Pronunciamento do presidente Lula durante a entrega de moradias do Minha Casa, Minha Vida em Macapá
Olha, eu acabo de ser informado, para quem gosta de futebol, o Fluminense ganhou de 2 a 0 e vai para a final. Eu só lamento... Não pensem que é fácil falar depois da gente ouvir 2 senadores, 2 ministros e 1 governador. Vocês percebem que já não tem mais assunto para eu falar aqui.
Eu só queria que vocês compreendessem que eu estava com saudade do Amapá. A última vez que eu vim aqui, o companheiro Waldez era governador do estado ainda. Eu estava no final do meu mandato e eu vim aqui para distribuir títulos de terra para o povo do Amapá. E eu fiquei muito decepcionado, porque depois de muito tempo eu encontrei com o Waldez e eu perguntei para dos títulos de terra, se tinham finalmente sido entregues. E ele me disse que não tinham sido entregues, que houve uma decisão judicial e suspenderam a entrega dos títulos de terra. Depois, me parece que se tentou outra vez com outro decreto da presidenta Dilma, que também não deu certo. Certas terras não foram entregues ainda, eu vou vir entregar agora para o Clécio.
A segunda coisa que eu descobri hoje, somente hoje eu descobri. O Randolfe me deu um pequeno álbum de fotografia que o pai dele preparou para que eu lembrasse das visitas que fiz aqui. E na foto tem um moleque, e eu não tinha ligado que o Randolfe, senador, era aquele moleque atrevido que não queria parar de falar cada vez que a gente vinha aqui. A terceira coisa que eu descobri é que nunca mais eu comi um tucunaré assado como eu comia na casa do Waldez quando eu era governador do estado. Eu não sei se era a mulher dele que fazia o tucunaré, mas esse tucunaré até hoje eu tenho água na boca. E já faz um ano que o Waldez é ministro, e até agora eu quero saber do meu tucunaré assado, porque cru não me interessa. A quarta coisa que eu queria falar para vocês é que eu estou simplesmente feliz como ser humano, como presidente da República, de ver a cena que eu vi aqui. As três pessoas que receberam a chave da casa, três pessoas humildes, três pessoas simples, três pessoas necessitadas.
E eu queria contar para vocês uma pequena história. Eu, primeira vez que eu casei, eu fui pagar aluguel e eu morava em um quarto e cozinha. Um quarto e cozinha que quando chovia, criava umas lesmas na parede de quase meio quilo. E eu antes de sair para trabalhar, tinha que pegar saco de sal e ficar jogando sal com a colher em cima das lesmas, para elas derreterem, porque minha mulher tinha medo das lesmas. Eu pagava R$ 100 de aluguel, naquele tempo era 100 cruzeiros de aluguel. Era o dinheiro mais amaldiçoado que eu tinha, porque era o dinheiro que eu pagava, mas eu não estava tendo nada para aumentar a minha vida, a minha riqueza. Depois, minha mulher morreu no parto, eu casei outra vez. Em 1976, eu fui comprar a minha casinha. Eu comprei uma casa de 33 metros quadrados. Nessa casa de 33 metros quadrados, morava eu, morava a Dona Marisa, morava três filhos meus, morava a mãe dela e morava ainda dois cachorros, em 33 metros quadrados.
Portanto, eu conheço muito bem o que é o sonho da casa própria. Eu conheço muito bem o sonho dessas meninas que receberam as chaves da casa e choraram de emoção, porque o dia que eu fui ver a minha casa e saber que aquele pedacinho de terra era meu, que a partir dali eu tinha uma propriedade, foi possivelmente o dia mais feliz da minha vida.
Portanto, construir casas para o povo mais humilde é uma necessidade urgente. A gente precisa ter um ninho definitivo. As nossas crianças não podem ficar mudando de casa todo ano, porque às vezes muda para longe da escola, às vezes precisa fazer novas amizades, às vezes as nossas meninas e os nossos meninos não conseguem sequer ter um companheiro ou uma companheira para brincar, e isso nem sempre a gente muda para uma casa melhor.
