Pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração da Infovia 01 do programa Norte Conectado
Transmissão da inauguração da Infovia 01 - Programa Norte Conectado, em Santarém (PA)
Eu vou, eu vou economizar... eu vou... eu vou economizar um pouco o meu tempo, pedindo desculpas aos companheiros aqui que eu não vou ler a nominata, não vou repetir o nome de tanta gente que já teve o nome repetido aqui. Eu queria, em breves palavras, dizer pra vocês que é a primeira visita que eu faço a Santarém como presidente da República. Eu não esqueço nunca que, quando eu fui candidato à presidência em 1989, alguns companheiros que me apoiavam aqui em Santarém queriam que eu fosse no marco zero da cidade anunciar a construção da famosa rodovia Cuiabá-Santarém. E, na época, o meu adversário tinha vindo aqui e tinha prometido e eu disse aos companheiros que eu não ia prometer.
Eu não ia prometer porque eu não sabia se tinha projeto, eu não tinha estudo de quanto custava. Portanto, eu não ia – numa campanha política, primeira que eu estava disputando – fazer o que fazem os políticos tradicionais: prometerem aquilo que não vai cumprir. E hoje, eu estou aqui pra dizer para vocês: foi no meu governo que a gente começou a BR-163, e será agora, na minha volta, que a gente vai concluir a 163. Porque muitas vezes você tem que tomar cuidado com as palavras. Porque se você promete e não cumpre, não é correto um presidente da República, um governador, um prefeito, passar com a fama de mentiroso, que prometeu e não cumpriu.
O que eu quero dizer pra vocês é que nós voltamos ao governo e encontramos o país numa situação de abandono. Ou seja, não é só o abandono, porque se não tivessem feito nada e não tivessem destruído o que já existia, estava muito bom. Mas todos vocês sabem que todas as políticas de inclusão social que foram colocadas em prática nesse país, nos governos nosso, meu e da Dilma [Rousseff, ex-presidenta do Brasil], que toda política de educação feita no nosso governo, que toda política de ciência e tecnologia feita no nosso governo, inclusive, o desmatamento, que nós chegamos a diminuir 80% no nosso governo; tudo isso foi desmontado e eles passaram a destruir as políticas de inclusão social para deixar o povo cada vez mais pobre, cada vez mais pedinte, cada vez mais necessitado.
Eu tenho muito orgulho de dizer pra vocês: "nós voltamos para reconstruir esse país". O companheiro Camilo [Camilo Santana, ministro da Educação] quando falou, ele disse que tava reconstruindo dezenas e centenas de obras na educação. Só pra vocês terem ideia: nós encontramos o Brasil com 14 mil obras paralisadas. Não é uma não. Quatorze mil obras! Dentre as 14, quatro mil na área da educação. Dentro da educação, quase três mil creches. Quase três mil creches. Nós encontramos 280, 186 mil casas abandonadas, do Minha Casa, Minha Vida. Eles inventaram de fazer uma tal de Casa Verde e Amarela, que até hoje eu não vi essa casa. E eles não sabem que o povo não gosta só de verde e amarelo. O povo gosta de centenas de cores e que, portanto, não tem sentido você querer transformar uma casa popular com a cor da bandeira nacional. O povo gosta de branco, gosta de amarelo, gosta de vermelho, gosta de preto, gosta de cinza.
Nós viemos, então, para consertar. Vocês sabem que, quando nós chegamos, na volta, nós descobrimos que a merenda escolar, que hoje chama-se alimentação escolar, estava atrasada, há seis anos que não tinha aumento. Há seis anos. As bolsas de mestrado, as bolsas de doutorado estavam também há seis anos parada nesse país. Nós voltamos pra colocar as coisas no lugar. Já recuperamos tudo, já demos aumento pras bolsas, já demos aumento pra, pra a comida.
Agora a gente vai fazer esse país. Dia 11 nós vamos no Rio de Janeiro lançar o novo programa de ação do crescimento. Nós vamos lançar as obras de infraestrutura que esse país precisa, para que esse país se transforme cada vez mais numa nação próspera, grande, produtora de riqueza para o seu povo. Mas, antes de fazer, nós, em janeiro, reunimos os 27 governadores desse país, e perguntamos para cada governador: qual é a obra mais importante que você tem no seu estado? Eu pedi pra colocar três. Mas teve governador, como o Helder [Helder Barbalho, governador do Pará], que colocou umas 10.
