Pronunciamento do presidente Lula na chegada a Brasília de 32 repatriados da Faixa de Gaza
Eu só queria dizer para vocês que a chegada desse décimo avião aqui no Brasil é o coroamento de um trabalho muito sério que a gente deve a muita gente que trabalha no governo, deve à Aeronáutica, deve, sobretudo, ao ministro das Relações Exteriores, que fez um trabalho excepcional, sobretudo quando assumiu a presidência do Conselho de Segurança da ONU. O Mauro (Vieira) teve um papel extraordinário.
E a todos os companheiros que estão aqui. Comandante da Aeronáutica, o nosso comandante da Marinha, nosso ministro dos Direitos Humanos (Silvio Almeida), o Celso Amorim (assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência), o Flávio Dino (ministro da Justiça), nosso companheiro Márcio (Macedo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência), nosso companheiro ministro Mauro (Vieira, das Relações Exteriores), nossa ministra da Saúde (Nísia Trindade), à Janja, ao Paulo Pimenta (ministro da SECOM), que ligava todo dia.
Eu, antes de dizer algumas palavras, eu queria... Eu mandei chamar o Hasan aqui porque o Hasan, ele mora em São Paulo, ele foi a um casamento da irmã na Faixa de Gaza, e depois de três dias que ele estava lá, depois do casamento, aconteceu os ataques e ele, então, ficou preso. Eu tive a oportunidade de falar por telefone com ele uma vez. E prometi pra ele que a gente ia fazer todo esforço possível para trazer todas as pessoas que quisessem vir para o Brasil.
Antes de eu falar, eu queria que o Hasan pudesse dar uma palavrinha. Como é que você está se sentindo ao retornar ao solo brasileiro?
(Resposta de Hasan Rabee)
Você me disse que tinha a mãe e a irmã que queriam vir pra cá. E eu falei pra você que a gente aqui, tem até gente aqui no aeroporto para começar a trabalhar a legalização da entrada dela no Brasil. Sua irmã não veio e nem sua irmã. Então, Mauro, temos que continuar brigando pela aprovação da segunda lista.
Tem uma jovem, a Mel, ela pediu pra falar.
(Fala da segunda jovem)
Primeiro um compromisso com você, com a sua família, que a gente vai tentar fazer todo esforço que tiver ao alcance da diplomacia brasileira, pra gente tentar trazer todos os brasileiros que lá estão, que querem vir para o Brasil. Inclusive, alguns companheiros que tinham parentes eu pedi pra trazer os parentes, mesmo que não fossem brasileiros, que a gente trataria de legalizar as pessoas aqui no Brasil.
Mas nós vamos tentar, ainda tem gente pra trazer da Cisjordânia, tem mais gente na Faixa de Gaza. O Hasan disse que tem uma segunda lista. Enquanto tiver lista e possibilidade da gente tirar uma pessoa, mesmo que seja uma só pessoa na Faixa de Gaza, a gente vai estar à disposição pra gente mandar buscar as pessoas. Nós não vamos deixar nenhum brasileiro ficar lá porque o Governo não vai cuidar. Nós vamos cuidar como se fossem, mesmo que seja nascido lá, seja palestino de origem, mas pra nós a gente vai buscar se os parentes estiverem aqui e pedirem, a gente vai tentar trazer. É um compromisso que nós fizemos.
Eu queria até que vocês olhassem o nosso ministro Mauro, que foi presidente do Conselho da ONU, foi um cara que conseguiu fazer uma nota que foi aprovada por 12 presidentes de países. Só não foi aprovado por dois que se abstiveram de votar e os Estados Unidos vetou a nota, que era pra criar o corredor humanitário, e parar os ataques, sobretudo, contra crianças. Nós vamos ficar com muito carinho e também tem a preocupação de ver como vocês vão ficar no Brasil. Você está fazendo faculdade. É preciso continuar estudando. Nós vamos ter que ajudar vocês a encontrar uma saída para continuar a vida de vocês aqui no Brasil.
Eu queria terminar, antes de passar a palavra pro Mauro, que aos 78 anos de idade eu já vi muita brutalidade, já vi muita violência, já vi muita irracionalidade. Mas eu nunca vi uma violência tão bruta, tão desumana, contra inocentes. Porque, se o Hamas cometeu um ato de terrorismo e fez o que fez, o Estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra.
A não levar em conta que as mulheres não estão em guerra. Ao não levar em conta que eles não estão matando soldados, eles estão matando junto crianças. Já são mais de 5 mil crianças. Tem mais de 1.500 crianças desaparecidas que, certamente, estão no meio dos escombros. E depois a destruição de tudo que as pessoas levam décadas para construir, uma casa, uma rua, um prédio, um hospital.
E depois uma simples bomba detona aquilo sem ninguém assumir responsabilidade. Quem é que vai recuperar aquilo? Então, eu queria dizer pra vocês que hoje é um dia de felicidade. De felicidade porque a gente está recebendo aqui 32 famílias. Trinta e dois seres humanos que já viveram em paz, que sabem o que é a paz, que sabem o que é harmonia, e não precisavam viver no inferno que viveram durante esses últimos 37 dias.
A gente vai tentar continuar brigando, a gente vai tentar continuar brigando pela paz. Eu hoje pedi ao Mauro que tentasse um telefonema com o presidente XI Jinping, da China, que a China que está presidindo o Conselho de Segurança da ONU, nesse momento. Pra gente tentar falar, pra continuar o Conselho da ONU.
Cobrando dos outros presidentes um comportamento humanista. Um comportamento de afeto com crianças, com mulheres, com crianças de berço, com gente que está no hospital. Então, eu queria que vocês soubessem, Hasan, que a chegada de vocês aqui ainda não é todo mundo.
A chegada dos outros brasileiros que já vieram, porque já foram, ao todo, mais ou menos 1.400 pessoas, oito aviões de Tel Aviv, um avião da Cisjordânia e esse avião lá de Gaza. Nós vamos continuar trabalhando para tentar trazer toda e qualquer pessoa que lá esteja, que lá esteja sofrendo e queira voltar para o Brasil.
Portanto, a gente está alegre por vocês estarem aqui. E estamos tristes por parte dos seres humanos, que governam o mundo, que de humano não têm mais nada. Porque se alguém não tem dó de soltar uma bomba para matar gente no hospital, para matar recém-nascido e para matar criança, eu, sinceramente, não sei que ser humano nós estamos falando.
Portanto, eu quero agradecer a Deus, agradecer ao trabalho feito pelos companheiros aqui do Brasil e agradecer a vocês de estarem vivos e de volta ao Brasil. Afinal de contas, vocês já conhecem São Paulo, vão voltar para São Paulo e, se Deus quiser, vão reconstruir a vida de vocês e, um dia, voltar a morar em Gaza, se for o desejo de vocês, quando os palestinos tiverem liberdade de construir o seu país como os judeus construíram o deles.
Que Deus abençoe vocês e boa sorte. Obrigado à imprensa, mas antes eu queria passar a palavra ao companheiro Mauro Vieira, que foi o nosso grande embaixador, o nosso grande diplomata, que fez muito, muito nesse momento difícil.