Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da 17ª Conferência Nacional da Saúde
TRANSMISSÃO | Presidente participa da 17ª CNS
Queridas companheiras e queridos companheiros que participam dessa extraordinária 17ª Conferência da Saúde.
Começar cumprimentando os companheiros da mesa. Primeiro, a minha querida companheira Janja; depois, a minha querida companheira Nísia Trindade [ministra da Saúde]; depois, o meu não menos querido companheiro Márcio Macêdo [ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República]; depois, também, o companheiro querido Camilo Santana, ministro da Educação – que junto comigo e com a Nísia participamos de um ato dos mais extraordinários essa semana. Na verdade, sábado... sexta-feira, em Porto Alegre, no Hospital das Clínicas, um investimento de praticamente R$ 500 milhões para transformar o hospital em um dos hospitais mais modernos desse país.
Quero cumprimentar o nosso querido companheiro, mais conhecido como Wellington Dias, mas vulgo Índio, ex-governador do estado do Piauí e ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.
Quero cumprimentar a nossa querida Esther Dweck, da Gestão e Inovação; a Daniela Carneiro, nossa companheira do Turismo; o Paulo Pimenta, nosso querido companheiro de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Quero cumprimentar o companheiro Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso Nacional, em nome de quem cumprimento todos os senadores.
Eu estou com um pequeno problema aqui que é o seguinte: se tem uma coisa que eu aprendi a valorizar, sobretudo na questão da saúde, é a participação de centenas de deputados e senadores trabalhando em prol da saúde brasileira. Eu estou com uma lista imensa de deputados aqui. Eu só queria pedir pra vocês me perdoarem de não falar a nominata inteira, porque é muita gente. Mas, eu quero dizer para vocês que eu fui constituinte, estava na sessão em que a gente aprovou o SUS e foi a coisa mais impressionante que eu vi. Muitos deputados e muitos constituintes ditos de direita, na hora que se trata da saúde, eles têm um compromisso extraordinário com a saúde de qualidade nesse país e a gente aprovou o SUS quase que por unanimidade nesse país.
Então, eu quero que sintam-se cumprimentados todos os deputados, todas as deputadas, todos os senadores, todos os vereadores, todos os futuros candidatos, os pretensos candidatos e todos vocês que estão aqui. Queria cumprimentar, em especial, os companheiros e as companheiras cadeirantes que estão aqui.
Eu... eu, na verdade gostaria, quando terminar minha fala, descer para dar um abraço e um beijo em cada um de vocês. Mas vocês... vocês haverão de entender que depois que vocês compraram o celular e querem fazer "selfies", é praticamente impossível a gente andar no meio. E, eu tenho a preocupação de, andando no meio de vocês, o pessoal que está atrás, sabe, naquela pressa de tirar uma foto, sabe, vim aqui e a gente criar um certo tumulto. Então, eu vou pensar até o final, quem sabe eu dou um beijo daqui mesmo e não crio nenhum tumulto com vocês.
Eu sei, mas olhe, eu... eu queria que vocês levassem em conta o quê as conferências da saúde representam para esse país. Há 37 anos foi realizada a 1ª Conferência de Saúde desse país. E desde da 1ª Conferência da Saúde realizada nesse país, as conferências têm determinado as melhorias na qualidade da saúde desse país. Todas as conquistas que nós temos na saúde é obra e trabalho de vocês, que participam das conferências nacionais de saúde exigindo do governo que faça as coisas melhorarem.
Vocês, melhor do que eu, sabem o significado do SUS. Você, melhor do que eu, sabe quantas vezes o SUS foi ofendido, quantas vezes o SUS aparecia nos meios de comunicação como se fosse uma coisa inútil, que não valesse nada porque só tinha fila, porque não atendia bem. As pessoas nunca levaram em conta as quantidades de pessoas que eram atendidas. Só levava em conta as pessoas que não eram atendidas. As pessoas nunca levavam em conta a quantidade de hora que vocês trabalhavam no SUS, mas só lembravam quando alguém faltava de trabalhar no SUS.
