Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na despedida da China após agenda bilateral
Bom dia e desculpas por eu não ter conversado com vocês, porque não foi possível. A agenda foi muito intensa e quando sobrou uma hora eu estava o pozinho da rabiola e não ia dar entrevista, sabe, totalmente desconectado com a minha beleza, então...
Olha, eu penso que uma coisa importante está acontecendo na relação Brasil-China. É que a gente tá ultrapassando aquela fase das commodities e a gente está entrando em outras necessidades. A gente está entrando na questão digital, nós temos muito a aprender com os chineses, a gente está entrando na questão da cultura. É preciso que a gente aprenda, e os chineses também, de que é necessário ter mais chineses nas universidades brasileiras e mais brasileiros nas universidades chinesas. É preciso que a nas gentes discuta a questão da transição energética, porque o Brasil é um país que tem um potencial extraordinário de energia limpa em todos os aspectos, e que os chineses podem nos ajudar, e não apenas na construção da nova matriz energética, mas as empresas, eles participarem de associação com empresas brasileiras.
Eu acho que um para um país que precisa tanto de ter uma interação na conectividade, na nossa educação, nas nossas escolas e nós temos o compromisso de tentar levar internet banda larga para todas as escolas públicas brasileiras, por todo o território. Nós vamos ter que construir parcerias com empresas chinesas para que isso possa acontecer. Eu saio satisfeito porque eu sinto e senti uma extrema vontade do presidente Xi Jinping e dos ministros, sabe, dessa interação com o Brasil.
A nossa relação estratégica eu acho que ela vai se aperfeiçoando cada vez mais. E nós não precisamos romper e brigar com ninguém para que a gente melhore. O Brasil tem que procurar os seus interesses. O Brasil tem que ir atrás daquilo que ele necessita e o Brasil tem que fazer acordos possíveis com todos os países. Nós não temos escolhas políticas, escolhas ideológicas, nós temos uma escolha de interesse nacional. O interesse do povo brasileiro, o interesse da indústria nacional, o interesse da nossa soberania e, portanto, eu saio daqui satisfeito. Ainda vou ter que passar em Abu Dhabi. Vamos ter que assinar um acordo importante para o Brasil de investimento no Brasil e no domingo à noite estaremos todos juntos no Brasil.
Jornalista: Houve algum avanço no assunto Ucrânia, presidente? Algum passo adiante?
Presidente: Deixa eu te dizer uma coisa: eu tenho uma tese - que eu já defendi ela com o Macron, com o Olaf Scholz, na Alemanha, com o Biden - e ontem discutimos longamente com o Xi Jinping.
Ou seja, é preciso que se constitua um grupo de países dispostos a encontrar um jeito de fazer a paz. Ou seja, eu conversei isso com os europeus, conversei isso com os americanos e conversei ontem. Ou seja, quem é que não está na guerra que pode ajudar a acabar com essa guerra? Somente quem não está defendendo a guerra é que pode criar uma comissão de países e discutir o fim dessa guerra. É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Rússia, é preciso ter paciência para conversar com o presidente da Ucrânia, mas é preciso, sobretudo, convencer os países que estão fornecendo armas, incentivando a guerra, pararem. Porque eu acho que quando se começa uma briga – a gente fala em guerra, mas poderia ser uma briga de rua, poderia ser uma greve – ou seja, é preciso começar e saber como parar. E muitas vezes a gente não acho sabe como que parar. E eu acho que nós estamos em uma situação em que acho que os dois países estão com dificuldade de tomar decisões. Se os dois países estão com problemas de tomar decisões, eu acho que é preciso que terceiros países, que mantenham boas relações com os dois, criarem as condições de termos paz no mundo. Nós não precisamos de guerra. E eu acho que isso foi possível nesta conversa de a gente se aproximar. Eu acho que a China tem um papel muito importante, eu continuo reiterando que a China possivelmente tem o papel mais importante. Agora, outro país importante é os Estados Unidos. Ou seja, é preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz, para a gente poder convencer o Putin e o Zelensky de que a paz interessa a todo o mundo e que a guerra só está interessando, por enquanto, aos dois. Eu acho que é possível. Não é uma coisa fácil. Vocês sabem que um briga entre família é muito difícil, quando ela começa a gente não sabe como ela termina, e uma guerra é a mesma coisa.
Sabe, é preciso agora paciência. É preciso encontrar no mundo países que estejam dispostos. O Brasil está disposto, a China está disposta. Eu acho que nós temos que procurar outros aliados e negociar com as pessoas que podem ajudar as partes. Neste instante eu acho que é preciso que a União Europeia e os Estados Unidos terem boa vontade, o Putin ter boa vontade, o Zelensky ter boa vontade pra gente poder voltar a ter paz no mundo.
Jornalista: O senhor espera uma reação negativa do governo americano com essa reativação da parceria com a China em todos os níveis?
Presidente: Não, não acredito e não há nenhuma razão para isso. Ou seja, quando eu vou conversar com os Estados Unidos, eu não fico preocupado com o que é que a China vai pensar da minha conversa com os Estados Unidos. Estou conversando sobre os interesses soberanos do meu país. Quando eu venho conversar com a China, eu também não estou preocupado com o que os Estados Unidos estão pensando. Eu estou conversando sobre os interesses soberanos do Brasil. É assim que fazem os Estados Unidos, é assim que faz a China, é assim que fazem todos os países, cada um negocia em defesa da sua soberania da melhoria de vida de seu povo. Foi isso o que eu vim fazer aqui. Saio daqui muito satisfeito, muito satisfeito, e tenho certeza que a nossa relação com a China não é, necessariamente, capaz de criar nenhum arranhão com os Estados Unidos.
Eu fui visitar a Huawei porque eu tenho necessidade de fazer uma revolução digital no nosso país. Nosso país está muito atrasado. E eu acho que não é correto a gente não dá ao povo brasileiro a mesma oportunidade que outros países já têm.
Jornalista: Meio ambiente. Brasil e China parece que estão de lados opostos. O senhor acha que consegue convencer os chineses a comprar o carbono brasileiro?
Presidente: Não, nós não estamos de lados opostos. Eu acho que em algum momento a gente podia ter estado de lados opostos. Agora, eu acho que há uma conjugação de interesses para todo mundo compreender que o planeta é um só, todos nós aqui estamos dentro do barco e, se ele afundar, não escapa ninguém. Então os chineses têm responsabilidade com a questão ambiental, o Brasil tem responsabilidade, o mundo tem responsabilidade. O mundo industrializado precisa cumprir com a sua tarefa. Não é só oferecer dinheiro para os países pobres. Às vezes, dinheiro que não aparece. Ou seja, às vezes tem muito discurso de dinheiro e pouco dinheiro aparece. É preciso que todos – do mais industrializado ao menos industrializado – a gente tenha preocupação com o cuidado com o planeta.