Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no lançamento do Plano Safra 2023/2024
TRANSMISSÃO | Governo anuncia Plano Safra 2023/2024
Bobo serei eu se fizer discurso agora. Bem, companheiros e companheiras; ministros e ministras; dirigentes dos bancos; companheiros senadores e senadoras; deputados e deputadas; empresários e empresárias; presidentes de entidades, aqui presentes.
Eu, cada vez que ouço uma pessoa fazer discurso, eu vou mudando o discurso que eu tinha escrito. E quando termina de falar, o meu discurso já não vale mais nada porque tudo já foi dito. Mas, eu queria dizer uma coisa aqui. Primeiro com relação ao companheiro Fávaro [Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária]. Eu não conheci o Fávaro durante o processo eleitoral. Aliás, eu vi o Fávaro uma vez num debate na televisão, no Canal Rural.
E, desde que eu vi o Fávaro eu achei que ele, por ser um homem ligado ao agronegócio e por pensar do jeito que ele pensava, ele poderia ser meu ministro da Agricultura. Se vocês não acreditam em destino, se vocês não acreditam em relação química entre os seres humanos, eu acredito. E o Fávaro tem sido uma dessas coisas boas que aconteceu num governo que não é um clube de amigos.
Nós não somos um clube de amigos. Nós somos um Governo com gente de partido diferente, com gente de ideologias diferentes, com gente de história diferente, que tem uma única coisa que unifica todo nós: é provar a nós mesmos e ao povo brasileiro que esse país pode ser do tamanho que a gente queira que ele seja ou ele pode ser pequeno se a gente pensar pequeno.
Hoje, dia 27 de junho de 2023, é o primeiro Plano Safra do nosso Governo. E como os outros de 2003 a 2015, com a Dilma Rousseff, eu não tenho medo de dizer pra vocês: todos os anos a gente vai fazer planos melhores do que no ano anterior. Estou convencido disso. Se enganam aqueles que pensam que o Governo pensa ideologicamente quando vai tratar de um Plano Safra. Se enganam aqueles que pensam que o governo vai fazer mais ou fazer menos porque tem problemas ou não problemas com o agronegócio brasileiro.
A cabeça de um governo responsável não age assim. A cabeça de um governo responsável não tem a pequenez de ficar insultando e insuflando o ódio entre as pessoas. Esse país só vai dar certo se todo mundo ganhar. Eu tenho tido a oportunidade de viajar o mundo mais do quem governou antes de mim e tenho tido noção do papel que o Brasil pode representar daqui pra frente. Eu lembro quando o companheiro Fávaro me ligou dizendo que tinha 70 bilhões, 70 mil toneladas de carne parada nos navios entre o porto de Santos e o porto da China e que a essa carne ia estragar porque tinha sido exportada fora de um prazo estabelecido entre o próprio Fávaro e o governo chinês.
Na verdade, quem falou comigo a primeira vez foi a presidenta Dilma Rousseff porque os donos da carne foram primeiro conversar com ela nos bancos do BRICS. Ela é quem me ligou para ver se eu conseguia interferir junto ao presidente Xi Jinping. Eu não só falei com o presidente Xi Jinping, como pedi pro companheiro Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] falar com o vice-presidente, que era a pessoa mais afeta a discutir esse assunto.
O que aconteceu um mês depois? As 70 mil toneladas de carne foram liberadas e o Brasil vai receber os 2 bilhões ou um pouco mais que ele tem direito. Isso chama-se diplomacia. Isso chama diplomacia. Isso chama-se soberania.
Um governo não tem que atacar outro governo de outro país. A mim não me importa o que pensa ideologicamente o presidente de qualquer país. Eu não estou estabelecendo uma relação pessoal, eu estou estabelecendo uma relação de Estado para Estado. E quando a gente estabelece uma relação de Estado para Estado, o que está em jogo não é o interesse pessoal do presidente da República que gosta ou não gosta de "sicrano". O que está prevalecendo são os interesses soberanos do país que ele representa.
