Pronunciamento do presidente Lula durante cerimônia de assinatura do projeto de lei do Programa Combustível do Futuro
Eu quero cumprimentar o companheiro Geraldo Alckmin, nosso querido vice-presidente da República; quero cumprimentar o companheiro Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados; quero cumprimentar o senador Veneziano Vital do Rêgo, vice-presidente do Senado, por meio de quem cumprimento todos os senadores aqui presentes. Quero cumprimentar os deputados aqui presentes. Quero cumprimentar deputados, quero cumprimentar os empresários aqui presentes, as empresárias. E os companheiros e companheiras ministros que estão aqui.
Vocês estão percebendo que eu tô sem voz. Não é porque eu experimentei o combustível de aviação ainda. É porque eu tô muito orgulhoso do dia de hoje.
O Alckmin se lembra que, quando eu ganhei as eleições, em 2002, eu fui fazer uma reunião em Araxá, em Minas Gerais, e lá em Araxá estava também uma reunião de governadores do PSDB. E o Alckmin chegou lá e eu fui dizer pro Alckmin que eu queria convidar o companheiro Roberto Rodrigues [ex-ministro da Agricultura] para ser ministro da Agricultura. E, para a minha surpresa, o Alckmin também queria ele como secretário da Agricultura de São Paulo. E eu acho que, pela minha cara, o Alckmin ficou sensível e falou que ele cederia para o país o secretário que ele queria pro estado de São Paulo. Eu tô contando essa história porque, um belo dia, em 2004, o Roberto Rodrigues entrou na minha sala, parecia uma criança emocionada falando do biodiesel. E, naquela época, o Roberto Rodrigues dizia que o Brasil poderia se transformar no país mais importante do planeta na produção de combustível limpo. Nem todo mundo acreditava naquilo.
Eu participei da inauguração de muitas pequenas usinas de produção de biodiesel. Eu andei, muito tempo, na Europa, tentando vender o carro verde que a gente poderia produzir no Brasil. E eu acreditava que, se a gente tivesse levado a sério, após a minha saída do governo, essa política de combustível alternativo, a gente já seria, hoje, mais importante no mundo do que a gente é. Eu participei da iniciativa com o presidente Biden [Joe Biden, presidente dos Estados Unidos da América] e o primeiro-ministro Modi [Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia], mais o presidente da Indonésia, mais a Argentina e mais doze países, do lançamento de uma iniciativa mundial de produção de combustível limpo. O mundo não tem outro remédio e não tem outra saída a não ser enveredar para esse caminho da produção de combustível limpo. E, nesse aspecto, é que o Brasil tem que decidir, não apenas numa lei, mas decidir no nosso comportamento e na nossa vontade, se a gente quer, realmente, se transformar numa nação grande, numa nação rica, numa nação soberana.
Essa produção de biocombustíveis, essa transição energética que o mundo todo clama é uma oportunidade sui generis para esse país. Esse país é grande, mas, durante muitas décadas, ele teve vocação de ser pequeno. Ele teve medo de crescer. Ele teve medo de ousar. Ele teve medo de acreditar na sua própria força. A natureza, de um lado, e a irresponsabilidade do ser humano, do outro, de tanto desmatar o planeta e de tanto poluir o planeta está dando uma nova chance ao Brasil. A chance de que a gente pode se transformar numa coisa tão ou mais importante do que o Oriente Médio é para o petróleo, a gente pode ser para os combustíveis renováveis. Nós temos...
Eu não vou ler o meu discurso porque vocês percebem que eu tô sem voz. Eu só queria chamar a atenção de vocês para uma coisa: nós saímos de um momento histórico desse país em que tudo parecia que ia dar errado. Uma sociedade tomada pelo medo. Uma sociedade tomada pela negatividade. Uma sociedade tomada por um ódio, por uma raiva desnecessária, porque isso não é a formação do povo brasileiro. O que nós estamos tentando fazer agora é dizer, tanto aos trabalhadores representados pelo Luizinho [Luiz Antonio de Souza Teixeira Júnior, deputado federal], quanto aos empresários aqui presentes, que nós temos uma nova chance e eu, enquanto presidente da República, não vou perder essa chance. O Brasil vai se transformar, sabe, numa coisa muito importante no planeta Terra. Nós temos terra, temos água, temos sol, temos tecnologia e, mais ainda, temos a floresta amazônica que precisamos preservá-la. E temos mais de trinta milhões de hectares de terras degradadas que nós podemos recuperá-la e nela plantar o que nós quisermos, tanto de madeira quanto de biocombustível. E é isso que vai transformar o Brasil numa coisa muito importante.