Ou seja, as pessoas colocaram, dentro do possível a gente vai atender tudo e esse estado aqui tem um agravante, porque nós conquistamos o direito de fazer o encontro do clima, em Belém, em 2025. Aqui estará o mundo. O mundo inteiro vai vir pra cá. Eu não sei dizer quantas pessoas. Mas serão muitas pessoas e muito chefe de Estado. E quando eu convidava eles, eu dizia: "é preciso a gente fazer na Amazônia pra vocês perceberem que a Amazônia não é só a copa das árvores, não é só os rios. Vocês sabem que lá moram milhões de amazônidas que querem viver bem, que querem trabalhar, que querem comer, que querem ter aquilo que ele produz; além de querer preservar a Amazônia. Não como um santuário, mas preservar como fonte de aprendizado da ciência do mundo inteiro, para que a gente possa encontrar um jeito de preservar ganhando dinheiro para que o povo que aqui mora e que mora na Amazônia, também, nos outros países possam viver dignamente".
É uma tarefa gigantesca. É uma tarefa gigantesca. A ONU banca uma parte do encontro, mas o governo federal tem e assumiu a responsabilidade de ajudar o nosso governador Helder, o nosso prefeito Edmilson, a criar as condições para que Belém possa receber um evento tão extraordinário como esse da COP. Pois bem, companheiros. Nós estamos aqui... Nós estamos aqui… Minha água. Olha, nós, nós estamos aqui pra. Eu vim visitar esse navio hospital. Vocês sabem como é que o povo ribeirinho, como é que os indígenas, como é que as pessoas que moram nas comunidades à beira dos rios, passam quando estão doentes. É um trabalho muito grande. Às vezes, a gente só tem perto da gente um benzedor. E a gente vai benzer. Você é muito novo, Helder. Você nunca teve dor de dente e foi num benzedor pra ele benzer o teu dente. Sua mãe nunca colocou um dente de alho com cachaça num buraco do dente pra passar a dor do dente. O povo pobre desse país ainda faz isso.
É por isso que eu criei o Brasil Sorridente. E eu criei o Brasil Sorridente, não para ter um consultório no centro da cidade pra vocês irem lá. É o dentista que tem que ir procurar aonde é que estão as pessoas. Voltar, Camilo, a ter dentista nas escolas. Em 1958 tinha dentista nas escolas desse país. Se tiver um dentista na escola desse país, vendo uma criança duas vezes por ano, a gente não vai ter criança com dente cariado, nem vai ter que arrancar dente de pessoas.
O que me levou a criar o Brasil Sorridente é que, quando eu viajava esse país, eu via pessoas de 18 anos, de 20 anos, sem um dente na boca já. Porque a água era de má qualidade, não era preparada, e essa pessoa não tinha nenhuma orientação. Então, agora, Nísia, querida Nísia [Nísia Trindade, ministra da Saúde], nós vamos ter que fazer disso uma obrigação. A gente não tem que exigir que uma pessoa pobre pegue uma canoa e reme 24 horas pra chegar num dentista, é o dentista que tem que ir até lá e cuidar dessas pessoas. E nós temos que criar condições para que esse dentista possa cumprir com a sua função.
Que os nossos agentes de saúde tenham condições de viajar e que os nossos médicos tenham condições de viajar, sabe, num barco como esse, tratando as pessoas. Essa é uma coisa extraordinária. Eu não sei quantos países do mundo tem isso, mas a nossa ideia é que todas as pessoas que moram em lugares distantes, que moram na beira de rio, essas pessoas possam ter um barco hospital, para que as pessoas possam ser atendidas perto da sua casa, e as pessoas possam até ter pequenas cirurgias dentro desse barco. Não é só pra consultar e perguntar, também pra fazer pequenas cirurgias.
Tudo isso vem com a Infovia que nós vamos lançar agora. O companheiro Juscelino [Juscelino Filho, ministro das Comunicações] não falou, mas eu vi no celular da nossa Nísia o seguinte: essa Infovia, ela vai economizar 58 milhões de árvores que não precisam ser cortadas por causa dessa Infovia. Cinquenta e oito milhões. Se a gente fosse fazer torre, teria que cortar. Pois agora não vai precisar cortar. Peixe não gosta de cabo. Gosta de cabo de fibra óptica? Não gosta. Então, pirarucu, os tucunarés, os pintados, surubim, não vão comer esse fio. Eles vão ficar aí pra permitir que o filho do pobre, através da internet, possa ter a mesma qualidade de aula que tem o filho do rico, em qualquer lugar desse país.