Então, eu estou feliz por vocês e quero dizer para vocês: nós já fizemos 6 milhões de casas e vamos fazer mais 2 milhões de casas até terminar o meu mandato, para que a gente possa atender uma necessidade vital do povo brasileiro. Mas não é só casa que eu quero fazer, não é só casa. Eu tenho que pensar: como é que a gente vai gerar emprego para essas meninas e para esses meninos que estão aqui? Como é que a gente vai garantir que eles possam ter um Instituto Federal para estudar ou uma universidade para estudar? Como é que a gente vai garantir que essas pessoas possam ter aumento de salário, que essas pessoas possam ter acesso à cultura, possam ter acesso ao lazer, essas pessoas possam viajar?
O governador estava me contando que, de vez em quando, uma passagem de avião daqui para Brasília chega a custar 10 mil reais. Olha, eu vou dizer para vocês uma coisa: não tem explicação, não tem explicação o preço das passagens de avião neste país. Não tem explicação. Essa é uma coisa que o Governo vai ter que se debruçar, o Senado vai ter que se debruçar para a gente tentar encontrar uma solução.
A mesma coisa é o preço da energia. Eu não sei se vocês entenderam corretamente o que disse o ministro Alexandre. Ele disse que 3 milhões de pessoas mais ricas, 3 milhões de pessoas que são empresários, pagam um terço do valor da energia que pagam 90 milhões de brasileiros mais pobres. A pergunta que eu faço é a seguinte: é justo o rico pagar menos do que o pobre? É justo você pagar metade do que você ganha em energia elétrica em um país que produz muita energia? Essa é outra coisa que eu disse para o ministro, e disse ao Alcolumbre e disse ao Randolfe. O Governo vai ter que se debruçar no começo do ano e vamos resolver esse negócio da energia, porque o povo pobre e trabalhador não pode continuar pagando as contas dos mais ricos neste país.
A vida das pessoas mais pobres, a vida das pessoas que trabalham, das pessoas que ganham menos, a vida das pessoas precisa melhorar definitivamente. Vejam que absurdo, nós tínhamos acabado com a fome neste país em 2014, mas bastou derrubarem a Dilma e o “coisa” ganhar as eleições que hoje nós temos 33 milhões de brasileiros passando fome outra vez. Outra vez, a gente vai ter que garantir que nenhuma criança neste país vá dormir sem ter um copo de leite, um pão com manteiga, um mingau para ela comer.
A gente vai ter que garantir que carne não pode ser um produto de luxo. Carne, para quem gosta, é um direito de todas as pessoas terem acesso. Nós precisamos acabar com a ideia de que pobre não gosta de coisa boa, acabar com essa ideia. Tem gente que acha que a gente gosta de comer em cocho. Tem gente que acha que a gente só gosta de andar de chinelo. Tem gente que acha que a gente não gosta de se vestir bem, de morar bem. E eu digo todo santo dia: o povo trabalhador, do mais humilde ao mais sofisticado, gosta de coisa boa. A gente quer comer bem, a gente quer morar bem, a gente quer se vestir bem, a gente quer ter direito a carro bom, a gente quer ter celular bom, a gente quer ter computador bom, a gente quer ter televisão boa e a gente quer morar em um bairro altamente digno e respeitado.
Por isso, eu vou dizer para vocês que estou vendo as mudas de ipê plantadas aqui. Não sei se vocês já viram que tem mudas de ipê plantadas nesse conjunto habitacional. O ipê, se cuidar direitinho, ele vai dar flor com 3 anos de idade. Se não cuidar, pode demorar 5 anos. Como vou voltar mais vezes ao Amapá agora, não vou demorar mais 15 anos. Eu vou olhar se vocês vão estar cuidando do direito desse ipê.
