PRONUNCIAMENTO do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em café da manhã com jornalistas
Ministro Paulo Pimenta — Bom dia! Bom dia a todos senhores, bom dia a todas as senhoras. Quero em primeiro lugar agradecer a vocês terem atendido nosso convite. O presidente, lá no início, na primeira semana de trabalho do novo governo, fez questão de reunir, principalmente com os setoristas que cobrem, que acompanham aqui o dia a dia do trabalho do Palácio, de lá para cá a gente tem feito outras reuniões, mas nós entendemos que era importante também que hoje a gente tivesse a oportunidade de conversar com vocês e a gente está muito feliz que vocês tenham atendido aqui o nosso convite. O presidente não gosta muito dessa história de cem dias de governo, mas, na própria imprensa acabou virando um costume que essa data de cem dias seja um marco do início de qualquer governo. Alguns dizem que é o período mais de lua de mel da própria imprensa com os governos, mas é o momento que qualquer governo também estabelece algumas metas iniciais para poder organizar a casa, para poder estruturar o início do trabalho. Nós, particularmente encontramos, vocês sabem disso, uma estrutura governamental muito precarizada, tivemos o episódio do dia 8 de janeiro, que é um episódio muito grave, que acabou impactando de forma muito intensa o início do nosso trabalho. Fizemos um processo de reestruturação da estrutura da Esplanada e isso também levou um tempo até que a gente pudesse publicar os novos decretos, as novas estruturas e estabelecemos alguns objetivos desse período inicial. Um deles foi restabelecer o diálogo com a imprensa brasileira de forma respeitosa, de forma adequada. Sabemos que o período anterior foi um período bastante atribulado. Eu quero aqui, inclusive, dizer a vocês que, eventualmente, alguma falha de comunicação ou algum problema que tenha ocorrido deve ser creditado à minha responsabilidade, porque eu também estou aprendendo. Eu também estou aprendendo dessa função para o qual fui designado, e o presidente, às vezes ele brinca comigo, que eu sou ainda um pouco deputado, de vez em quando eu esqueço da responsabilidade que eu tenho dessa tarefa e dessa função, e acabo tendo uma postura de deputado. Mas, eu estou aprendendo e eu estou também corrigindo isso, mas esse período inicial é um período em que nós nos desafiamos por conta da orientação do nosso presidente, de devolver ao povo brasileiro aquilo que nós consideramos direitos, programas importantes, que impactaram de forma muito positiva a sociedade e que foram retirados.
O Programa "Bolsa Família", o Programa "Mais Médicos", o Programa "Minha Casa, Minha Vida", mas apesar de todos esses programas já terem na quase totalidade terem sido lançados, você sabe que o presidente é um craque nas metáforas dele, onde ele dizia que é que nem aqueles chuveiros antigos, chuveiros elétricos, tu ligava e até a água esquentar, levava um tempo que ficava sendo água fria, né?! Então, esses programas também, de todos eles o que já chegou na vida das pessoas foi o "Bolsa Família", que nós tivemos a primeira parcela paga no dia 20 de março. Todos os demais são programas que ainda vão chegar, como o "Mais Médicos", como o "Minha Casa Minha Vida", como o próprio "Farmácia Popular" e outros que ainda vamos reestruturar, né?!
Então, essa é a nossa visão, o primeiro momento, devolver direitos. São políticas voltadas para a população mais vulnerável, e a partir da segunda etapa do nosso governo, então, nós vamos iniciar uma fase nova do nosso governo. Esse encontro aqui é um encontro que inicia uma série de atividades que vão marcar a próxima segunda feira, que a data que a gente completa os cem dias do nosso governo. Nós temos um balanço bastante positivo das metas que nós nos propusemos. Há um esforço grande de recuperação do prestígio, do protagonismo, do papel do Brasil no cenário internacional. Vocês observaram a rapidez com que os chineses fizeram questão de remarcar a viagem. Isso é uma demonstração de prestígio e de respeito internacional que o Brasil adquiriu, mas muito por conta do protagonismo, do respeito, da importância do presidente Lula em todo esse processo. Portanto, para nós, hoje aqui é um momento importante, quero mais uma vez dizer a vocês que nós da Secom [Secretaria de Comunicação Social] temos uma responsabilidade de trabalhar com o máximo de transparência, de respeito a todos os profissionais de imprensa do Brasil. Quero repetir mais uma vez, aqui, da minha responsabilidade em, eventualmente, não ter dado a atenção devida a algum dos senhores e das senhoras, ou alguma situação mais atribulada que eu tenha, por conta da minha inexperiência da função, me envolvido nesse último período. Tá bom gente?! Quero passar a palavra para o nosso presidente. Conseguiu já tomar o café, presidente?! Conseguiu concluir o café?! Estava falando um pouco mais aqui para ele poder tomar o café, enquanto eu fazia a apresentação.
Presidente Lula — Eu pensei que não ia sobrar tempo para mim.
Ministro Paulo Pimenta — Eu estava cuidando com o canto do olho aqui, se o senhor já tinha terminado de tomar o café, né?!
