Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia de inauguração de expansão do HCPA
TRANSMISSÃO | Cerimônia no HCPA
Queridas e queridos companheiros do Hospital das Clínicas; minha querida companheira Janja; meu querido companheiro Olívio Dutra; meu querido companheiro Tarso Genro (ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro do Governo Lula), companheiros ministros que me acompanham nessa viagem: Camilo Santana, da Educação; Nísia Trindade, da Saúde; Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação; Jader Filho, das Cidades; e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação; Gabriel Souza, vice-governador do Estado do Rio Grande do Sul; presidente da Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul, deputado Vilmar Zanchin; deputados federais Maria do Rosário, Bohn Gass, Marcon, Alexandre Lindenmeyer, Reginete Bispo e Fernanda Melchionna.
Por meio dos parlamentares federais quero cumprimentar todos os deputados estaduais porque eu não tenho aqui uma nominata dos deputados estaduais.
Quero cumprimentar o prefeito de Porto Alegre. Quero cumprimentar a nossa querida Nadine (Clausell), diretora-presidenta do hospital; nosso companheiro Edegar Pretto, da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento); Inês Magalhães, da Caixa Econômica; Marilza Vallejo, estudante de medicina que falou aqui e que realmente me emocionou; Clarissa Abdai, paciente que veio aqui nos cumprimentar; querido André, representante dos funcionários. Querido Paim (senador Paulo Paim), bom te ver aqui.
Você sabe que falar por último às vezes é bom, mas outras vezes não é bom quando, antes de você, fala um monte de pessoas que são especialistas no assunto que nós estamos discutindo aqui. Eu e Olívio Dutra, depois do Tarso Genro, nós fomos deputados constituintes.
Vocês, muitos nem tinham nascido quando a gente, quando a gente tinha aprovado o SUS na Constituinte, que foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988. Quando o SUS foi promulgado, a gente estava fazendo uma coisa que nenhum país do mundo, com mais de 100 milhões de habitantes, conseguiu fazer, que foi a tentativa de universalizar a saúde nesse país.
Universalizar é sempre muito complicado, porque significa você dar a todas as pessoas a oportunidade, o direito de ter acesso a uma saúde de qualidade e uma saúde que possa atender as necessidades das pessoas. Isso é muito difícil, porque quando você tem mil pra gastar com dez, a qualidade é boa. Mas, quando você tem o mesmo mil para gastar com mil, significa que a qualidade vai cair. E, para que o SUS desse certo era preciso que houvesse uma consciência pública e privada da importância de criar um Sistema Único de Saúde.
Mas o que aconteceu naquele instante? Muita gente da rede privada de saúde se colocou contra o SUS, e vocês acompanharam quantas décadas o SUS só aparecia nos meios de comunicação de forma pejorativa. Muitas vezes o SUS atendia mil pessoas, mas se uma pessoa não fosse bem atendida, era aquela pessoa que aparecia na imprensa e em todos os jornais e revistas tentando criar uma imagem negativa do SUS. Muita gente que nunca foi no SUS criticava o SUS, porque ouvia dizer que o SUS não prestava, que o SUS não atendia. E quem é mais humilde nesse país, que precisava do SUS sabe; quem já morou nos Estados Unidos, quem já morou em outros países da Europa sabe que não tem em lugar nenhum do mundo um país que tem um plano de saúde com a abrangência que tem o nosso querido SUS.
Precisou, Nísia, precisou acontecer uma desgraça no mundo. Precisou acontecer uma pandemia e precisou a gente ter um governo negacionista para que o SUS pudesse com todo o sacrifício da falta de recurso, mas com a dedicação de homens e mulheres que de forma extraordinária colocaram a sua própria vida em risco para salvar a vida de outras pessoas é que o SUS passou a ser respeitado nesse país, como jamais ele foi respeitado. Hoje, mesmo as pessoas que criticavam o SUS são obrigadas a se curvar e agradecer. Morreram 700 mil pessoas nesse país. Poderia ter morrido mais de um milhão, se não houvesse a dedicação dos funcionários do SUS neste país, que se dedicaram, de corpo e alma, para salvar esse país.
Quando a gente vem inaugurar dois blocos de um hospital que transforma o hospital em um centro de excelência mais importante do país, a gente começa a perceber que um outro país é possível a gente construir. O que é importante é a gente ter clareza de que nós seremos do tamanho que a gente quiser ser, e a gente será da qualidade que a gente quiser ser. Não há nada que impeça a gente de se transformar num país mais rico, num país mais justo, num país melhor.
Eu tava daqui olhando a fotografia, porque daqui vocês parecem uma fotografia. A gente não consegue individualizar, a gente não consegue individualizar porque a gente vê milhares de rostos, milhares de cabeças, ou seja, como se fosse a única pessoa. E eu fico vendo quanta gente bonita, quanta gente com um rosto de esperança e eu fico imaginando: por que que a gente não pode construir um país com a cara que eu estou vendo aqui? Por que é que a gente não pode construir um país em que as pessoas tenham esperança e as pessoas consigam transformar as suas esperanças em realidade?
Por que que todas as meninas desse país não podem ser como a nossa estudante que veio aqui, emocionada, dizer que ela fez esforço, fez esforço da família, e que teve a oportunidade de fazer a universidade? Por que que todos não podem? Por que que o país não pode ser melhor? Por que que as pessoas não podem comer três vezes ao dia? Por que que as pessoas não podem ter o emprego mais decente? Por que que as pessoas não podem estudar o que quiser estudar, ter acesso à cultura, ter acesso ao lazer? Por que que as pessoas não podem ter? A gente pode. E é essa a razão pela qual eu me dispus a voltar a ser presidente da República. É porque a gente pode.
