Pronunciamento do presidente Lula durante a posse do novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski
Todos vocês sabem que é desnecessário o presidente da República falar depois da gente ouvir o Flávio Dino e ouvir o Lewandowski. Entretanto, eu não poderia deixar de cumprimentar a quantidade de ministros da Suprema Corte e a ministra Cármen Lúcia aqui presente, em uma demonstração de afeto e de reconhecimento ao companheiro deles, que assume o Ministério da Justiça, e ao companheiro deles que vai assumir a Suprema Corte. Quero agradecer a presença dos ministros de Estado e das ministras de Estado. Em uma demonstração, Flávio Dino, de que as pessoas te adoram, não pense que as pessoas estão aqui porque vão festejar a sua saída. As pessoas estão tristes pela sua saída.
Quero agradecer aos senadores e senadoras. Ao líder do Governo no Senado, no Congresso Nacional, companheiro Randolfe. Aos deputados federais, às deputadas federais, aos senadores, às senadoras. Aos ministros das outras cortes presentes aqui. E dizer aos advogados aqui presentes, eu estou vendo, a gente conhece advogado pelo paletó e pela gravata. Eu tô vendo muitos advogados aqui que são admiradores, possivelmente, do velho, do sainte e do entrante, Ministério da Justiça.
As minhas palavras aqui são de agradecimento ao sainte, ao companheiro Flávio Dino pelo trabalho extraordinário que ele prestou, não apenas como ministro da Justiça, mas como um cidadão brasileiro, como um homem da política, como uma pessoa que conheceu a experiência das funções públicas em várias frentes e que teve um trabalho extraordinário de participar, não apenas como ministro, executando aquela que era sua tarefa, mas participar dos debates políticos toda vez que foi convidado na Câmara dos Deputados, no Senado. Sem ter nenhuma preocupação de ser ofendido ou maltratado por algum deputado ou senador.
Ele cumpriu de forma magistral com a tarefa de ser ministro da Justiça. Eu tive a alegria de convidar o Flávio Dino para ser ministro da Justiça quando ele sonhava em ser senador da República. Dizem os entendidos, Sarney talvez seja o maior especialista aqui, de que a chegada ao Senado é o céu da política. Nos outros cargos você sofre muito. O Pacheco tá com a cara de quem tá no céu. Dizem que o Senado é o lugar mais extraordinário que um político almeja sempre pela tranquilidade do Senado, mandato de oito anos, ou seja, não tem que ficar a cada quatro anos indo pra rua pedir voto, sendo xingado, às vezes maltratado. Mas depois reconhecido e eleito.
E o Flávio Dino, certamente, sonhava em ser senador da República depois de passar oito anos no governo do Maranhão, depois de ser deputado federal, depois de ser presidente da Embratur. E eu fiz questão de persuadi-lo a não ir para o Senado e vir para o Governo porque seria melhor para o Brasil. E eu acho que foi acertado, Flávio, a tua tomada de decisão de vir para o Governo. E, confesso para vocês, que eu dizia para a Janja que, muitas vezes, eu deitava e eu tinha que escolher o novo ministro da Suprema Corte e eu ficava pensando: “Quem? Mulher, homem, negro, branco, de que estado, qual personalidade?”.
E isso é uma coisa que martiriza a gente, que você não pode ficar pensando em escolher amigos, você não pode ficar escolhendo companheiro. Você tem que escolher alguém que possa dar conta da função que essa pessoa vai exercer a partir desse momento. E eu confesso que eu tinha muita preocupação de tirar o Flávio Dino do Ministério da Justiça. Por causa da colaboração política que ele tinha com o Governo, com os partidos políticos, com o Senado e com a Câmara. E eu fiquei pensando, fiquei pensando, fiquei pensando, e me veio a ideia de um desafio. O Lewandowski que eu conheço lá de São Bernardo, e é importante dizer para vocês que eu conhecia mais a mãe do Lewandowski do que ele.
A mãe dele, uma senhora extraordinária. Tinha deixado a Suprema Corte e todo mundo que deixa uma atividade pública que é de uma importância monumental, mas que tem um salário às vezes irreal, em função da qualidade da função, quando deixa a Suprema Corte, o cidadão pensa: “Bom, agora eu vou ganhar um pouco de dinheiro, vou trabalhar em outras coisas e vou viver a minha vida com a minha esposa”. Foi assim que o Lewandowski estava pensando em construir os anos que ele tem pela frente com a Yara. E eu fiquei pensando: “Eu não posso correr o risco de convidar o Lewandowski e ele não aceitar. Eu tenho que convidar e ele aceitar.”
E pedi uma conversa com o Lewandowski. E com muito jeito ouvi ele dizer o que ele estava pensando para o futuro, como é que a vida estava ficando razoável do ponto de vista da melhoria econômica dele, da credibilidade que ele conquistou neste país, da capacidade que ele tinha de como advogado exercer a sua função. E eu resolvi então dizer: “Lewandowski, eu vou precisar de você. Eu sei que é uma decisão difícil, não gostaria que você me respondesse agora. Vá para sua casa, converse com a sua esposa Yara e veja se ela concorda, porque eu não quero criar conflito, sabe, na sua vida”. E o Lewandowski foi, pediu dois dias para mim para dar uma resposta. E eu pensei: “A conversa vai ser longa”, porque dois dias esperando o Lewandowski conversar com a Yara, ou era muita conversa ou era muita briga. E quando foi no segundo dia, eu levantei e nada do Lewandowski ligar. Eu vim pra cá, nada dele ligar.
