Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nas celebrações alusivas ao Dia da Ciência e do Pesquisador
Querida companheira Janja; querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento da Indústria, Comércio e dos Serviços; ministra Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia; Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores; Camilo Santana, ministro da Educação; Nísia Trindade, ministra da Saúde; Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento; Esther Dweck, da Gestão, Inovação em Serviço Público; Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima; Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas; Marcos Amaro, do Gabinete de Segurança Institucional; companheiro Jorge Messias, Advogado-Geral da União; meu caro senador Omar Aziz, representando o glorioso Senado brasileiro aqui; Luis Manuel Rebelo Fernandes, secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Sérgio Rezende, coordenador geral da 5ª Conferência; Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso; e companheiro Leone Andrade, representante da Federação das Indústrias do Estado da Bahia; companheiros agraciados e agraciadas, companheiros e companheiras.
Hoje, é bom lembrar de uma coisa triste e de uma coisa alegre. A coisa triste é que, nesse momento em que a gente está reunindo a inteligência brasileira através dos nossos cientistas, dos nossos pesquisadores, a gente não pode deixar de esquecer do nosso companheiro reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier. Sempre que a gente puder, a gente tem que lembrar das pessoas que foram vítimas do arbítrio, para que esse arbítrio, essa insanidade, nunca mais aconteça no nosso país.
E também é dia de lembrar um dia alegre. Eu quero dizer para vocês que eu vivi, junto com a ciência brasileira, um dos momentos mais felizes da minha vida, que foi no final do meu mandato, em 2010, quando nós fizemos um encontro com a ciência brasileira e, pela primeira vez – acho que nunca antes na história do Brasil – cientistas de todas as matrizes, de todas as tendências, de todas alas, sabe, em um único encontro junto com o governo. E havia unanimidade por conta que a gente estava quase que prestando homenagem a um governo que tava saindo e a gente tava prestando homenagem ao cumprimento de um PAC, que nós aprovamos em 2007, de investimento de R$ 41 bilhões na Ciência e Tecnologia; e esse PAC foi cumprido cada centavo porque nós colocamos para administrar os recursos uma equipe de cientistas escolhida pelos cientistas. E, pela primeira vez, a gente gastou cada centavo daquilo que foi decidido, e o gasto sempre feito por conta das decisões deste grupo de cientistas, que coordenou os gastos. Isso, Luciana [Luciana Santos - Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação], pode servir de modelo para que a gente possa fazer com que o dinheiro aconteça, para que o dinheiro circule, que o dinheiro possa ir para as mãos daquelas pessoas que vão utilizá-lo em benefício da coletividade.
Eu até vou aproveitar, aqui de público, para pedir para a Simone, Simone Tebet [Ministra do Planejamento e Orçamento ], que nós precisamos fazer um levantamento de todos os fundos que têm nesse país. Tem muitos fundos e desde o tempo que eu fui eleito presidente, em 2003, toda hora que a gente fala de utilizar um fundo, qualquer que fosse o fundo, ele estava guardado para fazer superávit primário. E os fundos que foram criados pelo Congresso Nacional não foram criados para fazer superávit primário, eles foram criados para investir em áreas específicas, determinadas pelo Congresso Nacional. E esta é uma coisa que nós vamos ter que começar a rever, porque senão o Congresso Nacional não precisa mais criar fundo. Porque era melhor logo fazer o superávit primário do que ficar criando um fundo para investimento que nunca acontece.
Bem, mas, hoje é um dia alegre por conta da premiação de todos vocês, homens e mulheres representando os mais diferentes setores, que foram agraciados com esse prêmio, escolhido pela nossa querida ministra de Ciência e Tecnologia. E, mais feliz ainda porque o Sérgio Rezende foi escolhido como coordenador. Eu tenho orgulho de dizer de que o Sérgio Rezende foi o melhor ministro da Ciência e Tecnologia que esse país teve. Foi o mais atuante e, certamente, o que mais produziu resultado, porque foi no nosso período que a gente passou, inclusive, países desenvolvidos na produção de artigos científicos escritos em revistas especializadas. Uma demonstração de que um país, ele será do tamanho que a sua sociedade quiser que ele seja. Uma sociedade, ela tem que pensar grande, tem que sonhar grande e ela tem que buscar as coisas, porque se ela não buscar, as coisas não acontecem. Eu sou uma pessoa que nunca aceito um "não" antes de tentar um "sim". É importante que a gente faça o esforço, porque nós não temos limite para fazer as coisas acontecer. Esse país pode ser muito melhor do que ele é, esse país pode crescer muito mais do que ele cresce, esse país pode distribuir riqueza muito mais do que distribui. É só a gente querer. E a gente começa a perceber os sinais de que as coisas começam a melhorar, porque a sociedade está se sentindo coparticipante de um processo de transformação do país.
