Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de assinatura do contrato para construção do empreendimento Copa do Povo
Eu estou com muita vontade de conversar com vocês, então eu não estou com pressa hoje. Eu não estou com pressa. Eu queria, em primeiro lugar, fazer um agradecimento às pessoas que estão aqui, ao ministro Jader Filho, ao companheiro Fernando Haddad, que precisa ser lembrado hoje o seguinte: ontem, nós conseguimos aprovar, pela primeira vez na história da República Brasileira, uma política de reforma tributária, numa votação democrática, num Congresso em que a gente tem minoria, mas a capacidade do Haddad, do Padilha, do Jacques Wagner, do Zé Guimarães e de todos os deputados, que depois eu vou citar os nomes aqui, foi tão grande que a gente pela primeira vez na história conseguimos aprovar uma reforma tributária para facilitar o investimento, para facilitar o pagamento de imposto, pagar mais quem ganha mais e pagar menos quem ganha menos, para que a gente melhore a vida do povo brasileiro. Então, o que aconteceu ontem foi um fato histórico que o Haddad merece uma salva de palmas especial por ter coordenado isso.
Quero dizer para vocês da alegria de ter entre nós a companheira Marina Silva, a nossa companheira que fez um sucesso extraordinário agora nos Emirados Árabes, quando nós fomos discutir a questão do clima. Quero agradecer ao companheiro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, que me prometeu assentar todo mundo que precisa ser assentado até o final do nosso mandato, e eu estou cobrando dele uma prateleira de todas as terras improdutivas desse país, para que a gente não precise ter mais invasão de terra. Ou seja, se a gente tiver uma prateleira de projeto, nós vamos procurar quem quiser trabalhar no campo e falar: tem terra em tal cidade, em tal estado, se você quiser, o Incra está preparado para cuidar do seu assentamento.
Quero agradecer ao Padilha, que tem uma função especial. O Padilha é o coordenador do governo junto ao Congresso Nacional. É o cara que mais apanha, é o cara que é mais cobrado, porque ele vai fazer acordo, ele fica prometendo coisa, depois a gente não pode entregar a coisa que ele promete, e aí as pessoas querem dificultar a votação, aí tem que entrar o Haddad, tem que entrar o Wagner, aí por último, quando não tem mais jeito, tem que entrar eu para atender a demanda que ele prometeu e que a gente tem que cumprir. Porque eu sou de uma geração que quando a gente promete, a gente cumpre. É mais fácil não prometer, sabe, do que a gente ficar prometendo e, na hora de entregar, não entregar.
Eu não fui criado assim, não fui educado assim e na minha vida política a coisa também é assim. Mas eu quero agradecer aos deputados federais também que estão aqui. O companheiro Boulos que já falou, o Alencar Santana que é de Guarulhos, o Alfredinho que é de São Paulo, o Carlos Zarattini, o nosso companheiro Jilmar Tatto, que é da Executiva Nacional do PT, a nossa querida companheira Juliana Cardoso, o nosso presidente Kiko Celeguim, que é o companheiro ex-prefeito de Franco da Rocha, a nossa companheira professora Luciene Vacante, do PSOL, e o nosso companheiro Vicentinho, que chegou agora há pouco aqui, que eu vi ele aqui, deputado federal.
Bem, já falei do companheiro da Caixa, até coloquei aqui para falar, mas é preciso falar dos deputados estaduais, que também enfrentam uma barra defendendo a gente aqui. A companheira Bebel, o companheiro Carlos Giannazi, a companheira Diane Maria, o companheiro Emílio de Souza, o companheiro Jorge do Carmo, o companheiro Luiz Cláudio Marcolino, o companheiro Reis, o Paulo Fiorilo, o Simão Pedro. Quero agradecer ao prefeito Felipe, de Diadema, que está aqui, e o companheiro Edinho Silva, da cidade de Araraquara, e o Filho, da cidade de Matão. Quero dizer que a nossa companheira Inês, ela está no ministério desde que a gente criou o Ministério das Cidades, passa governo, entra governo, ela só saiu quando entrou a praga de gafanhoto aí, mas nós voltamos e ela voltou junto para ajudar a construir casa.
