Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na solenidade de recriação do PAA
Vídeo com solenidade de relançamento do PAA, transmitido em 22 de março de 2023
Antes de eu falar algumas coisas sérias que eu quero falar, eu vou contar uma pequena história para vocês. Quando eu era pequeno — pequeno eu ainda sou —, quando eu era mais novo, eu ia ao estádio de futebol, e eu cansava vendo o jogo. Por que eu me cansava? Porque eu chutava a bola. O cara errava, eu errava. O cara se machucava, eu me machucava. O cara caía Essa desde lá fui mala está com vontade de mudar mudar, era como se eu tivesse jogando. Então, minha mãe falou: "olha se você vai se machucar sem jogar, é melhor nem ir ao campo"; e eu parei de ir ao campo. Nunca mais me machuquei.
Eu agora pensei: puxa vida! É a primeira vez na vida, que estou ficando cansado de ouvir os outros falarem. Por Deus do céu! Aqui, nós tivemos discursos maravilhosos. Os companheiros apresentaram todas as propostas que tinham que apresentar. Eu saio daqui tomando um banho de inteligência, de competência e de criatividade. E eu saio daqui muito mais vaidoso, dizendo que valeu a pena ganhar as eleições, e voltar a ser presidente da República desse país.
Mas eu penso que, se vocês olharem para trás como estou olhando, vocês vão perceber que muita gente foi embora. Porque a gente começou um pouco tarde, e a gente falou demais. Assinamos papéis como nunca assinamos. Nunca antes na história de Pernambuco, um presidente assinou tanto papel de uma só vez aqui. E tantos ministros vieram aqui, distribuir recursos para o estado de Pernambuco. Mas, de qualquer forma, eu queria dizer para vocês, que se tem uma coisa que aprendi na vida foi: conviver e aprender a compreender as angústias das pessoas.
Eu acho que quando vocês estavam vaiando a governadora, vocês estavam me vaiando. Porque ela não está aqui porque ela queria estar aqui. Ela está aqui, porque ela foi convidada por nós. E eu queria dizer para vocês, que seria tão importante, se as mesmas pessoas que têm liberdade de vaiar a governadora, num palco nosso, convidada por nós; poderiam ter vaiado o Bolsonaro, durante quatro anos que ele esteve na Presidência da República. Seria tão mais fácil! Seria tão mais bonito! Porque nós precisamos aprender a conviver até com adversários. O que a gente não pode é aprender a conviver como inimigos. Ou seja, com o adversário eu debato com ele, sento com ele, faço muitas coisas com ele. Com o inimigo, eu não faço. E a diferença que eu quero fazer aqui e agora, aqui e agora, para ficar muito claro, é que a governadora pode ser nossa adversária política, mas é governadora do Estado, ela foi eleita e eu vou respeitá-la como governadora do estado.
Aqui virei quantas vezes forem necessárias, para cuidar dos interesses do povo de Pernambuco, pelas mãos dela, pelas mãos do João, pelas mãos dos outros prefeitos. Porque é assim que rege o espírito, de tudo que nós construímos na democracia nesse país. Hoje, possivelmente, tenha sido o dia mais importante para o conjunto da classe trabalhadora, que trabalha no campo nesse país. Eu acho que poucas vezes na vida, tantos ministros vieram aqui fazer anúncios de coisas importantes para o nosso amanhã. Entretanto, tudo que era anunciado era pequeno, diante da necessidade de vaiar a governadora. Que pena! Que pena! Que pena! E não pode ser assim. Quando a gente convidar alguém para vir na casa da gente, e esse dono da casa sou eu, podem me vaiar à vontade! Mas, por favor, respeitem os meus convidados que vieram aqui.
Por último, companheiros e companheiras, nós estamos no mês da Revolução Cubana. Estamos no mês em que esse estado se transformou no maior protagonista da luta pela independência desse país. E é esse Pernambuco revolucionário que eu gosto de ler, de ver; inclusive até de conhecer a vida dos nossos heróis que tombaram, porque acreditavam na possibilidade de criar um mundo novo. Esse estado perdeu territórios extraordinários. Não sei se todos os livros de História ainda dizem isso. Mas a verdade, é que por causa de duas revoluções que esse estado fez, em 17 e 24, esse estado perdeu quase metade do território de Pernambuco, que faz a parte... que contorna todo o Rio São Francisco. Alagoas, para quem não sabe, era do estado de Pernambuco e perdeu para que Frei Caneca fosse punido e outros revolucionários.
O que nós fizemos aqui hoje no estado de Pernambuco, foi um ato de afronta àqueles que a vida inteira resolveram dizer que o povo pobre, que o povo trabalhador, que o povo que está desalentado, não tem perspectiva de vida. Eu vim aqui dizer ao Brasil, através dos ouvidos abertos do povo de Pernambuco: nós voltamos a governar esse país, para mudar a história!
Quem nunca passou fome, não sabe quanta falta faz comer. Quem nunca comeu pão até os sete anos de idade como eu, sabe que falta faz um pedaço de pão. Quem levantava todos os dias de manhã, para comer uma cuia de farinha com café preto (sem mais nada) e sobreviver, tinha que acreditar em Deus. Porque foi Deus que me fez chegar até aqui. Se Deus me fez chegar até aqui, eu não vou desistir antes de cumprir a profecia, de que esse povo tem que comer três vezes por dia.