Eu digo sempre o seguinte: o dinheiro de uma nação, ele tem que circular na mão de todos. Dinheiro não pode ficar centrado num banco ou na mão de meia dúzia. Quanto mais o dinheiro circular, mais a economia vai crescer, mais emprego vai gerar, mais consumo vai ter. Na última reunião do ministério eu disse aos meus ministros: "Vamos gravar uma coisa na nossa cabeça. Muito dinheiro na mão de poucos é concentração de riqueza, é miséria espalhada na rua, é desemprego, é prostituição, é desnutrição, é mortalidade infantil. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos é o inverso. Significa progresso, significa distribuição de riqueza, significa consumo, significa geração de emprego, significa melhorar a vida de todo mundo”. Nós já provamos isso uma vez.
Não adianta a gente ficar olhando apenas o PIB. "Ah, o PIB cresceu 10%, 14%, 30%...". Se o resultado desse PIB não é distribuído de forma equitativa entre a totalidade da população. Se você cresce um e distribui um, vale mais do que crescer 10 e não disputar nenhum. Então, é preciso que a gente compreenda isso. Esse país pode ser melhor. Esse país pode ser melhor. Eu não vou aqui falar mal da taxa de juro, não vou falar mal de ninguém. Eu vou, hoje, fazer um discurso sobre a ciência, porque eu acho que o povo tá percebendo o que tá acontecendo no Brasil. Fizemos uma coisinha pequena, uma coisinha pequena lá, reduzir um pouquinho lá o preço dos carros. O que aconteceu, gente? A gente vendeu mais carro do que teve capacidade de produzir no período. E a gente sempre tem que incentivar o povo a consumir, desde que ele consuma de forma responsável. Ninguém pode gastar o que não tem. Se tem que fazer uma dívida, só faça a dívida que pode pagar. Se não pode pagar, espera um pouco. Porque se fizer dívida e não puder pagar, vai quebrar a cara. E é por isso que, nesses próximos dias, a gente vai anunciar, definitivamente, o tal do Desenrola [Programa de Governo]. E o Desenrola tem que dar certo, porque se não der certo quem vai estar enrolado somos nós, Simone. Então, nós vamos ter que fazer esse Desenrola, que é tentar ajudar os 72% da população brasileira que estão endividados. Pessoas que têm dívida até R$ 5 mil, pessoas que têm dívidas de R$ 1 mil, de R$ 250, de R$ 500, e que tão pendurados no Serasa. Nós temos a obrigação de estendermos a mão para essa gente e trazer essa gente, outra vez, pra a atividade econômica brasileira, para poder consumir aquilo que as pessoas têm vontade.
Até falei para o Alckmin: “Que tal a gente fazer um ‘aberturazinha’ pra linha branca outra vez?” Facilitar a compra de geladeira, de televisão, de máquina de lavar roupa. As pessoas, de quando em quando, precisam trocar os seus utensílios domésticos. Quando a geladeira velha tá batendo, não tá gelando a cerveja bem e está gastando muita energia, você tem que trocar. E, se está caro, vamos baratear, vamos tentar encontrar um jeito. Simone, você e o Aloizio [Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] abram a mão um pouquinho para a gente poder, sabe, facilitar a vida desse povo que quer ter acesso às coisas.
Bem, nessa solenidade, nós retomamos as reuniões do Conselho de Ciência e Tecnologia. Convocamos a próxima Conferência Nacional, que deve ter sua etapa final daqui a um ano. Celebramos o Dia do Cientista e do Pesquisador, transcorrido na semana passada. E condecoramos, com a Medalha do Mérito Científico, algumas das mentes mais brilhantes de nosso país.
O real significado desse evento, contudo, vai muito além de atos formais. Estamos reunidos aqui hoje para dizermos, em alto e bom som: chega de obscurantismo. Basta de negacionismo.
