Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de investimentos e comemoração dos 132 anos do Porto de Santos
Eu, primeiro, queria ter uma conversa com os companheiros e as companheiras que estão aqui. Nós estamos em um ato significativo. Aqui estão reunidos uma parte da comunidade de Santos, gente do Guarujá e de outras cidades. Gente de São Vicente. Presidentes de partidos de vários partidos diferentes. O presidente da República, o governador do estado e prefeitos aqui presentes.
Esse ato aqui, mais do que o anúncio de dinheiro para o Porto de Santos, esse ato aqui significa que nós precisamos restaurar, neste país, a normalidade. E a normalidade é a gente respeitar o direito à diferença. Eu já fui presidente da República com o Alckmin governador do estado. De partidos diferentes. E o Alckmin derrotou a gente quatro vezes. E nós não temos que reclamar, temos que nos preparar para ganhar. Nós disputamos com o Tarcísio e perdemos as eleições.
Não dá para querer dar um golpe em São Paulo e invadir o prédio de São Paulo. Não. É voltar para casa, se preparar e disputar outra vez. E respeitar o direito do exercício da função de quem ganhou as eleições. Porque, se não, a democracia fica capenga. E a democracia é o respeito à diversidade. É o respeito à diferença. É a gente aprender a conviver com quem a gente não gosta, mas a gente respeita o direito da pessoa até não gostar da gente. E a gente também não é obrigado a gostar das pessoas. Isso não impede que a gente seja responsável de lidar com as nossas diferenças.
E eu quero dizer ao governador Tarcísio. Eu governei com o Alckmin, eu governei com o Serra e nunca, nunca, em nenhum momento, de oito anos de presidência, eu tratei São Paulo diferente porque eles não pertenciam ao meu partido. E quero te dizer, Tarcísio, você terá, da presidência da República, tudo aquilo que for necessário, porque eu não estou beneficiando governador, estou beneficiando o estado mais importante da Federação, com 42 milhões de habitantes. Um estado que devo tudo que eu sou. Eu sou de origem pernambucana, mas cheguei aqui nessa cidade com 7 anos de idade e, tudo que eu sou na vida, eu devo a São Paulo. Portanto, São Paulo merece respeito e o governador merece ser tratado com muito respeito nas atividades públicas que nós fazemos.
E eu quero começar, eu tô com discurso escrito, mas não vou ler esse discurso, porque não dá para segurar microfone e ler, ao mesmo tempo, o discurso. Eu vou dizer uma coisa para vocês: não é só a questão dos portos e do ‘eurotúnel’ nosso aqui, pequeno, de 1.800 metros, que é o nosso ‘eurotúnel’ que vai ser importante. O que é importante, Tarcísio, é dizer para você que o BNDES aprovou R$ 1,35 bilhão para o estado de São Paulo, para o eixo norte do Rodoanel, que, logo, logo, você irá receber a notícia do Aloizio Mercadante. E mais importante: nós vamos fazer, aqui no estado de São Paulo, mais 12 institutos federais. E quero dizer, companheiro Márcio, que São Vicente será premiado com um instituto e que a cidade de Santos será premiada com um instituto. E é importante lembrar, é importante lembrar que esses institutos, eles precisam ser utilizados para formar jovens, para desenvolver a economia local. Qual é a aptidão da cidade de Santos? Esses jovens têm que estudar cursos que possam servir para aprimorar o crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico da cidade em que o instituto é criado.
Dito isso, companheiros, eu queria cumprimentar meu companheiro Geraldo Alckmin, meu vice-presidente; cumprimentar o companheiro Tarcísio, governador do estado de São Paulo. Cumprimentar o Marcos Pereira, que está no exercício da presidência da Câmara, porque o Lira não veio aqui. Queria cumprimentar o companheiro Silvio Costa, ministro dos Portos; Rui Costa; e cumprimentar o seguinte: quando a coisa vai mal no Brasil, a culpa é do ministro da Fazenda. Quando as coisas vão bem no Brasil, é por conta do presidente da República. Então, é preciso apenas equilibrar. A economia vai bem nesse momento, por conta da competência e do comportamento do Fernando Haddad dirigindo a economia brasileira. Inclusive, com uma capacidade extraordinária de negociar com a Câmara e negociar com o Senado. Nada é de graça. E é importante vocês saberem que o meu partido, de 513 deputados, só tem 70.
