Pronunciamento do presidente Lula durante a 1ª Reunião Plenária do Conselho da Federação
Primeiro, eu quero cumprimentar o companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República. Quero cumprimentar o companheiro Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, o companheiro Fernando Haddad, ministro da Fazenda. E aproveitar o público, Haddad, e dizer para você que eu vou cumprir uma promessa que eu fiz. O Desenrola continua tendo o sucesso que tem, eu acho que alguém que distribuiu o Prêmio Nobel de Economia vai dar o Prêmio Nobel para quem pensou, criou e organizou o Desenrola. Porque eu acho que é o programa mais amortecedor de dívida que já aconteceu nesse país. Você negociar, até 85%, 87%, 83% da dívida, é uma coisa que a gente não estava acostumado. E, vocês que acreditaram nisso, fizeram a proposta e colocaram em prática, certamente colherão o resultado do sucesso desse programa.
Quero cumprimentar a nossa querida companheira Simone Tebet, nosso querido companheiro Padilha. Quero cumprimentar o governador Helder Barbalho, do estado do Pará; Eduardo Leite, do estado do Rio Grande do Sul; Elmano de Freitas, do estado do Ceará; João Azevêdo, do estado da Paraíba; Renato Casagrande, do Espírito Santo; Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte; Wilson Lima, do estado do Amazonas; Ibaneis Rocha, do Distrito Federal; Wanderlei Barbosa, do Tocantins; Clécio Luís, do Amapá; Antonio Denarium, de Roraima; Themístocles Filho, vice-governador do Piauí; senador Beto Faro; querido deputado Zeca Dirceu, líder do governo, de quem eu cumprimento todos os deputados. Quero cumprimentar os representantes das associações municipais, Ary Vanazzi, presidente da Associação Brasileira de Municípios. O Adinan Ortolan, vice-presidente da ABM; Edvaldo Nogueira, presidente da Frente Nacional de Prefeitos; Eduardo Paes, vice-presidente da Federação Nacional de Prefeitos; Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional de Municípios; Ivo Rezende Aragão, presidente da Famem. Quero cumprimentar também os membros titulares e suplentes do Conselho da Federação.
Companheiros e companheiras,
Padilha, eu não vou nem ler o meu discurso porque eu tenho que sair, daqui cinco minutos, porque eu tenho um telefonema com o emir do Catar para tentar ver se encontro alguém capaz de conversar com alguém para ver se a gente consegue liberar, primeiro, os brasileiros que estão retidos na Faixa de Gaza, há poucos quilômetros da fronteira com o Egito, que estão querendo voltar para o Brasil e que até agora não foi permitido a eles o direito de voltar. Segundo, dizer para vocês que é muito grave o que está acontecendo, nesse momento, no Oriente Médio. Ou seja, não se trata de ficar discutindo quem está certo e quem está errado. Quem deu o primeiro tiro e quem deu o segundo. O problema é o seguinte: não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2 mil crianças que não tem nada a ver com essa guerra, que são vítimas dessa guerra e, sinceramente, eu não sei como é que um ser humano é capaz de guerrear sabendo que o resultado dessa guerra é a morte de criança inocente. É um momento difícil, mas, ao mesmo tempo, nós estamos aqui fazendo uma fotografia bonita, que eu queria que vocês entendessem esse ato de hoje.
Esse ato de hoje é uma foto muito relevante, porque é uma foto de consagração do exercício do processo democrático a que todos nós deveríamos estar submetidos e vamos nos submeter. Eu comecei a minha vida política no movimento sindical, em que eu passava o ano inteiro indo na porta da fábrica, tratando meu o patrão como inimigo, que eu xingava de tudo que eu podia xingar. Mas, quando chegava na data-base das negociações coletivas, eu era obrigado a sentar com ele numa mesa de negociação e o meu discurso do "tudo ou nada" era obrigado a desaparecer e eu tinha que fazer o discurso da conquista daquilo que era possível conquistar.
