Pronunciamentos do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, após encontro no Palácio do Planalto
Presidente Lula — É com muita satisfação que nós recebemos o primeiro-ministro da Holanda no Brasil. Como vocês sabem, havia muito tempo que o Brasil não fazia política internacional. Há muito tempo nenhum governante viajava para fora e nem os de fora queriam vir para o Brasil. Era como se o Brasil tivesse saído do mapa do mundo.
Quando voltamos ao governo, resolvemos restabelecer uma política de relação exterior civilizada, uma política de relações exteriores em que o Brasil exercesse o protagonismo, sobretudo na discussão de uma nova matriz energética, de uma nova economia, e que a gente pudesse compartilhar com o mundo desenvolvido e com os países amigos uma discussão concreta sobre que tipo de mundo nós queremos daqui para frente.
E foi com muita alegria que o primeiro-ministro da Holanda veio aqui, dizer os compromissos que ele quer assumir com o Brasil e o que ele pretende fazer aqui no Brasil.
Para não falar o que ele tem que falar, eu queria que o primeiro-ministro dissesse aos jornalistas brasileiros a conversa que teve comigo, para que a imprensa brasileira também compreenda que o Brasil voltou. O Brasil voltou à política internacional. O Brasil está voltando à normalidade e o Brasil está voltando à civilidade política, que nunca deveria ter saído.
E eu acho que o melhor exemplo é a visita do primeiro-ministro, companheiro Mark Rutte. Portanto, com a palavra, o primeiro-ministro.
Primeiro-ministro Mark Rutte — Obrigado, muito obrigado pelas boas vindas e realmente é muito importante que o Brasil esteja de volta e ativo.
Nós discutimos como podemos trabalhar juntos. Basicamente, em nossas conversas, discutimos o programa e todas as questões que vamos trabalhar juntos: hidrogênio, educação técnica, biocombustíveis, contexto do G20, da COP 20, adaptação climática, ação climática e assegurar, por exemplo, a relação das mudanças climáticas. Quando trabalhamos juntos, sabemos que o Brasil tem a liderança no mundo inteiro nessas questões.
É um prazer estar aqui em Brasília hoje, junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, celebrando a amizade entre os nossos países. É muito importante para mim, porque estamos aqui na Praça dos Três Poderes, a praça que é o símbolo da democracia brasileira e do Estado de Direito. A democracia tem fortes raízes na sociedade brasileira e não conseguiram abala-la. Eu gostaria de expressar o meu respeito pela democracia do Brasil, entendendo que houve um período de dificuldade.
Essa é a minha primeira visita expandida com uma delegação desde a pandemia. Essa primeira visita é ao Brasil. O Brasil e os Países Baixos têm uma história muito longa. Nós temos instituições que trabalham juntas, universidades, parcerias em inovação já há muitos anos. Essa é, portanto, uma fantástica oportunidade para podermos expandir ainda mais a nossa relação bilateral.
Ontem, por exemplo, eu visitei a Embraer. Com o KC-390, que é o avião de transporte, nós esperamos que a Embraer tenha um papel importante em substituir modelos mais antigos.
Nós também enfrentamos questões muito importantes. Como já mencionei, hidrogênio, educação tecnológica e nós queremos ter trabalhadores qualificados para trabalhar em todas essas áreas.
A transição energética como um todo, a segurança alimentar, são outras questões em que trabalharemos juntos. O Brasil e os Países Baixos estão trabalhando bastante para essa transição em direção a uma economia verde. Os Países Baixos e o Brasil se apoiarão com conhecimento e know-how.
Estou muito feliz em visitar amanhã o Porto de Pecém. Vamos trabalhar juntos, mais uma vez, em conjunto com Porto de Roterdã, num corredor verde. Também trabalharemos na área do desmatamento.
Então, gostaria de dizer que eu valorizo muito todos os esforços envidados pelo presidente para a Amazônia. Na luta contra as mudanças climáticas e trazendo a sua relevância para o Brasil, isso é extremamente importante.
Os Países Baixos gostariam de continuar o seu trabalho com o Brasil nessa área. Gostaria de mencionar o G20. No ano que vem, teremos o assento e o presidente estará conosco no G20. Isso é muito importante, mais uma vez, para nós. Concordamos com as bases do nosso trabalho e precisamos muito da liderança do Brasil nessa posição.
