Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de lançamento da Lei Paulo Gustavo
Tem no Brasil muita gente...
Essa mulher, ela representa um pouco daquilo que passa o povo brasileiro. Este país tinha dado um salto de qualidade. Este país tinha se transformado no país mais alegre do mundo! Este país tinha sido transformado no país mais otimista do mundo. Este país tinha gerado, em 13 anos, 22 milhões de empregos com carteira profissional assinada. Este país tinha aumentado o salário mínimo em 74%. Este país tinha feito a maior revolução educacional, de investimento em ciência e tecnologia, em universidade e no próprio Ensino Fundamental e Escola Técnica. Este país chegou a ser a sexta economia do mundo. Mas me parece que o destino nos jogou uma praga de gafanhoto. Em apenas quatro anos destruíram tudo o que nós fizemos. Este país gerou mulheres como esta — desesperada.
E são 33 milhões de pessoas que voltaram a passar fome neste país, além de outros milhões que estão a exigir mais calorias e proteínas para ter uma alimentação suficiente. Eu quero dizer para vocês que essa foi a razão pela qual eu voltei a me candidatar e voltei a ser presidente da República. Voltei para gente fazer mais, e melhor. Para a gente tentar mostrar ao mundo que este país não nasceu para ter uma parte dele miserável; que este país não nasceu para ter uma parte da sua população analfabeta; que este país, que é o terceiro produtor de alimento do mundo, não pode ver criança morrer de subnutrição. Este país, que é o maior produtor de proteína animal do mundo, tem 223 milhões de cabeças de gado, tem mais gado que população. Este país não pode assistir uma mulher no açougue, na fila do osso, porque não tem dinheiro para comprar 100 gramas de carne.
Este país vai mudar e é por isso que eu estou aqui. E para ele mudar a gente precisa entender que o assassinato que eles fizeram com a cultura é porque a cultura, ela pode ajudar o povo a fazer a revolução que precisa fazer nesse país, para que o povo possa trabalhar, comer. A cultura pode fazer com que a gente exija o cumprimento da Constituição brasileira. Está tudo lá, Otto [Alencar], está tudo na Constituição. O que o povo tem direito? O povo tem direito a morar; o povo tem direito a trabalhar; o povo tem direito a comer; o povo tem direito a estudar; o povo tem que ter direito à saúde, à transporte de qualidade, está tudo na Constituição! E a revolução que nós precisamos fazer é a fazer cumprir a Constituição brasileira.
As pessoas mais ricas têm que entender: nós não temos nada contra a riqueza deles. Mas nós temos muito contra a pobreza de milhões. Por isso é preciso aprender a distribuir mais razoavelmente, de forma equitativa, a riqueza deste país — e nós vamos fazer isso.
Eu só tenho 1.200 dias, acho que até menos de 1.200 dias para governar esse país. E é nesse pouco tempo que a gente vai ter que transformar esse país. E pode ter certeza, vocês, companheiros da Bahia, que já me deram três senadores para me apoiar, que me deram Jaques Wagner como líder do governo no Senado; que me deram Rui Costa como ministro da Casa Civil; que me deram a Margareth Menezes como ministra da Cultura; e que me deram a quantidade de votos que vocês me deram. Podem ficar certos que vocês não vão reclamar do resultado das coisas que nós vamos fazer. Podem ficar certos: eu estou falando, olhando na cara de cada um de vocês, porque nós temos que ter um compromisso com o povo pobre deste país. E por isso, por isso eu estou aqui.
Vocês que levantaram pauta de reivindicação — não tenho problema. Este governo permite que vocês critiquem; este governo permite que vocês sejam contra; este governo permite que vocês não concordem. Isto é democracia! Se vocês tão querendo 2% de cultura, o nosso governador vai ter que trabalhar para que a gente possa investir mais em cultura. Se vocês estão precisando de mais cultura, nós vamos ter que, no Governo Federal, colocar mais dinheiro para a cultura.
Os ignorantes deste país precisam aprender que cultura não é gasto; que cultura não é pornografia; que a cultura não é uma coisa menor. Cultura é o jeito da gente falar; é o jeito da gente comer; é o jeito da gente dançar; é o jeito da gente andar; é o jeito da gente cantar; é o jeito da gente pintar; é o jeito da gente fazer aquilo que a gente sabe fazer. E cultura significa emprego, cultura significa milhões de oportunidades para gente que precisa comer e tomar café, almoçar e jantar. Portanto os ignorantes, fiquem sabendo, a cultura voltou nas mãos de uma mulher negra da Bahia, para fazer a revolução cultural necessária.
Bem, companheiros e companheiras, eu ia ler um discurso, mas acabou. Eu não vou ler mais o meu discurso.
