Pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após encontro com o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves
Primeiro, eu agradeço ao presidente José Maria Neves a oportunidade de termos essa pequena conversa. Isso não é uma visita de chefe de Estado, é uma passagem, porque pretendo regressar aqui como chefe de Estado para fazer uma discussão mais profunda sobre a relação Brasil e Cabo Verde.
A verdade é que o Brasil ficou afastado do mundo durante os últimos seis anos e da África também ficou afastado muito tempo. E eu quero recuperar essa relação com o continente africano, porque nós, brasileiros, fomos formados pelo povo africano. A nossa cultura, a nossa cor, o nosso tamanho é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus. E nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país.
Nós achamos que a forma de pagamento que um país como o Brasil pode fazer [trecho com problemas de transmissão], sabe, em tecnologia, é a possibilidade de formação de gente para que tenha especialização nas várias áreas que o continente africano precisa, é ajudar na possibilidade de industrialização, na possibilidade da agricultura, e nós queremos, com a minha volta à Presidência, recuperar a boa e produtiva relação que o Brasil tinha com o continente africano.
Eu estou aqui assumindo um compromisso de que vou voltar aqui como chefe de Estado e eu fico muito feliz com os estudantes de Cabo Verde que estão estudando no Brasil. Quando nós criamos a universidade afro-brasileira, é com o objetivo de ter muitos estudantes africanos estudando no Brasil, junto com brasileiros. É tentar formar aquilo que é a especialidade que os países da África precisam para desenvolver, sabe, o seu país. E o Brasil é muito grande, o Brasil tem muita possibilidade, o Brasil tem potencial de ajudar o continente africano em muitas atividades.
Se nós não tivéssemos um governo negacionista, o Brasil poderia ter produzido vacina contra Covid, o Brasil poderia ter ajudado o continente africano. Mas, lamentavelmente, nós tivemos um desgoverno que não cumpriu com aquilo que era essencial de cuidar do ser humano.
Eu quero agradecer, presidente, e dizer que eu voltarei aqui, mas espero encontrá-lo em várias outras oportunidades. Quero agradecer a ida do primeiro-ministro [Ulisses Correia e Silva] na minha posse, em janeiro, e dizer que o Brasil voltou à democracia. Os valores da democracia voltaram a reinar no Brasil. Você acompanhou a tentativa de golpe, dia 8 de janeiro. As pessoas que tentaram dar o golpe serão punidas, porque o Brasil não quer mais voltar ao obscurantismo de regimes autoritários. O Brasil quer democracia, o Brasil respira democracia, o Brasil precisa de democracia e o mundo precisa de democracia.
Por isso, nós iremos tratar o continente africano com o carinho que o povo africano merece. E eu quero visitar vários países africanos, ainda este ano. No próximo ano, eu quero visitar o continente africano, abrir embaixadas nos países em que o Brasil ainda não tem embaixada. Quero fazer muitas reuniões com várias especialidades africanas para que a gente defina no que que o Brasil pode ajudar mais o continente africano. Eu quero terminar dizendo: Presidente, pode contar que o Brasil voltou ao mundo e o Brasil voltou para contribuir com o desenvolvimento dos países amigos.
Obrigado pelo carinho, obrigado pelo café e eu espero que da próxima vez eu possa conhecer uma praia. Não a cidade de Praia, mas uma praia aqui, em Cabo Verde, pra poder descansar uns dois dias.
Obrigado.