Pronunciamento do presidente Lula durante a celebração dos 20 anos de criação do Programa Bolsa Família
Bem, queridos companheiros e queridas companheiras. Meu querido companheiro, irmão, ministro Wellington Dias [Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome]. Eu queria, Wellington, nesse momento em que a gente está completando vinte anos do Bolsa Família, eu acho que nós temos que lembrar de algumas pessoas que nos ajudaram a criar esse debate sobre segurança alimentar. E eu lembro de um deles, que foi um grande amigo meu, pai do Graziano [José Graziano, ex-ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome], que foi o companheiro José Gomes da Silva, que, quando nós lançamos o programa de segurança alimentar, nós fomos na Câmara Municipal de São Paulo assistir um filme chamado “Ilha das Flores”, um filme muito, muito interessante. Eu devo muito a ele toda a discussão de segurança alimentar. Também a gente não pode esquecer o nosso querido Dom Mauro Morelli, que, no governo Itamar Franco, assumiu um trabalho muito sério na coordenação do programa, junto com a presidência do companheiro Betinho, que teve um papel fundamental para chamar a atenção da sociedade sobre a fome existente no Brasil. Porque, muitas vezes, a fome, ela fica escondida porque as pessoas não falam que estão com fome e, muitas vezes, a fome não dói e a gente não vê a dor nos outros, a gente vê o silêncio das pessoas que estão com fome. Durante muito tempo, achei que as pessoas que estavam com fome fariam uma revolução. E as pessoas que estão com fome, muitas vezes, elas são obrigadas a ficar submissas, porque não têm força para reagir às injustiças de que são vítimas e que ficam, ou seja, desesperadas.
Também não poderia deixar de lembrar que, hoje, a nossa companheira Ana Fonseca, também já falecida, companheira que teve um papel extremamente importante na criação do Bolsa Família. O nosso querido e saudoso companheiro Graziano, ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, foi o primeiro ministro, foi o companheiro que coordenou o programa Fome Zero, ainda antes do governo, e foi o companheiro que trabalhou comigo de 1982 até os dias de hoje. Companheiro Graziano foi o diretor-geral da FAO, prestou um trabalho extraordinário. Também quero cumprimentar e lembrar da nossa companheira Benedita da Silva [deputada federal], que foi a primeira ministra de Assistência e Promoção Social. Quero também, eu não vi ele aí, o companheiro Patrus Ananias [ex-ministro do Desenvolvimento Agrário], que foi um extraordinário ministro. Quero cumprimentar a companheira Márcia Lopes, que não está aí, a Tereza Campello [ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome], que também foram ministras e tiveram um papel importante nessa luta de combate à fome. E cumprimentar os demais companheiros e companheiras do SUAS, os companheiros que estão trabalhando, diretamente, junto com você, companheiro Wellington. Eu vi que o Paulo Teixeira [ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar] chegou, sempre um pouquinho atrasado, ele pensa que eu não vi, mas eu vi. Eu quero cumprimentar a companheira Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], eu quero cumprimentar o companheiro Eduardo Suplicy [deputado estadual - SP], cumprimentando ele eu quero que todos os deputados estaduais e federais se sintam cumprimentados, porque o companheiro Eduardo Suplicy é um companheiro, sabe, que tem dedicado grande parte da sua vida à luta do combate à fome, com a questão da renda básica. Parabéns, Suplicy, pela sua presença.
E, companheiros e companheiras, e companheiro Wellington, eu estava ouvindo as pessoas falarem e eu quero, em nome, cumprimentando a companheira Raquel, cumprimentar todas as pessoas que já participaram e participam do Bolsa Família e que também participam de outros programas de inclusão social do nosso governo.