A outra coisa é que nos conjuntos habitacionais novos, vai ter biblioteca. Vai ter biblioteca para que os brasileiros não percam o hábito de ler, de ter acesso à informação. E isso nós vamos fazer em todas as casas, em todos os conjuntos habitacionais. Por isso, eu não poderia deixar de faltar de vir aqui ao Amapá, vir aqui rever velhos companheiros e velhas companheiras. Alguns já não existem mais, mas eu queria dizer para vocês que só tem uma razão pela qual eu voltei a ser presidente da República: é que eu quero provar outra vez para a elite brasileira que um torneiro mecânico, sem diploma universitário, cuida mais desse povo do que todos aqueles que fazem parte da elite. E nós vamos melhorar a vida das pessoas. É para isso que eu voltei, para melhorar a vida das pessoas, para que a gente possa viver mais decentemente, mais dignamente. Eu estou cansado, o pobre sobe um degrau, no ano seguinte cai um degrau, aí sobe outro degrau. Nós precisamos subir a escada inteira, não dá para a gente ficar subindo e descendo.
Gente, eu quero dizer pra vocês, Clécio, nós temos R$ 28 bilhões no parque do estado do Amapá, R$28 bilhões. Eu não tenho conhecimento de todas as obras que vão ser feitas assim. Eu só quero dizer pra vocês que eu estou muito satisfeito, muito orgulhoso, primeiro, de ter o Randolfe e ter o Alcolumbre como senadores da República do Amapá me defendendo lá. Segundo, vocês não imaginam a alegria quando o Alcolumbre, que não é nem do partido do Waldez, indicou o Waldez pra ser o meu ministro de Integração Nacional. Vocês não têm noção. Então, o Amapá nunca esteve tão bem representado como está agora. Eu só tenho que ter cuidado, porque o Alcolumbre e o nosso companheiro Randolfe são muito espertos. Pensem em dois cabras espertos, pensem. Então, eu tenho que estar sempre com cuidado com eles, porque quando eu estou indo, eles já estão voltando.
E quero dizer para vocês um testemunho de um pernambucano. Há muitos anos, o Brasil não tem um ministro com a competência do Waldez. Em todas as crises que aconteceram nesse país, em todas as crises. Da enchente no Rio Grande do Sul, da enchente em Santa Catarina, da seca no Amazonas, das chuvas lá em São Paulo e em São Sebastião, a primeira pessoa a chegar quando eu pegava o telefone para ligar e dizer: “Waldez, você tem que ir porque está morrendo gente”, ele já estava lá junto com a Defesa Civil.
Portanto, também a minha vinda aqui é de agradecimento, agradecimento ao povo do Amapá, agradecimento ao governador do estado, agradecimento aos Senadores do Amapá, agradecimento ao Waldez. E dizer para vocês, eu encontrei com o prefeito no aeroporto e eu pensei que ele vinha para cá. Se ele viesse para cá, ele seria tratado com respeito. Ele seria tratado com respeito porque eu iria tratá-lo como prefeito. Eu não ia perguntar se ele gosta de mim, não ia perguntar se ele já me xingou, não ia perguntar de que partido ele é. Jamais eu perguntaria. Eu iria tratá-lo como prefeito eleito da cidade. E eu espero que, da outra vez que eu vier aqui, humildemente, sem nenhuma preocupação, ele possa participar. Porque essa aqui não é uma festa do Lula, não é uma festa do Clécio, não é uma festa do Alcolumbre, não é festa do Waldez, não é festa do companheiro Randolfe. Essa festa aqui é do povo do estado do Amapá e da cidade de Macapá.
E nós somos civilizados, nós somos civilizados. A gente não prega o ódio, a gente prega a harmonia. A gente não prega o ódio, a gente prega o amor. Nós somos civilizados, a gente não prega a mentira, a gente prega a verdade. Por isso, queridas companheiras e queridos companheiros, eu que tenho que pegar um avião e andar duas horas e meia até Brasília.
Um beijo no coração de cada um de vocês, e beijo no coração de cada homem e de cada mulher. Até a próxima visita ao Amapá, se Deus quiser.
Parabéns, Clécio!