Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio do Novo Ciclo de Investimentos da Volkswagen do Brasil
TRANSMISSÃO | Lula visita fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo
Meus queridos companheiros e queridas companheiras da Volkswagen, eu vou começar cumprimentando os companheiros que estão participando comigo dessa jornada. O meu querido companheiro Geraldo Alckmin, que acabou de falar, vice-presidente. O Alexander Seitz, nosso presidente da Volkswagen da América do Sul. O Ciro Possobom, presidente da Volkswagen no Brasil. O nosso companheiro Moisés Selerges, presidente do sindicato. Nosso companheiro Wellington que falou muito bem, mas ele é muito alto, o microfone não conseguiu alcançar bem a boca dele. Eu não consegui entender tudo que ele falou. Eu sei que ele falou bem do Governo. Nosso companheiro Luiz Marinho, ministro do Trabalho, Silvio Costa, ministro dos Portos e Aeroportos, Marcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República, Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais. Deputados federais Kiko Celeguim, Vicentinho e o companheiro Alfredo. Deputados estaduais Luiz Fernando, Eduardo Suplicy. Nosso companheiro Barba, nosso companheiro Maurici e nosso companheiro Rômulo. Quero cumprimentar as demais autoridades aqui presentes.
E dizer para vocês que, depois de ouvir a apresentação da Volkswagen, depois de ouvir o Wellington e o Marinho falar, eu queria começar dizendo para vocês uma coisa. Quando a gente governa um país, uma cidade ou estado, a gente tem que ter determinação no que que a gente quer que aconteça no tempo em que a gente vai governar. Eu, primeiro não gosto de utilizar a palavra governar. Porque a palavra governar dá uma certa distância entre quem está no poder e quem está na sociedade. Eu utilizo muito a palavra cuidar. Eu fui eleito para tentar cuidar do povo brasileiro e cuidar da classe trabalhadora brasileira. Porque cuidar é o que faz com que a gente levante de manhã e deite à noite pensando naquilo que a gente vai fazer.
E vocês estão lembrados que eu, embora nunca trabalhei na Volkswagen, tem gente que encontra comigo em vários lugares do país e fala assim: “Lula, trabalhei com você na Volkswagen”. Eu falo: “Ah é, tudo bem”. Nunca trabalhei na Volkswagen. Tem gente que trabalhou comigo na Ford, tem gente que trabalhou comigo na Mercedes, tem gente que trabalhou em todo lugar comigo. Eu nunca nego. Eu falo “É verdade”. Porque eu vou desmotivar o cara que está entusiasmado pelo fato de ter trabalhado comigo. O que ninguém nunca falou é que passou fome junto comigo. Isso nunca falaram. Mas vocês sabem que, embora eu nunca tenha trabalhado aqui, eu aprendi em 1970 a dirigir no Fusca.
O Fusca 1200. Que para você sair de 0 e chegar a 100, você ficava pisando meia hora, cansava a perna, e o carro só chegava a 99. Depois do primeiro carro que eu tive, também do sindicato, era um Fusca. E o primeiro carro que eu comprei em 73, aí sim, era um TL, era o carro mais chique da Volkswagen, era o carro da frota. Quando eu entrei no carro, eu não imaginava que um cara que saiu de Pernambuco para não morrer de fome pudesse comprar um carro.
Quando eu liguei a chave, que acendeu um painel verde, minha perna começou a tremer. Aí eu fui ali na Avenida Kennedy, aqui em São Bernardo, e parei em um bar, tinha os companheiros. Eu queria mostrar o meu carro novo. Tomei umas cachaças e quando eu estava muito alegre. E quando eu saí, eu não sei se ainda tem umas tartarugas na rua, que parecem uma bola de futebol, eu enfiei meu carro naquela tartaruga, quase que eu desmonto meu carro que eu estava sonhando. Então a minha relação com a Volkswagen é histórica. Mas é histórica também porque aqui nós fizemos parte das grandes greves que mudou a história do sindicalismo brasileiro. E eu quero lembrar a vocês que, no último ato que eu vim na porta de fábrica com vocês, eu fiz uma série de compromissos com vocês.
