Pronunciamento do presidente Lula durante anúncios de investimentos de bancos públicos em estados e municípios
Eu tinha pedido para o Alckmin falar no meu lugar, porque eu tô com a voz muito, muito ruim. Se eu fosse cantor, eu iria ficar uns três meses sem contrato, para fazer nenhum show. E eu também não vou ler o meu discurso, não. Eu só queria dizer uma coisa: a importância dessa fotografia aqui. O Pacto Federativo foi quase destruído nesse país. Eu nunca concebi alguém querer administrar um país do tamanho do Brasil, com 27 estados e com quase 6 mil municípios, sem levar em conta a existência desses entes federados. Eu nunca compreendi como é que era possível você querer governar sem conversar com aqueles que, junto com você, tem a responsabilidade de dirigir esse país.
E esse ato aqui, Tarcísio, tem uma coisa muito importante que eu vou lhe dizer: o Serra era governador de São Paulo. E, toda vez que tinha um empréstimo do BNDES, eu ia a São Paulo. E o Serra, um dia, falou para mim: "Pô, Lula, mas isso aqui é um empréstimo, eu vou pagar, por que que você tem que vir aqui?". Eu falei: "Porque se fosse o teu presidente, não tinha esse empréstimo. Tem porque eu sou presidente e decidi que o BNDES é parte preponderante no investimento do desenvolvimento desse país, é parte preponderante na execução do PAC. O Banco do Brasil é preponderante, a Caixa Econômica, o BNB e o BASA. É para isso que existem os bancos públicos. É para fazer aquilo que, muitas vezes, a iniciativa privada não quer fazer.
Por isso, tanto a Caixa Econômica, quanto o Banco do Brasil, quanto o BNB, o BASA e o nosso BNDES. A orientação é essa: prefeito não é bandido. Governador não é bandido. Se ele tiver as contas dele em dia, ele tem direito, sim, de ir ao banco e pedir um financiamento e o banco financiar. Porque, no Nordeste, Tarcísio, o BNB não financiava mais prefeito e nem estado. Ou seja, não sei então pra que serve um banco se, quando o estado que está em condições de pagar, pede dinheiro e eles não dão. Pra que que serve?
Então, eu acho que isso é uma coisa para mim muito sagrada. Muito sagrada. E tem muito a ver com o presidente. Tem muito a ver com a disposição, porque tem gente que não quer que empreste mesmo. Tem gente que acha que o dinheiro do BNDES deveria ser devolvido para os cofres do Tesouro quando, na verdade, o dinheiro do BNDES é para investir, para empresário que quer investir, que quer gerar emprego, que quer pagar salário. É para desenvolver esse país. E isso é o que nós estamos fazendo neste gesto singelo.
E não pensem que vai ficar só nisso, não. São Paulo, quando a gente for discutir o Rodoanel, é mais R$ 7 bilhões. Quando a gente for discutir o túnel, sabe, lá do nosso túnel desse país Londres, ou seja, que é do Guarujá-Santos, é mais R$ 7 bilhões. E se o Tesouro não tiver dinheiro, o BNDES vai ter dinheiro e o BNDES vai financiar. Porque não é interesse só de São Paulo, é interesse desse país. Eu não quero saber de que partido é o Tarcísio, não quero saber de que partido é o Helder. Eu quero saber o seguinte: eles são governadores eleitos, com o mesmo povo que votou em mim. Os prefeitos idem. Então, nós vamos tratar todo mundo com muita cidadania, com muito respeito, porque esse país vai surpreender em 2024.
Eu, em janeiro de 2023, eu fui a Hiroshima, em uma reunião do G7. E, quando eu cheguei a Hiroshima, a senhora que preside o Fundo Monetário Internacional me procurou para dizer: "Presidente, tudo bem? Tudo bem. A situação do mundo não está muito boa. O Brasil só vai crescer 0,8%". Eu quase que pergunto para ela: "Com que informação você fala isso?". Com que informação? Agora eu encontrei com ela no G20 e eu falei: "Nós não vamos crescer 0,8%, nós vamos crescer 3%. E, se o juros estivesse mais baixo, a gente cresceria mais". A mesma coisa é agora.
Eu queria alertar para os governadores uma coisa importante: vocês já têm tanta experiência quanto eu. O nosso papel, muitas vezes, é passar otimismo e vender criatividade para que a gente dê certo na governança. Eu tava vendo o Aloizio Mercadante falar. "Emprestamos quatro vezes mais que o ano passado". Eu tava vendo a nossa presidente do Banco do Brasil. "Emprestamos quatro vezes mais do que no ano passado". Nós emprestamos mais do que os quatro anos do governo passado. Eu tava vendo a Caixa falar "emprestamos mais do que quatro anos". "O BNB emprestou mais quatro vezes". O ministro dos Transportes, este ano, está investindo R$ 23 bilhões, que é mais do que os quatro anos do governo passado.
