Pronunciamento do presidente Lula durante cerimônia de afirmação e fortalecimento da educação inclusiva
Eu queria cumprimentar vocês. Dizer para vocês que eu sou um homem de um metro e setenta, com viés de um metro e oitenta. Eu tenho 78 anos, com viés de 70. Tô vestido com terno preto, gravata vermelha, camisa branca, como todo mundo aqui. E vocês perceberam que eu não tenho um discurso. Primeiro, porque quem fez o meu discurso, fez o discurso do Camilo, ou vice-versa. Então, seria redundância eu repetir as coisas que o Camilo falou aqui.
Eu queria, por respeito a vocês, dizer para vocês que uma das coisas mais importantes que me fez voltar a disputar uma eleição presidencial nesse país era para poder provar à sociedade brasileira de que o papel de um governo não é governar. Governar não quer dizer nada. Fazer ponte, fazer viaduto, fazer estrada, fazer um monte de coisa é muito importante, mas governar mesmo é você cuidar de gente. Você cuidar de pessoas... Cuidar de gente é muito difícil. Embora seja a coisa que menos custa à União, que as pessoas falam sempre em gastar, você está gastando com saúde, gastando com educação. Camilo, agora, acabou de falar, três bilhões que a gente vai investir na formação de muita gente. Na verdade, esse é o mais importante investimento que o Poder Público pode fazer. Cuidar de gente significa você ter afeto. Significa você ter carinho. Significa você ter paixão. Não compaixão, paixão. Significa você ser humanista. Significa que você não vê diferença nas pessoas. Significa que todos merecem a oportunidade de ser tratados com as suas diferenças em igualdade de condições.
Já houve, na história da humanidade, quem quisesse que houvesse prevalência de uma supremacia de raça sobre a outra. Já houve, na humanidade, quem achasse que a gente deveria ter uma supremacia de pessoas saudáveis, de pessoas só altas, de pessoas sem nenhuma deficiência, aquilo que esteticamente é chamado de pessoas bonitas. Sem compreender o que significa o que é a beleza. A beleza não é, muitas vezes, aquilo que a gente vê. Porque, muitas vezes, a beleza é representada em sentimentos. Em amor. Em carinho. É assim que a gente convive com as pessoas. E era isso que me motivava a voltar a ser presidente da República.
Nós estamos há apenas dez meses no governo. Nesses dez meses, nós tivemos que fazer um processo de reconstrução do país. Reconstrução, porque me parece que passou, no Brasil, um furacão. Um furacão do mal. Que destruiu, em poucos meses, aquilo que a gente levou décadas para fazer.
É como uma guerra. Vocês estão vendo aquele bombardeio lá em Gaza, na Faixa de Gaza? Além da quantidade de pessoas que morreram, de crianças, de mulheres, de inocentes. A gente vê aquele amontoado de tijolos no chão. Aquilo levou décadas e séculos para ser construído e você destrói em um minuto. Em um minuto. E o que nós queremos provar é que a gente vai reconstruir e transformar esse país num país mais humano. Num país mais solidário. Num país em que cuidar da família é nossa obrigação. Que ninguém tenha vergonha dos seus. Que ninguém tente esconder os seus. Porque uma deficiência é uma coisa que precisa ser tratada com mais amor, com mais carinho.
Eu sempre dizia que eu queria governar como se eu fosse um coração de mãe, porque não tem nada mais puro, mais afetuoso, do que o comportamento de uma mãe com os seus. Ou seja, não tem nada mais fraterno, não tem nada mais compartilhado do que o carinho que uma mãe tem com seus filhos. E eu achava que o governo tinha que ser isso. Governo tinha que cuidar. Governo tem que cuidar das pessoas de acordo com as necessidades das pessoas. Não importando como que a pessoa é, não importando a cor, não importando a altura. Não importando, só importando que seja gente. Que seja um ser humano que está precisando que o Estado lhe estenda a mão.