Quero agradecer aos vereadores que estão aqui, companheiro Eduardo Suplicy, a Elaine do Quilombo Periférico, líder da bancada do PSOL na Câmara dos Vereadores, o Senival Moura, líder da bancada do PT. Quero agradecer à presidente Nacional do PSOL, Paula Coradi, quero reconhecer o nosso querido companheiro, velho combatente das lutas de briga por casa nesse país, o companheiro Raimundo Bonfim, presidente da CMP, obrigado pela presença. E quero parabenizar os beneficiários Pereira Lima, Cláudio Rosane Garcês, Kelly Cristina Silva e Egidio Coelho de Sousa.
Bem, companheiros, dito tudo isso, já cumpri todo o meu ritual, aqui a liturgia, eu devolvo ao chefe de cerimonial o papel. Eu queria dizer para vocês o seguinte, eu queria que viesse aqui o Ministro das Cidades, venha aqui, porque eu vou lhe fazer umas perguntas e eu quero saber se a coisa vai acontecer de verdade, tá? Eu estou lendo aqui no meu papel o seguinte, o Governo Federal está colocando, o investimento total é R$ 573 milhões, do Minha Casa, Minha Vida. Três milhões já foram aplicados para o terreno e projeto. É importante lembrar que o Governo do Estado de São Paulo está participando com o programa dele, Casa Paulista, com R$ 53 milhões, porque normalmente quando ele faz uma coisa que o Governo Federal participa, ele não cita o nome do Governo Federal. E eu quero dizer para vocês que nós não escondemos. Aqui tem R$ 53 milhões do governo do Estado e tem R$ 53 milhões da prefeitura de São Paulo. Eu acho que eles foram convidados, não vieram. Se viessem seria tratado com maior respeito, porque educação a gente aprende em casa e eu aprendi com a minha mãe que a gente tem que tratar todo mundo com respeito.
Além disso, os apartamentos, pelo que eu sei, vão ser de 68 metros quadrados. Bom, eu quero que vocês saibam, a primeira casa que eu comprei, no Jardim Lavínia, em São Bernardo, em 1976, eu tinha mulher, três filhos, uma sogra e dois cachorros, era uma casa de 35 metros quadrados. Na verdade, não era 35, era 33 metros quadrados. Eu não vou nem mostrar minhas canelas para vocês, eu não posso nem ir na praia e ficar de short, porque para mim entrar para deitar, eu batia tanto a canela no espelho da cama, era tão apertado que ficou. Quando a gente ia cozinhar, tinha que tirar a geladeira, quando queria beber cerveja gelada, tirava o fogão. Porque era muito apertado. E eu estou vendo que vocês vão morar em uma casa de 68 m² com varanda, com varanda. A varanda é muito importante, muito importante.
Eu, quando era presidente da outra vez, eu fui ao Rio de Janeiro, eu falei para o dono da empresa que estava construindo casa, e para o presidente da Caixa, que era o companheiro Hereda. Uma casa, um apartamento de 40 metros sem varanda. Eu falei: ”cara, você não sabe o que é o ser humano, não? Você não sabe o que é o ser humano estar com a barriga ruim, estar com o intestino ruim, e que ele solta um pum fedido dentro da casa, é obrigado as crianças todas ficar cheirando? Vamos fazer uma varanda para respeitar as pessoas, uma varandinha, sabe?” Parar com essa frescura de achar que pobre não faz isso, pobre faz e faz muito e a gente quer fazer sem prejudicar nossas crianças e sem prejudicar a mulher também, e a mulher sem prejudicar o marido. Bom, graças a Deus, aqui vai ter varanda para todo mundo.
Haddad, uma coisa extraordinária, esses apartamentos vão ser de 12 andares, eles vão ter elevadores. Aí nem sabe a briga que nós fizemos para esse maldito elevador para os pobres. Era sempre dizer não, pobre não pode ter apartamento com elevador porque pobre não pode pagar, pobre não pode nada? Bem, então o apartamento, além de ter elevador, tem passarela ligando um bloco ao outro. O cara vai poder ficar de estiva da passarela, falando para a mulher dele, para os filhos dele lá de baixo. Vai ter piscina? O que é que é importante? Eu estou vendo uma coisa aqui que eu não estou acreditando. O custo estimado de cada apartamento é R$ 216 mil? Olha gente, eu sinceramente, eu quero saber qual é o milagre que vocês fizeram, porque aqui está dizendo que o custo estimado de cada apartamento é R$ 216 mil.