É o Estado se aproximando das pessoas. E não as pessoas tendo que ir atrás do Estado. É o Estado que tem que levar o desenvolvimento aonde tá as pessoas. E é por isso que eu voltei. E voltei pra provar mais uma coisa: eu voltei pra provar que outra vez, outra vez, o povo pobre vai ser a salvação desse país, porque na hora que a gente faz chegar dinheiro na mão do pobre, ele não vai nem comprar dólar, nem vai comprar ações, ele vai comprar comida, ele vai comprar roupa, ele vai comprar alguma coisa pro seu filho, pra sua filha. E a economia começa a funcionar e a gente vai perceber. Uma frase que vocês têm que aprender, não esqueçam nunca: muito dinheiro na mão de poucos, é concentração de riqueza; pouco dinheiro na mão de muitos, é distribuição de riqueza. E o que nós queremos é que esse dinheiro circule na mão do povo. Porque quando ele circula na mão do povo, ele vai fazer o pequeno comércio crescer, a pequena loja vai crescer, a bodeguinha vai crescer, o bar vai crescer. E aí todo mundo começa a ter direito de possuir as coisas que nós mesmos publicamos. Então, companheiros, essa é a primeira.
Daqui nós vamos para Belém. Em Belém, amanhã, nós temos o encontro com oito governadores que têm florestas. O único que não tem fronteira com o Brasil é o Equador. Oito presidentes. Vai vir mais os dois presidentes dos dois Congos, que são países que têm grandes reservas de florestas em pé e que tem um rio extraordinário. Você sabe que o rio Congo daria pra fazer três hidrelétricas igual Itaipu. E eles não têm nenhuma. E mais ainda. Nós temos uma coisa mais importante, é que vai vir um ministro da Indonésia, que é outro país que tem muita floresta em pé, para que a gente prepare uma proposta. O que que a gente quer e como é que a gente quer que o mundo olhe a Amazônia. A gente quer dizer pra eles que a gente quer cuidar da nossa fauna, a gente quer cuidar das nossas florestas, mas a gente quer cuidar da nossa água. Mas, sobretudo, a gente tem que cuidar de uma coisa que eles acham insignificante, chamada povo. Chamada seres humanos, chamada homens e mulheres que moram embaixo da copa dessas árvores, que moram na beira desses rios e que, muitas vezes, não são olhados. Pois nós vamos olhar.
Eles prometeram distribuir US$ 100 bilhões, em 2009. Foi a grande promessa dos países ricos. "Nós vamos financiar com US$ 100 bilhões". Até hoje nós estamos aguardando esse dinheiro. Veio um pouquinho do Fundo Amazônia, dado pela Noruega e pela Alemanha, mas tá longe. Porque a gente quer desenvolver, a gente quer criar condições de vocês terem trabalho digno, decente. É por isso que a Infovia é importante e é por isso que fazer a faculdade de medicina aqui também é importante. Como é importante fazer outras coisas. A gente não pode só ficar falando, só ficar falando em avanços, avanços, avanços da tecnologia, sem falar nos avanços do povo.
O que eu quero é cada mulher, cada criança, cada homem. Primeiro o homem e a mulher que quiser trabalhar, trabalhar e ter um emprego digno e salário digno. As crianças ter uma escola de qualidade digna. É por isso que nós estamos fomentando a criação de escola em tempo integral. Mas, sobretudo, a gente quer que vocês, todo dia, levantem, tenham um bom café pra tomar, tenha um bom almoço, tenha uma boa janta. E eu digo em todos os comícios: "e quem é que não quer no sábado juntar a família e fazer um churrasquinho e tomar uma cervejinha gelada?". Quem é que não quer? Quem é que não gosta de cerveja aqui nessa região, vai tomar um suco de cupuaçu, vai tomar um suco de graviola. Vai tomar um suco de qualquer coisa. Mas quem gosta de uma cervejinha gelada é de bom tamanho.
Gente, eu quero dizer pra vocês que a eleição do Helder pra governador é a primeira oportunidade que eu tenho, nesse estado, de governar o Brasil tendo um governador companheiro. Nas duas vezes que eu governei, o governador era do PSDB. Não era nada parceiro, nem nada companheiro. Agora é a primeira vez. É a primeira vez, e vocês vão ver a mudança que vai haver. Primeiro, e aí vale para os prefeitos também. Porque na minha cabeça política, a gente não pode governar o Brasil sem levar em conta a existência das prefeituras, porque é na cidade que tá o problema da saúde, é na cidade que tá o problema da educação, é na cidade que tá o problema do transporte, é na cidade que o povo mora, é na cidade que o povo vive. Então, a gente também tem que trabalhar junto com os prefeitos. E pode ficar certo, prefeito, que eu não quero saber a que partido você pertence, eu só quero saber que você foi eleito prefeito dessa cidade e, por isso, vai ter o meu respeito.
