Pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de relançamento do Programa Luz para Todos
Queridos companheiros e companheiras do estado do Amazonas e de Parintins; minha querida companheira Janja; meu caro governador do estado do Amazonas, Wilson Lima e sua senhora Taiana Lima; meu caro companheiro Alexandre Silveira, ministro de Estado de Minas e Energia; meu caro governador do estado de Roraima, Antonio Denarium; senador Eduardo Braga e senador Omar Aziz; deputados federais Adail Filho, Duda Ramos, Fausto Junior, Helena Lima, Gabriel Mota, Saullo Vianna e Sidney Leite. Meu querido companheiro deputado estadual Sinésio Campos, companheiro vice-presidente do Parlamento Amazônico; deputado estadual Francisco Sampaio, presidente da Assembleia Legislativa do estado de Roraima; deputado estadual Thiago Abrahim; deputado estadual Gil Pereira; Bi Garcia, nosso querido prefeito da cidade de Parintins; Arthur Henrique, companheiro prefeito de Boa Vista.
Aqui tem uma relação de prefeito muito grande. Eu não vou ler para ninguém dizer que eu estou apoiando algum já antes de fazer a convenção partidária.
Eu não vou ler meu discurso porque eu queria começar conversando com vocês. Primeiro, um agradecimento. Um agradecimento à cidade de Parintins, que me deu 83% de votos na última eleição. Eu sou agradecido porque eu ainda não era filho de Parintins como eu sou agora. Mas eu já era filho do Amazonas, porque o Sinésio tinha aprovado um título de cidadão amazonense para mim.
Depois de agradecer, eu quero pedir desculpas ao povo de Parintins. Desculpa por uma coisa muito simples: a gente demora muito pra vir numa cidade do interior. A gente demora muito. Havia 20 anos que eu não vinha aqui. Eu desço no aeroporto, me colocam dentro de um carro blindado, vidro fumê. Tinha insulfilm. Eu não consigo ver ninguém e ninguém consegue me ver.
Mulheres, homens e crianças na rua fazendo um sacrifício enorme pra olhar, se conseguia enxergar a gente, e eu dentro de um carro, como se tivesse dentro de um presídio. Eu quero pedir desculpas a vocês, de coração. Isto não se repetirá.
Quando a gente é candidato, normalmente a gente anda de carro aberto, com os dentes arreganhados, abanando a mão pra vocês. Quando a gente ganha, coloca a gente dentro de um carro blindado, insulfilm, nem vocês ver eu e nem eu vejo vocês. Então eu quero pedir desculpas às milhares de pessoas que estavam na rua, do aeroporto até aqui, e que sequer eu pude ver a cara das pessoas e cumprimentá-las.
A terceira coisa que eu queria dizer pra vocês: vocês estão lembrados que quando eu fui presidente a primeira vez, eu fui muito simples no meu pronunciamento dizendo que se ao terminar o meu primeiro mandato, os brasileiros tivessem tomando café, almoçando e jantando todo dia, eu já teria realizado a obra da minha vida. Eu falei isso porque eu conhecia o que era fome. Eu falei isso porque eu fui comer pão, pela primeira vez, com sete anos de idade. Eu falei isso porque durante muitas vezes, muitos sábados, muito domingo, a gente ficava sentado numa mesa ao lado da mãe, sem ter um bocado de feijão e água para colocar no fogo. E, graças a Deus, nós conseguimos acabar com a fome no país.
Lamentavelmente, depois que deram o golpe na presidenta Dilma Rousseff, porque inventaram uma mentira para tirar ela da Presidência da República. Esse país desandou, esse país andou para trás até eleger um genocida, responsável por quase 700 mil mortes nesse país.
E eu voltei. Voltei porque eu tinha consciência que eu poderia derrotá-lo. Voltei porque eu tinha consciência da relação que eu tenho com o povo brasileiro. E voltei outra vez para recuperar a dignidade de homens e mulheres deste país. Para fazer uma luta mundial contra a desigualdade. Não é possível a desigualdade de gênero, a desigualdade racial, a desigualdade de salário, a desigualdade cultural, a desigualdade em tudo nós temos nesse país. E este país é muito grande. E eu não voltei para governar o Brasil. É importante dizer para vocês: eu não voltei para governar, eu voltei para cuidar do povo brasileiro.