Wellington, nós temos que adotar um lema. Um lema que eu penso que é a fotografia, a cara, o conceito mais importante do que significa um programa como o Bolsa Família. Eu tenho tentado repetir, várias vezes, a frase de que muito dinheiro, na mão de poucos, significa concentração de riqueza. Significa empobrecimento, significa desnutrição, significa mortalidade infantil, significa fome. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos, como o Bolsa Família, significa o contrário. Significa a possibilidade da pessoa comer três vezes por dia, significa a possibilidade das pessoas tomarem suas vacinas, significa a possibilidade das pessoas continuarem na escola e não permitir a evasão escolar. Significa as pessoas viverem até o máximo, sabe, que Deus permita que a gente viva, que é o dom mais importante que é a nossa vida. Que as pessoas vivam 80, 90 anos e não morram aos dois meses, a um mês, a um ano, de desnutrição. É por isso que a gente tem que adotar o lema: pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda, significa ter possibilidade de levar um povo a ter uma profissão, a ter um emprego, a ganhar um salário decente e a viver dignamente, porque não tem nada mais importante na nossa passagem pelo planeta Terra do que homem e mulher, no final do mês, levar para a casa, sabe, o dinheiro do sustento da sua família às custas do seu suor e do seu sangue, às custas da sua educação.
É muito importante que a sociedade brasileira tenha consciência do que já foi feito nesse país em apenas nove meses. Nós já recuperamos mais de quarenta e duas políticas de inclusão social. Nós já conseguimos incluir quase todas as políticas que foram desmontadas pelo governo anterior porque, normalmente, se os governos que não têm coração, que não tem sentimento, que não tem solidariedade, que não tem fraternidade, que não pensa no ser humano, que não pensa no pobre, essa gente não pensa com o coração. Essa gente, muitas vezes, pensa com o ódio da irracionalidade, sabe, que bate dentro das suas células. E cada célula de um ser humano raivoso, de um ser humano bravo, de um ser humano sem sentimento. O Brasil não é isso. E eu queria aproveitar esse momento, em nome das crianças vivas do nosso país, graças aos programas de inclusão social, eu queria prestar solidariedade às crianças que já morreram na guerra da Rússia e da Ucrânia e que estão morrendo agora nessa luta insana entre o Hamas e o estado de Israel. Não é possível tanta irracionalidade, não é possível tanta insanidade, que as pessoas façam uma guerra tendo em conta, sabe, de que as pessoas que estão morrendo são mulheres, são pessoas idosas, são crianças, que não estão tendo, sequer, o direito de viver.
Então, eu acho que nós precisamos, sabe, propor em alto e bom som, em nome da vida das nossas crianças, a gente propor, sabe, a gente propor, sabe, paz. A gente propor a racionalidade de que o amor possa vencer o ódio. De que a gente não resolve o problema com bala. A gente não resolve um problema com foguete. A gente resolve o problema com carinho, é com afeto, é com dedicação, é com solidariedade. E, hoje, quando o programa Bolsa Família completa vinte anos, eu fico lembrando que 1.500 crianças já morreram na Faixa de Gaza. Mil e quinhentas crianças que não pediram pro Hamas fazer o ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel. Mas, também, não pediram para que Israel reagisse de forma, sabe, insana e matasse eles. Exatamente aqueles que não têm nada a ver com a guerra. Aqueles que só querem viver, aqueles que querem brincar. Aqueles que não tiveram o direito de ser crianças.
Então, eu penso que o dia de hoje é o dia da gente poder olhar a fundo, Wellington, na cara dos nossos filhos, na cara de cada criança nesse país e dizer: até dia 31 de dezembro de 2026, nós vamos acabar com a fome nesse país. Nós vamos fazer as pessoas comer três vezes ao dia e, e se quiser comer quatro, que coma. Mas comer de forma racional, sem guloseima, porque a gente não quer que as pessoas tenham peso excessivo, a gente quer as pessoas comendo comida saudável. Por isso, junto com o PAA, a gente tem que ajudar, através do Pronaf, os pequenos produtores a produzirem comida de qualidade. É preciso combater o uso de pesticida, porque os que plantam com veneno não comem aquilo que eles plantaram e tentam fazer com que aquela comida chegue na sociedade, e sobretudo nas pessoas mais pobres.