Até eu posso comprar um desses, até eu. Eu nunca tive apartamento com varanda, gente. Aí, nem o triplex que eles disseram que era meu, era meu. E eu nunca pude ir naquele maldito triplex. Pois bem, o que é importante vocês atentarem? Quem recebe Bolsa Família não vai pagar prestação. Mais importante, as pessoas que recebem benefício continuado, pessoas que recebem por aposentadoria, por invalidez, pessoas de aposentadoria por idade, não é isso? Também não vão pagar a prestação. E quem vai pagar, vai pagar o equivalente a 10% do valor do imóvel. Se o imóvel custa R$ 216 mil, a pessoa vai pagar R$ 216 por mês. É 10% só, tá?
Bom, eu não vou ficar aqui explicando coisa, senão eu vou tirar o lugar das meninas que coordenam isso aqui, então elas que vão ter que explicar depois. Eu só quero mostrar pra vocês, eu só quero dizer pra vocês uma coisa. A luta de vocês é aquilo que faz a gente viver muito. Eu quando eu digo que eu vou viver até 120 anos de idade, não é só porque eu creio em Deus e porque eu gosto da vida, é porque se a gente não tiver uma causa, se a gente não construir uma causa e a gente não tentar brigar por aquela causa, a gente não. Nada. O que vocês estão conquistando hoje não é mérito do governo Lula, não é mérito do Boulos, é mérito da coragem que vocês tiveram de resistir a tudo e a todos.
Eu quero que vocês saibam que quando eu vi a nossa querida companheira falando, a primeira que falou que é casada há 20 anos e que é a primeira da família a ter uma casa, eu queria te dizer uma coisa. Eu sou filho de uma mãe que teve 8 filhos. E o primeiro a ter uma casa, o primeiro a ter uma televisão, o primeiro a ter um carro, o primeiro a aprender uma profissão e o único a chegar a presidente da República do Brasil por conta de vocês, tudo isso por conta de vocês. Ninguém, ninguém nesse país, nenhum pastor qualquer nesse país tem o direito de dizer que eu não creio em Deus, porque eu creio tanto, porque somente a mão de Deus, em cima de uma pessoa como eu, que saiu de Pernambuco para não morrer de fome, que só tem o diploma primário e o curso do Senai e que chegou a presidente da República, só chegou por duas coisas. Por obra de Deus e por obra de vocês. É isso que me fez chegar aqui.
Agora, a gente vai fazer mais casa. Vocês não podem deixar de se organizar, porque vocês sabem que para fazer é difícil, para construir é difícil, mas para acabar com o que a gente fez, vocês estão vendo o que acontece na Faixa de Gaza. Vocês estão vendo a quantidade de prédios derrubados, a quantidade de crianças, são mais de 18 mil crianças, quase 8 mil crianças que estão desaparecidas embaixo daquele tijolo que foi derrubado a troco do quê? Então é preciso vocês ficarem organizados, não desanimar nunca, discutir sempre, não brigar, não ter divergência. Quando tiver divergência, resolve numa mesa de conversa, porque senão entra uma desgraça como entrou em 2018 e destrói tudo aquilo que vocês construíram. E vocês não podem permitir isso, não podem.
Então, companheiros e companheiras, eu estou aqui terminando o primeiro ano do meu terceiro mandato. Eu todo dia, todo dia, levanto amanhã, eu agradeço a Deus e agradeço a vocês, porque quando eu estava preso durante 580 dias, sendo achincalhado, tendo a vida da minha família, sabe, vasculhada, quem acreditou em mim e quem foi para a rua para me defender foram vocês. E por isso eu sou grato. Sou grato e quero dizer para vocês que nós vamos fazer, nesses três anos que faltam, mais do que nós fizemos. Aqui todo mundo sabe, todo mundo sabe que tem que trabalhar. Não tem mole, não tem descanso. Nós precisamos atender as necessidades do povo brasileiro.