Chega de jogar cientistas às fogueiras. Não mais aquela da Idade Média, mas as que a mentira e o discurso de ódio acenderam na Internet e em grupos radicais na nossa sociedade.
Chega de aceitar que cientistas como Adele Benzaken ou Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda terem suas condecorações revogadas. Ela, porque se preocupou com a saúde dos homens trans. Ele, porque ousou publicar a verdade: a de que a cloroquina não combatia a Covid.
Basta de testemunhar pesquisadores como Ricardo Galvão perdendo seu cargo porque mostrava aquilo que os satélites registravam, e que todos com a mínima honestidade intelectual podiam ver: nos últimos anos, a Amazônia estava sendo degradada a um ritmo cada vez maior e incontrolável.
O Brasil não merece mais ter suas instituições aviltadas a ponto de tanta gente séria da ciência devolver a Ordem do Mérito Científico. Gente que, felizmente, aceitou receber a condecoração de novo hoje. E aceitou porque sabe que a ciência voltou definitivamente nesse país.
A ciência voltou porque temos pesquisadores e pesquisadoras brilhantes e combativos que, apesar das perseguições nos últimos anos, não se deixaram abater. Porque temos organizações da sociedade civil que sabem como e quando lutar.
Voltou porque nossas instituições de pesquisa, apesar de todo o desmonte, de toda a falta de verbas, têm décadas de experiência, credibilidade e excelência. E conseguiram resistir.
Mas não basta a ciência voltar. Precisamos ser incansáveis para que ela siga sempre conosco.
E para que ninguém – nem mesmo quem ainda tem a cabeça na idade das trevas – tente mais uma vez fazer o relógio da história andar para trás.
Queridas amigas e meus amigos, somos uma nação muito grande. Temos desafios demais. E não podemos, nunca, acreditar que teremos alguma chance de futuro sem a ciência e os cientistas.
Foi por meio da ciência que conseguimos nossos maiores feitos. Feitos que transcendem a academia e os laboratórios e se fazem presentes na saúde, na indústria, no campo e no dia a dia de cada pessoa desse país.
Se temos uma grande produtividade agrícola, isso se deve a décadas de pesquisa nas universidades e na nossa querida Embrapa.
Se temos tanta energia renovável e biocombustíveis, também precisamos agradecer a quem, por tanto tempo, apostou e desenvolveu esse tipo de tecnologia.
Do mesmo modo, se não fossem nossos institutos de pesquisa, se não tivéssemos uma Fiocruz ou um Butantã, a pandemia do Covid-19 teria sido ainda mais severa com as vidas de nossa população.
A verdade é que a ciência é aliada da vida e do desenvolvimento. E é nesse momento histórico que ele se faz mais necessário para o futuro do Brasil.
O mundo todo vive uma encruzilhada histórica. Ao mesmo tempo em que precisamos combater a fome e a desigualdade, precisamos repensar totalmente as formas de produção que o mundo vem adotando desde os tempos da revolução industrial.
O planeta não aguenta mais a pressão ambiental, o desmatamento e a emissão desenfreada de carbono. E o futuro da humanidade só será garantido a partir de novas ideias, de novas tecnologias, de muito mais ciência.
O Brasil, nesse aspecto, ocupa uma posição privilegiada. Nenhum país do nosso porte conta com uma matriz energética tão limpa e renovável como a nossa. Eu faço questão de dizer o número para que a gente nunca esqueça: em se tratando de energia elétrica, o Brasil tem 87% da sua matriz renovável, contra 28% do resto do mundo. Em se tratando do conjunto da energia, o Brasil tem 50% de energia renovável, contra apenas 15% do restante do mundo. Então, companheira Marina [Marina Silva - Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], a gente pode andar de cabeça erguida, porque mesmo quando a gente erra, a gente ainda está melhor do que aqueles que pensam que são melhor do que nós.
O Brasil. Ainda estamos longe, mas muito longe, de aproveitarmos todo o nosso potencial eólico e solar. E, quando pudermos fazer isso, poderemos gerar ainda mais energia limpa, energia que poderá nos tornar, em um horizonte não muito distante, em uma potência mundial do hidrogênio verde.
Para isso, contudo, precisamos de mais pesquisa, de mais tecnologia. De desenvolvimento de processos e produtos que possam ser feitos em nosso país, gerando empregos e distribuindo riquezas entre nós. Precisamos, enfim, de mais ciência e mais pesquisa.