Então, eu fico me perguntando: qual é o pessimismo dos economistas que acham que vão crescer pouco, porque a China não sei das quantas? Gente, é o seguinte: nós não temos que pensar na China, vamos pensar em nós aqui. Quando alguém aqui vai no médico, alguém vai para saber que está doente? Não. Vai atrás de uma cura, de um remédio.
Vamos criar, nós, as condições desse país crescer. E esse país pode crescer, sim, em 2024, tanto quanto cresceu em 2023. Nós temos projeto, nós temos bancos, nós temos empresários, nós temos disposição de fazer esse país crescer. É preciso parar de chorar e de lamentar. O país será do tamanho da nossa criatividade. Você chega em casa e não tem comida, eu fico chorando "não tem comida para mim comer?". Eu vou ficar na mesa com fome? Não, vou sair para procurar comida. Esse país vai crescer. Quem tiver apostando que esse país vai ter um decréscimo muito grande no crescimento, eu quero aqui que esteja, em dezembro do ano que vem, aqui, para a gente ver o que aconteceu. Porque vai aparecer dinheiro, vai aparecer dinheiro privado, vai aparecer investimento externo.
É por isso que nós fomos agora para Dubai. Fomos para a Arabia Saudita, fomos para o Catar. Cheio de projetos, cheio de amor para dar. Fomos para a Alemanha. Eu fiz a melhor reunião com a Alemanha desde que eu conheço a Alemanha, em 1980. E, depois de dois mandatos presidenciais, eu nunca vi tanto amor para dar ao Brasil. E nós temos que aproveitar essa possibilidade da transição energética e fazer desse país a maior potência de produção de energia renovável do planeta Terra.
E, se eles quiserem comprar, que venham comprar. Se não tiver dinheiro, a gente tem que correr atrás. Não dá para a gente apenas constatar que não tem dinheiro e ficar quieto. Não, nós temos que ir atrás. Em algum lugar nós temos que ter. Nós temos que mexer com o coração do presidente do Banco Central. Reduz um pouco os juros que as pessoas estão querendo tomar dinheiro emprestado. Os governadores podem ajudar, fazer pressão. Vamos baixar o juros, gente. Fazer os bancos emprestarem dinheiro para criar emprego. Quando tiver emprego, tiver salário, o que que vai acontecer?
A indústria paga salário, o povo vira consumidor, o comércio compra da indústria e vende para o consumidor. O que que vai acontecer como resultado? A economia vai crescer. Eu vou dar dois casos para vocês, para vocês não perderem a esperança. Quando eu cheguei na Presidência aqui, em 2003, Tarcísio, eu fui pra China em uma viagem, 2004, 2005, a China tinha conseguido juntar os 100 bilhões de dólares de reserva internacional. Cem bilhões de dólares. Eu voltei da China pensando: "O dia que o Brasil tiver uma reserva de R$ 100 bilhões de dólares, a gente vai ser um país independente, um país rico".
O que aconteceu, querida Tereza Campello, quando eu deixei a Presidência, já tinha 270 e poucos e a Dilma deixou 380 bilhões de dólares de reserva, a primeira vez que o Brasil teve uma reserva que é capaz de suportar as crises que aconteceram depois.
A outra coisa era a questão da balança comercial. O Brasil não tinha nem 100 bilhões de fluxo comercial. Era uma pobreza desgraçada. O dia em que a gente atingiu 100 bilhões no fluxo, entre exportação e importação, nós colocamos um container na frente do ministério do Alckmin e ficou uns três meses em um guindaste, pendurado em um container. Esse ano, nós tivemos 100 bilhões de superávit. Como se fosse quase que de lucro. Isso é pouco? Isso é pouco para um país que, até outro dia, demorava cinco anos para matar um boi, hoje mata um boi com vinte meses, até 18 meses. Um país que demorava 90 dias para matar o frango, hoje mata com 35, 40 dias, um frango.
Ora, um país que consegue quase que duplicar sua produção de grãos, quase que ocupando o mesmo espaço. Um país que tem 50 milhões de hectares de terras degradadas para recuperar. Do que que a gente tem medo? Por que que a gente é tão frágil? E por que que a gente fica olhando os outros em vez de olhar para nós mesmos e dizer o que que nós queremos desse país? E, aí, eu vou dizer uma coisa para vocês: é preciso mudar a palavra gasto. A palavra gasto não pode ser utilizada "eu vou gastar numa estrada", "eu vou gastar em uma educação". Isso não é gasto, isso é investimento. E é o investimento mais sagrado que você faz.