Quando a gente vê um programa desse completar vinte anos de idade, e ter um ministro, Wellington, da tua qualidade dirigindo isso, com uma equipe extraordinária que você montou, eu tenho certeza que muito mais rápido do que na primeira vez, a ONU vai, outra vez, anunciar ao mundo que o Brasil, outra vez, acabou com a fome. E é importante que a sociedade brasileira saiba que isso não é um favor de governo, isso é obrigação. A coisa mais barata que tem no Orçamento da União é cuidar do povo pobre, é cuidar das nossas crianças, é melhorar o ensino fundamental. Quando a gente vê o montante de dinheiro, a gente precisa calibrar com quantas pessoas a gente está lidando. A gente não tem que falar em gasto quando se trata de combater a fome, quando se trata de melhorar a educação, quando se trata de melhorar a saúde, quando se trata de investir no trabalho daqueles que cuidam desse país, que cuidam do nosso povo e que cuidam das nossas crianças.
Eu quero, companheiro Wellington, nesse dia que o Bolsa Família completa vinte anos de vida, além de agradecer a todos que contribuíram para esse programa nascer, agradecer a todos aqueles que resistiram, sobretudo os nosso companheiros do CONSEA, os nossos companheiros do CONSEA, porque o CONSEA foi uma proposta que eu fiz ao governo Itamar Franco [ex-presidente da República] em 1992, logo que o Collor [Fernando Collor, ex-presidente da República] foi cassado. E o CONSEA foi um foco de resistência para discutir a questão da fome nesse país. Ô, Wellington, não é possível, esse país ficou seis anos sem dar aumento na alimentação escolar. Não é possível você imaginar que alguém que governa um país do tamanho do Brasil não tenha o sentimento de ver a qualidade da comida que as crianças têm que comer na escola. Portanto, Wellington, meus parabéns.
Eu quero terminar minha fala dizendo que, graças a Deus, o Brasil tem um programa como o Bolsa Família que não foi criado por mim, foi criado por nós. Que não é um programa do governo, é um programa das pessoas que pensam com o coração, das pessoas que pensam em amor, das pessoas que pensam em fraternidade, das pessoas que pensam em solidariedade, das pessoas que não se transformaram em algoritmos, mas continuam sendo pessoas humanas, com sentimento para cuidar daqueles mais pobres, daqueles que têm mais dificuldade de sobrevivência. E, graças a Deus, a gente tem um ministro da tua qualidade, que tem a família que você tem, que tem a história que você tem. Portanto, parabéns, companheiros e companheiras do SUAS. Parabéns, companheiros e companheiras que trabalham no Bolsa Família. Parabéns, companheiros que já trabalharam e contribuíram muito. E parabéns, companheiro Wellington Dias, parabéns Paulo Teixeira, parabéns Marina Silva, parabéns companheira Rita [Serrano, presidenta da CAIXA], porque todos vocês dão uma contribuição extraordinária para a gente dizer que o Brasil quer ser um exemplo a ser seguido pelo mundo. Nós não queremos ser melhor do que ninguém, queremos, apenas, ser igual. E fazer aquilo que o povo precisa que seja feito: cuidar dele, com carinho e com muito amor.
Que Deus abençoe todos vocês e viva o Bolsa Família.
Para você perceber que a semana que vem, eu já vou voltar ao Palácio do Planalto. Eu já tô levantando sozinho, tô ficando em pé. O Mano Menezes já me chamou para voltar a jogar no Corinthians, o Diniz está pensando em me chamar para a seleção. Eu estou pronto para o combate outra vez, queridos. Na semana que vem, Wellington, nos encontraremos no Palácio do Planalto. Um abraço e que Deus abençoe todos vocês.