Pronunciamento do presidente Lula na abertura do 6º Brasil Investment Forum
O Alckmin conseguiu deixar o microfone inibido. Eu quero, primeiro, cumprimentar o companheiro Alckmin e dizer que, passados 10 meses de governo, eu tenho muito orgulho de ter tido a humildade de convidar o Alckmin não apenas para vice, mas entregar na mão dele o Ministério da Indústria e Comércio. E tem feito um trabalho excepcional.
Eu lembro, Alckmin, que em 2005, quando a gente conseguiu atingir os primeiros 100 bilhões de fluxo na balança comercial brasileira, nós ficamos tão felizes que nós colocamos um contêiner em um guindaste na frente do ministério que ficou meses e meses para a gente mostrar que tínhamos chegado à casa dos 100 bilhões.
No mesmo ano, eu tinha lido uma notícia que a China tinha conseguido fazer seu primeiro 100 bilhões de dólares de reservas internacional. E nós discutimos a necessidade do Brasil também fazer reserva internacional. E foi muita alegria quando, no mesmo período, a gente conseguiu os primeiros 100 bilhões de dólares de reserva internacionais, que depois chegou a quase 400 bilhões de dólares, e que é responsável pela estabilidade política desse país. É responsável pela estabilidade econômica, mesmo quando você tiver um maluco governando esse país, essa reserva garantirá a estabilidade para que a economia não desmorone.
A segunda coisa que eu considero importante é a presença do companheiro Jorge Viana na Apex. O Jorge Viana, pela sua criatividade, pela sua lealdade, tem feito um trabalho extraordinário. E o que mais me chama atenção no Jorge Viana é o otimismo. Porque se você não for otimista nas coisas que você faz, elas não vão dar certo. E o Jorge Viana, todo dia, acredita que o amanhã será melhor, que o amanhã será muito mais produtivo.
E assim, a Apex, que nasceu como uma ideia embrionária da gente fortalecer o nosso comércio exterior, é hoje uma instituição sólida e respeitada internamente e respeitada externamente. Por isso, meus parabéns, companheiro Jorge.
Quero agradecer aos ministros Rui Costa, Mauro Vieira, nosso companheiro Fernando Haddad, nosso companheiro Carlos Fávaro, o Márcio França, Simone Tebet, que ontem me apresentou um programa extraordinário de integração dos países da América do Sul, que eu espero que a gente possa concluir grande parte dele ainda no nosso mandato.
E isso vai permitir, nada mais nada menos, que a gente, além da integração da América do Sul, vai permitir que, se a gente alcançar as obras que estão previstas a gente diminuir simplesmente 10 mil quilômetros entre Brasil e China no nosso comércio exterior. E vocês sabem que isso vai fazer muita diferença para nós e para os chineses. Quero agradecer a companheira Marina Silva, e a Marina Silva por uma coisa importante do simbolismo nesse momento novo que vive o mundo.
O mundo hoje está se dando conta de que a questão climática não é mais loucura de professor da USP, não é mais loucura de ambientalista, não é mais loucura de nenhum jovem, sabe, desvairado. Não. A questão do clima é muito séria e o planeta está dando um aviso. “Cuide de mim, não me destruam, que vocês serão destruídos junto comigo.” É esse o recado que a gente está vendo nos ciclones, nos furacões, nas secas. Eu acabei de fazer um passeio no Rio Tapajós.
Lá no chão, no Alter do Chão, que o Alckmin me disse que era um lugar bonito, eu fui. O Rio Tapajós tinha lugar que tem 32 quilômetros de largura. Esse rio está vazio. E agora, para ele encher, nós vamos precisar esperar toda a chuva da Colômbia, o degelo dos Andes e para água chegar no Rio Tapajós, lá em Santarém, vai demorar 60 dias.
Ou seja, é um aviso de que, ou nós fazemos as coisas com seriedade, ou nós seremos vítimas de nós mesmos. Porque o ser humano, que é tido como o único animal inteligente, é o único tão inteligente que é capaz de se autodestruir. É o único que mata sem razão, é o único que come sem necessidade, é o único que quer acumular mais do que ele precisa e é aquele que destrói o seu habitat natural. Quem sabe, os nossos filhos nascerão mais inteligentes que nós e terão mais responsabilidade que nós ao cuidar do planeta.
E eu estou dizendo isso, porque muito se falou de agricultura aqui e este país não precisa fazer queimada, não precisa ter desmatamento, para que a gente possa aumentar a nossa produção agrícola. Nós temos quase 40 milhões de hectares de terras que podem ser recuperadas. Terras degradadas que a gente pode duplicar a nossa produção de soja, do algodão, de gado, sem precisar destruir aquilo que resta de conservação do planeta.