Fiquei feliz que conseguimos falar sobre a guerra da Ucrânia hoje, sem concessões que possam afetar a soberania da Ucrânia. Também gostaria de dizer que os Países Baixos irão apoiar a Ucrânia, o tempo que for necessário. Há ainda outras questões em que concordamos.
Hoje, tomamos apenas o primeiro passo em retomar a nossa parceria. Estaremos na cúpula da União Europeia com a América Latina em julho — e depois, em setembro. Depois trabalharemos no acompanhamento dessa agenda comum, que concordamos que devemos trabalhar juntos.
Então, mais uma vez, estou muito feliz que o senhor tenha voltado. Isso tem sido crucial e gostaria de dizer, no meu melhor português, muito obrigado.
Presidente Lula — Comecei a nossa conversa dizendo ao primeiro-ministro a mágoa profunda da Holanda, que em 1970 o Brasil foi campeão do mundo e que a gente esperava que o Brasil fosse repetir em 1974, quando surgiu a seleção da Holanda que tirou o Brasil da Copa do Mundo. Foi, possivelmente, uma das melhores seleções que já apareceram em jogos da Copa do Mundo. É uma pena que a geração de jogador de futebol dura, no máximo, quinze anos, e uma figura como craque Cruyff [Johannes "Johan" Cruijff], e seus liderados, pararam de jogar.
A segunda coisa é que a Holanda é um país muito importante na discussão sobre a transição energética, que o mundo vive e que o Brasil pode se transformar no símbolo de um país que pode ofertar ao mundo a experiência mais bem sucedida, da mais importante matriz energética, totalmente limpa. Vocês sabem que o Brasil, além de ter energia hídrica, além de ter o etanol, além de ter o biodiesel, além de ter eólica, além de ter solar, o Brasil vai agora entrar na fase do hidrogênio verde, que toda a Europa está precisando — e muitos estão inclusive ajudando, ajudando a financiar nos estados do Nordeste, para que a gente se transforme num grande usuário e num grande exportador de hidrogênio verde para o mundo.
Esta é uma oportunidade para que o Brasil possa se transformar, não apenas numa liderança da produção de commodities, mas numa coisa mais nova, mais interessante. Além disso, eu conversei com o primeiro-ministro da importância de grandes empresas holandesas passarem a fazer parceria do investimento no Brasil. Eles têm interesse no setor químico, têm interesse no setor de óleo e gás (e o Brasil também tem interesse nisso). Então, a gente pode estabelecer, além da transição energética, de discutir novos tipos de matriz energética, discutir também investimentos holandeses aqui no Brasil e, possivelmente, investimentos do Brasil na Holanda.
Vocês sabem que nós vamos nos encontrar, eu não sei do primeiro-ministro, mas eu vou ao G7 na próxima semana. E, no G7, um assunto que nós vamos discutir, inexoravelmente, será a questão da Amazônia, será a questão energética como um todo, será a questão da Ucrânia, será a questão do crescimento econômico e a questão na geração de empregos. E nós vamos ter várias bilaterais, com vários países que estão pedindo bilaterais.
Tenho certeza que a questão da Ucrânia vai surgir em todas as conversas que eu fizer. E eu repito para todo mundo o que eu disse ao primeiro-ministro agora, nessa minha visita a Londres: acredito na construção de um mecanismo que possa estabelecer a possibilidade da gente fazer com que o mundo volte a ter paz. Eu não acho impossível — a única coisa impossível é Deus pecar. O resto a gente pode fazer, se a gente tiver vontade de fazer.
E o Brasil está conversando com vários países. Conversei com a China, vou conversar com a Índia, vou conversar com a Indonésia, vou conversar com outros países no G20, vou conversar agora no G7, para saber se a gente encontra um caminho. O primeiro caminho não é da paz. O primeiro caminho é da necessidade de parar a guerra. Quando parar a guerra, é possível que a gente crie condições de negociar o fim dessa guerra para sempre e que os países possam se colocar de acordo. É fácil? Não é fácil. Se fosse fácil, não teria chegado à guerra. Todo mundo sabe que o Brasil condenou a ocupação territorial da Ucrânia feita pela Rússia. O Brasil já votou na ONU, já repetiu o voto, mas ao mesmo tempo nós achamos que é preciso não estimular a continuidade do erro. É preciso tentar dar uma parada nisso.