Eu queria dizer para vocês que a tomada de posse nossa, no dia 1º de janeiro, subindo com um pouco da diversidade das pessoas do Brasil, era um exemplo daquilo que a gente ia fazer quando estivesse governando. Não pensem que é fácil. Não pensem que tem gente e todo mundo gosta do que nós estamos fazendo hoje e anunciando hoje. Não pensem que tem. Tem muita gente que acha que a gente não deveria fazer isso. Aliás, tem muita gente que acha que as crianças nem deveriam ir para a escola, deveria receber educação dentro de casa. Como se todo mundo fosse rico para pagar os bons mestres e doutores para dar aula. Como se o Estado fosse uma coisa imprestável, quando o Estado é o único instrumento que pode garantir a todos, a todos, indistintamente, o direito de fazer aquilo que quer fazer e de ser atendido em sua plenitude.
Eu penso que o dia de hoje não é apenas o dia da educação inclusiva. É o dia da gente dizer, em alto e bom som, esse país voltou a ser governado por alguém que tem vergonha na cara e de tratar os diferentes como iguais. Esse país não deixará de estender a mão a quem quer que seja. A quem quer que seja. Para que a gente possa construir um país mais justo, em que as famílias vivam bem. Que as famílias vivam em harmonia. Que as pessoas não briguem, que as pessoas conversem, que as pessoas não se ofendam. É esse país que eu sonho em criar. Porque o ser humano tem que viver em comunidade. O ser humano precisa viver em comunidade. Nós precisamos nos ajudar, uns aos outros. Se eu não tenho alguma coisa, estenda a mão para mim. Se eu tenho, que estenda a mão para os outros. Para que a gente possa reconstruir esse país que eu quero, que vocês querem, que o ser humano precisa.
Eu estou com 78 anos de idade. Eu nunca vi, eu nunca vi, em nenhum momento da minha história de 78 anos, tantas pessoas nervosas. Tantas pessoas irritadas. Tantas pessoas querendo ser melhor do que as outras. Tantas pessoas não querendo levar desaforo para a casa. As pessoas brigam porque, no elevador, vai entrar outra pessoa. As pessoas brigam porque o semáforo fechou e eu queria passar rápido. As pessoas brigam porque alguém entrou na frente e ele já estava de saída na garagem. Alguém briga porque seu time perde, alguém briga porque seu candidato perde. Ou seja, que sociedade é essa que nós estamos criando?
Nós não queremos uma sociedade só dos chamados "perfeitos". Nós queremos uma sociedade de seres humanos com coração. Com alma. Com sentimento. Com solidariedade e, sobretudo, com sentimento de humanismo. Nós não queremos ser máquinas, nós não queremos ser algoritmos, nós queremos chorar, nós queremos abraçar, nós queremos beijar, nós queremos acariciar. E nós queremos tratar de quem precisa dos outros.
Portanto, Camilo, eu queria te dar os parabéns. Não é um ato só de inclusão, de educação inclusiva. É mais do que isso. O que nós estamos lançando hoje é dizer para a sociedade brasileira: nós vamos consertar esse país. As pessoas vão ser tratadas com respeito e com dignidade. As pessoas vão ser tratadas do jeito que elas são, mas com carinho e o amor que elas merecem. E não haverá gasto por parte do governo, haverá investimento. Porque é obrigação do Estado gostar dos seus filhos.
Um beijo no coração de cada uma, de cada um de vocês e até outro dia, se Deus quiser. Nós vamos continuar a nossa trajetória aqui. Nós vamos continuar fazendo as coisas boas que precisam ser feitas. E quero dizer para vocês que nós temos três anos de mandato ainda. E tenho certeza que muita, muita, muita coisa vai acontecer nesse país até a gente poder dizer: "Obrigado, meu Deus, por nos transformar em iguais". E é isso que vai acontecer. Um beijo no coração de vocês.