Reunião bilateral do presidente Lula com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em Nova York
Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden: Senhor presidente, é um prazer vê-lo de novo. Bem-vindo a Nova York. Quando o senhor veio à Casa Branca em fevereiro, o senhor disse que tínhamos obrigação de deixar esse mundo melhor para a próxima geração, e eu estou totalmente de acordo com o senhor. O Brasil e os Estados Unidos estão cumprindo com a sua obrigação juntos, essa nossa obrigação, vamos continuar fazendo isso. Trabalharemos juntos para enfrentar a crise do clima, mobilizando centenas de milhões de dólares para preservar a Amazônia e os ecossistemas cruciais da América Latina. Nós trabalharemos juntos na parceria da cooperação atlântica, promovendo crescimento inclusivo, econômico, e as duas maiores democracias do hemisfério ocidental estão defendendo direitos humanos no hemisfério e no mundo, incluindo os direitos dos trabalhadores. É uma honra lançar a nova parceria para os direitos dos trabalhadores, daqui a pouquinho. Senhor presidente, obrigado por estar aqui hoje e espero continuarmos a trabalhar juntos para construir um novo melhor durante sua presidência do G20. Eu tenho muita expectativa de trabalhar com o senhor nesse sentido. O senhor tem a palavra, senhor presidente.
Presidente Lula: Presidente Biden, primeiro eu queria lhe dizer da satisfação e do prazer de poder ter um encontro de parte do governo brasileiro com o governo americano. Eu acho que é um momento histórico exemplar. Quando olhamos a geopolítica do mundo, nós percebemos que as oportunidades estão cada vez se fechando e a democracia cada vez corre mais perigo. Porque a negação da política tem feito com que setores extremistas tentem ocupar o espaço em função da negação da política no mundo inteiro. Isso já aconteceu no Brasil, está acontecendo na Argentina e tem acontecido em vários outros países. Essa aproximação do Brasil com os Estados Unidos e essa iniciativa proposta pelo presidente Biden de que a gente faça um plano de trabalho para que a gente possa oferecer à nossa juventude, ao nosso povo, a perspectiva de um emprego decente, de um emprego mais qualificado, tentando tirar proveito da transição climática, da transição energética, tentando tirar proveito da inteligência artificial. É preciso que a gente apresente uma proposta concreta para despertar esperança na sociedade, sabe, que vive do trabalho no mundo.
Eu acompanhei o seu discurso de posse, depois eu acompanhei outros discursos seus e eu nunca tinha visto um presidente americano falar tanto e tão bem dos trabalhadores como o senhor falou. E isso foi referendado para mim pelas centrais sindicais italianas, americanas, alguns companheiros sindicalistas, perguntados por mim, sabe, sobre o seu discurso, eles afirmaram que era o presidente que mais defendia os interesses dos trabalhadores. E essa é uma combinação perfeita, porque eu venho do mundo do trabalho. Eu acho que o trabalho está muito precarizado. O salário está muito aviltado. Cada vez mais os trabalhadores trabalham mais e ganham menos. E essa sua ideia da gente apresentar uma proposta que começa a ser discutida e poderá ir até o G20 é muito importante para o Brasil, é importante para os Estados Unidos e eu acho que é importante para o mundo. Eu penso que há uma coisa muito importante que está acontecendo nesse instante político do mundo. Nós voltamos à democracia no Brasil. Recompusemos todas as alianças políticas que nós tínhamos que construir. Nós vamos presidir os BRICS em 2025. Nós vamos fazer o G20 em 2024. Vamos fazer a COP 30 em 2025 e tudo isso a gente pode fazer compartilhado com o governo americano. Então, é muito importante que a gente possa trabalhar junto, é muito importante que os Estados Unidos, a América do Norte, vejam o que está acontecendo no Brasil nesse momento histórico de transição ecológica, de mudança de matriz energética. O potencial que o nosso país tem de investimento em eólica, em solar, em biomassa, em biodiesel, em etanol, em hidrogênio verde. Ou seja, há uma perspectiva de trabalho conjunto excepcional entre Brasil e Estados Unidos. Portanto, esse encontro aqui, para mim, é um encontro mais do que uma bilateral. É um renascer de um novo tempo na relação Estados Unidos e Brasil. Uma relação de iguais, uma relação soberana. Mas uma relação de interesses comuns em benefício do povo trabalhador do seu país e do meu país.