Veja que engraçado. Muita gente costuma dar muito palpite sobre a situação do Brasil. Eu tive a oportunidade de fazer algumas viagens importantes esse ano. Uma delas foi o G7. E todo mundo faz discurso defendendo a questão da sustentabilidade, defendendo a questão do clima. Mas nenhum país do mundo chega perto do Brasil na questão da sustentabilidade.
Quando a gente vai discutir a questão energética a gente diz em alto e bom som para os nossos ouvintes: o meu país tem 87% da sua energia elétrica limpa e renovável contra 27 do restante do mundo. Em se tratando de energia, inclusive de combustível, o meu país tem 50% de energia limpa e renovável contra apenas 15% do restante do mundo. Então, ao invés de ficarem querendo ensinar o Brasil como fazer, tem que aprender com o Brasil para fazer pelo menos igual a gente.
Também não há espaço para as pessoas se comportarem como se fossem espertas alguns e os outros fossem tontos e bobos. A questão que não desmatar, seja o Cerrado, seja o Pantanal, seja o Amazonas, é por uma questão de garantia desse país e da qualidade do ar que nós queremos viver e da qualidade das coisas que nós queremos produzir. Não é de hoje, Leila, não é de hoje que de vez em quando aparece um espertinho querendo plantar cana no Pantanal. O Pantanal tem 1001 utilidades pro Brasil, menos de plantar cana.
Da mesma forma que destruir uma floresta, que está construída desde que Deus pôs no mundo, há 200, 300 anos. Que direito o cidadão tem, em nome de madeireira, ele querer pegar um trator ou uma motosserra e cortar uma árvore de 300 anos de existência? Aquela árvore não é dele, aquela árvore não é minha. Aquela é uma coisa que foi produzida e dada de presente pra humanidade.
Se esse cidadão quer fazer uma cadeira ou comprar madeira para exportar para a Itália, ele pode pegar as terras degradadas. Aliás, Pacheco, nós vamos criar uma linha de financiamento para quem quiser cortar madeira para fazer móveis plante a madeira. Vamos plantar a madeira de lei, vamos recuperar as nossas florestas com mogno, com jacarandá, e com tantas outras coisas. Vamos financiar, como durante tantas décadas se financiou, eucalipto nesse país.
O que nós não podemos é ser predadores daquilo que é um bem que nós tempos, que é um bem do filho de cada um, que é o bem do filho, do neto, do bisneto. Ou seja, nós temos a obrigação de fazer as coisas bem feitas porque o mundo tá de olho na gente. Vocês viram agora que o Congresso francês aprovou que não vai querer fazer acordo com Mercosul porque eles acham que o Brasil pode não cumprir as metas de Paris.
E quem cumpre? Quem deles cumpriu alguma meta agora mais do que nós? Quem deles cumpriu? Então, é importante que a gente seja sério para que a gente possa exigir seriedade e respeito dos outros para conosco. A Marina [Silva] disse uma coisa e o Fávaro disse sempre, ou seja, nós não precisamos desmatar nada para criar mais gado, nada para plantar mais soja. Nós temos possibilidade de recuperar milhões de hectares de terras degradadas que esse país tem.
Aliás, eu estou falando, Fávaro, ao Paulo [Teixeira], já falei pra você e já falei pro Paulo. Nós não precisamos sequer ter mais invasão de terra nesse país. O governo brasileiro através do Incra e os estados, através da sua secretaria, instituto de terra que cada estado tem um, pode fazer o levantamento de todas as terras devolutas, todas as terras improdutivas e a gente ter uma prateleira de terra para poder fazer quem quer trabalhar: "tá aí a terra".
Não precisa alguém invadir pra gente depois ficar num processo de três ou quatro anos para descobrir que a terra é improdutiva. Vamos ver antes. O Governo pode ter uma prateleira e oferecer ao país isso. Então, companheiros, pode tá certo, marquem na cabeça. Dia 27 de junho de 2023 esse país mudou. Esse país mudou. Presta atenção. Esse país está trocando o ódio pelo amor. Esse país está trocando a ignorância pela sabedoria.