Esse povo tem que trabalhar. A gente não quer apenas comer três vezes por dia; a gente quer se vestir bem; a gente quer estudar também; a gente quer ter carro; a gente quer ter geladeira; a gente quer viajar; a gente quer tudo aquilo que formos capazes de produzir! Se nós quem produzimos, temos o direito de ter. E é por isso que nós temos que brigar, porque ninguém vai dar de graça para a gente. Eu queria que soubessem que o que anunciamos hoje, é um passo muito importante na melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro, e sobretudo, na qualidade de vida do povo que costuma trabalhar na agricultura. Será uma coisa extraordinária!
Não será amanhã, nem depois de amanhã. Isso leva um tempo, como disse o Jaime Amorim: sempre vai demorar um pouco. Mas é como plantar um pé de jabuticaba: plante; jogue água; e espere, que um dia a jabuticaba vai nascer. Nós já fizemos isso uma vez, e agora vamos fazer com muito mais competência, disposição e rapidez.
Por isso, companheira e companheiro, governadora, companheiro prefeito, deputados, senadores, colaboradores e povo de Pernambuco, eu virei muitas vezes aqui porque embora eu goste dos 27 estados da Federação, eu tenho uma preferência "sanguínea" pelo estado de Pernambuco. Eu tenho uma coisa muito especial por esse estado, por isso eu virei muitas vezes aqui. A única coisa que eu quero dizer para vocês é o seguinte: agora falando, pausadamente... eu quando cheguei aqui, tinha uns companheiros, com muita razão, da área da saúde, discutindo a questão do piso salarial da enfermagem. É importante apenas que a gente esclareça as pessoas, o que está acontecendo. Porque senão, a gente pensa que está fazendo o bem, e não está.
Vejam, quando foi aprovado o piso da enfermagem, com o qual eu já disse antes, e estou dizendo agora, e vou dizer amanhã: eu concordo. Quando foi aprovado o piso, os empresários do setor privado da saúde entraram com uma ação no Superior Tribunal Federal. Entraram com o argumento de que não podiam pagar. Eu acho que eles podem pagar. Mas eles entraram com argumento dizendo que não podem pagar. E tem uma ação, que está na mão do ministro Barroso. O presidente da República não pode atropelar a decisão. Quem fazia isso, era o boquirroto do Bolsonaro, que ficava xingando a Suprema Corte todos os dias. Não! Eu quero respeitar a decisão. O que quero dizer a vocês é: primeiro, a rede hospitalar privada pode pagar. Quem é que tem dificuldade de pagar? Quem trabalha na saúde é que sabe, as Santas Casas. Mas, para as Santas Casas desse país, não atrapalhar a pagar o piso, a gente vai tomar a decisão de dar um subsídio, para financiar o pagamento, ou uma parte do pagamento das Santas Casas. A única coisa que eu não posso, é tomar uma decisão com o processo da Suprema Corte.
Então, hoje, o nosso ministro do chefe da Casa Civil, o nosso ex-governador da Bahia, foi ao gabinete do ministro Barroso, tentar conversar com ele, para ver se ele tomava logo a decisão, para liberar o governo de tomar a decisão. E eu quero que vocês saibam o seguinte: eu acho que para uma pessoa que estuda Medicina, para uma enfermeira padrão, para uma enfermeira comum, que fica trabalhando, às vezes, 24 por 12 ou 24 por 24; sabe, ganhar R$ 2.500, R$ 3.500, R$ 4.000 não é muito; é pouco! E por isso, nós temos que dar um piso. Mas, é importante apenas esperar que a gente cumpra o rito legal. Que a gente não pode atropelar. Qualquer um de vocês pode sair da rua gritando para atropelar. Mas eu, o presidente da República, eleito por vocês, não posso atropelar. Eu tenho que esperar. Mas, fique certo que vão receber o piso. Fiquem certo! É apenas cumprir aquilo que está nas regras constitucionais — gostou? Regras constitucionais do nosso país; os advogados aqui atrás ficaram babando, em me ver falar regras constitucionais. A gente vai resolver esse problema, como qualquer outro problema. Vocês sabem qual é o meu nome quando era pequeno? Solução.
Então é o seguinte: eu gosto mesmo é de ter problema. Porque se não tiver problema, a gente não consegue resolver nada. E eu gosto do problema para resolver. E eu quero dizer a vocês: “ vocês tiveram a coragem de me eleger em outubro, tiveram a coragem de ficar 580 dias, gritando bom dia, boa tarde, boa noite Lula; tiveram a coragem de virem a muitos comícios, carreatas e passeatas que eu fiz. Agora, vocês "paguem o pato", porque eu vou consertar esse país e vou consertar a vida do povo brasileiro, e vou ajudar a consertar o estado de Pernambuco.
Um abraço e até a nossa vitória total, se Deus quiser. Um beijo no coração, de quem vaiou e de quem aplaudiu.