Companheiros e companheiras da Bahia; companheiros ministros que vieram comigo; ministras; eu tenho que fazer justiça a algumas pessoas. O companheiro Paulo Pimenta é ministro da Secom (da Secretaria de Comunicação do Governo). Eu estava cansado de lançar programa de governo lá dentro do Palácio. Com a mesma cara, quase que as mesmas pessoas. A gente lança um programa por semana. E eu falei: é preciso que a gente garanta ao povo que cada lançamento de um programa nosso tem que ser um evento; tem que ser um evento. E eu quero, Paulo Pimenta, dar os parabéns, porque o primeiro teste seu foi um evento extraordinário da cultura baiana, para que as pessoas possam saber o quê que a Bahia tem, o quê que a Bahia tem.
A segunda coisa, eu sou honesto de agradecer aos senadores que votaram essa Lei. Ao companheiro Paulo Rocha, que não é mais senador, mas que foi o autor da Lei. Ao companheiro José Guimarães que, na Câmara dos Deputados, foi o relator desta Lei. E só na Bahia, companheiro Jerônimo [Rodrigues], só a Bahia da Lei Paulo Gustavo, virá para a Bahia R$ 286 milhões — se você for esperto, e for mais a Brasília, e bater mais na minha porta, quem sabe possa vir um pouco mais, quem sabe.
A segunda coisa que eu queria falar para vocês é que nós temos que refazer grande parte das coisas que nós tínhamos feito. Temos que refazer. É como se tivesse passado um furacão neste país e tivesse destruído. Ou seja, só para gente ter ideia da desgraça que esse país foi submetido, dos 700 milhões de brasileiros que morreram da Covid, 300 milhões morreram por culpa de um governo negacionista, que não têm a menor sensibilidade de respeitar a ciência, a medicina e respeitar o povo, que precisava tomar a tomar vacina.
A segunda coisa é que a ciência (e tecnologia) foi jogada no lixo. As universidades, eu tive reunião com os reitores, o reitor não tinha mais dinheiro para cortar a grama na porta da universidade. As escolas técnicas, só para vocês terem [ideia], nós temos 4 mil obras na área da educação para gente fazer, obras que vêm desde o meu governo e do governo Dilma — 4 mil obras. Amanhã eu vou no Ceará dar o início na recuperação de 1.700 creches, que estavam contratadas no nosso governo e que eles não fizeram. Tem outros milhões, tem milhões de universidades (ou melhor, milhares) de lugares que eles deixaram obra. São 14 mil obras! 14. Vocês podem chegar, eu poderia perguntar para o Rui Costa, que foi o governador: que obra foi feita aqui no estado pelo Governo Federal? Zero. Quanto investimento na educação? Quanto investimento na cultura? Quanto investimento na saúde? A gente não encontra, a gente não encontra.
Entretanto, tem muita gente negacionista solta nessa rua, nesse país, em cada estado. E nós precisamos saber que nós temos que derrotá-los, não agindo da forma que eles agem, não agindo... enquanto eles pregam o ódio, a gente vai pregar o amor; enquanto eles pregam a discórdia, a gente vai pegar a concórdia; enquanto eles pregam as provocações, nós vamos pregar a solidariedade.
E é por isso que nós viemos lançar o Plano Plurianual, junto com o Márcio [Macêdo] e com a Simone Tebet. Esse Plano Plurianual é a primeira vez na história que o povo vai ajudar a elaborar o Orçamento da República. Vocês podem contribuir por uma plataforma digital, que foi criada, vocês podem dizer aonde o Governo Federal pode gastar o seu dinheiro. A gente não vai conseguir aprovar no Congresso Nacional mas, se vocês quiserem mais dinheiro para a cultura, vocês coloquem lá na proposta de vocês: mais dinheiro para a cultura. Se vocês quiserem mais saúde, mais educação, mais transporte, coloquem o que vocês quiserem, a gente não tem certeza de aprovar. Mas é a primeira vez, na história do Brasil, que o Congresso Nacional vai receber uma proposta do governo que não é "só do governo". É a proposta do povo brasileiro e a gente espera que eles tenham sensibilidade para aprovar.
E eu fiz questão de vir aqui, porque nós fomos lançar a Lei Aldir Blanc, no Rio de Janeiro. E confesso a vocês que eu não estava bem de saúde. Eu estava mal, a Janja dizia: "você está mal"; e eu dizia: estou bem. Aí, quando chegou lá em São Paulo, ela falou: "não, nós não vamos para casa, nós vamos para o hospital". Chegou no hospital, eu estava com começo de pneumonia. Digo sempre: eu tenho 77 anos, tenho energia de 30 e tenho o tesão (de vontade de brigar por esse país) de 20 anos. Eu, depois, vou fazer uma consulta com o Otto; estou com um problema na cabeça do fêmur e você é ortopedista, você sabe disso. Você sabe que você vai ter que me curar — porque eu sou bom de bola, não posso jogar mais por causa dessa dor que eu estou aqui. Eu tomo injeção já, não resolve, é você que vai me curar, Otto. Eu quero ver a sua experiência, porque o Otto é um ortopedista do tempo que trabalhava com serra, para cortar a perna das pessoas. Então o Otto vai me curar.
