moral para fazer isso, reitor. Que é o seguinte: durante muito tempo, esse Rio teve um governador chamado Leonel de Moura Brizola e teve um educador chamado Darcy Ribeiro, que fizeram o Cieps. E eles acreditavam que era, através da escola de tempo integral, que a gente ia salvar as crianças do Rio de Janeiro. E muitos educadores, no Brasil, criticaram o Cieps. Diziam que não era possível, que não era necessário. E nós, agora, estamos nos rendendo ao Brizola e ao Darcy Ribeiro com a escola de tempo integral nesse país. Porque não é só melhorar a vida das crianças nas escolas, é dar mais segurança para a mãe e para o pai de que a criança vai estar o dia inteiro na escola. Ela vai ter música, ela vai ter esporte, ela vai ter o que quiser, porque não é só aprender que Cabral descobriu o Brasil, é aprender outras coisas da vida real. É ter acesso à cultura, à arte. E é isso que a gente vai fazer.
Então, companheiros e companheiras, vocês podem ter certeza de uma coisa: só tem uma razão para eu ter voltado à Presidência da República desse país. Eu não precisava. Vocês sabem que, por culpa do povo brasileiro, eu sou o brasileiro único eleito três vezes para presidente da República. E eu vim aqui porque eu quero provar outra vez, da mesma forma que eu provei em meus dois mandatos, de que esse país pode ter jeito. O que é preciso é que o governo tenha vergonha na cara e, em vez de ficar governando, cuide do povo como ele precisa. Cuide das nossas crianças. Cuide das nossas mulheres. Cuide dos nossos homens. E vamos cuidar dos nossos velhinhos, porque tem muito velhinho abandonado. A sociedade brasileira está ficando velha. A gente não é mais aquela nação nova. A gente tá vivendo agora 75 anos. Olha esse jovem que fala com vocês, eu tenho 78. A Janja pensa que eu tenho 30. Ela fala: "Nossa, amor, nunca vi você tão jovem, com 30 anos". E eu acredito. Eu fico bem acreditando nisso. E faço um esforço desgraçado, cara. Levanto todo dia 6h da manhã. Enquanto alguém está dormindo aí, eu tô ali no basquete, para ver se eu faço jus à história de que eu tenho 30 anos. Eu queria dizer para vocês que é o seguinte: eu gosto do Rio de Janeiro de graça. Eu venho ao Rio de Janeiro, prefeito, desde 1975. Eu conheço a Bené quando ela ainda não era nem vereadora. O sonho do Brizola era levar a Bené para o PDT e a gente não deixava. Mas você sabe que eu venho aqui e, nunca, o PT, um vereador do PT, um deputado do PT, um ministro do PT, nunca o prefeito da capital, nunca me convidaram para molhar esse pézinho na praia de Copacabana ou de Ipanema. Nunca pus o pé na água do Rio de Janeiro, porque é só reunião, reunião, reunião. E, agora, além de reunião, é o prefeito pedindo bilhões e bilhões e bilhões e bilhões. Assim ninguém aguenta.
Mas eu queria terminar fazendo justiça ao companheiro Eduardo Paes. Eu converso com muitos prefeitos aqui do Rio de Janeiro, eu conheci muita gente. Eu quero dizer para vocês que vocês têm um prefeito especial. Eu não tô dizendo que alguém é obrigado a gostar dele, não. Não precisa gostar, ninguém está querendo casar. O que a gente gostaria é que vocês respeitassem a diferença do prefeito que vocês tiveram há pouco tempo atrás. E do trabalho que ele faz nesses anos que ele voltou à prefeitura. Se vocês pensassem, para a gente saber que vale a pena, para a gente saber que vale a pena, eu nunca tive divergência se a pessoa é mais à esquerda, se a pessoa é liberal, se a pessoa é de direita. Eu nunca tive esse problema. Quem é deputado federal convive com todo mundo.
Agora eu confesso para vocês que eu vou morrer sem entender o que aconteceu nas eleições para presidente em 2018. Porque o Brasil não merecia eleger uma praga de gafanhoto para dirigir esse país. Sinceramente. Sinceramente. Então, todos esses projetos que Eduardo Paes apresentou, eu já falei para ele: "Eu tô viajando agora, eu não venho no carnaval, porque eu tô meio contundido e não posso dançar, então eu não venho".
Mas depois eu vou para o Egito, vou ficar um dia numa visita oficial. Depois eu vou na reunião da União Africana, que é a reunião dos 54 países da África. E eu vou pra África, sempre, com a incumbência de que o Brasil tem uma dívida histórica com o continente africano. Nós devemos a eles 350 anos de escravidão, de pessoas que eram livres e que se transformaram em escravo para vir para cá. Então, a nossa cultura, a nossa arte, a nossa beleza, o nosso jeito de ser, tem muito a ver com a África. E eu acho que o Brasil tem que pagar com transferência de conhecimento e tecnologia. E eu tenho muito orgulho, porque eu fui convidado como convite de honra para ir fazer um discurso para eles sobre a questão da África.
Bem, dito isso, eu falei para o companheiro Eduardo Paes: "Quando eu voltar, vou marcar uma audiência com ele, em Brasília". E ele vai levar todos os projetos deles, todos os filmes. Porque ele tenta ganhar a gente passando uns filmes emocionantes, os prédios falam, as estações de trens falam, choram. Então, só falta chamar o Lula de meu amor no filme. Eu vou levar, porque eu acho, confesso a vocês, que tudo que a gente puder fazer para melhorar a vida das cidades brasileiras a gente tem que fazer. Porque é na cidade que o povo mora, é na cidade que o povo usa transporte, é na cidade que o povo usa a saúde, é na cidade que o povo usa a educação. Então, a gente tem que ajudar. E os projetos que o Eduardo Paes apresentou são pertinentes. Eu não sei se vou atender todos, mas pode ficar certo que uma boa parcela deles a gente vai atender.
E queria terminar dizendo aos companheiros da Cidade de Deus. Se esse instituto aqui, ao começar a funcionar, não atender a plenitude daquilo que é a aspiração do povo da Cidade de Deus, quero dizer para vocês que nós faremos um outro instituto na Cidade de Deus. Aí o Camilo Santana, meu ministro, e o prefeito vão localizar uma área central, bem no meio da Cidade de Deus, e é lá que a gente vai formar a nossa juventude. Eu quero jovem na escola. Eu não quero jovem na cadeia. Eu quero jovem na escola, eu não quero jovem no tráfico. Eu quero jovem na escola, eu não quero jovem trabalhando. Ele vai ter a vida inteira para trabalhar e tem pouco tempo para estudar. Enquanto eu for presidente, a gente vai garantir tranquilidade para as mães verem os filhos serem tratados decentemente na educação, pelo menos uma vez, na história desse país.
Um beijo no coração de vocês, um abraço. Querido Eduardo Paes, obrigado por tudo, obrigado pela parceria e obrigado a todos vocês. E fico feliz que os filhos e as filhas de Isabel estão aqui para ver que a mãe deles não foi apenas uma jogadora de vôlei, ela se transformou em um orgulho nacional. Um beijo no coração de vocês e que Deus abençoe. E que mais filhos sejam igual ou até melhor do que ela. Beijo, gente.