O sonho de toda mãe é ter uma casa. Quem é que não quer ter uma casa, gente? Vocês já viram um passarinho? Quando chega a época do acasalamento, a primeira coisa que ele faz é construir o seu ninho. Imagina um passarinho, a passarinha fazendo o seu ninho. Ali vai botar o seu ovo. Ali vai ver o seu filho nascer. Ali vão dar comida pro filho e depois o filho vai embora. E ele vai embora também. No ano seguinte, ele faz outro ninho. Nós não queremos ter um ninho a cada ano. Nós queremos ter um ninho a vida inteira pra cuidar das nossas crianças, pra eles fazerem amizade na vila que eles moram, pra gente ter amizade na vila que a gente mora. Afinal de contas, nós, seres humanos, nós nascemos para viver em comunidade. Um ajudando o outro, um compartilhando com o outro, um sendo solidário ao outro.
Então, queridos e queridas companheiras, aguardem. Então, as casas vão acontecer e o ano que vem, se Deus quiser, eu vou estar aqui outra vez. Mas eu quero dizer que eu não vou estar aqui apenas o ano que vem para discutir habitação. Eu ainda vou vir aqui, talvez logo no começo do ano que vem, anunciar o começo da construção da Universidade da Zona Leste aqui da cidade. O Haddad, quando era prefeito, ele doou o terreno. O Haddad era prefeito e ele doou o terreno. Não sei porque, qual foi a dificuldade, não aconteceu.
Fizeram o lançamento de pedra fundamental, mas não aconteceu. Eu não vou lançar pedra fundamental mais. Eu vou vir aqui somente no dia que for para ligar a máquina e ela começar a remover a terra para a gente colocar o primeiro tijolo na Universidade da Zona Leste. E eu sei que aqui tem gente do Jardim Ângela e eu quero dizer para vocês, se preparem porque eu vou levar o Instituto Federal para o Jardim Ângela. E aqui já está o Padilha e o Boulos: “Cidade Tiradentes também”.
Então gente, olha, eu quero que vocês saibam que nós temos três anos para fazer as coisas acontecer nesse país. Não é fácil, não é fácil, mas eu hoje estou mais novo do que eu estava quando eu ganhei. Estou mais motivado. Quanto mais desafio aparece, mais eu sinto vontade de brigar, porque se a gente não brigar todo dia, a gente não conquista nada. A imagem que eu tenho na minha cabeça, eu morava na Vila São José, em São Caetano, e morava na Ponte Preta, na divisa com São Paulo e São Caetano, lá perto de São Bernardo. E, às vezes, a casa que eu morava, um dia entrou um metro e meio de água dentro de casa, à noite, e a gente tinha que acordar à noite, levantar a mãe da gente, levantar a cama. Eu não tinha nem geladeira, nem fogão, nem televisão. Então a gente tinha que levantar e aí era cocô boiando na água, era barata tentando escapar, era rato tentando escapar. Eu vivi isso durante três anos da minha vida. Depois eu mudei pra Vila São José, a minha casa entrou um metro e meio de água dentro da minha casa. Então eu sei o que significa a casa no coração de uma mãe, de um pai e de uma família. Eu sei o que significa a gente ter estabilidade. E eu sei o que significa a educação. Porque tudo que uma mãe, tudo que uma mãe quer deixar pro filho não é riqueza, não. É educação. É educação. É uma profissão para que o filho dela possa se transformar numa pessoa definitivamente de bem.
Por isso, companheiros e companheiras, esse jovem que vos fala, que quer viver até 120 anos de idade. Eu peço para Deus todo dia, se você quiser me levar, coloque outro, deixa eu aqui, eu tenho tarefa aqui, eu tenho muita coisa aqui, eu já vivo com vocês há mais de 50 anos. Tem gente aqui que era meu colega, eu fui colega da filha dele, agora sou colega do neto, vou ser colega dos bisnetos, para que me levar, eu estou tão quieto aqui, sou tão bonzinho, leve alguém, mas deixa eu aqui porque eu quero ficar aqui ajudando vocês a conquistarem respeito, dignidade, emprego, salário, educação e muito amor no coração. Um abraço, gente, e parabéns ao pessoal dessa Copa do Povo maravilhosa.