Pois bem, eu quero dizer pra vocês que depois da Covid-19 não tem um brasileiro ou uma brasileira de boa-fé nesse país que não reconheça que, graças a vocês, graças ao SUS, graças a todos os profissionais de saúde, a gente não chegou a um milhão de mortos nesse país (ou mais), porque o negacionista que governava esse país tem que assumir responsabilidade, pelo menos, por parte das 300 mil mortes, das 700 mil que morreram nesse país. Porque as pessoas morreram por falta de atenção, pelo negacionismo, por falta da vacina, por falta de respirador, ou seja, as pessoas morreram porque esse país, em algum momento, teve um governo que não era um governo, era um genocida colocando em prática a mais perversa atitude com relação ao ser humano.
Haverá um dia neste país, haverá algum dia neste país que a Covid-19 será estudada com mais profundidade e haverá um dia que alguém será, será julgado pela irresponsabilidade e pelo descaso que teve no tratamento do SUS. Alguém que resolveu desafiar a ciência, os cientistas internos, os pesquisadores internos, a Organização Mundial da Saúde. Não se respeitava nada. E, além disso, obrigou os laboratórios do Exército e da Forças Armadas a produzirem cloroquina para ajudar na enganação do povo brasileiro. Isso não ficará impune na história da saúde brasileira.
Companheiros e companheiras, por mais que o nosso querido SUS tenha sido criticado ao longo de décadas, a verdade, companheira Nísia Trindade, é que não existe no planeta Terra nenhum país com mais de 100 mil habitantes que tenha um sistema de saúde da qualidade do Sistema Único de Saúde nesse país.
Tem gente que acha que o salário de uma enfermeira, de 4 mil e pouco, é caro. Mas, as pessoas se esquecem que quando a gente vai para o hospital, o médico faz a consulta, o médico dá o remédio, o médico faz a cirurgia, mas quem cuida da gente o resto do dia é exatamente o pessoal da enfermagem.
E esse trabalho não pode ser considerado menor; o do motorista não pode ser considerado menor; o da assistente não pode ser considerado menor. É preciso que a gente avalie, efetivamente, o valor do trabalho por aquilo que ele representa na nossa vida. Quem leva as pessoas pra tomar banho, quem vai limpar as pessoas, quem dá de comida, quem aplica injeção, quem mede a pressão, quem leva ao banheiro, é exatamente o pessoal de baixo que trabalha. E por isso esse pessoal tem que ser valorizado.
Por isso, a companheira Nísia tomou a decisão: ela vai pagar o piso e vai pagar o atrasado desde maio — e mais o 13º para que a gente aprenda a começar a valorizar o ser humano nesse país.
Uma sociedade não é medida pela quantidade de pessoas que existe, apenas pela quantidade de fábricas, pela quantidade de laboratório, uma sociedade é medida pela qualidade de vida que ela tem e pelo respeito que ela recebe.
E esse país voltou a ser um país democrático. Nesse país o povo voltou a falar e vocês não tenham preocupação, porque nesse Governo vocês podem reclamar, vocês podem reivindicar, vocês podem discordar, porque nós temos dois ouvidos para escutar a reclamação do povo e não apenas para ouvir palmas de vocês.
Nós somos eleitos com o objetivo de fazer as coisas corretas. Nós somos eleitos com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e é por isso que eu coloquei a luta contra a desigualdade no primeiro plano da minha vida. Eu fiquei sabendo que ontem aqui uma pessoa ligada à religião de matriz africana foi ofendida de forma preconceituosa, e nós temos que ser contra o preconceito e o racismo, de qualquer espécie, nesse país.
Ninguém pode ser vítima de preconceito pelo seu tamanho, pela sua cor, pela sua religião, por tudo que ele queira fazer. Afinal de contas, nós somos um país livre, aonde a gente pode fazer tudo que a gente quiser, desde que a gente não invada a particularidade dos outros.
