Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de entrega simultânea de moradias do Minha Casa, Minha Vida
Bem, eu queria dizer para vocês da minha alegria de poder estar participando desse ato, junto com o ministro Jader [Barbalho Filho, ministro das Cidades], que está aqui comigo no Palácio da Alvorada; junto com o governador Renato Casagrande, do Espírito Santo; e a ministra Simone Tebet [Planejamento]; junto com o governador de Alagoas, Paulo Dantas; e o ministro Renan Filho [Transportes]. Junto com o companheiro Jerônimo [governador da Bahia], da Bahia; e o ministro Rui Costa [Casa Civil].
Eu quero agradecer a cada um de vocês, incluindo o companheiro Márcio França [ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte], que estava em São Vicente. Em São Vicente, foram 480 casas que foram entregues e 179 pessoas que sofreram problemas na sua residência, ou seja, também já foram compensadas para poder ter onde morar. As pessoas foram vítimas de um incêndio.
Eu, não sei se vocês vão perceber, eu tava até com um discurso por escrito, mas eu penso que, depois das falas dos governadores, dos senadores, aliás, eu quero cumprimentar o senador Renan Calheiros, o senador Fabiano Contarato e o Fernando Farias, em nome de quem eu quero cumprimentar os deputados que estão presentes, as deputadas, senadores e senadoras que estão presentes. Eu quero cumprimentar o prefeito Tonho de Zé de Agdônio, prefeito de Santa Maria da Vitória, e o Dr. Coutinho, prefeito de Aracruz. E quero cumprimentar as pessoas que estão presentes, sobretudo, as pessoas que foram beneficiadas com a casa própria.
Ô, Jader, eu tenho, na minha consciência e na minha vida, o sentimento do que é ter uma casa própria. Tem gente que não sente essas coisas, porque não fez nenhum sacrifício ou não teve o prazer de viver numa situação em que não precisava viver de aluguel. Eu sempre achei que o dinheiro do aluguel é o dinheiro mais fora que a gente joga. Eu queria contar para vocês que eu casei em 1969, pela primeira vez. Eu fui pagar cem cruzeiros de aluguel. Eu morava num quarto e cozinha no fundo de uma casa. A parede era muito úmida que, quando chovia, aparecia lesma quase do tamanho de um telefone celular na parede. E eu levantava de manhã, para trabalhar, e, antes de ir trabalhar, eu ficava jogando sal, que foi uma forma que eu encontrei de matar as lesmas. Eu morei um ano naquele quarto e cozinha, até que apareceu uma casa para eu comprar em uma ribanceira, no Parque Bristol, em São Paulo. E eu comprei essa casa. Era uma ribanceira que, quando chovia, eu tinha que subir de galocha porque, senão, eu não conseguia chegar no trabalho, de tanto barro. Mas eu comprei essa casa e vivi nessa casa dois anos. Minha mulher morreu, em 1971, eu vendi a casa e fui morar de aluguel outra vez. Fui morar de aluguel com a minha mãe, depois eu casei com a Marisa e fui morar de aluguel, pagando aluguel, e eu amaldiçoava toda vez que eu pagava aluguel, porque era um dinheiro que não voltava nunca mais. E, aí, apareceu a oportunidade de comprar uma casinha, no Jardim Lavínia, lá em São Bernardo do Campo. Eu não esqueço nunca: a Rua Maria Azevedo Florence, 273. Uma casinha de trinta e três metros quadrados. Trinta e três metros quadrados. Morava eu, a Marisa, três filhos, uma sogra e dois cachorros. E, ainda, tinha um papagaio, tá? Mas o prazer de ter comprado essa casa, o prazer de poder dizer que meus filhos estão em um lugar que eles vão poder construir amizades, vão poder ter amigos, vão poder frequentar a mesma escola, é um prazer que só sente quem tem que mudar todo ano, mudar de vila, mudar de escola, mudar de feira, mudar de bodega que compra as coisas fiado. E eu me sentia no paraíso morando naquela casa pequenininha. O tempo foi passando e eu fui aumentando a cozinha, fiz mais um quarto, fiz um sobrado. Até que eu dei uma certa civilidade na minha vida, com a minha família.
