Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da feira Bahia Farm Show
TRANSMISSÃO | Abertura da feira internacional de tecnologia agrícola e de negócios
Esse chapéu, aqui, foi um companheiro da Bahia, que foi ontem me visitar no gabinete. Ele é o famoso Dudu, ele é o companheiro secretário de Meio Ambiente da Bahia, e foi no meu gabinete me entregar esse boné para que eu pudesse utilizar hoje. Então, peço para o Banco do Brasil me desculpar, mas eu não poderia deixar de fazer a propaganda da Bahia aqui.
Eu quero, primeiro, cumprimentar o meu companheiro Jerônimo Rodrigues, Governador do Estado da Bahia. A companheira Janja ficou de fazer uma reunião com as mulheres lá trás, eu mandei buscar, mas eu não a encontrei. Espero que ela não tenha fugido de mim.
Quero cumprimentar o companheiro Rui Costa; Renan Filho, ministro dos Transportes; Carlos Fávaro, da Agricultura; Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia; Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; André de Paula, da Pesca e Aquicultura; e o meu querido e amigo, sempre, Otto Alencar, senador da Bahia, que muito nos orgulha. Quero cumprimentar os deputados federais que nos ajudam muito na Bahia, a companheira Lídice da Mata, que era vice-líder do governo no Congresso Nacional; o companheiro Antonio Brito, que é do PSD, um dos companheiros que mais nos ajuda na Bahia; o companheiro Neto Carletto, também do PP, que nos ajuda muito na Bahia; o Túlio Gadêlha, que é um deputado da Rede, que é pernambucano e que nos ajuda muito; e o companheiro Zé Neto do PT, da Bahia. O Zé Neto é de Feira de Santana, se não me falha a memória.
Quero cumprimentar a companheira Tarciana Medeiros, presidenta do Banco do Brasil; a Silvia Maria, presidente da Embrapa; e o Alexandre Abreu, diretor do BNDES.
Companheiros e companheiras,
Eu queria antes contar uma pequena história pra vocês da Bahia. A Bahia é uma região que tem algo diferente do que existe em outros estados. A gente começa, companheiro Jerônimo e companheiro Rui Costa, cometendo um equívoco histórico que não foi oficializado.
O Dom Pedro decretou a Independência no dia 27 de abril de 1822. Diz os livros de história que foi no Riacho Ipiranga, lá no Bairro do Ipiranga, mas a verdade é que a independência brasileira aconteceu aqui, na Bahia, no 2 de julho, quando os baianos definiram a expulsão dos companheiros, que são os companheiros portugueses que estavam aqui.
Eu só esqueci de dizer o nome do companheiro Odacil, porque está na página secundária aqui. Odacil eu quero agradecer a você e aos companheiros da direção da feira pela honra de ter sido convidado, junto com o meu ministro da Agricultura, para passar esse encontro aqui.
Outra coisa importante na Bahia é que eu acho que em alguma encarnação eu nasci na Bahia. Porque o carinho que o povo baiano tem comigo e o carinho que eu tenho pelo povo baiano, é uma coisa que transcende, transcende aquilo que a ciência explica, a questão da química.
E eu lembro que essa Bahia, aqui, que se dependesse da Bahia eu seria presidente desde 1989. E a Bahia é muito diferente. Em 2006, o Jaques Wagner era meu ministro do Trabalho e de repente ele me procura e fala que quer ser candidato a governador. Aí eu falei: "Ô galego, você quer ser candidato a governador? Você vai disputar as eleições contra a turma do ACM? Você não tem a menor chance? A menor chance?”. Mas eu vou, e eu vou ganhar e deixou o ministério do Trabalho contra a minha vontade. E foi ser candidato a governador da Bahia.
E não é que o Galego ganhou as eleições no primeiro turno!! Depois, ele repetiu sendo reeleito no primeiro turno. Depois, ele inventou o Rui Costa, ganhou no primeiro turno. O Rui Costa se reelegeu, e depois pegaram o Jerônimo, que tinha apenas 3% de votos, o outro tinha 67% dos votos, o adversário tinha 67% de votos e ele tinha 3%, e não é que eles conseguiram eleger o Jerônimo outra vez. Em poucos estados do Brasil aconteceu isso. E eu tô dizendo isso porque o Brasil tá com a confusão política que a gente não conhecia, até então.