Então, é preciso que a gente alerte os nossos economistas para compreender o seguinte: nem tudo que a gente investe, fora de custeio, é gasto, gente. É preciso que a gente tenha clareza, porque senão a gente fica amarrado nos princípios da só estabilidade fiscal. Eu quero estabilidade fiscal, brigo por ela, já provei que sou capaz. Mas eu quero estabilidade social. Estabilidade social a gente tem com geração de emprego, com aumento do salário. Ou nós queremos criar um mundo em que a maioria das pessoas vivam ganhando abaixo de 2 dólares por dia? Eu confesso a vocês uma coisa: nós vamos terminar 2023 muito melhor do que as previsões todas de 2022. Você sabe disso, Nelson.
Nós vamos terminar 2023 muito melhor do que todas as previsões de esquerda, de direita e de centro de 2023. Vocês se lembram que a gente começou a governar esse governo e a gente não tinha orçamento. Tivemos que contar com o apoio do Congresso Nacional para fazer uma PEC extraordinária, dois meses antes de eu tomar posse, para a gente, inclusive, pagar conta do governo anterior.
"O Brasil não vai… O Brasil tá ferrado". Não está ferrado. O que nós precisamos é a gente saber o que a gente quer, como é que a gente quer e como nós vamos fazer. E, disso, eu quero dizer para vocês que eu não abro mão. Estão aqui os governadores, estão aqui vocês, prefeitos e auxiliares de governadores. A gente pode se juntar outra vez, em dezembro de 2024, e vamos ver o que aconteceu na economia brasileira. E eu acho, eu estava dizendo para o Alckmin ali, cochichando no ouvido dele, a quantidade de dinheiro que as pessoas anunciarem, a quantidade de dinheiro que ouve em cada reunião ministerial. "Porque o meu ministério já colocou quatro vezes mais do que o governo anterior". Tudo é assim. Eu só não gosto quando falam porque criou tantas empregos diretos ou indiretos, porque, às vezes, a soma dos diretos e indiretos dá mais do que a população brasileira. Então, não precisa me prometer tanto. Eu só quero que esses investimentos se transformem em coisa concreta. Numa obra, num emprego, num salário e numa melhoria dos ativos desse país.
É isso que nós queremos, é isso que nós precisamos. É por isso que não tem que ter medo de emprestar dinheiro para um estado como São Paulo. Emprestar dinheiro, você veja, eu sou o maior pescador de pintado do Rio Paraguai. Eu estava falando para o governador, é verdade, você pode perguntar, pega um livro de história lá que você vai ver. Como é que a gente vai deixar de emprestar dinheiro para um estado que tem as condições de crescimento do Mato Grosso. E esse moço, o Helder, que agora vai ser da COP 30, só fala nisso, vai trazer o mundo inteiro para Belém.
A gente que vai presidir o G20 este ano. Você sabe quantas reuniões vão ter esse ano? Mais de 100 reuniões aqui no Brasil, só de gente importante. E nós vamos colocar gente mais importante, eu vou fazer uma plenária do povo para discutir o G20. E, depois do G20, a gente vai ter a COP 30 e os BRICS juntos. Do que que esse país tem medo? Por que esse país é pessimista? Por que a gente fica achando que não vai dar certo? Ora, a cabeça do presidente, a cabeça dos governadores, não é para constatar o que o povo constata todo dia. A nossa cabeça é para mudar a constatação, para fazer as coisas acontecerem melhor para eles. É esse o papel de um presidente da República, de um governador, de um prefeito. Se a gente ficar fazendo estatística e chorando porque está ruim, pra que que a gente é governo? A gente tem que mudar aquilo que não funciona e eu posso dizer para vocês: esse país vai mudar de verdade.
Eu quero ter uma conversa franca com vocês, quando chegar dezembro de 2026, eu quero fazer o mesmo que eu fiz em 2010. Provar. Esse país já é a nona economia do mundo. Se prepare que nós vamos disputar a sétima, a sexta economia do mundo. Porque não há nenhuma explicação desse país ter o potencial extraordinário que tem e a gente ficar chorando, lamentando, reclamando. Nós temos é que fazer as coisas acontecerem e esse é o nosso papel.
Por isso, queridos governadores, tenham sempre em mente o seguinte: o Governo Federal quer compartilhar com vocês o sucesso do que acontecer nesse país. E compartilhar o sucesso com os governadores é a gente compartilhar as obras, compartilhar os financiamentos. E eu queria dizer para vocês já: estou convidando todos os governadores, porque, dia 8 de janeiro, nós vamos fazer um ato aqui em Brasília para lembrar o povo que tentou dar um golpe no dia 8 de janeiro e que ele foi debelado pela democracia desse país.
E eu pretendo ter todos os governadores aqui, os deputados, os senadores, os empresários, para a gente nunca mais deixar as pessoas colocarem em dúvida de que o regime democrático é a única coisa que dá certeza das instituições funcionarem e do povo ter acesso a participar da riqueza que ele produz. O restante é balela.
Por isso, muito obrigado a todos vocês por terem comparecido.