Então, cada vez que eu vejo alguém entregar uma casa eu quero parabenizar o Renan Filho, a Simone e você, o Rui Costa, que estão participando dessa atividade. Porque somente as pessoas mais humildes, as pessoas que nunca tiveram oportunidade de ter uma casa, todo mundo fica feliz quando tem uma casa porque a casa é um sonho. Ou seja, a casa é a construção de um ninho e todo mundo deseja ter o seu ninho. Ou seja, é a certeza de ter um lugar fixo para a sua família morar, de construir relação de amizade. E eu sei o orgulho, eu sei a sensibilidade, eu sei o carinho que as pessoas têm de receber uma casinha pequena. E as pessoas podem, com o tempo, ir aumentando, fazendo um quartinho a mais, fazendo um puxadinho. Porque isso dá cidadania às pessoas, isso dá decência.
Quando eu pedi ao ministro Jader colocar uma biblioteca em cada conjunto habitacional, é porque é uma necessidade da gente ver as nossas crianças lendo, incentivá-las a ler, incentivar que quem tem livros possa doar. O que nós não queremos é crianças com armas, o que nós não queremos é crianças fazendo violência, praticando e aprendendo violência. Não. Nós queremos criança estudando, criança na escola. Porque o maior orgulho que tem um pai e uma mãe é estar morando em uma casinha e ver seus filhos estudarem numa escola próxima, é acompanhar o crescimento dessa criança até se um dia, Deus ajudar, essa criança chegar numa universidade, como nós conseguimos fazer tantas vezes no nosso país.
O Minha Casa, Minha Vida foi uma benção de Deus. Porque eu, a vida inteira, queria saber como que a gente faz para financiar casa barata. Eu não quero financiar casa só para as pessoas mais pobres, porque está cheio de trabalhador que ganha oito mil, seis mil, cinco mil, sete mil, dez mil, que ele também tem direito de ter uma casa. Ele tem direito de ter financiamento. E, às vezes, a gente constrói para os mais pobres, constrói para os mais ricos, que têm financiamento e não precisa do governo, e essas pessoas que trabalham – metalúrgicos, químicos, gráficos, bancários, gente que trabalha de servidor público na saúde, no SUS – quer comprar uma casa e não é atendida porque não é nem tão miserável, nem tão pobre, e não tem dinheiro para comprar. Então, nós precisamos atender essa gente. Porque essa gente é a chamada classe média, que paga imposto nesse país, essa gente que trabalha muito, essa gente que se dedica, que levanta cedo.
E eu tô feliz porque nós retomamos o Minha Casa Minha Vida, não só tudo que estava parado, porque é irresponsabilidade um governo não construir casas para os pobres, mas também porque a gente retomou e pretende construir dois milhões de casas até o final do meu mandato, em 2026. E é a coisa mais sagrada, porque a construção da casa é uma espécie de garantia, um porto seguro para as pessoas. Eu sei, eu sei, o quanto é bom para as crianças construírem uma relação de amizade. Cada criança tem que ter uma turma para jogar bola, uma turma para brincar, uma turma para discutir coisas na Internet, uma turma para jogar games, ou seja, para fazer tudo junto, coletivamente. Porque o ser humano nasceu para viver em comunidade. A gente nasceu para viver junto, um dependendo do outro, um ajudando o outro. A gente não nasceu para ficar com ódio um do outro, a gente não nasceu para ficar com raiva. A gente nasceu para viver de forma solidária. É preciso essa convivência sadia, essa fraternidade. Essa coisa simbólica, sabe, que a gente aprende desde criança.
Então, a minha alegria, Jader, Rui Costa; a minha alegria, Jerônimo; a minha alegria, Renan; senador Renan pai; governador Paulo Dantas; governador, companheiro Renato Casagrande; Simone Tebet. A minha alegria de participar de um ato como esse, ver uma pessoa receber uma chave é como se fosse premiando um filho meu. Ou seja, a minha mãe que morreu sem ter uma casa própria. Eu digo sempre, Jader, por conta de uma profissão, por isso que eu acho que a meninada tem que aprender uma profissão, porque, por conta de uma profissão, eu fui o primeiro filho, de oito da minha mãe, a ter uma casa própria. Eu fui o primeiro a ter um carro, eu fui o primeiro a ter uma televisão. Então, porque a gente foge do salário mínimo. É por isso que nós temos que aumentar o salário mínimo todo ano. É por isso que a gente não pode ficar apenas dando a inflação. A inflação não é aumento, ela é apenas a reposição daquilo que comeu dos nossos salários.