Eu disse que era preciso gerar emprego, eu disse que o povo ia voltar a comer carne, eu disse que a gente ia poder voltar a fazer um churrasquinho e comer uma picanha no final de semana. Eu disse que o Brasil ia voltar a ser respeitado no mundo. E eu disse que a economia ia crescer. E nós estamos a apenas um ano no Governo. Um ano no Governo. E eu queria que o companheiro Moisés prestasse atenção nos números que eu vou citar aqui. A massa de rendimento do trabalho atingiu o patamar recorde da história do medimento da massa salarial em 2023.
Foi R$ 295,6 bilhões. Ela cresceu 11,7% em termos reais se comparado a 2022. A elevação real de 7,2% do rendimento médio do trabalho que fechou o ano em patamar abaixo apenas de 2014, que foi o maior número da série. O aumento de números de trabalhadores ocupados para 107 milhões, alcançando o maior nível desde 2014. A taxa de desocupação no Brasil foi de 7,8%, a menor desde 2014. O número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada cresceu 37 milhões, o maior número da série histórica de trabalhadores com carteira assinada.
Eu queria dar esses números porque eu vou largar esse microfone e vou utilizar, esse microfone nunca funciona. Pois bem. Quando você é candidato a presidente da República, a gente sabe como é que tá a situação do país. A gente estuda, a gente pesquisa, a gente analisa. E eu sabia que o Brasil estava em uma situação muito, mas muito degradada. Esse país ele não foi governado durante os últimos quatro anos. Esse país foi desmontado porque quase todas as políticas públicas que nós tínhamos construído de 2003 a 2015 foram desmontadas.
Não teve mais investimentos das universidades. Não teve mais investimentos em ciência e tecnologia. Nem a merenda escolar teve reajuste. Foram seis anos sem reajuste da merenda escolar, foram seis anos sem reajuste de professores universitários, e foram seis anos de desmonte das coisas que nós tínhamos feito no país. E quando nós assumimos, o companheiro Alckmin foi o companheiro que coordenou a transição. Fazer o levantamento de tudo que tinha, de tudo que faltava. Só para vocês terem ideia, nós encontramos 10 mil obras paralisadas. Dentre as quais, quase 3 mil creches que tinham sido começadas a fazer e paralisaram. Milhares de outras obras paralisadas que a gente tem que retomar e para retomar você precisa fazer nova licitação, porque as obras estão deterioradas e nós precisamos então preparar o terreno para retomar essas obras.
Mas não é apenas isso. A imagem do Brasil no exterior estava pior do que a imagem do meu Corinthians hoje na minha cabeça. Eu não consigo mais ver o Corinthians jogar. Eu não consigo. Mas continuo corintiano. Continuo ali. Quando a gente massacrar o São Paulo, eu quero ver se o Moisés vai sorrir. Ele nem vem aqui quando o Corinthians massacrar, e vai ser esse ano ainda, vai ser esse ano. Nós dedicamos o ano inteiro para recuperar aquilo que nós já tínhamos feito. Hoje recuperamos 80% das políticas públicas que a gente tinha colocado em prática.
Mas, ao mesmo tempo, a gente resolveu fazer o PAC 3. O que que é o PAC 3? É um conjunto de obras de infraestrutura na educação, na saúde, para que a gente comece a trabalhar os quatro anos sem ficar tendo novas ideias. É cumprir aquilo que nós planejamos. E esse PAC 3 tem o investimento de R$ 1,7 trilhão. É muito difícil falar um trilhão e setecentos porque ninguém tem dimensão do que significa isso. É muito dinheiro. Mas a gente precisa fazer isso porque se a gente não fizer isso, cada ministro tenta fazer uma coisa e a gente termina sem concluir um projeto de mudança estrutural no nosso país.