Portanto, vocês imaginam a quantidade de conversa que tem que ser feita para que a gente consiga aprovar uma coisa na Câmara dos Deputados. E quero dizer para vocês que, este ano, aconteceu algo mais do que revolucionário: pela primeira vez, no regime democrático, a gente consegue aprovar uma Reforma Tributária aprovada pela Câmara e pelo Senado. Com muita conversa. E tem tido muita conversa. Vocês sabem que para a gente governar bem, é preciso que a gente defina, claramente, o que que você vai fazer com o país. Logo no primeiro ano de mandato. Porque se você não define um projeto estratégico do que você quer para o país, o país vira refém dos ministros. Cada ministro quer fazer a sua ponte, cada ministro quer fazer o seu porto, cada ministro quer fazer a sua estrada.
Então, o governo termina se transformando em um monte de obras que não tem ligação entre elas. O que que nós fizemos? Eu aprendi isso em 2007. Nós lançamos o primeiro PAC em 2007. Fevereiro de 2007. E a gente planejou tudo que ia acontecer nesse país até 31 de dezembro de 2010. E nós dizemos em uma reunião: “Está proibido ministro ter novas ideias”. O papel dos ministros, agora, é cumprir o que está determinado pelo PAC, que foi aprovado pelo Governo. Agora, nós fizemos a mesma coisa. É importante lembrar que o PAC não é uma ideia do Lula. O PAC não é uma ideia do Rui Costa, que é o coordenador. Ou de qualquer ministro aqui. O PAC é o resultado da maturidade política da gente entrar em contato com os 27 governadores do estado e dizer para cada governador: “Nós queremos que vocês apresentem para o Governo Federal as principais obras que vocês acham que são necessárias para os estados de vocês”. E os 27 governadores apresentaram. Depois, foi a vez dos prefeitos apresentarem quais as obras importantes para cada cidade. E assim também vale para o Minha Casa Minha Vida.
E o que nós estamos fazendo não é resultado de uma ideia de um presidente da República, é o resultado da construção coletiva de prefeitos, governadores e Governo Federal que querem, pelo menos uma vez na vida, no século 21, não estragar a oportunidade que o Brasil tem de se transformar em uma economia rica, próspera e que o povo brasileiro melhore as suas condições de vidas. Nós precisamos nos transformar em um país altamente desenvolvido. E é por isso que nós tiramos esse porto da política de privatização.
Nesse nosso querido Brasil se estabeleceu uma narrativa de setores da elite econômica brasileira de destruir a imagem do Estado. De destruir a imagem do Poder Público. A ideia de que o Estado não vale nada. A ideia de que o governador não tem que ter ideia. A ideia de que o presidente não tem que ter ideia. A ideia que nós seremos bonecos na mão deles, que apresentam para nós aquilo que eles acham que ter que ser feito. E a gente que foi eleito pelo povo. A gente que foi xingado, a gente que ganhou tem direito de governar esse país do jeito que a gente entender que deva governar. E o Tarcísio governar São Paulo e os prefeitos governarem a cidade. Então, nós queremos provar que esse porto, com a sua autoridade portuária, vai fazer tanto ou mais do que qualquer empresário faria nesse país. Porque é o que nós queremos provar.
Veja, eu era constituinte em 1988, quando a gente aprovou o SUS. O SUS apanhou nesse país como se fosse algo desprezível. As pessoas só mostravam no SUS aquilo que não funcionava. O SUS poderia salvar mil vidas no dia, ninguém se importava. Mas, se tivesse uma morte no SUS, era para poder mostrar que o SUS não funcionava, porque o SUS não tem gestão, porque falta gestor. Sempre inventa. O grande gestor desse país era o cara das Lojas Americanas, o tal do Paulo Jorge Lemann, que deu um calote de quase R$ 40 bilhões de reais nesse país, quebrando a loja dele. E quase quebrando o sistema financeiro. E depois é o Poder Público que não sabe governar. Então, o que nós queremos provar é que se o Estado for responsável, o Estado vai fazer as coisas que tem que ser feitas.
Esse túnel é necessário e esse túnel ele fica muito caro, seja para São Paulo ou para o Governo Federal, de se fazer sozinho. Então, com muita humildade, São Paulo já tinha um projeto. O Meio Ambiente já tinha aprovado, então a gente não poderia ficar com a ideia de que o Governo Federal deveria fazer e São Paulo ficar fora. Não. Humildemente, eu falei para o Rui Costa, falei para o ministro: "Traga o Tarcísio aqui que nós vamos fazer uma parceria para fazer, conjuntamente, esse nosso querido ‘eurotúnel’, que é muito pequeno, mas é muito importante". E é assim que a gente tem que governar esse país.
