Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de assinatura de contratos de concessão decorrentes do 1º Leilão de Transmissão de 2023
Na verdade, a minha fala é para pedir desculpas a vocês. Porque eu tentei sair, mas eu estava numa reunião com a bancada de deputados e deputadas do Rio Grande do Sul e com o governador, por conta das enchentes no Rio Grande do Sul, e a gente não pôde sair porque tinha que ouvir os reclames e as reivindicações das pessoas.
Eu tinha certeza de que eu estaria bem representado pelo Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente] e pelo Alexandre [Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia]. Vocês não têm noção a vontade que o Alexandre estava de anunciar esse leilão.
Porque é uma coisa que vocês precisam acreditar. Não é possível a gente estabelecer uma relação política com a sociedade se não houver uma espécie de pacto de credibilidade. Eu tenho que acreditar naquilo que vocês me falam e vocês têm que acreditar naquilo que a gente fala para vocês. Se não for assim, a gente não consegue governar um país da dimensão do Brasil, com os problemas que tem o país. A gente não consegue.
Eu queria só contar uma pequena experiência, Alckmin. Nas famosas greves de 1980, eu escolhi a comissão de fábrica por setor, sobretudo nas indústrias automobilísticas. E eu entrava numa reunião de 200, 300 trabalhadores e dizia: “Olha, eu vou sair da sala, vocês vão escolher um líder que vai ser a referência entre vocês e o sindicato. O que que eu quero de vocês? Vocês não têm que escolher o mais bonito, o mais alto, o que fala melhor, o mais radical. Não. Vocês têm que escolher as pessoas que vocês confiam. Quando ele chegar dentro da sessão na fábrica e ele disser pra vocês o que ele ouviu do sindicato vocês têm que acreditar. E quando ele chegar da fábrica no sindicato e me disser alguma coisa que vocês discutiram eu tenho que acreditar. Se não for assim, a gente não vai conseguir dar certo o nosso movimento”.
No governo é a mesma coisa. Vocês estão lembrados que eu dizia a questão da previsibilidade, da credibilidade e da estabilidade. São três peças fundamentais para que um governo dê certo. O governo tem que ser crível, o país tem que ter estabilidade jurídica, econômica, social, tem que ter estabilidade fiscal, e ao mesmo tempo tem que ter previsibilidade.
Eu não sei se vocês acompanham o que está acontecendo com o Brasil. Nós voltamos faz nove meses e, nesses nove meses, eu já participei de uma reunião com 60 presidentes de partidos entre a Europa e a América do Sul. A América Latina, na verdade. Eu já participei dos BRICS, onde nós aumentamos em seis países a participação nos BRICS, colocamos dentro dos BRICS a Arábia Saudita, os Emirados Árabes, a Argentina, a Indonésia e o Irã. E a próxima reunião dos BRICS vai ser no Brasil, em 2025.
Nós já participamos do G20, que é hoje o fórum governamental mais importante, que no fundo, no fundo, deveria substituir os BRICS e o G7. Nós fizemos uma reunião. E agora nós fomos à ONU.
O que é impressionante, e vocês que são do setor sabem disso, é que não tem outro assunto discutido no mundo hoje que não seja a questão climática. E dentro da questão climática, a questão energética. E dentro da questão energética, a transição de uma energia fóssil para uma energia limpa. E nesse aspecto é que eu acho que o Brasil se torna a menina dos olhos do mundo e é nesse aspecto que o Brasil pode se transformar num país imbatível do ponto de vista de competitividade.
Eu sei que os Estados Unidos está oferecendo subsídio aos montes para a questão da transição energética. Inclusive tentando convencer empresas brasileiras para ir para lá. Eu sei disso. Mas, mesmo assim, eles não podem competir com o país que tem a quantidade de território que nós temos - eles têm mais, mas uma parte deles é quase que inutilizado. Ou seja, nós temos um território grande, nós temos a floresta para preservar, nós temos sol e nós temos água e temos um povo capaz de transformar essa terra e transformar essa terra em agricultura. Nós já passamos eles no milho, já passamos em soja e já passamos em algodão. Nós vamos passar na questão energética.
Porque um país que tem a capacidade de produção de eólica, um país que tem a capacidade de produção de solar, um país que tem a capacidade de produção hídrica, um país que tem a capacidade de produção da biomassa, um país que tem a capacidade de produzir hidrogênio verde, um país que tem o biodiesel, um país que tem o etanol que nós temos é praticamente impossível da gente ser batido por alguém.