E este ano é o ano da colheita. Eu tenho dito que nós encontramos a terra arrasada. Nós preparamos a terra, fizemos o manejo dela, depois nós aramos a terra, depois nós jogamos semente, depois jogamos adubo e nós soterramos a semente. Agora é hora da gente começar a colher. E eu fico extremamente feliz de vir na Volkswagen ouvir o anúncio de um investimento de R$ 16 bilhões para até 2028. Mas não é só a Volkswagen. O setor automotivo do país está anunciando R$ 41 bilhões de investimento. Porque as pessoas voltaram a acreditar nesse país. Esse país voltou a ter contato com o mundo exterior. Esse país vai presidir o G20 esse ano, em novembro, que é a reunião aqui no Brasil das 20 maiores economias do mundo.
Esse país vai presidir os BRICS no ano que vem desse país. E esse país vai realizar a conferência sobre o clima também no ano que vem. Esse país voltou a ser levado em conta pelo mundo inteiro. E eu tenho dito, se tiver um lugar que tenha uma fábrica de palito de dente sendo inaugurada, eu estarei lá. E por que que eu vou? Porque é preciso passar otimismo para esse país. É preciso as pessoas perceberem que as coisas estão acontecendo. E as coisas vão acontecer. E vão acontecer em todo o território nacional.
Eu estou indo na terça-feira que vem ao Rio de Janeiro. Vou anunciar um Instituto Federal no Complexo da Maré. Vou anunciar um Instituto Federal na Cidade de Deus, vou anunciar um Instituto Federal na Cidade de Mauá, vou anunciar um Instituto Federal em Diadema. Vou anunciar cem institutos federais nesse país. Sabe por que? Porque vocês, meninos e meninas, precisam se qualificar para enfrentar esse mundo maluco da inteligência artificial. Essa menina bonita que está aqui, eu estava perguntando: “O que que faz essa moça sentada que eu não ouvi ninguém falar o nome dela?”. Eu falei: “Ela é cantora, ela vai cantar”. Aí perguntei: “Não vai ter música”. Então ela vai batucar alguma coisa, porque uma afrodescendente assim gosta de um batuque, de um tambor. Também não é. Aí eu falei: “Nossa, então ela é namorada de alguém”. Também não é. O que que é essa moça? Essa moça foi premiada o ano que vem como a mais importante aprendiz dessa empresa e ganhou um prêmio na Alemanha.
É isso que nós queremos fazer para as pessoas neste país. Eu vou lhe contar uma coisa. Nós anunciamos essa semana uma política para o Ensino Médio. O Ensino Médio é o ensino que mais tem evasão escolar. O jovem quando está com 14, 15, 16 anos ele, às vezes, está desanimado, não tem perspectiva, às vezes tem que ajudar a mãe, tem que ajudar o pai, e às vezes a escola não motiva. Então ele não quer ir. O ano passado, mais de 500 mil jovens abandonaram o Ensino Médio. Se eles abandonaram o Ensino Médio, significa que a perspectiva de vida deles para frente, de futuro, é muito pequena. O que que nós fizemos? Nós criamos uma poupança para os estudantes do Ensino Médio.
A poupança vai funcionar assim: nós vamos dar R$ 200 por mês para o jovem que está fazendo o Ensino Médio. No fim do ano a gente vai colocar R$ 1.000 na conta dele. Então ele recebeu já R$ 2.000, vai ter mais R$ 1.000 na poupança. Ele não pode tirar. Ele tem que comparecer 80% das aulas e ele tem que passar para ele poder retirar. Mas aí no segundo ano ele vai ter mais R$ 200 por mês e mais R$ 1.000 depositado na poupança dele. Ele tem que passar e tem que ter uma frequência de 80%. E no terceiro ano ele vai ter mais R$ 200 por mês e mais R$ 1.000 depositado na conta dele. Se ele somar tudo ele vai ter R$ 9.000 quando ele terminar o Ensino Médio.
Aí ele pode começar a sonhar em construir uma carreira e continuar estudando. Aí tem muita gente que falou pra mim: “Lula, vocês estão gastando dinheiro”. Eu falei: “Não, gastando não, eu estou investindo. Eu vou gastar dinheiro quando esse jovem que não estiver estudando ir para o crime organizado, ou ir para o crack, ou ir para a cocaína, ou ir para o crime organizado e virar um bandido. Aí eu vou gastar fazendo cadeia, eu vou gastar prendendo ele”. Então eu preciso investir na educação para que esse país não nasça pessoas com possibilidade de virar bandido.