Segunda-feira eu estarei em Nova York, junto com o Lira, junto com o Pacheco [Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal], junto com o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda]. Nós vamos fazer um grande debate em Nova York e a questão do combustível renovável estará na pauta. Em dezembro, nós vamos ter a COP nos Emirados Árabes e, na volta, nós vamos passar na Alemanha para fazer um grande debate com os empresários alemães, para mostrar para eles que o Brasil é e vai se tornar o grande produtor de alternativas de combustível nesse país. E os países ricos, os países ricos, precisam cumprir a promessa que eles fazem aos países pobres. Desde 2009 que nós estamos esperando a doação de 100 bilhões de dólares, por ano, e que não apareceu até agora. O Brasil não vai ficar esperando a doação, o Brasil vai, por conta própria, resolver os seus problemas, e a Marina [Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática] tem uma frase que é muito importante: "A questão ambiental não é só a gente proibir, é a gente discutir como fazer as coisas, porque é possível fazer tudo corretamente". E a gente vai fazer.
Eu quero dar os parabéns aos empresários que acreditaram. Eu sei que muitas usinas de biodiesel fecharam, algumas fecharam, sabe, e, se depender de mim, nós vamos recuperar todas. Eu queria, inclusive, pedir aos empresários, ao Alexandre [Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia do Brasil]; Alexandre, que quem sabe a gente tenha que convidar, outra vez, o Conselho Nacional de Política Energética e, quem sabe, a gente aumentar de 12 para 13, de 12 para 14, porque tá provado que é possível a gente aumentar a produção. Nós não temos que depender de alguém dizer se a gente pode ou não. É uma decisão do governo brasileiro com a aprovação de projetos, que mandaremos para a Câmara e para o Senado, para que o Brasil tome conta do seu nariz.
Eu nasci numa região muito pobre. Eu, se dependesse da lógica, eu não estaria onde eu estou e, se eu cheguei aqui, o Brasil pode chegar muito mais, porque o Brasil é maior do que todos nós. O Brasil tem uma parte intelectual respeitada. As nossas universidades podem participar e ajudar a gente a fazer aquilo que a gente ainda não sabe. O nosso consumidor precisa de combustível limpo, o nosso trabalhador precisa de emprego e, nessa luta que a gente quer fazer contra a desigualdade no mundo, não tem nada para diminuir a desigualdade do que a geração de empregos, oportunidade de trabalho, que é o que o Brasil precisa. Por isso, eu queria pedir aos empresários: o que eu tinha que oferecer para vocês, eu já ofereci. Eu ofereci para vocês, primeiro, credibilidade; eu ofereci para vocês a estabilidade jurídica, estabilidade política, estabilidade econômica, estabilidade social e previsibilidade.
Nesse país, ninguém será pego de surpresa. Nesse país, não terá live às 5h da manhã, elas serão feitas ao meio-dia, para que todo mundo saiba o que vai acontecer nesse país. A nossa relação com o Congresso será uma relação verdadeira, em que a gente não tenha nenhuma preocupação em conversar com deputados, com senadores, fazer os acordos que tiver que fazer, porque o objetivo de todos nós é tirar o Brasil de ser eternamente um país em via de desenvolvimento e esse país, finalmente, se transformar em um país desenvolvido, um país rico, em um país grande economicamente e socialmente.
Por isso, eu estou feliz e parabéns, Alexandre, pela proposta e, Lira, eu espero que o Congresso, mais rapidamente, aprove isso para o Brasil sair da pequenez e entrar numa atitude de grandeza.
Um abraço, gente.