Da outra vez que eu fui presidente da República, sucedido pela companheira Dilma, a gente conseguiu acabar com a fome. O país foi reconhecido pela ONU como o país sem fome. Da outra vez, eu e o Zé Alencar, presidente e vice-presidente, sem diploma universitário, vamos passar para a história como os dois semianalfabetos que mais fizeram universidade e extensões universitárias na história desse país. Junto com a companheira Dilma, a gente vai passar para a história como os presidentes que mais fizeram institutos federais e escolas técnicas nesse país.
Agora vamos fazer mais. Agora vamos fazer escola de tempo integral para todas as pessoas desse país. Eu não sei se vocês sabem: presidente da República e ministro da Educação não recebem reitores. Durante todo o meu mandato de oito anos, todo ano eu recebia todos os reitores. Eu o Camilo, a primeira coisa que fizemos, este ano, foi reunir com reitores. Para fazer o quê? Para ouvi-los. E para devolver à universidade brasileira o dinheiro que ela precisava para investir em pesquisa, para melhorar a qualidade, para devolver a bolsa de estudos a mestres e doutores, que tinha parado de ser distribuída nesse país. Afinal de contas, não precisa ter nenhum diploma universitário para entender que não existe, na história da humanidade, nenhum país que se desenvolveu sem que antes não tivesse investido na educação.
É a educação que pode fazer a revolução social que um país precisa e é por isso que nós estamos aqui. Para dizer para vocês, meninas e meninos, para dizer para vocês, homens e mulheres, para dizer para vocês, ministros e ministras, é possível a gente fazer mais hospital como esse em outras regiões do país. Pobre não tem que ser tratado como objeto.
É importante que nós já fizemos uma vez nesse país algumas coisas que esse país não conhecia. Nós conseguimos provar que a gente podia aumentar o salário mínimo sem causar inflação, e aconteceu. Nós conseguimos provar que a gente poderia exportar e ao mesmo tempo crescer o mercado interno sem fazer a inflação. A gente provou que era possível a gente crescer e distribuir o resultado do crescimento, porque o crescimento não pode ser apenas para meia dúzia, tem que ser para todos. Nós conseguimos provar que pobre não era o problema desse país, pobre passou a ser a solução quando nós colocamos o pobre no orçamento da União para ele poder ter possibilidade na vida, de levantar todo dia, tomar café, almoçar e jantar.
Nós já provamos isso e eu agora estou disposta a provar outra coisa. Eu voltei para a gente provar outra coisa. É preciso, e eu fui falar com o Papa Francisco, eu estou disposto a fazer uma campanha mundial para acabar com a desigualdade no planeta Terra. Não é possível a gente conviver com a desigualdade racial, não é possível a gente viver com a desigualdade de gênero, não é possível a gente viver com a desigualdade na qualidade da comida, desigualdade no salário, desigualdade na oportunidade, não é possível. Não é possível a gente não consertar o planeta Terra. Nós tamos vendo a guerra da Ucrânia com a Rússia, provocada pela Rússia, mas o dinheiro que eles têm para gastar em guerra seria muito mais útil se fosse utilizado para gastar na paz, garantindo emprego, garantindo salário, garantindo melhoria da qualidade de vida.
E é por isso que eu voltei. Eu voltei porque eu acho que a gente vai construir um país que a gente quiser, do tamanho que a gente quiser, com a cara que a gente quiser. E a cara é a cara de vocês, a cara de gente com esperança, a cara de gente vencedora, a cara de gente que não se desespera diante do infortúnio. Nós precisamos sonhar grande. Nós precisamos pensar grande porque quem pensa pequeno, colhe pequeno. Quem sonha pequeno, sabe?, vai tornar realidade uma coisa pequena. E eu quero um país com a cara de vocês, um país de gente bonita, um país de gente que come, um país de gente que toma, sabe?, uma cervejinha no final de semana se quiser beber. Um país que você pode ter orgulho da família de vocês.
Aqui é importante a elite brasileira saber: a gente não fez a opção pela miséria, ninguém gosta de ser pobre, ninguém gosta de comer mal, ninguém gosta de se vestir mal, ninguém gosta de ganhar mal. A gente quer viver bem, dignamente. E, é esse país que nós vamos construir.
Não tem explicação. Esse país é o terceiro produtor de alimentos do planeta Terra, esse país é o maior produtor de proteína animal do planeta Terra. O que é que justifica a fome? O que é que justifica as pessoas dormirem na rua? O que é que justifica a violência que nós estamos vendo, todo santo dia? A violência contra a mulher, quanto mais lei a gente cria, mais os homens viram machistas e ficam mais violentos e as mulheres sofrem mais. Qual é a razão disso?
A razão disso é porque nós precisamos falar mais em amor, nós precisamos falar mais em solidariedade, nós precisamos falar mais em fraternidade. A gente precisa aprender a olhar com mais carinho um pro outro, porque o ser humano é quase 90% de química. A gente tem que se olhar, tem que se reconhecer, tem que conversar, tem que se abraçar para que a gente possa construir o mundo que nós precisamos construir. Chega de violência. Chega de miséria. Chega de fome. Chega de desespero, sabe? Esse país precisa mudar. E eu voltei, junto com vocês, pra gente mudar esse país e transformar esse país em uma grande nação.
Um beijo no coração de vocês e vamos juntos, que a gente vai consertar o nosso querido Brasil. Um beijo!