A gente não pode governar de forma diferente. Um presidente da República não pode ter inimigos. Um presidente da República não pode gostar de um estado e não gostar de outro. Um presidente da República não pode gostar de uma cidade e não gostar de outra. As cidades são pequenas, mas é na cidade que a gente vive. É na cidade que está o problema da educação, é na cidade que está o problema da saúde. É na cidade que está o problema dos transportes. É na cidade que o povo está próximo da autoridade e vai na casa dele xingar. Então, nós temos que tratar as cidades com muito respeito e tratar os prefeitos com muita decência. E de todos os partidos políticos. Se a gente quiser ter divergência, espera as eleições. Nas eleições, você diga o que você quer. Disputa, se ganhar, maravilhoso; se perder, vamos lamber as nossas feridas e esperar outra oportunidade.
Eu digo isso, porque ninguém tem mais experiência de perder do que eu. Eu perdi o governo de São Paulo em 1982, para o Franco Montoro. Eu pensei que eu ia ganhar e eu perdi. Eu perdi em 1989. Eu perdi em 1994. Eu perdi em 1998. Nós ganhamos 2002, 2006, 2014, 2010 e o Haddad quase ganhou em 2018, mas perdeu para o Bolsonaro. E eu voltei a ganhar a presidência da República pela terceira vez. Aliás, o único presidente eleito pela terceira vez. Então, eu não tenho direito de escolher inimigos. Eu tenho a gratidão do povo brasileiro que me elegeu pela terceira vez.
Quando as pessoas querem ser eleitas pela primeira vez? Eu fui pela terceira vez. Então, o que eu tenho que fazer é dedicar o que eu tiver de tempo, o que eu tiver de saúde, o que eu tiver de inteligência, para melhorar a vida do povo pobre desse país. Na educação, na saúde, no emprego e no salário. E é por isso que eu vim aqui hoje. Anunciar para o Tarcísio que nós estamos juntos. E em quem ele vai votar, é problema dele. E em quem eu vou votar, é um problema meu. Mas nós estamos juntos, com o compromisso de servir o povo desse estado e o povo brasileiro. Se vocês não sabem, o Tarcísio trabalhou no DNIT, trabalhou fazendo gasoduto lá em Manaus, quando eu era presidente.
Eu encontrei com o Tarcísio em Coari, no meio da Amazônia, trabalhando no gasoduto. Depois o Tarcísio trabalhou com a Dilma Rousseff. E depois eu estranhei vendo ele trabalhar com o Bolsonaro. Mas paciência, é uma opção dele. E depois ele ganhou de nós nas eleições. O que que eu vou lamentar? Eu tenho que parabenizá-lo e preparar para derrotar você nas próximas eleições, mas enquanto a gente tiver governando, a gente vai trabalhar. É importante, Tarcísio, você ter claro: da minha parte não faltará um minuto de respeito ao papel que você exerce em São Paulo, da mesma forma que eu fiz com o Alckmin.
O Alckmin, nós brigamos tanto, olha como é que a gente está agora. Casadinho ali. Casadinho. Nós estamos separados pela dona Lu e pela dona Janja. Nós estamos ali juntinhos. Ou seja, o Brasil precisa disso. O Brasil precisa de harmonia. O Brasil precisa de um pouco de alegria. O Brasil precisa de um pouco de esperança. Esse país não pode jogar fora o século 21. Esse é o século da transição ecológica e ninguém compete com o Brasil na hora de discutir energia renovável. Na hora de discutir etanol, biodiesel, hidrogênio verde. Ninguém disputa conosco.
Então, essa é a chance da gente construir junto. Essa é a chance da gente fazer a virada nesse país. E eu quero dizer para vocês que eu tô feliz. Se vocês querem um presidente que tem sorte, podem saber que o elegeu. Sou feliz no meu casamento. Tem gente que fala que não gosta de governar, eu gosto. Eu não gosto de governar, eu gosto de cuidar das pessoas. A palavra correta é cuidar. Governar é com o ministro da Fazenda, que fica preocupado com a contabilidade. Eu quero é tratar do povo. Eu quero saber se o povo está tomando café de manhã. Eu quero saber se as pessoas estão almoçando. Eu quero saber se as pessoas estão jantando. Eu falei durante a campanha: "A carne vai abaixar". E a carne abaixou. O alimento abaixou. É esse país que nós queremos construir, gente.