Portanto, ao invés de alguém não gostar da Marina porque ela defende muito a Amazônia, precisava começar a gostar da Marina porque ela está fazendo por nós aquilo que nós deveríamos fazer por nós mesmos.
Queria cumprimentar o meu companheiro general Amaro, chefe do Gabinete Institucional. O nosso companheiro Paulo Pimenta e cumprimentar cada empresário e empresária que está aqui, para dizer para vocês o seguinte. Eu já fui presidente de um país que era conhecido como um país do terceiro mundo. Depois eu fui presidente de um país, que era um país em vias de desenvolvimento. Hoje eu sou presidente de um país do sul global. Veja que é muito mais chique, muito mais poderoso e muito mais orgulhoso. A gente chegar em uma reunião, com um americano, com europeu, e a gente não se sentir o patinho feio, o mal vestido, o pobrezinho.
Não. Nós, agora, somos pertencentes à família do sul global, que juntos formamos quase que 50% da população mundial. Que juntos formamos quase 50% do comércio exterior e que juntos formamos a possibilidade da gente mudar de uma vez por todas o modelo de desenvolvimento e colocar em prática a tão chamada economia verde.
Companheiro Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tomou posse essa semana. Eu lamentei não poder ir. Mas eu queria te dizer, Alban, que você toma posse em um momento extraordinário. Em que a gente, para defender a indústria, para que a gente defenda a mão de obra qualificada da indústria, para que a gente defenda o valor agregado, a gente não tem que menosprezar a agricultura.
A gente não tem, porque a gente tem que se lembrar quanta tecnologia tem em um grão de soja hoje. A gente tem que lembrar quanta tecnologia e quanta genética tem na criação de um gado, na criação de um porco, de um frango. A gente tem que lembrar que a gente está, como disse o Ilan, a gente está produzindo muito mais em muito menos terra.
Nós não precisamos da mesma quantidade de terra para dobrar a nossa produção. A genética nos ensina. A tecnologia nos ensina. Então é apenas utilizar a inteligência para fazer esse país prosperar. E esse país vai prosperar porque vocês vão ter que ter inteligência suficiente de querer que isso aconteça. O que nós estamos fazendo é dizer para vocês o seguinte.
Nós vamos garantir estabilidade política, nós vamos garantir estabilidade social, nós vamos garantir estabilidade jurídica, nós vamos garantir para vocês estabilidade fiscal. E nós queremos garantir para vocês a possibilidade de vocês colocarem a inteligência empresarial de vocês para que esse país cresça cada vez mais e que a gente possa chegar, Alckmin, ao invés de 600 e poucos bilhões de dólares de comércio exterior, porque que a gente não estabelece uma meta de chegar ao 1 trilhão de dólares de comércio exterior e vamos buscar isso?
Quando o Fávaro entra no meu gabinete e fala: “Presidente, nós crescemos 40 novos mercados entre a semana passada.” Hoje ele me diz: “Presidente, já são 52 novos mercados.” Olha, isso vai acontecer porque o Brasil ganhou respeitabilidade no mundo. E por que que o Brasil ganhou respeitabilidade no mundo? Porque nós ganhamos as eleições, restabelecemos a democracia e não estamos fazendo procura de caça às bruxas.
O governo passado é coisa do governo passado. Eu tenho que pensar é nas coisas do futuro desse país. E, por isso, a Caixa Econômica volta a fazer aquilo que ela sabe fazer. Fazer o dinheiro circular na mão do povo brasileiro. Por isso o Banco do Brasil volta a fazer aquilo que ele sabe fazer.
Por isso o BNDES, que no nosso governo chegou a ter 400 bilhões de reais emprestado, no governo passado devolveu 400 milhões para o governo. O BNDES vai voltar a ser um banco de investimento, de desenvolvimento, que foi pra isso que ele foi criado. Para que a gente possa restabelecer a possibilidade de emprestar dinheiro. A taxa de juro baixa, juros de longo prazo, para que a indústria brasileira se transforme em uma indústria competitiva.
Nós estamos percebendo o quanto os americanos estão tentando subsidiar a chamada indústria verde. Nós sabemos o quanto eles estão colocando de dinheiro para poder financiar a nova matriz energética. Nós não vamos subsidiar, nós vamos apenas incentivar e dizer que, se depender da vontade do nosso governo, quem quiser fazer investimento para produzir carro verde, aço verde, bicicleta verde, motocicleta verde, carne verde, não precisa procurar.
Tem um lugar chamado Brasil, em que a natureza nos garante competitividade, nos garante sol, nos garante água e nos garante a possibilidade de se transformar em um país maior produtor de energia limpa e renovável do Planeta Terra.
