Pronunciamento dos presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Alberto Fernández, após reunião bilateral
TRANSMISSÃO | Lula se reúne com o presidente da Argentina
Presidente Lula — A situação econômica da Argentina, agravada com uma seca que causou muitos prejuízos às exportações da Argentina. Do ponto de vista político, eu me comprometi com meu amigo Alberto Fernández, que vou fazer todo e qualquer sacrifício para que a gente possa ajudar a Argentina nesse momento difícil.
Nós já conversamos com os Brics, vamos continuar conversando com os Brics, para saber como eles podem ajudar. Eu pretendo conversar, através do meu ministro da Fazenda, com o FMI para tirar a faca do pescoço da Argentina.
O FMI sabe como é que a Argentina se endividou, sabe para quem emprestou o dinheiro, portanto não pode ficar pressionando um país que só quer crescer, gerar empregos e melhorar a vida do povo.
Nós estamos dispostos a ajudar a Argentina e vencermos as questões técnicas, que a economia exige. Os companheiros argentinos vão rediscutir as questões das garantias e o Brasil vai discutir com os empresários brasileiros que exportam e com o Congresso Nacional brasileiro, para ver o que é que pode ser feito para a gente ajudar a encontrar uma solução.
O que eu queria deixar bem claro é que não estamos fazendo uma discussão para ajudar a Argentina. A discussão é outra, é que nós precisamos ajudar os empresários brasileiros que exportam para a Argentina e financiar as exportações brasileiras, como a China faz para os produtos chineses. Então, nós estamos discutindo para encontrar uma forma para que a gente possa fazer que os nossos exportadores continuem com suas empresas funcionando, continuem gerando emprego e que as exportações e as importações entre Brasil e Argentina possam continuar crescendo, porque é isso que todo mundo tem interesse.
Posso dizer para vocês que o Alberto Fernández é um companheiro que chegou aqui muito apreensivo. E eu acho que ele vai voltar mais tranquilo. É verdade sem dinheiro, mas com muita disposição política. Porque quando a gente fala em encontrar uma saída para a Argentina, nós estamos falando da América do Sul, nós estamos falando do Mercosul, e estamos falando do mais importante parceiro comercial do Brasil em toda a América do Sul, que é a Argentina.
Eu tive o prazer, enquanto o PT governou esse país, nós chegamos a um fluxo comercial com a Argentina de 39 bilhões de dólares. Isso é possível, com as duas economias voltando a crescer. E é isso que nós queremos contribuir para a Argentina e, por isso, precisamos construir com nossos empresários que voltem para a Argentina.
Eu quero, Alberto, que você leve para o povo argentino a certeza de que o Brasil tem compromisso com o Mercosul e com a Argentina. E que nós iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, dentro das possibilidades, de tentar resolver os problemas econômicos da legislação que existe, para fazer com que Argentina volte a ser a economia próspera da nossa querida América do Sul.
Presidente Alberto Fernández — Muito obrigado, meu querido amigo presidente Lula. Tivemos uma reunião muito importante. Realmente tem uma importância singular esta reunião, da qual participaram o presidente, o vice-presidente, o ministro e o vice-ministro da Fazenda. Onde também esteve o presidente do BNDES. Meu querido amigo Celso Amorim. E dizer, muito obrigado.
Tivemos uma reunião de quase 4 horas. É uma reunião que eu considero de alto nível. Tivemos a possibilidade de revisar aquilo que começamos a formalizar em janeiro e avançamos em muitos aspectos.
E também pude transmitir ao presidente e aos seus colaboradores a situação que a Argentina vive. Situação econômica que ficou ainda mais complicada por conta da seca. Realmente eu celebro e valorizo o apoio explícito que o presidente Lula nos deu hoje.
Como país e como governo tomaram a decisão de ajudar as empresas brasileiras, para que elas continuem exportando para a Argentina e tínhamos pedido para que nós fizéssemos um dever de casa, que fizemos, que tem a ver com as garantias financeiras, para que o Brasil possa fazer esses empréstimos.
Combinamos que, na semana que vem, a equipe do ministro Haddad, junto com a equipe do ministro Massa, vão se reunir para realmente chegar à conclusão dessas coisas.
