Pronunciamento do presidente Lula durante jantar com representantes de países árabes e muçulmanos
Quero agradecer ao embaixador Ibrahim Mohamed Alzeben, decano de corpo diplomático, pelo convite para este jantar.
Cumprimento igualmente cada uma das senhoras e senhores embaixadores e representantes dos países árabes e muçulmanos em Brasília.
Minhas primeiras palavras são de gratidão pela decisão da Fundação Yasser Arafat de me conceder a condição de membro honorário.
Arafat foi um líder corajoso e determinado, que dedicou sua vida à causa palestina.
Agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com Yitzhak Rabin, deixou um legado de dedicação, moderação e persistência que hoje caracteriza a Autoridade Nacional Palestina, na figura do meu amigo Mahmoud Abbas.
Mais do que uma distinção pessoal, vejo esse gesto da Fundação como uma homenagem aos brasileiros e brasileiras que ao longo de décadas atuaram em prol da estabilidade no Oriente Médio.
Entre eles estão os funcionários do serviço exterior e das forças armadas que atuaram na operação “Voltando em Paz”, que nos permitiu retirar quase 2 mil brasileiros e seus familiares da zona de conflito e levar alimentos, insumos médicos e purificadores de água para Gaza.
Nesta noite em que evocamos e celebramos nosso rico patrimônio étnico-cultural, quero transmitir uma mensagem de solidariedade aos que são vítimas de discriminação e preconceito.
Rechaçamos todas as manifestações de islamofobia e antissemitismo.
Não podemos permitir que a intolerância religiosa se instale entre nós.
Árabes, muçulmanos e judeus sempre viveram em perfeita harmonia no Brasil, ajudando a construir o país moderno de hoje.
Essa convivência harmoniosa é fonte de inspiração para nossa atuação diplomática.
Ela norteou nossa ação no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que integramos até dezembro do ano passado.
Ela expressa o caráter universalista da nossa política externa e nos leva a buscar parcerias com os países do Sul Global.
Esse é o espírito com que visitarei em alguns dias o Egito, a Liga Árabe e a Etiópia, dois novos integrantes do BRICS, e participarei da 37ª Cúpula da União Africana.
Senhoras e senhores,
Ontem completaram-se quatro meses dos ataques perpetrados pela Hamas.
Condenamos de forma veemente esses atos terroristas.
Condenamos com igual veemência a reação desproporcional de Israel.
Atuei pessoalmente junto a vários chefes de Estado e de Governo em prol do cessar fogo, da libertação dos reféns e da criação de corredores humanitários para a proteção dos civis.
É chegada a hora de dar uma basta à catástrofe humanitária que se abateu sobre os mais de 2 milhões de palestinos que vivem em Gaza.
Já são quase 30 mil mortos, em sua maioria crianças, idosos e mulheres indefesas.
Mais de 80% da população foi objeto de transferência forçada e os sistemas de saúde, de fornecimento de água, energia e alimentos estão em colapso.
Basta de punição coletiva.
Por esses motivos, entre outros, o Brasil se manifestou em apoio ao processo instaurado na Corte Internacional de Justiça pela África do Sul.
As medidas cautelares da Corte devem ser acatadas.
O Brasil também integra a Comissão Consultiva da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
As recentes denúncias contra funcionários da UNRWA precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la.
O Brasil exorta a comunidade internacional a manter e reforçar suas contribuições para o bom funcionamento das suas atividades.
Meu governo fará aporte adicional de recursos para a Agência.
Também continuaremos a trabalhar para que a Palestina seja admitida na ONU como membro pleno.
Senhoras e senhores,
Há 75 anos o mundo aguarda uma solução para a justa aspiração de um Estado próprio.
Estejam certos de que o Brasil fará tudo o que estiver ao nosso alcance para que a atual escalada de violência seja rapidamente interrompida
É urgente a retomada do diálogo entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina, com o apoio da comunidade internacional, inclusive países em desenvolvimento.
É com esse espírito que convido todos a erguerem um brinde à um Estado palestino soberano, economicamente viável, que viva em paz e segurança com Israel.
Que a paz esteja com todos.