Eu vou contar uma coisa, Tarcísio, daqui a pouco a gente vai na Volkswagen. Eu espero que você esteja lá. A Volkswagen vai anunciar R$ 19 bilhões de investimento. A quantos anos a indústria automobilística não investia nesse país? Quando eu deixei a presidência, em 2010, a indústria automobilística vendia 3,7 milhões carros por ano. Eu voltei para a presidência em 2023 e a indústria automobilística vende 2 milhões de carros. Ou seja, perdeu quase 50%. Por que? Porque não tinha poder de compra. Porque não tinha consumo. Porque as empresas não acreditavam no Brasil. E o nosso papel é fazer com que a gente garanta estabilidade política, a gente garanta estabilidade econômica, estabilidade fiscal, estabilidade jurídica e que a gente tenha previsibilidade do que a gente quer nesse país. Esses são os ingredientes do sucesso. E, por isso, nós não privatizamos esse porto, porque nós acreditamos no povo trabalhador desse porto. Nós acreditamos.
Agora, só se fala em inteligência artificial. Por que inteligência artificial? Eu preciso é de inteligência humana. Eu preciso, porque ela tem sentimento. Ela pensa mais humanisticamente. Então, esse negócio de inteligência artificial, Tarcísio, vamos devagar nisso, vamos aprender, mas vamos cuidar do nosso povo. Eu quero é o jovem na escola, estudando. Nós acabamos de fazer uma lei em que a gente vai garantir para o ensino médio brasileiro uma poupança.
O jovem estudante ele vai utilizar e receber R$ 200 por mês, no final do ano vai ter um depósito na poupança para ele de R$ 1.000. Se ele passar e ele tem que frequentar a escola com 80% da presença. Se ele fizer tudo isso, no ano seguinte, ele vai continuar recebendo mais R$ 200 por mês. Se ele fizer tudo isso, no ano seguinte, ele vai continuar recendo mais R$ 200 por mês e no final do segundo ano ele vai continuar recebendo mais R$ 200 por mês e mais R$ 1.000 na poupança. Quando terminar, se ele souber economizar, ele tem um dinheirinho para pensar no que ele vai fazer da vida. E me disseram: "Não, Lula, mas isso o Governo está gastando dinheiro, o Governo está gastando". Não. Quando se trata de educação, nós estamos investindo. Eu estou gastando se eu não cuidar desse jovem e deixar ele virar para o crime organizado. Se eu deixar esse jovem virar um fumador de crack. Se eu deixar ele virar um cheirador de cocaína. Eu tenho que cuidar é que ele fique estudando, que ele tenha chance na vida. Que a família viva em harmonia, e que a família saiba que o seu filho vai ter futuro. Esse país não depende de mim. Esse país depende de cada um de vocês.
E eu vou terminar dizendo o seguinte: vocês estão vendo, a televisão só fala de dengue agora. É como se fosse a primeira vez que a gente tivesse dengue. É como se fosse a primeira vez. Faz muitos anos que a gente ouve falar de dengue. E, dengue, como é que a gente cuida? Dengue a gente pode evitar que ela apareça, se o prefeito tiver cuidado de limpar a cidade, de limpar a rua. Se o povo da casa tiver cuidado de cuidar da sua casa, de não deixar água empoçada. De não deixar lixo. Cada um tem uma responsabilidade. Não é só o prefeito, não é só o governador, não é só o presidente da República. Nós, em casa, somos os primeiros a ter responsabilidade. Se tiver dengue na sua casa, veja se a dengue veio do vizinho ou veio da sua própria casa. Ao em vez de xingar alguém, olhe se você cumpriu com o seu compromisso. Se você cumpriu com o cuidado que você tem com a sua família. Porque, assim, vai ser bom para todo mundo. Que a gente não pode ficar transferindo responsabilidade e acusações.
Então, queridas e queridos companheiros, quero dizer para vocês o seguinte: eu tenho mais três anos de mandato. Se preparem, porque esse país vai surpreender o mundo. Se preparem. Se preparem que nós vamos crescer mais. Se preparem que a gente vai aumentar salário. Se preparem, porque o salário mínimo vai aumentar. Se preparem, porque a massa salarial vai crescer. E, se preparem, porque o emprego vai crescer. Nesse primeiro ano, nós batemos recorde de volume da massa salarial, quase R$ 300 bilhões. Nós crescemos a massa salarial em quase 11%. E nós crescemos o salário mínimo depois de 6 anos sem nenhum reajuste.
Então, companheiros, é o seguinte: o Brasil está, não na mão do prefeito ou na mão do governador, ou na minha mão. O Brasil está na mão de vocês. Vamos construir esse país juntos, porque os nossos netos e os nossos filhos esperam que a gente faça mais pelo país do que os nossos pais e avós fizeram.
Um abraço! Parabéns à cidade de Santos, parabéns ao povo de Santos e parabéns pela relação democrática entre Brasil e São Paulo.