Ou seja, normalmente você disputava uma eleição, aqui, muitos de vocês já disputaram eleição, o prefeito já disputou a eleição, tinha um resultado eleitoral, você ia para casa chorar a tua derrota, como diria o Brizola: você ia lamber as suas feridas e esperar outra eleição. Foi assim que eu perdi do Fernando Henrique Cardoso duas vezes, foi assim que eu perdi do Collor, e, depois, nós começamos a ganhar. Só que as pessoas que perdem pra nós não se conformam, não querem aceitar o resultado das eleições.
E a gente não estava acostumado ao ódio. A gente não estava. Eu não conheço na história do Brasil brigas em bar porque fulano votou em beltrano e outro votou em sicrano, nunca vi briga no bar. Nunca ninguém me disse: "olha, um cara de tal partido político foi jantar num bar, encontrou o cara de outro partido, se agarram no tapa", ou “o pai deixou de conversar com o filho porque o filho votava em tal partido e ele votada em tal partido”. Isso não acontecia no Brasil, nunca aconteceu na Bahia.
E, agora nós temos um ódio disseminado, baseado numa quantidade de mentira que eu não conhecia, uma máquina de contar mentira como a que está implantada neste país em que tudo é feito com deboche, sem nenhum respeito à verdade, e eu, então, que não precisava mais voltar a ser candidato a presidente da República, porque eu já tinha sido duas vezes e já tinha sido considerado o melhor presidente desse país, eu poderia ficar na minha casa tranquilo, casadinho de novo, eu poderia estar bem tranquilo, eu resolvi me candidatar às eleições. Eu resolvi meus companheiros do agronegócio responsáveis por essa feira, companheiros da agricultura familiar, companheiros convidados para vir aqui. Eu resolvi disputar as eleições, primeiro, porque quando eu deixei a Presidência, o Brasil era a sexta economia do mundo, hoje o Brasil é a 13a economia do mundo. Quando eu deixei a Presidência, eu tinha a noção do que tinha acontecido nesse país e eu tenho noção do retrocesso que esse país sofreu nos últimos anos.
Quem é do agronegócio sabe quanto foi o Plano Safra no ano passado. Talvez o pior Plano Safra de toda a história do agronegócio. Quem é da agricultura sabe o que aconteceu. No tempo em que o PT governava esse país, vocês compravam uma dessas máquinas, que parecem uma coisa do outro mundo, sabe, pagando 2% de juros ao ano. Hoje, vocês estão pagando 18%, 19% ao ano. Tá praticamente impossível as pessoas comprarem. E nós entendemos que é obrigação do Estado criar as condições de ajudar, porque dizer: eu não preciso do governo” é mentira. Todo mundo precisa do governo, o pequeno precisa, grande precisa e médio precisa. Todo mundo precisa do governo. Se não é o Estado colocar dinheiro, muitas vezes o agronegócio não estaria do tamanho que tá para financiar as máquinas, para financiar safra, para garantir as exportações.
Essa semana, mesmo, o Fávaro me liga. Nós estamos com 70 mil toneladas de carne parada dentro de contêiner nos portos da China, porque foi mandada equivocada, foi mandada pra lá fora de data. Fora de data.
O coitado do Fávaro conversou com o ministro de agricultura da China, falou que não dá pra fazer nada porque fizemos um acordo, e que de tal data pra trás não pode mais exportar. Mas, alguém exportou. Errado ou não, nós temos o mar, o Oceano Atlântico, cheio de contêiner brasileiro com carne.
Eu precisei pegar o telefone, ligar para o presidente Xi Jinping. Eu não quero saber se o cara que tem o contêiner votou no Lula, não votou no Lula, se anulou voto, eu quero saber se ele é brasileiro que está exportando um produto brasileiro e que ele tem o direito de ganhar o dinheiro pelo produto que ele produziu. Peguei o telefone, liguei pro Xi Jinping, ontem o Alckmin falou com o vice presidente, e se Deus quiser, Fávaro, essas pessoas vão poder receber o dinheiro que merecem. E não precisa nem me falar obrigado. É só continuar produzindo pra poder baratear o preço da carne, porque o povo tá querendo comer picanha, o povo tá querendo comer a picanha.