E nós vamos fazer isso, porque eu quero que milhares de jovens tenham a mesma possibilidade que essa jovem teve e que muitos de vocês tiveram. Eu citei ela… ela não quer namorar comigo, ela não quer porque tem coisa melhor no mercado. E ela não quer porque eu já tenho a Janja também e a Janja fica brava com você. Então, eu queria dizer para vocês, gente, que esse país mudou. Esse país vai mudar definitivamente. A gente vai voltar a ganhar um pouco mais.
O salário mínimo vai aumentar. Eu tenho um compromisso com vocês que até deixar a presidência nós vamos dizer que quem ganha até R$ 5 mil não vai pagar imposto de renda nesse país. Vocês sabem que eu tenho compromisso disso. Vocês sabem que eu tenho um compromisso disso e vou cumprir. Eu quero mais emprego, eu quero mais salário, eu quero mais educação, eu quero que nosso povo viva bem, eu quero que a família brasileira viva em harmonia. Eu não quero pai e mãe brigando na frente dos filhos, eu não quero filho brigando com o pai, eu não quero um filho brigando com filho, eu quero que a gente construa uma família que viva em paz, alegre, com muito amor e com perspectiva de futuro.
Isso quem dá é o emprego. O emprego é a coisa mais importante na vida de uma pessoa. Saber que você vai trabalhar e que no final do mês você vai receber um salário e que com aquele salário você vai poder levar comida para casa. Você vai poder comprar roupa para os seus, você vai dar um presente para a sua mãe, você vai dar um presente para o seu pai no aniversário dele, você vai cuidar do seu primo que está precisando de um brinquedo, de um presente. É esse o mundo que nós queremos construir.
E quando a Volkswagen me convida para vir aqui, e o Wellington também me convida e o Moisés, para anunciar, primeiro era um investimento de R$ 5 bilhões. Eu falei: “Ah eu não vou em investimento de R$ 5 bilhões”. Depois sai de 5 para 14. Eu chego aqui já está 16. Se eu não viesse hoje, amanhã já seria 18 ou quem sabe um pouco mais. Porque eu quero que as indústrias invistam. Porque as indústrias investindo vai ter emprego. O emprego tem um salário. O salário faz um consumidor, o consumidor faz um cara comprar na loja, a loja vai contratar mais alguém e vai ter que comprar da indústria. A indústria vai produzir mais, o comércio vai vender mais e todo mundo vai ganhar mais e esse país vai virar um país de respeito, decente e digno para o nosso povo viver bem.
É esse país que nós queremos construir. E é esse país que eu quero entregar a vocês quando deixar o meu mandato. Esse país eu quero deixar para vocês. Eu quero que vocês tenham orgulho e não se esqueçam nunca que um peão metalúrgico saiu daqui da porta de fábrica para consertar esse país, foi ensinamento que eu aprendi na porta de fábrica. Eu sou um privilegiado porque eu não tive a chance que vocês vão ter de cursar uma universidade, eu digo com muito orgulho. Eu sou o primeiro presidente desse país sem diploma. E tenho orgulho de dizer para essas meninas e meninos. Eu e o Zé Alencar também não tinha diploma. Nós passamos para a história como os caras que mais fizeram universidade na história do país, que mais colocamos jovens na universidade e que mais fizemos escola técnica nesse país.
Porque eu não tive chance de estudar, mas eu acho que o filho do trabalhador tem que ter chance de estudar, vocês têm que ter chance de estudar, vocês não nasceram para trabalhar e ganhar só para comer, não. Vocês tem que ter um futuro na vida de vocês e o futuro está na educação, aprender uma profissão para que a mulher seja mais independente, a mulher não pode viver com um homem a troco de um prato de comida, a mulher tem que viver com um homem porque ela ama esse homem e ele respeita ela. É assim que a gente quer a vida.