Nós, caro governador, prefeitos e deputados, encontramos esse país com 14 mil obras paralisadas. Quatorze mil obras. Muitas ainda do tempo que eu era presidente da República. Quatro mil obras de escolas, dentre elas quase 1.700 creches que estavam paralisadas. Cento e oitenta e seis mil casas que já tinham sido começadas, estavam paralisadas. E nós, então, tivemos um trabalho imenso nesses últimos seis meses para reconstruir tudo que a gente tinha feito e começar a fazer as coisas novas agora. Nós já recuperamos 40 políticas públicas de inclusão. E eu voltei para dizer pra vocês: a gente vai cuidar da Amazônia, mas cuidar da Amazônia, cuidar da Amazônia, não é do jeito que algumas pessoas falam. Cuidar da Amazônia é a gente começar dizendo que a gente não quer transformar a Amazônia em um santuário. A gente quer cuidar de cada Igarapé, a gente quer cuidar de cada animal, a gente quer cuidar de cada passarinho, a gente quer cuidar de cada flor, a gente quer cuidar da nossa água, mas, sobretudo, eu quero cuidar do povo amazônida que mora aqui.
E nós vamos fazer o que precisa ser feito, nós não aceitaremos e não admitiremos garimpo ilegal em terras públicas. Nós não aceitaremos madeireiro ilegal. Ninguém é dono de uma árvore de mogno que tem 300 anos. Esta árvore não pertence a ninguém, ela é um patrimônio da humanidade nos dado por Deus e isto tem que ser preservado. Nós temos quase 40 milhões de hectares de terra degradada. Se alguém quer fazer móveis, recupere essa terra, plante a árvore que quiser e corte do jeito que quiser, mas aquilo que é do povo e é de todos, ninguém pode ficar rico às custas de explorar aquilo que não é dele. Eu dizia na campanha: nós vamos gerar mais empregos, porque o emprego é a coisa que dá dignidade ao homem e a mulher. Não tem nada mais sagrado do que a gente chegar no fim de semana, cuidar da nossa família – e eu prometi: a gente vai voltar a comer uma picanha com uma cervejinha gelada. A gente vai voltar a poder juntar a família pra comer uma costela de tambaqui assada. A gente vai poder comer pescado de forma artesanal, a gente vai poder comer um pedaço de pirarucu, um pedaço de pacu. Um pedaço de um peixe chamado cachara. A gente vai poder tudo.
Eu voltei pra isso. Eu voltei para melhorar a vida. O salário mínimo tem que aumentar todo ano acima da inflação. Os trabalhadores precisam voltar a ganhar mais. Governador, este ano, até agora, 75% de todos os acordos salariais feitos no Brasil já foram acima da inflação. No governo passado, era 83% abaixo da inflação, diminuindo a renda salarial.
Eu voltei para dizer para vocês: nós vamos voltar a fazer dois milhões de casas nesse país, do Minha Casa, Minha Vida. Eu voltei pra dizer que no estado do Amazonas nós vamos fazer energia para 150 mil pessoas que ainda não têm energia. No outro governo, nós fizemos energia para 16 milhões de pessoas. Só é contra o Luz Para Todos quem não sabe o que é trabalhar com candeeiro. Quem não sentiu a fumaça do querosene no nosso nariz. Quem gosta disso pode ser alguém que venda óleo diesel, mas o povo quer luz. E a coisa mais bonita é que, muitas vezes, os turistas vão para Paris para ver a Cidade Luz, como é chamada Paris. A partir de agora, a Cidade Luz chama-se Parintins.
Nós estamos fazendo, senador Omar, senador Eduardo, o primeiro encontro dos países da Amazônia na história desse século. Há 45 anos a gente criou uma Organização do Tratado dos Países Amazônicos. Nunca houve uma reunião de presidente. Nós iremos fazer dia 7, dia 8 e dia 9, em Belém, uma reunião com a Bolívia, com o Equador, com o Peru, com a Venezuela, com a Colômbia, e com os países Suriname e a Guiana. E vamos fazer pra tomar uma decisão. Como é que a gente vai cuidar da Amazônia, como é que a gente vai cuidar da preservação ambiental, como é que a gente vai reduzir a emissão de gás de efeito estufa, mas, sobretudo, como é que a gente vai encher
a barriga das nossas crianças e a barriga do nosso povo.
Por isso, eu quero dizer ao governador, ao prefeito, que eu já estou aceitando o convite de voltar aqui. Voltar aqui dia 24, em 2024, para ver o show. Vocês viram? Eu vim aqui, eu vim com a meia vermelha e uma meia azul, uma do Garantido e uma do Caprichoso. Primeiro porque eu não moro aqui, eu tenho que torcer pros dois.