Eu realmente valorizo o presidente, querido amigo, os esforços que o Brasil faz para nos ajudar.
Eu também comemoro a posição explícita que o Brasil tomou a respeito da Argentina e do Fundo Monetário Internacional. Como vocês sabem, estamos negociando com o fundo, o programa que nos comprometemos, porque de fato, as condições mudaram. Não só por conta da guerra, mas também por conta da seca. E, saber que agora podemos contar com a ajuda do Brasil, e com a equipe do presidente Lula, é de grande valia.
Com isso, acho que tivemos um encontro muito bom. Que estamos colocando em andamento soluções. Que o compromisso que o presidente Lula acaba de dizer para vocês, para nós, é muito importante. Agora, temos que encontrar os pontos de acordo e fazer os deveres de casa que estamos fazendo, uns e outros, brasileiros e argentinos.
Para poder colocar em andamento os empréstimos que garantam, e como disse muito bem o presidente Lula, a produção das empresas brasileiras que exportam para Argentina. Nos anos que antecederam este regresso do presidente Lula, o Brasil perdeu grande parte das exportações que eram feitas para a Argentina. Isso aconteceu porque a China, financiou empresas chinesas e ganhou parte do mercado ao longo de 3 anos. E, como o presidente Lula e eu, estamos totalmente convencidos da necessidade de fortalecer a América Latina, o Mercosul, o que eu quero é que o Brasil recupere essa parte, e eu preciso que nos ajude a recuperar.
Hoje, demos um passo muito importante. Escutamos a definição categórica do presidente, e agora temos que fazer o trabalho técnico necessário. Querido Lula, sempre é uma alegria te ver. E eu realmente valorizo o seu carinho para comigo.
Presidente Lula — Eu quero, a bem da verdade, contar uma história para o meu amigo Alberto Fernández.
Eu fui à China, há poucos dias. E fui na posse da companheira Dilma Rousseff, que foi eleita presidenta do banco dos Brics. Foi comigo o Aluízio Mercadante e foi comigo Fernando Haddad. Nós queríamos conversar com os Brics, para saber se os Brics poderiam ajudar a Argentina. A presidenta Dilma nos disse que, pela regulamentação dos Brics, eles não podem ajudar um país que não é filiado aos Brics.
Pois bem, eu saí de Xangai e fui a Pequim. E tivemos um encontro com o presidente Xi Jinping, e eu disse ao presidente Xi Jinping, que ele deveria ajudar a Argentina, que a Argentina é um parceiro muito importante para o Brasil na América do Sul.
Agora, antes vir aqui, nessa coletiva, eu estava ligando para a presidenta Dilma Rousseff, lá eram sete e meia da manhã, e ela estava fazendo ginástica, andando de bicicleta. Ela parou a ginástica e veio conversar comigo dizendo que o Xi Jinping mandou o ministro das Relações Exteriores da China ir a Xangai conversar com ela. E chegaram à conclusão de que, para poder ajudar, é preciso de mudar um artigo, que os governadores dos Brics, que são os ministros das Fazendas dos países que fazem parte dos Brics, têm que mudar um artigo, para que permitam criar um fundo para ajudar os países.
Eu não sei aonde está o Haddad agora, não sei qual é a programação do Haddad, mas essa reunião dos governadores dos Brics, Haddad, é dia 29 deste mês. Então, você pode colocar na sua agenda, uma pequena viagem de 26 horas, para fazer a sua primeira viagem como governador do banco do Brics. E você ir lá e explicar a situação da Argentina. Sensibilizar o coração daqueles homens e daquelas mulheres, para que eles possam, nós nem queremos que eles emprestem dinheiro para a Argentina, o que nós queremos é que eles nos deem garantia, porque assim facilita muito a relação do Brasil com a Argentina.
Eu queria dar esse depoimento, porque eu estava conversando com a Dilma, agora por telefone, e ela falou pode dizer. O que eu estou dizendo, que nós estamos trabalhando aqui, para ver se a gente consegue mudar o regulamento, para contribuir e ajudar a Argentina.
Então companheiro, volte tranquilo, e diga ao povo argentino para não perder a esperança, que a Argentina vai voltar a ser a economia grande, produtiva que foi durante muito tempo.
Presidente Alberto Fernández — Eu só tenho que agradecer.