O que é importante é que a gente tenha dimensão da responsabilidade que está nas nossas mãos. O que a gente tem dimensão do que os estados pobres do Brasil, como a Região Nordeste, podem ganhar com essa transição energética, a Região Norte pode ganhar. E é por isso que nós colocamos no PAC o equivalente a investimento de 60 bilhões de reais. Por isso que vai ter dois leilões, um em dezembro e um eu espero que seja em janeiro, para que a gente possa mostrar para o povo o que que a gente está fazendo.
O Brasil pode ser efetivamente, não acho que seja ufanismo da minha parte, mas aquilo que a Arábia Saudita significou para o combustível fóssil no século 20 e nesse primeiro quarto do século 21, o Brasil pode significar para o mundo na questão da transição energética, na questão da energia limpa.
Da parte do governo, da parte do governo a gente não vai perder tempo. Da parte do governo a gente já conseguiu fazer coisas que ninguém acreditava que fosse possível fazer, numa relação saudável com o Congresso Nacional. O Congresso não é nosso inimigo. O Congresso não é nosso adversário. O Congresso quer, gostemos ou não dos 513 deputados que lá estão, eles são resultado da consciência política do povo brasileiro nas eleições do ano passado.
Então, nós temos que conviver com o Congresso Nacional até as próximas eleições e por isso é que nós temos que estabelecer uma relação civilizada. Ninguém precisa gostar de mim, eu não preciso gostar de ninguém. Nós temos apenas que agirmos como seres civilizados, que temos como responsabilidade cuidar desse país. Fazer com que esse país não jogue fora mais uma oportunidade.
Todos vocês sabem que entre 1950 e 1980 o Brasil foi um dos países que mais cresceu no mundo. Ele cresceu a uma média de 7% ao ano. Entretanto, esse crescimento não foi repartido com o povo. E nós queremos repartir com o povo.
Eu acabei de ter uma notícia agora, companheiro Alckmin, o Banco do Brasil, só no dinheiro do Pronaf, já conseguiu emprestar R$ 80 bilhões e acabou o dinheiro. E vai atrás do Tesouro Nacional para colocar mais dinheiro porque tem mais gente querendo dinheiro. E aí, prevalece uma tese que eu tenho defendido: é que nós precisamos repartir o dinheiro que esse país produz. Nós precisamos transformar o povo brasileiro em consumidores. Com pouco dinheiro, o povo faz um milagre que muitas vezes o grande financiamento não faz.
Então, nós estamos fazendo isso na Caixa Econômica, no Banco do Brasil, no BNDES, os programas sociais estão todos andando. Só na questão do transporte, nós estamos investindo esse ano o que foi investido nos quatro anos passados. Nós estamos investindo 23 bilhões nesse ano, contra 20 bilhões investidos nos quatro anos passados.
E por isso que eu quero dizer para vocês: apostem, a economia brasileira vai crescer. Apostem, nós vamos gerar emprego. Apostem, a massa salarial vai crescer. Este ano, 86% dos acordos salariais feitos neste país foram com ganhos acima da inflação. Este ano, nós já começamos a mostrar que é possível aumentar o salário mínimo acima da inflação fazendo com que aquilo que o PIB crescer seja dividido para o nosso povo.
E vocês sabem a importância da energia. Vocês sabem a importância da energia. A gente não pode ter excesso de linha de transmissão sem produção de energia e a gente não pode ter produção de energia sem linha de transmissão. E nós queremos fazer o casamento. Cada megawatt que a gente quer produzir a gente quer ter linha de transmissão para fazer esse país crescer.
Vocês estão lembrados do apagão de 2001. A gente não tinha um sistema interligado. Então, você tinha excesso de água numa região e não tinha excesso de água na outra e não tinha linha de transmissão para transportar energia.
Agora, a gente tem. E é por isso que eu quero parabenizar o companheiro ministro Alexandre Silveira, quero parabenizar o meu ministro-chefe da Casa Civil e quero parabenizar vocês, empresários. Acreditem, que vocês não vão se arrepender. O Brasil vai se transformar numa grande economia mundial.
Um abraço, boa sorte e obrigado!