Agora, eu vou apresentar a Janja pra vocês. Ela tem que ficar de óculos escuro por causa da luz.
Bem, uma outra coisa importante, companheiros do agronegócio, e companheiro Fávaro, é que de vez em quando se inventa uma discussão que não tem pé nem cabeça, de que as pessoas que defendem a industrialização do país dizem assim: "nós não queremos ser exportador de commodities, nós queremos exportar produtos manufaturados porque a indústria paga um salário melhor. Só a commodity não interessa.” Ora, mas não tem nada de rivalidade em exportar produto manufaturado e exportar commodities. As pessoas que pensam assim deveriam imaginar quanto de tecnologia existe no grão de soja hoje, quanto de genética existe na criação de um frango, de um porco, de um boi, que antigamente levava 48 meses para matar e hoje você mata com 15 meses; um frango que você levava 90 dias e hoje você mata com 35 dias. E é bobagem dizer que a soja não é alimento, porque a galinha que a gente come é soja, o porco que a gente come tem soja, o porco que a gente come tem milho, a galinha que a gente come tem milho, o peru que a gente come no Natal tem milho e tem soja. Então, é bobagem ficar discutindo o que não precisa ser discutido.
É como se um palmeirense tentasse convencer um corinthiano de que o Palmeiras é melhor. Não é. Ou, como se um flamenguista tentasse convencer que o Flamengo é melhor do que o Vasco, apesar de ter ganhado de 4 x 1, não é melhor. Quem é vascaíno acha o Vasco melhor, quem é flamenguista acha Flamengo melhor. E, assim é. O Brasil precisa dos dois. O Brasil precisa da agricultura e o Brasil precisa da indústria.
A outra polêmica, que eu acho maluca, é o pequeno proprietário e o agronegócio. Olha, são duas coisas totalmente necessárias ao País. Não há rivalidade, não há porque o preconceito do grande contra o pequeno ou do pequeno contra o grande. Ora, o Brasil precisa dos dois, porque os dois ajudam o Brasil. Nós temos 4 milhões e 600 mil propriedades com menos de 100 hectares. Essa gente cria porco, cria galinha, cria pequeno rebanho de vaca leiteira, planta soja, planta milho, planta soja, também, sabe, cria peixe. Essa gente produz parte do alimento que consumimos, então nós precisamos dele.
O Fávaro, que é criador de gado e churrasqueiro de boa qualidade, foi sexta-feira assar um churrasco lá em casa. Eu nunca tinha comido um churrasco tão bom, e ele levou a carne, isso que foi bom. Não fui comprar a carne.
Mas veja, a verdade é que nós precisamos dos dois, uma complementa a outra. O Fávaro quando quer comer galinha caipira, ele não vai criar galinha junto com as vacas dele, ele vai no pequeno produtor comprar a galinha, o ovinho caipira com a gema bem amarelinha. É isso que acontece no Brasil, e é por isso que precisamos valorizar os dois.
Quando a agricultura vai bem, a indústria de máquina vai bem. Quando nós criamos o Mais Alimentos, em 2008, só de trator de 80 cavalos nós vendemos 80 mil, nós salvamos a indústria automobilística naquele ano.
Então, pelo amor de Deus, é preciso parar de construir rivalidade aonde ela não existe. A gente não pode dar corda pro discurso ignorante. Ora, por que que eu poderia ser contra um produtor rural que quer terra para trabalhar? Por que eu poderia ser contra um grande produtor que está produzindo e vendendo a sua soja ou fazendo o Brasil voltar a plantar algodão? Coisa que o Brasil tinha deixado de plantar. Deus queira que a gente produza muito mais, que a gente venda muito mais, que a gente exporte muito mais, porque tudo isto é riqueza para esse país.
E nós, companheiros, eu queria que vocês soubessem. Esse moço que foi apresentado, aqui, como ministro dos Transportes, o Renan Filho, em cinco meses, ele já investiu mais dinheiro nas estradas do que o governo passado no ano todo. E vou dizer mais, vou dizer mais: nós vamos investir este ano mais do que eles investiram nos 4 anos. Neste ano vamos investir. Eu poderia perguntar pra qualquer um de vocês: me lembrem e me indiquem uma obra de infraestrutura que foi feita no governo passado? Me diga onde tem uma ponte? Onde tem uma estrada? Onde tem uma ferrovia?