Muitas vezes as pessoas acham que nós gostamos das coisas de segunda classe. A gente gosta é de coisa de primeira classe. Nós temos que dizer para as pessoas que não nos conhecem. Nós, da classe trabalhadora brasileira, temos uma facilidade de nos acostumar com coisa boa. A gente quer ganhar bem, a gente quer morar bem, a gente quer estudar bem, a gente quer se vestir bem, a gente quer ter sapato bonito, a gente quer comer bem, de manhã, de tarde e de noite, e no final de semana o nosso querido churrasco.
O Alckmin disse uma coisa aqui que eu acho que ele exagerou, dizer que era bom namorar em um fusquinha. Companheiro, o diretor da Volkswagen me disse que até hoje ele tem um problema na coluna de namorar em um fusquinha. Então, é o seguinte, esses carros que eu vi hoje é carro pra namorar. Aí é carro. Pense em uma coisa boa. Então, gente é o seguinte, talvez esse país nunca tenha tido um presidente que tem a alegria que eu tenho. Eu sou um cara que acredita em Deus, eu não preciso ir na igreja para acreditar em Deus, eu tenho uma relação espiritual, eu e Deus. Eu já falei pra ele, eu quero viver 120 anos. Não pense que vai me levar logo não que eu não quero ir. Convide outro, deixa eu aqui, porque eu quero ajudar esse país.
E eu fico pensando, sair de onde eu saí, da cidade de Caetés, com a mãe com oito filhos em um pau de arara para não morrer de fome e chegar a ser presidente desse sindicato e ter o orgulho de ter vindo aqui fazer assembleia quatro e meia da manhã. O pessoal mais velho, o Marinho, se lembra. O Marinho é daqui, eu conheci o Marinho em 1978 nas greves. Aqui tinha uma mulher chamada Yara, na seção que trabalhava mulher, era uma mulher dura. Eu briguei muito com ela, na porta de fábrica com o microfone. Porque naquele tempo ela dava uma ficha para as mulheres irem no banheiro e as mulheres iam uma vez, na segunda já era repreendida e na terceira tinha medo de ser mandada embora. E eu vivia brigando com a Yara pelo microfone. Tinha muita mulher aqui na Volkswagen. E eu saí daqui, aprendi aqui. Cheguei na presidência.
Eu quero dizer para vocês, que quando eu deixar a presidência, pode me convidar para vir aqui, Moisés, porque nós vamos deixar esse país melhor. Eu quero que os pais de vocês tenham certeza que vocês vão ter um futuro mais grandioso do que os deles. Que vocês vão ter mais possibilidade de vencer na vida do que eles. Porque é pra isso que nós chegamos lá, é para isso que vocês me botaram lá. É por isso que vocês acreditaram. Vejam uma coisa gente, não tem ninguém que foi eleito três vezes. Eu fui. Não tem ninguém. E eu só fui por causa de vocês. Eu só fui por causa do povo trabalhador desse país.
Então eu não posso falhar com vocês. Eu não posso enganar vocês. Porque quando terminar o meu mandato os amigos que eu tenho sabe quem são? Vocês. Quando a gente cai em desgraça é que a gente sabe quem é amigo da gente. E o que eu passei com as mentiras inventadas por mim, quem sobrou na minha vida, quem foi? Foi vocês. Quem ia na porta da minha casa me defender era o sindicato. Então, vocês sabem que eu devo o que eu sou a cada um de vocês. Certamente o pai de vocês, ou o avô de vocês, ou tio, já esteve na porta de fábrica ouvindo eu me esgoelar aqui. E eu era duro com as mulheres. Com as mensalistas, porque a gente vinha fazer assembleia na turma da sete para as mensalistas e muitas vezes as moças não paravam. Elas entravam.
E eu era duro. Eu era muito duro. Eu falava “Vocês vão entrar mais cedo, vocês vão tentar limpar a mesa dos chefes, vocês acham que puxar o saco vai dar estabilidade para vocês? Quando o chefe meter o pé na bunda de vocês, vocês vão no sindicato me procurar e me chamar de doutor”. Aí elas paravam. Elas falavam “O tio tá nervoso”. E eu ficava bravo mesmo. Eu levantava quatro horas da manhã. Às vezes tinha ido dormir à uma hora e o cara não queria parar. Não, vai parar. Vai parar para ouvir. E essa é minha relação com a classe trabalhadora. Ela persiste até hoje. Eu deixei o meu sindicato em 1980. Já faz 44 anos, mas desde que deixei o sindicato eu continuo no sindicato, porque eu me dou bem com todas as diretorias.