Segundo: eu acho, senadores e deputados, vocês deveriam trazer a classe política para vir pra cá. Para aprender como é que o povo faz política de forma civilizada. Vocês perceberam que aqui quando o vermelho canta, o azul se cala; quando o azul canta, o vermelho se cala. Lá em Brasília ninguém deixa ninguém falar. É importante que a classe política aprenda a fazer política sem ódio, sem mentira, sem provocação. Fazer política sem ofender o adversário. Fazer política sem xingar o adversário. Fazer política da forma que vocês fazem a festa de vocês. Não importa a cor que vocês torçam, o que importa é que vocês são homens e mulheres civilizados e que respeita a diferença entre as pessoas.
É esse país que vamos construir. É esse país. Eu tenho três anos e meio de mandato. E prometo a vocês: nós vamos, outra vez, acabar com a fome nesse país. Nós vamos, outra vez, melhorar o salário neste país. Nós vamos, outra vez, fazer a agricultura familiar e o pequeno e médio produtor produzirem mais alimento para baratear o custo do alimento. Nós vamos melhorar a qualidade do ensino fundamental com escolas de tempo integral para as nossas crianças. Nós vamos fazer mais universidades.
Nós vamos fazer mais institutos federais, porque não tem um país na história da humanidade que se desenvolveu sem antes investir na educação. Nós, nós tivemos uma tempestade que passou por esse país, que dizia que queria educação familiar dentro de casa. Escola em casa. E nós queremos escola pública de qualidade, da creche à universidade. Nós queremos ser respeitados no mundo. E é por isso que eu quero dizer pra vocês: pode me cobrar, pode me cobrar. Eu ainda vou voltar aqui e já volto na festa do ano que vem.
E as reivindicações que vocês fizeram, nós vamos cuidar. Nós vamos cuidar porque é para isso que eu ganhei as eleições. Eu não ganhei as eleições para atender aos interesses dos banqueiros. Eu não ganhei as eleições para atender aos interesses dos grandes empresários. Eu ganhei as eleições – e eu sei de que lado eu sou – para governar para todos, mas o meu lado é o lado do povo pobre e o do povo trabalhador deste país. Ninguém, ninguém será desrespeitado por mim. Ninguém. Nem o empresário mais rico, nem o dono da maior televisão, mas eles têm que saber todo dia: se eu tiver que escolher gastar um centavo com eles e com o povo, eu gastarei com o povo, porque é o povo que precisa de ajuda nesse país.
Companheiros e companheiros, eu quero agradar o carinho. Só vou terminar dizendo uma coisa pra vocês.
Só vou terminar dizendo uma coisa pra vocês: vocês vão ler a notícia hoje, vocês vão ter notícia de que a Polícia Federal prendeu um cidadão em Santarém, que disse que ia me matar hoje, quando eu chegasse lá. Ele está preso. Há boatos de que, em Belém, também tem um cidadão que disse que ia me matar. Se eu tivesse medo, eu não tinha nascido. Se eu tivesse medo, eu não era presidente da República. Eu aprendi com a minha mãe a não ter medo de cara feia. Cachorro que late, não morde.
E, portanto, eu vou fazer deste país um país civilizado. Um país em que as pessoas levantem de manhã sorrindo. Que possa cumprimentar o vizinho e a vizinha sorrindo. Que possa falar "bom dia". Que possa ter as crianças na mesa com a mesa com pão, manteiga, café, queijo e o mais que as pessoas quiserem. Afinal de contas, nós temos direito. Porque nós trabalhamos, nós produzimos, nós não queremos tirar nada de ninguém. A única coisa que nós queremos é ter o que nós merecemos. E nós merecemos respeito, nós merecemos dignidade, nós merecemos oportunidade.
Por isso, meus queridos companheiros, agora irmãos de Parintins. Eu já era metido, agora que eu virei cidadão de Parintins, ninguém vai aguentar. Eu, quando vier na festa, quando vier na festa que a festa terminar, eu vou decidir pra quem que eu torço. Eu vou decidir. Porque aqui em Parintins a gente não aceita neutralidade. Ou você é azul ou você é vermelho. E eu vou fazer parte de uma cor. Do ponto de vista ideológico e partidário, eu já escolhi o vermelho. Mas do ponto de vista da festa de Parintins, eu não tenho cor. Por isso é que eu tô com duas meias aqui. Uma azul e uma preta. Vou tirar essa meia e vou ficar com uma só depois que eu assistir o festival de 2024.
Um abraço, gente. Um beijo no coração e até a volta, se Deus quiser.
Olhe, deixa eu pedir um favor pra vocês. Eu vou pedir um favor pra vocês. Deixa eu pedir um favor pra vocês. Eu vou descer aí para cumprimentar as pessoas, mas, se tiver muito empurra-empurra, eu sou obrigado a voltar, porque eu não quero que vocês se machuquem. Tem criança aqui na frente, tem pessoa de idade aqui na frente. Vamos com muito respeito.