Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em ocasião da visita ao treino da seleção feminina de futebol
Olha, deixa eu só dizer umas duas palavras para vocês.
Primeiro, a desejar que vocês tenham na Austrália a possibilidade de realizar o sonho de vocês, que é ganhar uma Copa do Mundo para o Brasil. A gente já tentou várias vezes, não deu certo, mas a vida é assim: a gente não ganha quando a gente quer, a gente ganha quando a gente está preparado para ganhar.
Eu acho que o futebol brasileiro tem evoluído. Eu estou feliz que o nosso presidente da Confederação tem estabelecido que os times profissionais masculinos da série A, da série B, da série C, têm que ter departamento de futebol feminino. Nós precisamos garantir a prática do esporte das mulheres na mesma proporção e na mesma quantidade que os homens já tiveram na vida. Nas escolas tem que ter espaço para a prática de futebol. A gente não vai praticar o esporte que a professora de educação física quer que vocês pratiquem. Você tem que escolher o que vocês querem praticar e a escola tem que se adaptar à vontade e à necessidade das alunas que querem praticar futebol.
Estou feliz porque o presidente disse que alugou um avião para vocês viajarem segunda-feira às 5h da manhã, no avião fretado. Não é como naquele tempo que cada uma ficava no aeroporto à espera da passagem para chegar à Copa do Mundo. Eu, vocês sabem, que embora eu tenha pouca amizade, eu tenho muito respeito pela técnica de vocês, a nossa querida sueca, que ainda vai aprender a falar português para brigar no vestiário com vocês em português! Não precisa ter intérprete! E estou feliz.
Quando eu escolhi a Ana Moser para ser ministra do Esporte, a primeira coisa que Ana Moser me disse era que era preciso a gente cuidar muito, muito, muito da prática de esporte feminino no Brasil. Aí, por isso, nós estamos aí... vetamos muita coisa na Lei Geral de Esportes. Eu sei que tem problema, nós vamos tentar fazer os acordos necessários.
Segunda-feira eu assino a lei que ainda não vai chegar para as mulheres, ou seja, a lei de salário, “trabalho igual, salário igual” entre mulheres e homens, porque a disparidade é muito grande em todas as atividades humanas e no esporte não preciso nem falar a diferença salarial que existe.
Mas a gente... a gente vai evoluindo. Eu sonho, eu sonho que um dia o futebol feminino possa lotar os estádios como o futebol, sabe, masculino. Eu sonho... É preciso que a gente... é um trabalho de politização da sociedade, é um trabalho de divulgação, é um trabalho de convencimento de que as pessoas... eu tenho a irmã... a mulher de um amigo meu, chamada Ioiô, ela é pernambucana. Ela vai em todo jogo profissional do Corinthians e vê todo o jogo feminino do Corinthians. Ela não perde um.
Nós precisamos convencer a sociedade, sabe, a ir ver o jogo das mulheres, não apenas as mulheres, homens também; porque, eu vou dizer para vocês: eu vejo muito o jogo. Eu acho que tem algumas vezes que os homens precisariam olhar você jogar para eles aprenderem a jogar, sobretudo com a disposição de jogar, com a vontade de jogar, de levar a sério aquilo que você escolheram como profissão.
Então, eu queria que vocês soubessem que eu sou um torcedor, sabe, do crescimento do futebol feminino. Eu espero que, daqui a alguns anos os Estados Unidos fiquem bem atrás de nós. A Alemanha fique bem atrás de nós, a Inglaterra fique bem atrás de nós. O Canadá, e a gente possa repetir no futebol feminino, aquilo que nós já fizemos no futebol masculino. Se bem que faz tempo que a gente não faz nada: 24 anos que a gente está na espera aí.
Portanto, olha, boa sorte. Que Deus abençoe vocês. Se dediquem porque eu acho que vale a pena. Acho que vocês estão ganhando espaço, estão ganhando muito espaço! Eu acho que aos poucos o Brasil inteiro vai reconhecer o futebol feminino, sabe, como uma grande, grande prática esportiva do nosso país.
O vôlei conseguir isso. O vôlei vocês estão lembrados que dos esportes brasileiros, nele a gente teve uma seleção exuberante, por quê? Porque houve investimento. Houve muito investimento e aí nós conseguimos ser campeões do mundo feminino, ser campeões mundiais. Mas às vezes o masculino... às vezes a seleção feminina é melhor que a masculina... E eu acho que no futebol tem que ser assim.
Quem sabe um dia o Corinthians peça para o time feminino representar o time masculino que não está bem das pernas neste instante e a gente possa ser campeão outra vez.
No mais, é isso, Bia, boa sorte, querida. Boa sorte para você – a nossa querida sueca, que se adaptou tão bem ao Brasil.
E presidente, parabéns pelo trabalho. Você sabe que você contará com o governo naquilo que for necessário, para que a gente possa realizar a Copa do Mundo, se a gente decidir que interessante fazer a Copa do Mundo aqui. Porque em 2014 eu fiquei frustrado, porque nós conseguimos trazer a Copa do Mundo aqui no Brasil. E 2013 foi um inferno nesse país. E a Copa do Mundo, ela foi banalizada, porque nem os patrocinadores, sabe, divulgavam a Copa do Mundo, correto. E foi a Copa do Mundo feita num clima muito negativo! Tudo se dizia que tinha corrupção nos estádios, tudo! E não se provou corrupção e nenhum estádio. Já faz 10 anos que rolou a Copa do Mundo e em nenhum estádio foi provado que teve corrupção, mas as denúncias aconteceram.
Dessa vez parece que vai ser mais fácil porque a gente não tem mais que gastar dinheiro para fazer estádio. A verdade é que Brasília nunca pensou ter um estádio dessa envergadura aqui. Vocês que jogam futebol em outros países, sabe que isso aqui é um estádio de primeiríssima qualidade. E a gente tem hoje em quase todos os estados brasileiros – em São Paulo você tem mais que um estádio de qualidade – então a Copa do Mundo não vai trazer muito gasto.
Vai trazer alguns investimentos necessários para melhorar as vias públicas, para facilitar a chegada ao estádio. Portanto, eu acho, presidente, que... trabalhe. Trabalhe, que quem trabalha, conquista, tá?
Boa sorte, meninas, que Deus abençoe vocês.