Eu dou um prêmio se alguém me dizer onde é que tem aqui na Bahia. Porque isso não tem em lugar nenhum do Brasil, esse país foi governado na base da mentira e do ódio. Na base de instigar disputa onde não era necessário. E o povo brasileiro não é assim.
Quando eu tomei posse, a primeira coisa que eu fiz foi reunir 27 governadores de Estado. Eu quero que vocês me digam quais as três obras mais importantes que vocês querem pro estado. Aqui na Bahia, eu já sei o problema da fragilidade da energia elétrica, que aqui falta muito. Eu sei que vocês sonham com a estrada, sabe, Luís Eduardo a Barreiras, ela já está sendo projetada e se Deus quiser nós vamos fazer uma PPP para construir. Eu sei do desejo de vocês com a Ferrovia, e se Deus quiser a gente vai acabar. Porque é pra isso que você foi eleito, sabe. Governar é que nem plantar uma árvore. Você planta, tem que regar, só precisa cuidar pra ela crescer.
A segunda coisa que eu fiz foi reunir todos os reitores desse país. Você sabe que presidente não gosta de se reunir com prefeito e nem reitores, porque só vão pedir dinheiro. Reuni todos os reitores das escolas técnicas e das universidades para dizer: "o que vocês querem?", porque as universidades brasileiras estavam à falência. Estavam sem poder investir em pesquisa, laboratórios fechando. E eu falei: pode ficar tranquilo porque não vai faltar dinheiro para a educação, educação é investimento e a gente vai colocar o dinheiro que for necessário.
E eu quero que vocês julguem o nosso governo em dezembro de 2026. Quando terminar, eu quero comparar com qualquer outro presidente da República. Eu tô falando com antecedência, eu não tô esperando marcar o gol pra dizer que o gol foi bonito, não. Eu tô falando com antecedência. Vocês que estão, hoje, assistindo esse encontro aqui, quando chegar dia 30 de dezembro de 2026, eu tô disposto a comparar o que nós fizemos contra todos os governos, inclusive contra o meu governo, porque eu voltei pra fazer mais do que eu fiz da outra vez. E fazer muito mais.
É esse país que a gente vai construir e esse país pra ser construído assim precisa de todos. Joguem o ódio na lata do lixo, coloque o seu coração pra bater, dê um sorriso pro seu vizinho, fale bom dia, fale boa tarde, vá visitar um parceiro seu que tá doente, vá dar um abraço, vá ver se ele precisa de alguma coisa.
É esse mundo que precisamos construir, porque o ser humano nasceu pra viver em comunidade, ele não nasceu pra viver no ódio, pra viver separado, pra viver brigando. Afinal de contas não somos galo de briga. Nós somos seres humanos, a única raça inteligente.
É por isso que quando a gente fala em meio ambiente e da questão do clima, a gente não tá falando contra os produtores que trabalham corretamente e que preservam. As pessoas sabem que não podem destruir os rios, as pessoas sabem que não podem plantar no Pantanal, as pessoas sabem que não podem plantar na Caatinga, as pessoas sabem que não podem plantar na Amazônia. Nenhuma pessoa honesta vai poder derrubar uma floresta para plantar, porque nós temos 30 milhões de terras degradadas que podem ser utilizadas para dobrar nossa produção.
Agora, quem quiser agir como bandido e for desmatar, vai ter que sofrer as penas da lei, porque a gente vai preservar este país. Ah, o cidadão quer cortar um mogno de 300 anos, uma árvore que está com 300 anos na Amazônia, ele quer cortar pra vender pra Itália. Se você quer cortar uma árvore que é de todos, corte a sua. Plante no seu quintal, deixa ela crescer e corte. Mas, as árvores da Amazônia são do povo brasileiro, e quem não é dono não pode fazer madeira dessa árvore. É simples, pergunte pro seu filho.
A meninada vai ter que aprender na escola aula ambiental, paras as crianças chegarem em casa e ensinar pai e mãe a fazer coleta de lixo seletivo, jogar as coisas certas numa lata, para que a gente possa ver este país melhorar, ser respeitado, este país ser levado a sério no mundo.
Por isso companheiros, obrigado pelo convite, boa feira para vocês e muito obrigado pelo carinho de vocês. Um abraço e até a próxima vez.