Pronunciamento do presidente Lula no lançamento da Nova Indústria Brasil
TRANSMISSÃO | Lula participa de lançamento da Nova Indústria Brasil - Fonte: Canal Gov
Eu não vou fazer discurso, eu queria apenas dizer para o companheiro Alckmin, que eu e Rui Costa, que chegamos bastante atrasados aqui, a gente deve pedir desculpas às pessoas que vieram no horário certo para fazer a reunião, e a gente precisa começar a obedecer o horário que está na agenda. Nós tivemos uma discussão ruim sobre coisas boas, então a gente atrasou um pouco, e eu peço desculpas a vocês que chegaram cedo.
A segunda coisa, Alckmin, é que na reunião do Conselhão do Padilha eu disse uma coisa depois da apresentação de dez oradores, de que a capacidade de trabalho que eles conseguiram apresentar no Conselhão, eu achei uma coisa tão extraordinária que o que ficou me preocupando é saber como é que a gente vai conseguir implementar aquilo que o pessoal foi capaz de produzir intelectualmente.
Eu cheguei a dizer que um país que tinha a quantidade de gente inteligente como aquelas que estavam no Conselhão não precisa de inteligência artificial, vamos usar a inteligência do nosso pessoal que já dá.
E, agora, eu fico surpreso também com a apresentação dos companheiros que participam do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Político-Industrial. Eu acho que a capacidade de produção que vocês tiveram, e o Aloízio Mercadante já falou em R$ 300 bilhões que podem ser aportados pelo BNDES ao longo desses quatro anos, é um alento de que a gente pode sair do patamar que a gente se encontra e dar um salto de qualidade.
Para isso, é importante que a gente possa ter uma sequência de exigência de cumprimento das coisas que aqui foram discutidas. O que aqui se discutiu, Alckmin, eu sei que vai ser da tua responsabilidade como coordenador (falha técnica no microfone) das pessoas, sabe, a consequência do ato que nós estamos discutindo.
Porque é muito importante para o Brasil que a gente volte a ter uma política industrial inovadora, uma política industrial totalmente digitalizada como o mundo exige hoje, e que a gente possa superar, de uma vez por todas, esse problema de o Brasil nunca ser um país definitivamente grande e desenvolvido. Nós estamos sempre na beira, mas nunca chegamos lá.
Nós tínhamos chegado à sexta economia, voltamos para a décima segunda, chegamos à nona agora. Mas não porque a gente cresceu muito, os outros caíram. E isso não é motivo de orgulho. Então, eu quero agradecer primeiro aos ministros que trabalharam, que participaram, que fizeram a proposta. Agradecer, Alckmin, o trabalho realizado, que para mim é um trabalho muito importante, mas que cada ministro saia daqui com um livro desse embaixo do braço porque vocês vão ser cobrados.
O problema não começa aqui — não termina aqui, ele começa aqui. Nós temos mais três anos pela frente, e que o objetivo aqui, me parece, que é para a gente chegar no final dos três anos, a gente ter uma coisa concreta para a sociedade falar: "discutimos, aprovamos e aconteceu".
O nosso problema era dinheiro, se dinheiro não é problema então nós temos que resolver as coisas com muito mais facilidade. Se o Fávaro continuar abrindo mais mercado para exportar mais produto, se a gente conseguir... porque nós precisamos também fazer com que os empresários brasileiros acreditem um pouco no Brasil.
Eu tenho experiências muito boas, e eu tenho experiências muito tristes. Eu tenho um empresário que eu fui inaugurar a fábrica dele com muito orgulho e um ano depois eu encontro esse empresário importando o produto que ele ia fabricar da China. E eu fiquei muito nervoso, muito irritado. Eu falei: "pô, nós fomos lá inaugurar sua fábrica, você ia produzir..." "Ah, presidente, mas é muito mais barato na China, compensa vir aqui comprar". Uma coisa que o Rui Costa disse e que nós temos que levar em conta é que muitas vezes, para que o Brasil se torne competitivo, o Brasil tem que financiar alguma das coisas que ele quer exportar.
A gente não pode agir como sempre agiu, achando que todo mundo é obrigado a gostar do Brasil, que todo mundo vai comprar do Brasil, sem que a gente cumpra com as nossas obrigações. O debate à nível de mercado internacional é muito competitivo, é uma guerra. Eu estava em Londres em 2008, na segunda reunião que a gente fez do G20, e a gente tinha discutido que era definitivamente para acabar com o protecionismo como forma de a gente recuperar a indústria.
Eu tô falando de 2009. E o que aconteceu depois que acabou a reunião? O protecionismo aumentou mais do que nunca. Porque muita gente fala em livre mercado quando é para vender, mas quando é para comprar ele protege o seu mercado como ninguém, e vocês sabem disso. Já viveram muito tempo aqui no Brasil.
Eu acho, Alckmin, que essa reunião só merece a gente dizer para imprensa que, finalmente, o Brasil juntou um grupo de pessoas que vai fazer com que aconteça no Brasil uma política industrial, e muitas delas em uma parceria entre a iniciativa privada e o poder público.
Que Deus abençoe e que a gente possa cumprir isso que a gente escreveu no papel.