Hoje, o Celso Amorim [ex-chanceler, assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República] chegou na Ucrânia. Ele já tinha ido à Rússia. Viajou 12 horas de trem para poder chegar na Ucrânia. E eu espero que o Celso me traga não as soluções, mas que ele me traga indícios de soluções para que a gente possa começar a conversar sobre paz. Ele já sabe o que o [Vladimir] Putin quer, ele agora vai saber o que o [Volodymyr] Zelensky quer, e aí nós vamos ter instrumentos para conversar com outros países e construir, quem sabe, a possibilidade de pararmos essa guerra.
Ademais nós conversamos da necessidade de montar grupos de trabalho. Tudo o que nós discutimos na questão de emprego, investimento, educação, nós vamos ter que criar grupos de trabalho, porque essa reunião não pode terminar em si mesma. A partir desta reunião, nós teremos um grupo de trabalho dos Países Baixos, com o grupo de trabalho do Brasil, para que a gente possa começar a discutir em transformar, em políticas concretas, aquilo que nós discutimos hoje.
Ao mesmo tempo, nós temos a questão do acordo União Europeia e Mercosul, que nós estamos preparando uma pronta resposta, para a União Europeia, da proposta e da carta que nós recebemos da União Europeia. Vamos participar da reunião da Celac / União Europeia no meio do ano. Nós vamos participar do G20 na Índia. Vamos participar dos Brics, na África do Sul.
E penso que, depois de todas essas reuniões, a gente pode ter voltado à normalidade do Brasil. Vocês, brasileiros que quiserem viajar, podem mostrar os passaportes nos aeroportos, que vocês serão bem tratados, bem recebidos, atendidos carinhosamente e não com suspeita de alguma coisa.
E eu quero agradecer ao primeiro-ministro, primeiro pela compra de cinco KC-390. É um avião que a Embraer está produzindo. É, na verdade, uma "cópia melhorada" e modernizada do famoso Hércules. É muito mais moderno! É um avião a jato (não é com hélice), portanto, ele voa quase a 800 km/h, 900 km/h. É seguro, já viajei nele. Posso garantir ao primeiro-ministro que pode comprar até seis, não precisa ficar nos cinco. Eu penso que esse nosso encontro aqui é extremamente importante. Hoje eu encontrei com o presidente da Saab Scania (que é um sueco, que é o produtor do nosso caça). Eu tenho muita relação de amizade na Suécia, na Dinamarca, na Noruega e eu espero construir com estes países a relação civilizada, a relação produtiva que nós tivemos ao longo do meu governo.
Por isso, nós estamos à disposição de vocês para duas perguntas, nada de fazer três em uma, são duas perguntas.
Pedro Rafael Vilela (TV Brasil/EBC) — Boa noite, presidente. Boa noite, primeiro-ministro. Queria saber do primeiro-ministro, sobre essa conversa relacionada à guerra da Ucrânia. O senhor tem declarado, sobre essa dimensão existencial dessa guerra para a Europa, que papel que o senhor acha que o Brasil pode cumprir para colaborar para o fim do conflito? O senhor fez algum pedido ao presidente Lula, nesse contexto? O que os senhores conversaram a respeito dos esforços de paz? E, ao presidente Lula: presidente, o governo da Ucrânia teria solicitado ao Ministério da Defesa a compra de 450 viaturas blindadas do tipo Guarani, na versão ambulância. Estou fazendo referência a uma notícia publicada hoje, pelo jornal "Estado de São Paulo". Eu queria confirmar se houve esse pedido. Se o governo brasileiro pretende atender, neste caso das viaturas...
Presidente Lula — É fake news, pelo menos para mim.
Pedro Rafael Vilela (TV Brasil/EBC) — Não existe pedido?
Presidente Lula — Não existe pedido.
Pedro Rafael Vilela (TV Brasil/EBC) — Também, que o senhor comentasse sobre essa questão da conversa da Ucrânia entre os dois.
Presidente Lula — Também.
Pedro Rafael Vilela (TV Brasil/EBC) — É fake news então o pedido da...
Presidente Lula — Pelo menos para mim.
Primeiro-ministro Mark Rutte — Por que a questão da Ucrânia é existencial? Não é apenas uma ameaça aos nossos valores (essa recolonização de outro país), mas tem a ver com a nossa segurança, que pode estar em risco se a Rússia tiver sucesso na Ucrânia. Eu também entendi que, nos últimos dez anos, eu e outros na União Europeia, nós já conversamos com o presidente Putin. Desde então, as coisas mudaram muito. A situação escalou desde 2022, com a invasão da Rússia à Ucrânia. Então, eu expliquei que nós também fornecemos armas para a Ucrânia porque, se não tivéssemos feito isso, Kiev teria caído nas primeiras semanas dessa terrível guerra.