Então, companheiros e companheiras, ministros, governadores, povo e companheiros que receberam a casa, eu queria que vocês soubessem de uma coisa: eu sinto, no meu coração, como se fosse eu que estivesse recebendo uma chave dessa. Eu sei quando eu entrei na minha casinha, de trinta e três metros quadrados, o amor que eu tinha com a minha família, de poder brincar na frente da minha casa, na rua, de ver meus filhos na escola e saber que aqui eu estou fincado, aqui eu vou construir raízes. Quando eu comprei a minha casa na ribanceira, que eu falei, no Parque Bristol, em São Paulo, era ribanceira mesmo. Eu ia com o carro do sindicato e o carro não subia, então eu tinha que ir a pé. Então, mas era feliz, porque era minha, era meu chão, era meu pedaço, era meu ninho. Então, tudo que a gente puder fazer para que as pessoas mais humildes nesse país, para que as pessoas que trabalham, que vivem do seu trabalho, que levam comida para a casa com o seu trabalho, que levam o salário para sustentar sua família, não podem pagar aluguel. Nós temos que garantir que essas pessoas tenham direito a um patrimônio público, que é a sua casa. A casa é o valor mais extraordinário. Eu acho que a casa e a educação são dois valores que toda alma, feminina e masculina, deseja ter no Brasil.
Portanto, Jader, meus parabéns pelo seu trabalho e parabéns pelo trabalho dos ministros. E eu queria dizer para vocês que nós vamos concluir cada palavra que eu disse durante o processo eleitoral. Porque esse país merece viver em paz, esse país merece viver com amor, esse país merece viver sem ódio.
Ainda ontem, em São Paulo, houve uma morte de uma criança com a arma do próprio pai. Não é possível! Eu tô vendo a quantidade de crianças que foram mortas na Palestina, lá em Gaza, que foram mortas em Israel. Não é possível! Não é possível! Nós estamos matando o futuro da humanidade. Estamos matando o futuro do nosso país. Então, isso é falta de estabilidade psicológica, de estabilidade salarial, de estabilidade na educação. E nós, com o Minha Casa Minha Vida, queremos fazer isso. Queremos dar a vocês o direito de ter um ninho de vocês para construir a família de vocês com o amor que Deus espera de todos nós que criamos nossa família.
Um beijo no coração de todos vocês que receberam a casa. E um beijo maior ainda nas pessoas que estão nos assistindo que ainda não têm casa e que, se Deus quiser, vai ter sua casa própria. Porque o Jader veio para trabalhar, para fazer isso, sabe, fazer com que aconteça a felicidade de vocês. O governo está dedicado a isso e eu quero que vocês saibam: nós vamos fazer esse país voltar a ser o país do sonho, o país da esperança, o país de sonho realizado.
É isso. Parabéns a todos vocês que participaram desse evento. Parabéns aos empresários que participaram da construção do Minha Casa, Minha Vida.
Aliás, eu queria te dizer uma coisa, Jader, eu vi que o conjunto habitacional que apareceu na televisão não tem uma planta. Gente, é preciso a gente arborizar. A gente tem que plantar uma árvore na frente de cada casa. Plantar a árvore que a família quiser, escolhe a árvore. Para que a gente possa ter a certeza que cada conjunto habitacional vai cuidar não apenas das pessoas, mas vai cuidar da questão do clima no nosso país.
Um beijo no coração, parabéns, e quero dizer para vocês que eu estou de volta. Eu fiz a cirurgia, ela completou vinte e um dias. Para mim, ficar totalmente bom e poder viajar de avião, eu vou ter que esperar de seis a oito semanas, mas eu já estou bom e hoje eu já vou, à tarde, no Palácio do Planalto, dizer: "Estou de volta para fazer aquilo que eu prometi para vocês".
Um beijo e até outro dia, se Deus quiser.