Assim, eu aprendi que fazer política é um processo sistemático da gente fazer concessão, da gente conquistar, da gente conversar. Nós temos um tipo de político no país que ele só sabe fazer política se ele tiver um inimigo. Nós temos um outro tipo de político no país que ele só sabe fazer política dizendo que ele é o melhor e que, além dele, ninguém presta nesse país. E as pessoas vivem à procura do inimigo, à procura de alguém para jogar a responsabilidade sobre alguma coisa que não deu certo. Porque tudo que dá certo é de todos. Tudo que dá certo é um filho que não é rejeitado. O que dá errado é, na verdade, um aborto da natureza política. E porquê que eu estou dizendo isso? Porque nós vivemos um momento em que o problema da seca do Amazonas não é um problema dos estados da Amazônia; do Amazonas, do Pará, do Acre, do Amapá. Não. Não é um problema desses estados, é um problema do Brasil. O problema da violência no Rio de Janeiro, era muito fácil eu ficar vendo aquelas cenas que, ontem, apareciam na televisão, e antes de ontem, que parecia a própria Faixa de Gaza, de tanto fogo e tanta fumaça, e dizer: “É um problema do Rio de Janeiro, é um problema do prefeito Eduardo Paes, é um problema do governador”. Não. É um problema do Brasil, é um problema nosso, que nós temos que tentar encontrar a solução. Da mesma forma que, quando acontece uma coisa em uma cidade, é muito fácil do meu gabinete eu dizer: "Mas é um problema da cidade, é um problema de Manaus, é um problema de Paraopeba, é um problema de Garanhuns, é um problema de Quixeramobim". Não. É um problema nosso, que é um problema do Brasil, cabe ao presidente da República e ao Governo Federal estar inteirado disso e saber o que ele pode fazer para compartilhar uma solução para esse problema. É assim que esse país tem que ser gerido, é assim que esse país tem que ser administrado. Esse país não pode ser administrado por alguém que se nega a conversar com alguém que não pensa como ele. Esse país não pode ser governado por alguém que tem uma preferência religiosa e nega as outras. Que tem uma preferência de um time de futebol e nega os outros. Não é assim que a gente governa um país. Essa fotografia que está acontecendo aqui é uma fotografia de um presidente da República que tem orgulho de dizer, alto e bom som: nunca antes, na história do Brasil, os prefeitos do Brasil foram tratados com a decência que eu tratei os prefeitos do Brasil. Nunca. Nunca perguntei de que partido era o prefeito. Nunca perguntei de que partido era o governador, não me interessa. Não me interessa saber se o governador gosta de mim ou não gosta de mim. O que me interessa saber é se ele foi eleito, democraticamente, para dirigir os interesses do povo de seu estado. Se ele foi eleito, democraticamente, para dirigir os interesses do povo do estado, cabe ao presidente da República, puro e simplesmente, acabar com a divergência pessoal, com a divergência partidária e fazer o que tiver que fazer para o povo do estado. É assim que eu governo esse país, é assim que eu vou governar esse país e é por isso que essa Federação é um modelo de uma coisa nova, meu companheiro Paulo, você sabe disso, porque você sabe que, nesse país, você já vieram fazer marcha aqui e, ao em vez de ser recebido por autoridades, vocês eram recebidos pelo pelotão de choque da Polícia Militar, com cachorro policial latindo para morder vocês. E vocês voltavam para os estados de vocês, para as cidades, sem ser atendidos. Desde que tomei posse, em 2003, nós criamos aqui, na Casa Civil, uma sala do prefeito, em que todos os prefeitos aqui eram recebidos. Criamos na Caixa Econômica e nas superintendências estaduais uma casa dos prefeitos em que todos os prefeitos são recebidos, até hoje, porque essa casa existe. E aqui, também, tem a casa do governador. Nenhum governador precisa pedir intermediação para conversar com o presidente da República, para conversar com o Padilha, para conversar com o Haddad, para conversar com a Simone, com o Alckmin ou com o Rui. Ninguém precisa pedir licença. É vir aqui conversar, porque esse é o papel de um presidente da República. É fazer com que esse país aja da forma mais sensível, mais democrática e mais carinhosa possível com seu povo. Porque não é possível. Eu, em todos os estados da Federação que eu fui, em todos, em todos, eu tive com o governador. Em todos. Mesmo quando o governador tinha sido oposição. E, muitas vezes, eu juntava o governador e o seu opositor, juntos, no palanque. E, muitas vezes, falavam os dois. Se a gente não fizer esse exercício, a gente não constrói a democracia. Se vocês, governadores, quiserem governar apenas para um lado, não vai dar certo. Não vai dar certo. Então, isso aqui é um exemplo. E não um exemplo criado por mim, porque nós já fizemos isso em 2007. É um exemplo criado por vocês que estão participando disso. É a gente que tem que provar. É a gente que tem que garantir que esse país nunca mais voltará a ser governado por alguém que não gosta de ter relações com governadores. De alguém que não gosta de ter relações com prefeitos. De alguém que não gosta de ter relações com os movimentos sociais. De alguém que não gosta de ter conversação com os povos indígenas, de alguém que não gosta de negros, de alguém que não gosta de adversários, de alguém que não gosta de partido contrário. Não é assim. E vocês tem prática nos estados de vocês de que, para o exercício da boa governança, vocês têm que conversar com todo mundo.
Eu canso de repetir, Helder, não é a Câmara dos Deputados que precisa do Poder Executivo. É o Poder Executivo que precisa da Câmara dos Deputados. Não é o Senado que precisa do Poder Executivo, é o Executivo que precisa do Senado. Se isso é verdade, então vamos marchar, ‘desempinar’ o nosso nariz e vamos olhar as pessoas com humildade e conversar a troco daquilo que a gente precisa para esse país. Esse país precisa de paz, esse país precisa de harmonia, esse país precisa de estabilidade econômica, esse país precisa de estabilidade social, esse país precisa de previsibilidade e esse país precisa de gente. Que, com muita humildade, cumpra com as suas funções e deixe de falar mal dos outros.
Parabéns a vocês. Um abraço e boa sorte para a nossa querida Federação.