E eu falei para o Marcola: “Está chegando a hora de eu tomar a decisão de ligar para o Lewandowski e perguntar ‘O que que você decidiu?”. E aí o Lewandowski me liga. E fala: “Presidente, eu conversei com a Yara e a Yara logo que eu falei que o senhor tinha me convidado ela falou: ‘É isso que você quer, então aceite"'. E ele aceitou ser ministro da Justiça. Eu quero cumprimentar os governadores que estão aqui, os vice-governadores que eu esqueci de citar. E dizer que eu fiquei feliz, não por mim, eu fiquei feliz pelo Brasil. Não é em qualquer momento histórico que uma nação tem o direito de entregar para a Suprema Corte uma pessoa da qualidade do Flávio Dino. E não é qualquer momento histórico que uma nação pode entregar para ser ministro da Justiça um homem da qualidade do Lewandowski.
Eu quero dizer para vocês, tanto para o companheiro Flávio Dino, quando ele aceitou, eu disse ao Flávio Dino: “Flávio Dino, eu costumo trabalhar estabelecendo relação de confiança com as pessoas. Você está sendo convidado para ser ministro, eu tenho confiança em você e a sua equipe é você quem monta. Você só tem que ter consciência que qualquer coisa que der errado a responsabilidade é sua. Eu não vou interferir no seu time, como faz algum diretor do Corinthians que faz o Corinthians virar o que tá virando. Ou seja, presidente não dá palpite no time que o ministro está montando. O presidente discute com o ministro, o presidente pode mudar discutindo com o ministro.
A mesma coisa eu fiz com o Lewandowski. Chamei o Lewandowski e falei: “Companheiro, é o seguinte, a sua equipe é você quem monta. Você não tem compromisso com ninguém que está lá do Flávio Dino. O seu compromisso é montar a sua equipe, porque a partir da montagem da sua equipe, é você que vai responder pela glória dos acertos e pelo sofrimento dos erros que cometer”. Então, querido Lewandowski, primeiro quero agradecer ao acerto da equipe do Flávio Dino, a quem eu sou muito agradecido.
Porque ele não seria o que foi se ele não tivesse uma equipe competente. E ao companheiro Lewandowski, eu queria dizer, Lewandowski, que na prática, no dia a dia, as coisas serão mais difíceis do que aquilo que você leu. Você vai perceber que tá cheio de surpresa na atividade humana, no funcionamento do Congresso, no funcionamento da sua própria equipe que você não conhecia. A única coisa que eu quero que você tenha certeza é que eu estou indicando para ser ministro da Justiça, no lugar do Flávio Dino, um homem que eu respeito, um homem que eu tenho 100% de confiança e eu tenho certeza que você vai, como o Flávio Dino, passar para a história na criação do funcionamento normatizando a atividade do Ministério da Justiça, ninguém persegue ninguém.
A Polícia Federal não persegue ninguém, o Governo Federal não quer se meter, se intrometer a fazer a política de segurança nos estados. O que nós queremos é construir com os governadores dos estados a parceria necessária para que a gente possa ajudar a combater um crime que eu não chamo de coisa pequena. Eu sou de um tempo, não sou dos mais velhos que estão aqui, não é Sarney? Eu sou de um tempo em que São Paulo tinha um bandido chamado Meneguel ou Meneguelli (Meneghetti), que era famoso por ser assaltante mais famoso de São Paulo, mas que não tinha vítima. Ele gostava de assaltar as casas.
Hoje, nós sabemos o que que é o crime organizado. E ontem eu disse para a imprensa: “O crime organizado não é uma coisa de uma favela, não é uma coisa de uma cidade, não é uma coisa de um estado. O crime organizado é uma indústria multinacional de fazer delitos internacionais. E o crime organizado está em toda atividade desse país. E ontem eu disse, se a gente quiser pegar, do futebol, ao Poder Judiciário, à classe política brasileira e à classe empresarial, o crime organizado está metido, e mancomunado com gente dos Estados Unidos, com o crime organizado da França, com o crime organizado da Suécia, da Holanda. Ou seja, é uma multinacional com muito poder, com muito poder. Então, Lewandowski, não apenas o seu trabalho de ajudar a combater aqui. Mas o trabalho de construir com outros países o enfrentamento a uma indústria do crime, a uma indústria de roubo do dinheiro público e de sofrimento da população mais pobre desse país.
Eu tenho certeza que quando terminar o nosso mandato, eu estarei aqui nessa tribuna te agradecendo pelo serviço extraordinário que você fez como ministro da Justiça do nosso país.
Muito obrigado, Flávio Dino. Obrigado, Lewandowski, por ter aceito. E obrigado a vocês. Ajudem o Brasil a ajudar vocês.