O Brasil só precisa acreditar nele mesmo. Eu já participei de muitas reuniões internacionais. Houve tempo, Simone, que a gente chegava nos Estados Unidos para fazer uma reunião, a gente parecia os coitadinhos. Parecia que a gente era menor. Por isso é que eu utilizei muito aquele negócio do complexo de vira-lata. A gente se apequena diante dos grandes e a gente tenta crescer diante dos pequenos. Não. Nós não temos que nos agigantar diante dos pequenos e nem nos apequenar. Nós temos que ser nós mesmos.
O Brasil tem tudo para que a gente tire proveito do momento histórico que estamos vivendo. Para que a gente possa, definitivamente, nessa transição energética, a gente fazer a nossa revolução industrial e oferecer oportunidades aos outros que queiram investir aqui.
Por isso é que eu, que estou a dois meses sem viajar, mas já viajei muito o mundo. Ainda tenho mais três viagens para fazer fora do Brasil. Eu quero, antes de ir na COP, nos Emirados Árabes, no dia 1º e dia 2, eu quero passar no Catar, eu quero passar na Arábia Saudita. E quando terminar os Emirados Árabes, passar na Alemanha, na grande reunião entre empresários alemães e empresários brasileiros. Em todos esses encontros a gente vai levar, não discurso, a gente vai levar projetos que o Brasil tem. Coisas que estão em funcionamento, coisas que nós queremos compartilhar com empresários brasileiros e empresários estrangeiros. Eu quero que vocês saibam que no nosso governo a gente não vai tentar vender a cama pra gente dormir no chão. Não.
A gente não vai vender artigos públicos, a gente vai fazer com que eles se tornem tão competitivos e que ele compartilhe relação com a iniciativa privada para que a gente possa melhorar. Eu quero que vocês aprendam que a gente não precisa diminuir o Estado para valorizar a iniciativa privada. É importante a gente saber que o Estado, se ele não se meter a ser empresário, mas se ele se colocar como um indutor do desenvolvimento de um país, a gente pode ter o Estado fazendo investimento sadio para que a gente possa crescer.
Vocês se lembram que na crise de 2008 esse país não quebrou por causa dos bancos públicos. Não quebrou, Alckmin. E eu tenho fé em Deus e tenho fé no nosso governo que nós vamos utilizar os bancos públicos, não para prejudicar os bancos privados, mas para oferecer alternativas e oportunidades de créditos a juros mais baratos, a juros de longo prazo. Para que a indústria brasileira se transforme, definitivamente, em uma indústria competitiva. É isso que nós precisamos e é isso que nós vamos fazer.
Em janeiro eu estava em Hiroshima e encontrei com a diretora do FMI. E naquela época ela dizia: “Ah, porque o PIB brasileiro vai crescer 0,9%”. Eu não a conhecia, mas eu falei: “A senhora vai perceber que está errada com relação ao Brasil. A gente vai crescer mais do que isso.” E a gente está crescendo mais do que isso. Quando a gente avalia a economia mundial, a gente fica preocupado porque as coisas não estão acontecendo como a gente pensava que ia acontecer. Mas a gente não avalia a economia do mundo para gente ficar chorando. A gente avalia para gente mudar, para gente se aprimorar, para gente fazer coisa nova.
Esse país será, no ano que vem, do tamanho que a gente quiser, do tamanho que a gente acreditar. Se a gente ficar chorando o que não tem e não tentar fazer aquilo que nós sabemos fazer, a gente vai fazer o que sempre foi feito nesse país.
“Ah o PIB não vai crescer, tá tudo desgraçado, o PIB não vai crescer.” Esse país chegou a ter o PIB crescendo 14% ao ano e o povo continuou pobre. Porque é importante a gente ter consciência que nós temos que fazer a economia crescer e o resultado de crescimento é distribuir. Porque o meu sonho não é fazer política social para os pobres. O meu sonho é ter uma sociedade de padrão médio de consumo, para que a gente possa evoluir definitivamente e parar de ser um país do futuro, porque o futuro nosso é agora, é hoje, é amanhã. E depende de cada um de vocês.
Portanto, Jorge, parabéns por esse evento. Eu queria conclamar os empresários brasileiros a acreditarem que a gente não pode permitir que o ódio se restabeleça nesse país. Esse país é um país de paz, é um país alegre, é um país que as pessoas gostam de festa, as pessoas gostam de futebol, as pessoas gostam de música. As pessoas não aprenderam a ter ódio nesse país.
E com ódio a gente não faz nada. Quem semeia ódio, colhe tempestade. Quem semeia amor, colhe bonança. É isso que nós precisamos fazer com esse país. Portanto, meus parabéns, muito obrigado. E parabéns pelo encontro, Jorge.