Esse país voltou! A gente vai ser contra a desigualdade de gênero, a desigualdade racial, a desigualdade salarial, a desigualdade na educação, a desigualdade na saúde, a desigualdade nas oportunidades. Todos, afinal de contas, são iguais perante a lei, perante a Bíblia e perante a consciência dos homens e das mulheres.
Por isso, companheira Nísia, eu queria te dar os parabéns.
Na semana passada, eu liguei para a Nísia. Eu tinha visto uma nota, uma pequena nota no jornal, de que tinha alguém reivindicando o Ministério da Saúde. Eu fiz questão de ligar pra Nísia porque eu ia viajar para fora do Brasil. Eu disse: "Nísia, vá dormir e acorde tranquila, porque o Ministério da Saúde é do Lula, foi escolhido por mim e ficará até quando eu quiser". E, eu tenho certeza que poucas vezes na vida a gente teve a chance de ter uma mulher no Ministério da Saúde para cuidar do povo com o coração, como uma mãe cuida dos seus filhos.
E, eu não tenho dúvida, eu tive muita sorte com os meus ministros da Saúde. Todos eles foram extraordinários, mas precisou uma mulher pra fazer mais e fazer melhor do que todos nós fomos capaz de fazer.
Companheiras e companheiros, essa 17ª Conferência da Saúde, ela não pode terminar e a gente, simplesmente, voltar para casa. A gente conseguiu derrotar um candidato a presidente, mas o fascismo está solto nas ruas desse país e nós precisamos derrotá-los.
Nós precisamos derrotar o ódio, nós precisamos derrotar a fake news, nós precisamos derrotar a mentira, nós precisamos derrotar a pobreza. Ao invés de ódio, nós queremos o amor; ao invés de guerra, nós queremos paz; ao invés de preconceito, a gente quer fraternidade e solidariedade entre homens e mulheres deste país.
Por isso, queridas companheiras e queridos companheiros, tenho certeza, tenho certeza de que nós vamos mudar esse país.
As coisas já estão acontecendo. Daqui a pouco quem come carne vai ter uma picanhazinha na mesa, o preço tá baixando. O óleo tá baixando, o azeite tá baixando, o feijão tá baixando, as coisas vão baixar, mas o que precisa não é só "baixar as coisas", é aumentar o salário do povo brasileiro para ele poder ganhar um pouco mais e viver mais dignamente.
E, eu queria, Nísia, te transmitir um recado. Ontem, eu estava no Paraná, fui junto com o Camilo dar início à reconstrução da Universidade da América Latina, que estava paralisada desde que tiraram a Dilma desse país. Nós fomos lá para começar a reconstrução dela. E, eu fiquei sabendo que um grande companheiro nosso, um grande companheiro, esteve... esteve com um problema de saúde. É um companheiro dos mais extraordinário que eu conheço na luta, é o companheiro Baggio, da direção dos sem-terra do estado do Paraná.
Eu liguei pra ele pra saber como que ele estava. Ele falou: "presidente Lula, diga para a ministra Nísia que eu tava com um problema de saúde, mas eu fui no médico, eu fui no hospital e eu fui tratado pelo SUS, e estou orgulhoso pelo tratamento dignificante que eu recebi do nosso SUS. Diga pra ela que eu fui tratado como se fosse tratado, sabe, num país que trata as pessoas como se fossem de primeira classe". É esse SUS que nós queremos, é esse SUS.
E eu tenho certeza, Nísia, que ao terminar o nosso mandato, em 2006, eles me tiraram R$ 40 bilhões do SUS – vocês estão lembrados? – com o fim da CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira]. A gente implorava: "não tira o dinheiro! Nós vamos aplicar todo na saúde. Vamos deixar pelo menos um pouco". Mas, o ódio de evitar que a gente continuasse foi tão grande, que a gente, só para se vingar deles, elegeu a Dilma outra vez, elegeu a Dilma a segunda vez, quase elegemos Haddad, e eu tô de volta, porque de volta está o povo brasileiro para consertar esse país.
Um abraço e um beijo no coração de cada um de vocês.