Temos uma gigantesca biodiversidade. Fomos presenteados pela natureza com tesouros como a Amazônia. E não podemos mais seguir destruindo esses biomas, arrancando suas árvores e prejudicando seus povos em uma sanha predatória.
Precisamos, isto sim, desenvolver meios para aproveitar o seu enorme potencial genético sem causar destruição. Temos que apostar em produtos da sociobiodiversidade. E, novamente, é a ciência e a tecnologia quem nos ajudará a fazer isso.
Precisamos, enfim, voltar a crescer, a gerar empregos em massa e distribuir riqueza entre a população.
E isso passa, sem dúvida alguma, por uma retomada de nossa indústria, mas em novas bases: uma indústria mais limpa, mais intensiva em tecnologia e com baixa emissão de carbono.
Aliás, eu quero aproveitar, falando em indústria, para dar os parabéns ao vice-presidente Alckmin, ao ministro da Indústria e Comércio – que eles já tiraram você também, não sei se você sabe – o ministro da Indústria e Comércio, pelo extraordinário encontro que nós fizemos do Conselho Nacional de Indústria nesse país. Ou seja, quem participou deve ter notado que há muitos e muitos anos – porque fazia muito anos que também não se reunia – porque esse país, nos últimos anos, só se reuniu o gabinete do mal, só se reunia para pensar maldade, para vender pistola, para vender fuzil, para comprar bala, ou seja, para fazer fake news, e não tinha nenhuma, nenhuma, reunião que pudesse produzir alguma coisa. Nós, agora, tomamos uma decisão: que, ao invés de vender arma, Marina, cada conjunto habitacional que a gente inaugurar vai ter uma biblioteca no conjunto habitacional para que as nossas crianças reaprendam a ler.
Bem, é esse caminho que precisaremos tomar. O caminho da ciência, da pesquisa e da tecnologia. E é o caminho que tomaremos.
Foi por acreditar nesse caminho que, ainda em fevereiro, reajustamos as bolsas da Capes e do CNPq, que estavam congeladas desde 2013 e irão beneficiar 258 mil estudantes e pesquisadores da graduação.
Por isso também, encaminhamos ao Congresso Nacional em março o Projeto de Lei que recompõe o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. O projeto foi aprovado, e o fundo passou a contar com perto de R$ 10 bilhões. Significa que o dinheiro tá aí. Nós precisamos apenas começar a usá-lo bem e corretamente.
Por isso também, anunciamos em abril a imediata recomposição dos orçamentos das universidades e dos institutos federais, portanto, aportando recursos de R$ 2,440 bilhões para o fortalecimento do ensino superior e profissional e tecnológico.
Para além destas e de outras ações, contudo, o que mais importa é que a ciência e a tecnologia voltaram, de fato, a fazer parte da espinha dorsal do estado.
A nossa querida ministra Luciana Santos e a equipe do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação estão fazendo aquilo que a pasta nunca deveria ter deixado de fazer: dialogando com todas as áreas do governo. Traçando estratégias conjuntas com meio ambiente, agricultura, educação, saúde, indústria e comércio e muitas outras.
Não há como pensarmos em crescer, em retomar a indústria, em produzir mais no campo, se não pensarmos em ciência. Não há como pensar em reduzir as desigualdades sem pensarmos em ciência.
A verdade é que desenvolvimento sustentável e desenvolvimento científico andam de mãos dadas. E, junto com os dois, sempre estarão aqueles que merecem as nossas palmas: vocês, pessoas extraordinárias que fazem ciência e pesquisa em nosso querido país.
