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Pronunciamento do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião com senadores e deputados
O meu papel aqui é só de agradecimento aos senadores, aos deputados, às senadoras, às deputadas, pelo gesto de vocês terem aprovado a decisão que nós tomamos de intervenção da polícia do DF. Na verdade, somos nós que pagamos a polícia do DF. Há muito tempo a Câmara dos Deputados e o Congresso aprovaram um fundo que faz com que a gente pague a polícia, pague me parece que a educação e não sei se também uma parte da saúde é financiada pelo Governo Federal, para o DF.
Eu, na época, perguntei porque que os outros estados não entraram também pedindo a criação de um fundo para que a União assumisse a responsabilidade do pagamento disso. Mas o bom senso de vocês permitiu que ficasse só aqui em Brasília, porque a gente não teria dinheiro para pagar todo mundo.
Mas eu quero também agradecer ao comportamento da imprensa na cobertura dos fatos. Eu penso que o que aconteceu aqui, eu até não gostaria de pensar em golpe, eu até gostaria de pensar em uma coisa menor, quem sabe, um grupo de pessoas alopradas, que ainda não entenderam que a eleição acabou, que ainda não querem aceitar que a urna eletrônica é possivelmente o modelo eleitoral mais perfeito que a gente tem em todos os países do mundo.
Eu sei porque eu viajo muito e em todos os lugares que a gente conta como funciona o processo eleitoral aqui no Brasil, todo mundo fica com inveja de que a gente pode saber do resultado eleitoral apenas duas horas depois das eleições. E que pouquíssimos momentos da história houve qualquer questionamento ao resultado eleitoral. Eu já participei de muitas eleições e nunca houve nenhum questionamento. Eu perdi a primeira vez para o Fernando Henrique Cardoso, já com o voto eletrônico, eu telefonei reconhecendo a minha derrota. Depois eu perdi a segunda vez, eu telefonei reconhecendo a minha derrota e assim funcionou durante todo o período democrático. Quando eu ganhei do Alckmin ele me ligou também, o Serra me ligou também reconhecendo a derrota. Bom, lamentavelmente, o presidente que deixou o poder dia 31, não quer reconhecer a derrota.
Ainda hoje vi declarações dele não reconhecendo a derrota, ou seja, eu só posso considerar um grupo de aloprados, um grupo de gente, sabe, com pouco senso de ridículo, porque já entraram na justiça e a Justiça já disse qual foi o resultado eleitoral. Já indeferiu o processo deles e ainda condenou o partido que entrou com o questionamento a pagar uma multa grandiosa do fundo partidário. Mesmo assim, tem gente que quando conta a primeira mentira, não consegue mais parar de mentir, porque é preciso justificar a primeira mentira o resto da vida. E é o que está acontecendo nesse país. Vocês viram que depois do que aconteceu no domingo, ontem aconteceu, no domingo à noite mesmo, aconteceu em duas torres de Itaipu, em torres grandes de Itaipu, que foram derrubadas.
Aquilo foi um ato de vandalismo também, um ato de bandido porque os cabos de aço foram cerrados. Significa que propositalmente alguém cortou os cabos das torres, duas torres grandes. Já tinha acontecido no final do ano em Rondônia, torres da Eletronorte que tinham sido derrubadas. Ou seja, obviamente que nós vamos investigar, estamos tentando descobrir. E o que vocês estão fazendo com esse decreto é dizendo "a gente tem que punir quem não quer respeitar a lei". A gente tem que punir quem não quer respeitar a ordem democrática tão dificilmente alcançada por nós a partir da Constituição de 88.
Somente quem viveu a luta, contra o regime militar, somente quem lutou muito pelas diretas e somente quem participou daquela Constituição de 88 sabe o quanto foi primoroso a gente conseguir terminar a Carta do jeito que nós terminamos aquela Carta. Possivelmente o momento mais rico que o Congresso Nacional viveu. Aquele Congresso constituído, o Ulysses Guimarães presidia as duas casas, presidia a Câmara e presidia ao mesmo tempo, a Constituinte. E nós vivemos o momento mais sagrado da conquista da democracia brasileira.
E o gesto de vocês é o seguinte: é garantir que a democracia continue sendo o sistema de funcionamento da política brasileira. Continue sendo a respeitabilidade pelos direitos dos outros. E eu acho que nós vamos manter e eu quero que vocês saibam que não haverá hipótese, qualquer gesto que contrarie a democracia brasileira, será punido dentro daquilo que a lei permite punir. Todo mundo terá direito de se defender, todo mundo terá direito à prova da inocência, mas todo mundo será punido.
E eu quero agradecer a vocês por esse gesto de vocês. Eu sinceramente não gostaria de ter feito uma intervenção. Eu gostaria de ter resolvido isso conversando, mas as pessoas que estavam lá não estavam dispostas sequer a conversar porque eles faziam parte daqueles que estavam praticando vandalismo no Brasil.
Então, meu caro Veneziano, representando o Rodrigo Pacheco, meu caro Arthur Lira, meus companheiros deputados, deputadas, senadores, senadoras, obrigado por esse gesto. Eu posso dizer para vocês que esse gesto só engrandece o parlamento brasileiro. E, pode ficar certo que gestos como esse aumentam a conquista de credibilidade do Poder Legislativo brasileiro, aos olhos da sociedade brasileira.
Obrigado companheiros pela compreensão e pelo apoio de vocês. A todos os líderes do Senado e da Câmara, muito obrigado.