Mas tenho 1.200 dias que, eu quero que vocês saibam, a gente vai fazer o possível e o impossível para que a gente conserte este país. Quero ver o sorriso na cara de vocês; eu quero ver a esperança na cara de vocês; eu quero ver vocês olharem para os filhos de vocês e falarem: meus filhos, vocês vão viver em um mundo melhor do que eu estou vivendo, vocês vão ter mais qualidade de vida, mais qualidade de emprego, mais qualidade de educação, vocês vão ter as coisas que todo mundo tem direito de ter. Eu estou cansado de ver 900 milhões de seres humanos, todo dia, vão dormir no mundo, com fome, porque não têm dinheiro para comprar alimento. Enquanto isso, dez pessoas sozinhas, têm mais dinheiro que 50% da humanidade. Nós não podemos deixar isso barato, e eu estou tentando transformar uma coisa em uma coisa popular, que eu quero que vocês saibam: a safadeza que fizeram neste país... Queria pedir à Margareth Menezes autorização para sair um pouco da cultura e fazer uma denúncia aqui, uma denúncia que eu quero que vocês saibam.
Tem gente que não gosta que eu faça — "Ah! O Lula tá radical, no tom radical". Estou mais calmo do que a minha mãe estava quando me pegou no colo e viu que baianinho bonito que ela gerou. Tô calmo.
Mas é o seguinte: nós entramos na Justiça. Aliás, por orientação do Rui Costa, entramos na Justiça para podermos readquirir o direito de termos importância política na administração da Eletrobras. A Eletrobras foi privatizada, mas o governo brasileiro tem 43% das ações... 43%. Sabe quanto nós representamos com 40%? Nós temos direito de um voto, com 43%. Nós só valemos 8,75%, ou seja, nós estamos brigando para que o governo brasileiro tenha, no Conselho, a representação dos 43% — 43 valem 43, e não 8%.
A segunda coisa importante é que, na privatização, foi feita uma "bandidagem", que deve ser um crime de lesa-pátria. Eles venderam a Eletrobras e, lá no contrato, está dizendo: se o governo brasileiro tentar comprar de volta a Eletrobras, a gente tem que pagar três vezes o preço que o privado ofereceu. Ou seja, se o privado ofereceu 30 bilhões, nós temos que comprar por 90. Se ele ofereceu 100 bilhões, a gente tem que comprar por 300. Ou seja, o próprio governo fez uma lei prejudicando o governo e nós vamos apurar, nós vamos abrir processo, e nós vamos tentar provar a corrupção que houve neste país, para que o povo brasileiro saiba quem é que praticou corrução nesse país!
Agora mesmo, acabaram de descobrir uma casa, uma casa de US$ 8 milhões do ajudante de ordem do Bolsonaro. Certamente, uma casa de 8 milhões de dólares não é para o ajudante de ordem; certamente, é para o paladino da discórdia; o paladino da ignorância; o paladino do negacionismo.
E, por isso, é que a gente vai consertar esse país. E eu já falei com o companheiro Jerônimo: se prepare, que nós vamos fazer essa ponte Salvador-Itaparica ser construída; se prepare, porque vai vir muita automobilística para o lugar da Ford, aqui na Bahia. E se preparem, porque vocês, daqui da Bahia, construíram uma geração de governantes que é exemplo para este país. Vocês pensam que é fácil? Nenhum cientista político da Bahia acreditava que a gente tinha ganhado do Paulo Souto, em 2008 (2010), quando o Wagner ganhou, no primeiro turno. Ninguém imaginava que ele fosse ser reeleito, ele foi; ninguém imaginava que ele elegeu o Rui, elegeu; ninguém imaginava que o Rui ia se reeleger, se reelegeu; ninguém imaginava que o Jerônimo ia ser eleito, se elegeu.
E, por isso, posso dizer para vocês: a boa governança da Bahia vai continuar, porque o Jerônimo tem obrigação de trabalhar mais que o Rui, mais que Wagner, para fazer melhor; e aquilo que ele não puder fazer, o Lulinha vem aqui, para lhe ajudar a fazer o que precisa ser feito.
Gente, um beijo no coração de cada um de vocês; um beijo Margareth, minha querida ministra da Cultura; um beijo aos deputados da Bahia, aos senadores e, amanhã de manhã, estou indo para o Ceará. Mas, logo, logo, voltarei à Bahia, porque tem que inaugurar escola de tempo integral aqui na Bahia.
Um beijo gente, um beijo no coração de todos vocês.