Companheiros e companheiras, eu queria terminar dando dois lembretes a vocês: O Brasil vive um momento, eu diria, de muito otimismo. Eu particularmente, apesar do Corinthians andar mal das pernas, eu continuo otimista, eu acho que a gente pode até ganhar a Copa Brasil. Mas, o que me interessa mesmo é fazer com que a sociedade comece a ficar otimista. Se a gente levanta todo dia de mau humor, se a gente levanta todo dia como se fosse uma ave de mau agouro, achando que a coisa não tá certa, achando que as coisas tá errada, certamente teu dia vai ser muito ruim. Veja o que vai acontecer no Brasil: a ótica que a Organização do Tratado dos Países Amazônicos existe há 45 anos. Pela 1ª vez, em 45 anos, nós vamos reunir os oito países que têm floresta amazônica, vamos convidar a França, que tem um pouquinho da Guiana Francesa, que ela faz parte – a França é um país europeu que faz fronteira com o Brasil e com a América do Sul –, portanto, se eles quiserem falar seriamente da questão do clima, eles terão que comparecer. Nós estamos convidando a Indonésia, que é outro país que tem grande reserva de floresta, estamos convidando os dois Congos para comparecer. Será dia 8 e 9 de agosto, em Belém. Esse encontro, a gente quer preparar – o [Ricardo] Galvão [presidente do CNPq] tá aí, a Marina tá aí –, nós queremos preparar um grande projeto para conversar sério com as pessoas quando a gente for participar, sabe, nos Emirados Árabes, do fórum-encontro, para discutir a questão climática. Porque muita gente fala da Amazônia olhando lá do outro lado do Atlântico, olhando lá do outro hemisfério. Nós queremos que eles venham discutir a Amazônia dentro da Amazônia. É por isso que nós conquistamos o direito de fazer, aqui no Brasil, em 2025, sabe, o nosso encontro para discutir a questão climática e aí trazer essa gente pra ver a Amazônia de perto. Para ser mordida de carapanã, sabe, pra ver o que que é as nossas águas, o que que é a nossa floresta, o que é a nossa fauna, o que que é a nossa biodiversidade.
Eu tô dizendo isto porque o Brasil vai participar dos BRICS, agora em agosto. O ano que vem a gente preside os BRICS. A gente vai participar do G20, na Índia, também, agora em setembro. E a gente vai presidir o G20 no ano que vem. Então, vocês levem em conta, além de que sábado eu estou viajando para Bruxelas, nós vamos ter o encontro da América Latina com a União Europeia. É um encontro extremamente importante, porque ele pode começar a ser o pilar da gente concluir o acordo tão sonhado, há tantas décadas, entre o Mercosul e União Europeia. Muitas vezes as pessoas tratam essa possibilidade de acordo como se fosse a América do Sul que não quisesse fazer o acordo. Tem uma coisa que eu já disse para todo mundo que a gente não abre mão: a gente não abre mão das compras governamentais, porque as compras governamentais serão uma possibilidade de desenvolver o médio e o pequeno empreendedor nesse país. Então, nós vamos ter que ter uma disputa. Eu tô indo lá – eu nem ia, mas eu tô indo – porque eu não posso faltar, porque o Brasil é o país mais importante da América Latina. O maior, mas importante todos são. Mas, o Brasil é o maior país, a maior economia e, se a gente não comparecer, fomos nós que criamos a Celac, vão dizer que a gente não tá interessado. Então, nós vamos viajar, sábado à noite, e vamos ficar três dias lá discutindo, para que a gente possa tentar concluir. O que que eu quero? Por que que estou contando isso pra vocês? Porque é um momento especial de ouro do Brasil. Esta questão do clima, essa questão da transição ecológica, essa questão da transição energética, é uma coisa que não é mais do futuro, é agora que está acontecendo. E, por isso, vocês, cientistas, são importantes. Por isso. A gente não quer produzir hidrogênio verde para exportar, a gente quer produzir pra fazer com que a gente produza aqui, e que a riqueza fique aqui e que a gente possa explorar aqui. Então, é muito importante, gente. Eu queria pedir para vocês – é muito importante – levantem todo santo dia com o otimismo de que as coisas vão dar certo nesse país. Eu não voltaria se não acreditasse. Eu não voltaria se não acreditasse.
