Pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião de instalação da Comissão Nacional do G20
Bem, primeiro, eu queria agradecer a presença de todos os ministros. E parece que falta um companheiro que não pôde vir por problemas outros, importantes. Companheiro Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados), a presença do presidente da Suprema Corte, o nosso Ministro Barroso, e a novidade, para quem achava que o Banco Central não participava de reunião, o Roberto Campos é do Banco Central, que está cumprindo aqui uma tarefa tão importante quanto a nossa de participar dos compromissos do G20. Essa reunião aqui é uma reunião de instalação da Comissão Nacional para coordenação da presidência do G20.
Eu queria lembrar os companheiros que possivelmente seja o mais importante evento internacional que o Brasil vai assumir a responsabilidade de coordenar. São as 20 maiores economias do mundo, junto com os convidados, que sempre vem mais um grupo de países. A gente vai ter aqui no Brasil uma reunião histórica para o nosso país e uma reunião que eu espero que ela possa tratar dos assuntos que são os assuntos que nós precisamos parar de fugir e tentar resolver os problemas. Um deles é a questão da desigualdade, a questão da fome e a questão da pobreza.
Não é mais humanamente explicável o mundo tão rico, com tanto dinheiro atravessando o Atlântico, e a gente ter tanta gente ainda passando fome. Um outro assunto que a gente vai discutir com muita força é a questão climática, a questão da transição energética.
Essa transição energética se apresenta para o Brasil como a oportunidade que nós não tivemos no século XX de termos no século XXI a possibilidade de mostrarmos ao mundo que quem quiser utilizar energia verde para produzir aquilo que é necessário à humanidade, o Brasil é o porto seguro para que as pessoas possam vir aqui fazer os seus investimentos e fazer com que esse país se transforme num país definitivamente desenvolvido.
Um terceiro tema que nós vamos discutir é a questão da governança mundial. Quer dizer, não é possível que as instituições de Bretton Woods, do Banco Mundial, FMI e tantas outras instituições financeiras continuem funcionando como se nada estivesse acontecendo no mundo, como se estivesse tudo resolvido. Muitas vezes instituições que emprestam dinheiro não com o objetivo de salvar o país que está tomando dinheiro emprestado, mas para pagar dívida, sabe, e não para produzir um ativo produtivo, numa demonstração de que não há contribuição para salvar a vida dos países.
Nós estamos indo, nós estamos vendo o que aconteceu na Argentina, nós estamos vendo o continente africano com US$ 800 bilhões de dívida e que se não houver uma rediscussão de como fazer financiamento para os países pobres, a gente não vai ter solução. Os ricos vão continuar ricos, os pobres vão continuar pobres e quem está com fome, vai continuar com fome.
Então, nós queremos aproveitar o Brasil e fazer essa grande discussão, além do que nós vamos ter uma novidade que depois o Márcio (Macêdo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República) vai explicar, é que nós vamos fazer aqui um grande evento de participação popular. Nós vamos tentar envolver a sociedade brasileira sem nenhum veto a qualquer segmento da sociedade para participar e construir propostas, para que a gente possa terminar o G20 e ter algo concreto para que a gente possa dizer ao povo brasileiro e ao mundo que a gente vai começar a mudar.
O Lira estava me dizendo uma coisa aqui que ele pretende fazer, que é tentar fazer um encontro de mulheres, que as mulheres vão ser muito empoderadas nesse G20. É importante as companheiras mulheres que estão aqui, sabe, ter em conta. Ele está pretendendo fazer o encontro de mulheres parlamentares, o que eu acho uma coisa, porque vai ter também encontro de parlamentares. Nós não vamos deixar nenhum segmento da sociedade fora do debate do G20. E a gente vai criar aqui uma coisa importante, e hoje é importante anunciar para vocês que a gente vai, que nós estamos criando duas forças-tarefas. Uma contra a fome e a desigualdade e outra contra a mudança do clima. E também vamos lançar uma iniciativa para a bioeconomia. Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda), se prepare com a sua turma para fazer, apresentar um bom projeto. E ainda vamos instalar um grupo de trabalho sobre empoderamento das mulheres, implementando as decisões adotadas por todos nós na Cúpula de Líderes de Nova Delhi, tá?
Eu queria, ao passar a palavra para o Mauro Vieira (ministro das Relações Exteriores), dizer para vocês o seguinte: é o evento mais importante que nós estamos sediando. Eu acho que é mais importante, do ponto de vista político, do que uma Copa do Mundo. E acho que os ministros têm que ter consciência do seguinte: todo mundo vai ter muita tarefa, mas é importante vocês não esquecerem que vocês foram eleitos, indicados ministros para governar o Brasil, que, portanto, a prioridade é a função para a qual vocês foram escolhidos para ser ministros. Significa que vocês vão ter que trabalhar mais do que já estão trabalhando. Significa que vocês vão ter que se virar em dois ou em duas para que a gente possa atender às necessidades da organização do G20 e para que a gente não possa deixar a peteca cair porque, se esse primeiro ano foi o primeiro ano de reconstrução das coisas que nós tivemos que recolocar nesse Brasil, Haddad, o ano que vem é o ano de a gente colocar o pé na estrada, visitar esse país, conversar com prefeitos, conversar com governadores, conversar com deputados, conversar com senadores e, sobretudo, conversar com o povo, que tem expectativa que a gente atenda os interesses que eles estabeleceram durante o processo eleitoral.
Então, estejam atentos. É uma tarefa árdua, é a primeira vez. Nós não temos experiência, nós vamos adquirir experiência com quem já fez o G20, por isso a coordenação vai ficar muito sobre o Itamaraty e sobre a Fazenda e vai ter grupos de trabalhos específicos. E eu espero que vocês deem de vocês, como diz uma jogadora de futebol feminino ou um jogador, que vocês deem o seu melhor para que a gente possa colher o “mais melhor”. Tá? É isso.
Eu agora passo a palavra ao companheiro Mauro, nosso ministro das Relações Exteriores, para explicar um pouco o que vai acontecer. Depois vai falar o companheiro Haddad, depois vai falar o companheiro Márcio para mostrar a participação popular e depois, então, está encerrado esse evento e vamos continuar o nosso dia a dia. Mauro, com a palavra.