O presidente explicou em detalhes os passos tomados pelo Brasil e, potencialmente, são muito importantes também para ajudar a encontrar soluções para a situação. Para envidar esforços em direção à paz, também estamos trabalhando nisso. Eu acredito que tudo deve começar com a Presidência da Ucrânia e com a liderança da Ucrânia.
Entrar nesse tipo de discussão é crucial que grandes países, no entanto, economias como o Brasil e líderes como o presidente do Brasil, que eu admiro tanto, incluam o Brasil na cena mundial novamente e nos ajude a achar essa solução. Então, temos que tomar decisões e eu gostaria de assegurar que o presidente sempre receba atualizações daquilo que nós temos conhecimento e, faremos isso em um esforço mútuo.
Presidente Lula — A minha resposta vocês já sabem. Não é a primeira vez que eu vou dar, vou apenas repetir aqui o que eu disse ao primeiro-ministro, que o Brasil está fazendo um esforço muito grande para que a gente possa tentar construir um grupo de países para conseguir chegar à paz. Eu comecei dizendo que o companheiro Celso Amorim está na Ucrânia hoje. Ele andou doze horas de trem para chegar na Ucrânia para encontrar com o presidente Zelensky. E como o Celso Amorim é o mais experiente diplomata do Brasil, na minha opinião, e um dos melhores do mundo, eu acho que se ele colocar em prática tudo o que ele aprendeu em 60 anos de diplomacia, ele pode trazer boas notícias para nós, aqui no Brasil. Acho que a hora, é hora de diplomacia. Não é hora de guerra.
Todo mundo sabe que o Brasil condenou a ocupação territorial da Ucrânia. Todo mundo sabe o que o Brasil pensa a respeito disso. Mas, ao mesmo tempo, a continuidade da guerra só vai levar à morte e, portanto, nós precisamos encontrar alguém que consiga discutir a paz. E o Brasil está disposto a fazer isso. Esta foi a razão da minha conversa com a China. Esta já foi minha conversa com o primeiro-ministro da Inglaterra. Esta foi a minha conversa hoje, com o primeiro-ministro dos Países Baixos. Vai ser a minha conversa com o presidente da Índia. Vai ser a minha conversa com o presidente da Indonésia e vai ser a minha conversa com vários outros líderes que eu vou me encontrar no G7.
Eu penso que cada país tem sua razão. A Ucrânia, efetivamente, não pode aceitar a ocupação do seu território, ela tem que resistir. A União Europeia tem sua razão de ter a decisão que tomou. E o Brasil e outros países têm a sua razão de tentar encontrar um meio termo. Eu acho que é possível, se eu acreditasse que era impossível, que não vai ter sucesso, eu não estaria metido nisso até os dentes.
Disse para o primeiro-ministro que eu acreditava que era possível fazer o [Mahmoud] Ahmadinejad assinar um acordo sobre a questão do enriquecimento de urânio. Nenhum país europeu acreditava que a gente conseguisse fazer, nenhum. Eu lembro que quando cheguei em Moscou, era o presidente [Dmitry] Medvedev, e o [Barack] Obama tinha ligado para ele, pedindo para que ele não me deixasse ir, que me convencesse que os iranianos não iam assinar. Quando eu cheguei no Qatar, o responsável da política externa disse que tinha recebido um telefonema para que eu não fosse. Nós fomos ao Irã com a má vontade contra nós, inclusive de setores da imprensa brasileira, que diziam que nós estávamos fazendo, que "eu não sei das quantas", que não ia dar certo. E nós conseguimos fazer o acordo infinitamente melhor do que o acordo que foi assinado depois, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Eu nasci na política conversando, nasci na política negociando e acho que a melhor arma para enfrentar a guerra é a conversa. E eu pretendo gastar todo meu pequeno vocabulário de paz tentando construir a paz.
Simone Iglesias (Bloomberg) — Presidente, boa noite. Primeiro-ministro, boa noite. Simone Iglesias, da agência Bloomberg. Os Países Baixos têm uma histórica preocupação com o desmatamento com a Amazônia. Nesse contexto, e à medida que o Fundo Amazônia vem recebendo adesões de outros países, a gente gostaria de saber se os Países Baixos pretendem também fazer algum aporte de recursos.