Esse país tá deixando os interesses pessoais pelos interesses coletivos. Esse país quer voltar a ser um país grande. Esse país quer voltar a acabar com a fome. Esse país quer voltar a melhorar com a qualidade da educação. É por isso que estamos em um programa de fazer escola de tempo integral, para ver se a gente melhora, definitivamente, a formação do nosso povo.
Quem quiser construir esse país, nós estamos juntos. Quem quiser destruir, terá a nossa diversidade. O mundo depende muito do que a gente fizer. Nós ainda temos esse ano uma reunião dos BRICS, que vai ser na África do Sul, onde esse assunto será discutido. Nós vamos ter ainda esse ano o G20, que vai ser uma reunião feita na Índia. E ainda temos ainda Genebra, que é o encontro da União Europeia com a CELAC, com todos os países da América Latina.
Vai depender do nosso comportamento, vai depender da nossa rastreabilidade enquanto ser humano. Não é só o produto que precisa rastreabilidade, é preciso saber o que faz o presidente da República, o que faz o Governo, como é que ele se comporta, o que é que ele fala, no que é que ele tá interessado. É preciso que a gente tenha também a rastreabilidade no nosso comportamento político, no nosso compromisso com esse país.
Esse país, em 2010, chegou a ser a sexta economia do mundo. Esse país retrocedeu. Esse país não tinha contencioso com nenhum país político. O problema da Venezuela com o povo da Venezuela, é da Venezuela. Eu quero saber que a gente tinha um superávit de US$ 4 bilhões com Venezuela e que nós precisamos recuperar para exportar os nossos produtos e comprar alguma coisa que eles possam nos vender.
Eu não quero me meter na guerra da Ucrânia e da Rússia, eu quero é acabar com a fome nesse país. Já fiz isso uma vez e vamos fazer outra vez. E estou trabalhando, estou trabalhando com outros presidentes pra ver se a gente consegue encontrar paz.
Porque, ou a gente estabelece a paz, e aí vem outra coisa nas nossas costas que é a questão da produção de fertilizante desse país. Um país que tem a riqueza agrícola do Brasil não poderia ser dependente de fertilizante de outro país. Nós temos que ter capacidade, competência e disposição política de transformar esse país num país autossuficiente, inclusive nitrogenados. A gente pode, eu lembro.
Tá aqui a Simone [Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento]. Aquela fábrica de nitrogenados, em Três Lagoas, ficou paralisada. A troco do quê? A fábrica de Sergipe foi vendida, a fábrica no Paraná foi vendida, a troco do quê? A gente vai destruindo aquilo que vai melhorar nossa soberania. Agora a gente tá percebendo que a gente precisa, agora a gente tá percebendo que a gente já poderia ter. E nós vamos fazer.
Estejam certo [trecho inaudível por problemas técnicos] que eu tenho. Da próxima vez tem que mandar fazer a manutenção nesse microfone aqui. Da próxima vez.
Eu posso dizer para vocês o seguinte: há uma razão pela qual eu voltei a ser presidente da República. E todos vocês acompanharam e sabem o que foi a campanha política. Aqui não tem nenhuma criança. Todo mundo aqui é adulto e sabe o que aconteceu nesse país, e esse país não tem aptidão para o autoritarismo, esse país não tem aptidão para voltar a ter ditadura.
A nossa geração já derrubou uma vez e a nossa geração derrubou outra no dia 8 de janeiro. Quem quiser implantar a ditadura, quem quiser implantar vá para outro lugar, porque neste país a gente aprendeu a gostar de democracia e democracia é a convivência na diversidade. Aqui, ninguém é obrigado a gostar de ninguém, nós somos obrigados a nos respeitar. Nós somos obrigados a nos tratar da forma mais civilizada.
E eu quero terminar essa minha fala dizendo pra Embrapa que, eu sei que a Embrapa tá com pouco dinheiro para investimento e muito dinheiro para custeio, eu quero visitar a Embrapa para ver se a gente consegue fazer a Embrapa voltar a ser a empresa orgulho do agronegócio brasileiro.
Um abraço. Parabéns, Fávaro e parabéns a todos vocês.