Para mim, eu acho importante dizer, dizer isso para os cientistas brasileiros porque eu tive a oportunidade de conviver muito com vocês nos oito anos que eu fui presidente. Eu sei o que vocês ajudaram a produzir neste país. Eu sei o significado dos nossos institutos para o nosso país. O que precisa é a gente investir mais. Nós precisamos parar de achar que a gente tá gastando, Camilo [Camilo Santana - Ministro da Educação], quando a gente tá falando que vai fazer mais um laboratório, que a gente vai colocar mais dinheiro no instituto de pesquisa, que a gente vai investir mais em pesquisa, sabe. Nós precisamos entender diferente. Nós vamos fazer mais universidades federais, nós vamos fazer mais laboratórios, nós vamos colocar mais dinheiro nos institutos para pesquisar. Porque quem não pesquisa, não tem chance. Tá lembrado, o Chacrinha dizia, o Chacrinha dizia, sabe. É preciso que a gente pesquise. A gente acreditar em investimento. Por que que as pessoas acham que a gente cresceu tanto com a Petrobras, que resultou na grande mentira histórica desse país, daquela Lava Jato destruir a Petrobras? Porque a gente passou a investir muitos bilhões. E se não investir bilhões, a gente não consegue chegar a lugar nenhum; a gente não consegue disputar com a China; a gente não consegue disputar com os Estados Unidos; a gente não consegue disputar com a Alemanha. Então, gente, é o seguinte, eu tô fazendo uma convocatória a vocês: vamos acreditar que a gente vai fazer esse país ser um país importante e respeitado. As palavras são três. Nós temos que ter. Primeiro: garantir estabilidade econômica, estabilidade política, estabilidade jurídica, estabilidade social. Depois, nós precisamos garantir que o governo tenha credibilidade. Cada vez que o ministro ou presidente abrir a boca, ele tem que estar falando sério, para as pessoas acreditarem. E a terceira: a gente tem que ter previsibilidade. A sociedade não pode ser pega de madrugada, de surpresa, com notícia de presidente da República. A gente tem que anunciar as coisas à luz do dia, como vocês fazem. Pesquisam, pesquisam, pesquisam, quando tem um projeto, ele tá pronto. E o Brasil vai crescer muito.
Me desculpe dizer uma coisa, Camilo, Sérgio Rezende e Luciana. É o seguinte: nós precisamos aprender que todas as pesquisas que a gente fizer, ela não pode ficar parada na gaveta depois de pronta. Nós precisamos tentar transformar essa pesquisa num investimento, num produto. Nós precisamos discutir isso com política industrial. Porque pesquisar e guardar, guardar na gaveta porque: "Ah, eu não sou capitalista, não vou, sabe. Não fiz pesquisa pra isso". Não. Fez pesquisa para isso, sim. A gente fez pesquisa para que o resultado daquilo que a gente aprendeu se torne um bem coletivo de todo mundo. Por isso que nós precisamos tirá-los da gaveta. Se a gente fizer isto, este país será outro e eu espero estar na conferência com vocês. Espero estar na SBPC. Espero, no ano que vem, estar em outra conferência. No outro ano, estar em outra conferência. Porque nós vamos retomar todas as conferências. Todas as conferências nacionais que a gente fez – que foram setenta e quatro que nós fizemos –, nós vamos voltar a fazer. Porque as conferências – a Simone tá tendo uma experiência do PPA. Uma coisa é você juntar meia dúzia de técnico e fazer um orçamento, outra coisa é você conversar com o povo e pedir pro povo dizer o que ele quer. O que que ele pensa? O que que ele gostaria que acontecesse no país? Certamente, Simone, a gente não vai conseguir aprovar tudo que vocês ouviram no PPA, mas, certamente, ficará gravado na história desse país: nunca antes na história desse país, o povo teve tanta oportunidade de dizer como ele quer o Brasil como disseram agora pra Simone, pro Márcio [Macêdo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República], esse PPA.
É isso que eu quero da ciência. Não, não, Luciana, não deixa de reclamar. Quando você falar com o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] que não tem dinheiro, sempre dá para a gente 'furuncar' um pouquinho e arrumar um pouquinho de dinheiro. Nunca se contente com o "não" pela primeira vez. Às vezes, às vezes depois de dois "não", acontece um "sim". A política é isso e nós vamos, nós vamos conseguir fazer desse país um país feliz.
Quem é que acreditava que a gente fosse aprovar a Reforma Tributária com a pressa que aprovou na Câmara? Quem é que a gente imaginava que a gente fosse, sabe, aprovar o Carf? Sabe, as coisas acontecem. A política é exatamente isso: é a gente fazer com que as coisas impossíveis aconteçam para que as pessoas comecem a acreditar na política. Nenhum deputado, nenhum senador fez nenhum favor pra mim e não fez nenhum favor pro governo, porque o projeto não é do governo, o projeto é da sociedade brasileira. E senadores e deputados fizeram um favor pra quem? Pra própria imagem do Congresso Nacional e do povo brasileiro. É isso que eu espero da nossa ciência.
Um beijo no coração. Parabéns, a todos vocês, e até a próxima oportunidade.