Presidente Biden: Senhor presidente, eu não poderia concordar mais com você. Eu sei que eu não deveria falar novamente, mas meu pai costumava usar uma expressão durante minha infância. Meu pai não tinha diploma universitário, mas era um homem culto e trabalhou muito duro durante toda a vida. Ele dizia: "Joe, emprego é mais do que um contracheque, é sobre sua dignidade. É sobre autorrespeito. É sobre olhar seus filhos nos olhos e dizer: querido, tudo vai ficar bem e dizer isso sinceramente'. Todo mundo merece uma chance igualitária. E é por causa disso (inaudível, tosse) de uma perspectiva diferente, senhor presidente, a partir do meio para fora e de baixo para cima, não de cima para baixo. Porque se o meio estiver bem, todo mundo estará bem. Sujeitos da classe trabalhadora têm chance de crescer e os ricos ainda vão bem, desde que paguem seus impostos. Enfim, estou ansioso por trabalhar com o senhor. Realmente estou.
Presidente Lula: Presidente, nós sempre estamos tentando convencer as pessoas ricas que quanto menos pobre existir na humanidade, melhor ainda será para os ricos. Ou seja, a pobreza e a desigualdade não interessa a ninguém. Ou seja, eu acho que esse gesto que estamos fazendo aqui, sabe, que em pleno coração dos Estados Unidos, tentando despertar a expectativa de uma esperança. Eu vivi vinte e sete anos dentro de uma fábrica. Eu vivi o desemprego. Eu vivi o mundo das greves. Aliás, ontem o meu ministro do Trabalho foi visitar os sindicalistas americanos que estão em greve aqui na indústria automobilística e eu acho que é um momento de ouro para nós. As oportunidades que estão colocadas, o despertar de um sonho para os meninos de dezoito anos, dezenove, vinte, essa juventude que não tem perspectiva. Acho que esse gesto nosso pode ser uma esperança para que as pessoas comecem a acreditar que realmente é possível criar um outro mundo. Um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário em que a humanidade volte a ser humanista, em que as pessoas tenham mais solidariedade, sabe? No Brasil, a gente diz sempre o seguinte: "É preciso fazer com que a esperança vença o medo". E esse gesto que nós estamos fazendo aqui é o despertar de esperança para milhões e milhões de brasileiros e americanos que precisam ter oportunidade de viver a vida, de vencer, de trabalhar e de constituir sua família decentemente. Por isso, isso é muito importante. Você sabe que eu sou um presidente que não tenho diploma universitário, a única coisa que eu tenho é um curso técnico, e eu acho que isso me dá uma visão de um mundo em que uma parte da classe política brasileira não consegue enxergar. E é por isso que nós, então, resolvemos fazer tanta política de inclusão social, ou seja, tentando alcançar um padrão de vida mais digno e mais decente. Nesses poucos oito meses que estamos no governo, nós já estamos recuperando a democracia, já recuperamos quarenta e duas políticas sociais, já fizemos um programa de investimento. Pela primeira vez, no regime democrático, nós aprovamos uma política tributária na Câmara dos Deputados. E eu acho que isso vai permitir que o Brasil dê um salto de qualidade e eu espero que a relação Estados Unidos e Brasil seja aperfeiçoada, que a gente se trate e se comporte como amigos em busca de um objetivo comum: desenvolvimento e melhoria de vida do povo.
Presidente Biden: Sabe, nosso secretário… Eu sei que nossa equipe está enlouquecendo, nós deveríamos ter falado para a imprensa sair há muito tempo, mas eu quero dizer mais uma coisa. Nosso secretário do Tesouro disse que o Departamento do Tesouro fez um relatório significativo e apontou que, e isso é um fato, quando trabalhadores organizados se comprometem e se envolvem todos se saem melhor. Os ricos vão bem, todos vão bem. Quando você erradica a pobreza, quando você eleva a qualidade de vida das pessoas, todo mundo se beneficia, toda a economia se beneficia. E é por isso que eu mandei o melhor embaixador da América para garantir que esteja tudo preparado. Bom, é melhor irmos andando.