E a Maria do Carmo como democrata que é, a Maria do Carmo como democrata que é – ela já foi prefeita aqui, ela já governou esse município –, ela sabe que ela tem que torcer para o município dar certo e não para o município dar errado. Porque se o município der certo, todo mundo vai viver bem. A gente quer a casa da gente bem cuidada, bem cuidada, a gente quer a rua da gente bem cuidada, a gente quer a vila que a gente mora bem cuidada, a gente quer a cidade bem cuidada. Por isso, gente, nós vamos trabalhar junto com os prefeitos.
E, por último, dizer uma coisa pra vocês. Nós voltamos com o objetivo de recuperar a democracia nesse país. A democracia é uma coisa muito complicada, porque você tem que aprender a conviver com a diversidade. Ninguém é obrigado a gostar do Helder. Ninguém é obrigado a gostar do Lula. Nós não estamos pedindo isso. O que nós estamos pedindo é que a democracia exija que a gente aprenda a respeitar o pensamento do outro. Que a gente aprenda a respeitar aqueles que não pensam igual a gente. Por exemplo, a Janja é flamenguista, eu sou corintiano. Ontem à noite eu tive que ter paciência pra conviver com a Janja depois de três a zero que o Flamengo tomou do Cuiabá. E, quando o Corinthians perde, ela tem paciência pra conviver com o meu humor. O meu mau humor é muito ruim. Quando o Corinthians perde, eu fico mal-humorado. Ele tá perdendo sempre. Então eu tô sempre mal-humorado. Se a gente reconstruir a democracia, se a gente sair na rua, vai num bar, vai beber, vai conversar, vai na igreja, a gente não tem que prestar contas a ninguém, apenas à nossa consciência.
E eu fiquei sabendo, Helder, que aqui nessa cidade tinha um cara que foi preso porque disse que ia me matar. Deixa, deixa eu dizer uma coisa pra vocês: eu, primeiro, sou um homem de muita fé. Eu sou um homem que tenho consciência do papel que eu jogo neste país. Cachorro que late não morde. Então, qualquer cidadão que ficar fazendo bravata na rua. "Eu mato, eu pego, eu bato, eu atiro". Ele vai ser chamado à delegacia pra colocar um depoimento. As pessoas têm o direito de falar a bobagem que quiser, mas não têm o direito de ofender os outros.
Eu não preciso gostar do meu vizinho. Eu tenho apenas que respeitá-lo e exigir dele respeito a mim. Então, é esse Brasil que nós vamos querer criar. Um Brasil feliz, em que a gente viva bem com a nossa família, que a gente viva bem com os nossos vizinhos, que a gente viva bem na rua que a gente mora. Eu fui agora a Parintins. E eu tive com o Garantido e com o Caprichoso. Eu gostaria que a gente tivesse uma sociedade em que fosse igual ao Garantido e o Caprichoso. Porque é impressionante… é impressionante, porque quando o vermelho se manifesta, o azul fica quieto e não fala nada durante duas horas. Depois, quando o azul se manifesta, o vermelho cala a boca e não fala nada. Eu cansei, Helder, eu cansei de ir em campo de futebol com palmeirense, com corintiano, com flamenguista, com vascaíno, nunca teve briga. Hoje, você não pode ter duas torcidas no estádio. O mundo ficou mais raivoso, as pessoas ficaram menos intolerante. Então, eu voltei pra provar: nós vamos ser tolerantes com quem não pensa igual a nós.
Mas, nunca mais repitam a tentativa de golpe que quiseram dar dia 8 de janeiro, porque mais gente será presa, mais gente pagará o preço. O que eu quero no Brasil é gente com a cara de vocês. Aí... É muito mais bonito uma pessoa sorrir do que, do que ficar com raiva. É muito melhor as pessoas estarem sorrindo, estarem alegre, levantar de manhã e dizer: "olha, eu vou vencer". Não tem nada que é impossível, a única coisa impossível é Deus pecar. O resto a gente pode fazer o que a gente quiser. Acreditem! Acreditem, gente. Se eu, um matuto nascido em Garanhuns, que só tem o diploma de torneiro mecânico, cheguei a terceira vez na presidência da República, vocês podem chegar aonde vocês quiserem. É só não desanimar e é só acreditar.
Um grande abraço, um beijo no coração de cada mulher e de cada homem. E até outro dia, se Deus quiser. E parabéns pelo governador que vocês elegeram. Um abraço, gente.