Primeiro-ministro Mark Rutte — Esta é uma boa pergunta. Já estamos fazendo várias outras coisas nessa área, como vocês sabem. Temos programas entre os Países Baixos e o Brasil com organizações holandesas. Estamos trabalhando também no contexto da parceria de declaração de Amsterdã, começamos isso na Holanda, assegurando que tenhamos, então, cadeias de valor que sejam sustentáveis, especialmente na agricultura.
Gastamos 50 milhões no fundo de bioeconomia da Amazônia, que está focado em assegurar que, na Amazônia, haja iniciativas contra o desmatamento e que haja reflorestamento. Nós também apoiamos uma iniciativa de um banco, de 1 bilhão, que foca na agricultura sustentável e reflorestamento. Também mais uma vez, focando em áreas do mundo em que isso seja mais necessário, especialmente na Amazônia. Estamos trabalhando nisso.
Presidente Lula — Vou participar da COP nos Emirados Árabes. Eu vou (um pouco) repetir o discurso que eu fiz no Egito, o discurso que eu fiz em Copenhague, em 2009. Nós temos uma COP, que tem como principal tema discutir a questão do clima. E, para discutir a questão do clima, quem tem floresta a preservar são os países em desenvolvimento e os países pobres. No caso da América do Sul, nós temos Equador, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, que junto com o Brasil têm a soma da reserva da Amazônia. Você tem o Congo, você tem a Indonésia.
Estes países que estão dispostos a contribuir com a preservação das nossas florestas. Isso tem um custo porque, nessas florestas, mora gente. Na Amazônia, moram 25 milhões de pessoas. E que nós precisamos garantir que essas pessoas sobrevivam. Nós não queremos transformar a Amazônia no santuário da humanidade. O que nós queremos é, no território soberano do Brasil, compartilharmos com o mundo a exploração da riqueza da nossa biodiversidade, para saber se dali a gente pode encontrar formas de gerar melhoria de vida para as pessoas que trabalham lá. O que é que é possível extrair para a produção de fármacos, o que é que é possível produzir para cosmético, ou seja, há um campo enorme.
O que nós dissemos ao primeiro-ministro é que o Brasil é um país que não precisa derrubar uma árvore para continuar sendo o grande produtor de grãos. Nós temos mais de 30 milhões hectares de terras degradadas. Se essas terras forem recuperadas, a gente pode dobrar a produção agrícola, pode aumentar muito o nosso rebanho bovino, sem precisar derrubar uma única árvore. E nós não podemos admitir, sabe, que os madeireiros irresponsáveis possam entrar na Amazônia, pegar uma árvore de 300 anos, cortar para fazer uma cadeira, para fazer uma mesa. Quando, se ele quiser montar a fábrica de móveis, ele pode fazer florestamento, ele pode produzir a floresta do que ele quiser — de jacarandá, de mogno — e, depois, ele pode cortar a hora que ele quiser, porque é dele, está no terreno dele. Mas a floresta, nós temos que preservar, em nome da sobrevivência da espécie humana.
Esse é um compromisso que nós temos no Brasil, de que até 2030 vamos zerar o desmatamento. Mais do que isso, nós possivelmente sejamos o país [referência] mundial na produção de energia limpa no planeta Terra. Para isso é que nós vamos nos empenhar para construir essa matriz energética que vai ser exemplo para o mundo. O potencial do Brasil em eólica, em solar, em hidrogênio verde, em etanol, em biodiesel é quase que invejável para outros países do mundo.
Então, nós temos que tirar proveito disso, para que o Brasil possa ter uma política compartilhada com o mundo desenvolvido. Pretendo cumprir aquilo que nós fizemos em 2009 e também pedir a compreensão do primeiro-ministro, que nós vamos aos Emirados Árabes na COP — e vamos querer que seja aprovado — o Brasil para fazer a próxima COP, em 2025, e nós estamos oferecendo um estado amazônico. Então, todas as pessoas que adoram a Amazônia, que defendem a Amazônia, vão ter a oportunidade extraordinária de conhecer a Amazônia, porque vai ser na cidade de Belém (PA) que a gente pretende realizar a COP, aqui no Brasil.
Primeiro-ministro Mark Rutte — Eu gostaria de dizer também que seria fantástico se o Brasil recebesse a COP de 2025. Sim, nós trabalhamos na mitigação climática, na adaptação climática. Então, nós concordamos que essas são questões em comum na nossa agenda e queremos implementar todas essas iniciativas na liderança do Brasil. Essa COP acontecer na América Latina, acho que seria extremamente importante. Muito obrigado.