Se me convidarem eu venho na porta de fábrica, eu gosto de conversar com vocês, eu gosto de aprender com vocês, eu gosto de ouvir as queixas de vocês, porque feliz do presidente que tem mais orelhas do que boca para ouvir do que falar. Feliz o presidente que já morou em casa que deu enchente. Já acordei uma hora da manhã, levantando a minha mãe da cama, com rato, com barata, com fezes boiando dentro da sala. E no dia seguinte de manhã era um palmo de lama para a gente tirar, era cada sanguessuga nas pernas da gente. Tinha que jogar cachaça para matar a sanguessuga e derrubar.
Quem viveu isso não pode errar com vocês. É por isso que eu digo para vocês: estejam certos, nós vamos melhorar esse país, vamos recuperar o direito de andar de cabeça erguida. E agora, com essa questão da transição energética, com esse negócio de descarbonização, com essa história de energia verde, de tudo verde, não tem país no mundo que possa competir com o Brasil. Não tem país no mundo, a gente não é mais campeão do mundo no futebol, mas a gente vai ser campeão do mundo na construção de energia verde e na proteção do planeta Terra cuidando da nossa Amazônia com muito respeito.
Esse país vocês farão parte dele. Eu ainda tenho três anos. E esperem porque muitas coisas boas vão acontecer. Muito boas. Eu espero que um dia vocês me convidem para ir comer uma picanhazinha com vocês e tomar uma cerveja gelada. Eu quero parabenizar a Volkswagen. Esse ano eu estive na Alemanha, eu fiz uma reunião com todo o Governo alemão, com meu amigo Olaf Scholz, fiz uma reunião com o presidente da Alemanha, fiz uma reunião com o presidente da fundação do SPD, Friedrich Ebert. E quero dizer para vocês: eu conheço a Alemanha desde 1975 e eu nunca vi a Alemanha com tanto interesse no Brasil como ela está agora. Eu fui para Dubai. Eu fui para a Arábia Saudita, eu fui para o Catar, eu nunca vi tanto interesse de fazer investimento no Brasil. Venham, venham ajudar a gente a produzir hidrogênio verde, venham ajudar a gente a produzir etanol, biodiesel, venham ajudar a gente. Porque o Brasil não vai jogar fora as oportunidades do século 21.
Nós vamos aproveitar cada oportunidade e fazer com que a gente deixe de ser um país em vias de desenvolvimento e a gente seja um país finalmente desenvolvido. Eu não fiz opção pela pobreza. Eu fiz opção para acabar com a pobreza. Eu não fico feliz quando eu vejo um cara com fome. Eu fico feliz quando eu vejo um cara falar: "Tô estufado". Porque comeu muito. E tem que comer, porque é assim que a gente vai viver e a gente vai criar nossa família. Portanto, família Volkswagen, do fundo do coração, eu não trabalhei aqui, mas por vocês eu não só trabalhei, como ainda trabalho na Volkswagen porque enquanto existir um único trabalhador ou uma trabalhadora nessa fábrica eu estarei junto com vocês ajudando a construir um mundo melhor para a classe trabalhadora brasileira. Um abraço, gente. Companheiro Moisés, parabéns à diretoria do sindicato, parabéns ao comitê de fábrica e parabéns à direção da Volkswagen por ter feito esse acordo até 2028.
Eu tenho certeza, eu fiquei muito orgulhoso quando eu estava sentado na minha mesa na presidência da República que eu recebi o informe: o sindicato acaba de fazer um acordo até 2028. Eu confesso que fiquei com inveja de vocês porque eu não consegui fazer um acordo por tanto tempo, mas vocês fizeram. Que Deus abençoe vocês e continue fazendo a Volkswagen acreditar no Brasil.
Um abraço, gente. Um abraço. Que Deus ajude vocês a vencerem na vida. Um abraço.