Presidente Lula — Primeiro bom dia a todos, companheiros e companheiras. Eu não sei dizer como é que você vai coordenar essa conversa aqui. Quantas pessoas vão fazer perguntas, porque nós temos muitos jornalistas, muitas jornalistas. Eu não sei, se for todo mundo vai terminar junto com o mandato. Não sei se eles se articularam para fazer perguntas. Quem vai fazer as perguntas. Eu só queria dizer para vocês que eu estou muito, mas muito, muito, muito, muito satisfeito com as coisas que nós conseguimos fazer até agora. Eu, quando voltei a ser candidato a presidente da República, eu tinha noção das coisas que nós íamos encontrar, a dificuldade que nós íamos encontrar, mas também, se você faz política sem dificuldade, a política não tem prazer, a política não tem sentido, ou seja, um pouco de confusão na política ajuda a gente a gostar da política. Como dizia o nosso saudoso doutor Ulysses Guimarães: "a política é o orgasmo do ser humano". Porque a gente não consegue viver sem ela. E eu estou convencido, e quero dizer para vocês que nós vamos consertar o país. Eu estou mais do que satisfeito com o que nós conseguimos projetar nesses cem dias. A retomada de todas as políticas sociais que deram certo nesse país já foram retomadas. Obviamente que elas ainda não estão surtindo o efeito necessário, porque muitas delas estão sendo colocadas em prática há poucos dias. Mas eu acho que quando essa política começar a ser implantada desde o programa... [trecho incompreensível] o "Bolsa Família", do "Bolsa de Estudo", ou seja, todo esses programas quando eles começarem a funcionar, a gente vai ter uma mudança no ritmo da economia brasileira.
A partir de segunda feira, quando a gente apresentar o que foi feito nos cem dias para a sociedade brasileira e para os ministros, que fazem parte do governo, nós vamos começar uma outra fase do nosso governo, que é fazer a economia voltar a crescer, fazer voltar a acontecer crédito nesse país, porque não é possível a gente imaginar que você possa estabelecer crédito com taxa de juros acima de 15%, 16, 17, 18%, tem gente pegando juros a 30% do mercado para fazer investimento. Não é possível um país continuar assim. Nós vamos ter que discutir com muita clareza quando eu voltar da China, a questão de um uma política de crédito para pequeno e médio empreendedor sabe, no Brasil inteiro, para as cooperativas, para o agronegócio, para os pequenos e médios empresários, para a agricultura familiar, pequenos e médios agricultores. Porque somente com a circulação de dinheiro é que a gente vai poder retomar o crescimento da economia. Não existe outro milagre, não existe outra possibilidade, todo presidente, todo governante sempre diz que vai trabalhar muito para trazer investimento externo direto, sabe?! Não é fácil porque não é pelos olhos do presidente que a gente consegue trazer investimento direto.
Nós não vamos privatizar empresas para trazer dinheiro. Nós queremos que as pessoas que venham para o Brasil, venham para fazer investimento em coisas novas, em coisas que nós precisamos e muitas obras de infraestrutura. Nós temos um potencial extraordinário que é a quantidade de obras que foram paralisadas desde 2016, obras muito importantes de infraestrutura, vocês viram que ontem nós fizemos o novo marco regulatório do saneamento básico, com o compromisso de até 2033 a gente resolver, definitivamente, a questão do saneamento no Brasil. Porque nós temos no Brasil mais de 50% da sociedade que não tem sequer coleta de esgoto e dos outros 50 que têm, a maioria, coleta, mas não trata, significa que a gente ainda tem muito, muito, muito esgoto in natura sendo jogado nas ruas, nas praias, nos rios, e nós precisamos mudar o Brasil. Por isso, nós fizemos o novo marco regulatório para fazer um chamamento à empresa privada, empresas estaduais para que a gente possa, inclusive, com o financiamento do Tesouro, com garantia do Tesouro, a gente começar a fazer acordos, PPPs, a resolver esse problema e nós vamos fazer um esforço, sabe, incomensurável, para fazer a economia voltar a crescer.
A minha obsessão, sabe, nos primeiros três meses, era retomar todas as políticas sociais que deram certo nesse país. A minha obsessão agora é com o crescimento e com a geração de empregos, e eu tenho certeza que nós vamos conseguir sucesso. Aqueles que ficarem dizendo, vocês têm que lembrar de uma coisa em 2004, quando eu disse que a gente ia começar a ver o espetáculo do crescimento desse país, não foram poucos os jornalistas que "zoaram" com a minha frase do espetáculo, do crescimento, dito numa reunião na Ford em 2004. Acontece que naquele ano, a economia cresceu 5,8%. Ali estava começando um jeito positivo da economia brasileira voltar a funcionar e eu estou convencido que ela vai é funcionar na medida em que a gente volta a colocar o pobre no orçamento, que a gente melhora a massa salarial, que a gente cuida da classe média baixa, da classe média, média e que a gente faça a mudança no Imposto de Renda, que precisa ser feito na política tributária, para que quem ganha mais pague mais e quem ganha menos, pague menos. Não existe milagre, não existe invenção, em economia não tem mágica. Eu volto a dizer para vocês que tem três palavras que eu considero as coisas mágicas da economia: é estabilidade, é credibilidade e previsibilidade. Se a gente conseguir estabelecer, sabe, o funcionamento dessas três palavras a economia volta a crescer como cresceu no período em que eu fui presidente da República nesse país.
Naquele tempo, muita gente dizia que o Lula teve sorte, porque o agronegócio, as commodities cresceram. Eu comecei a ter sorte outra vez, primeiro porque ganhei as eleições, segundo, porque, veja, o país estava passando por um problema de seca nós nunca tivemos os lagos tão cheio como nós temos agora. Nunca tivemos a produção de energia alternativa como temos agora. E eu acho que daqui para frente a gente vai reverter essa mediocridade do Brasil, do Brasil não crescer, do Brasil ficar zero, do Brasil ficar zero um, do Brasil ficar menos. A minha discussão com o governo é o seguinte, a gente não discutir, sabe, as mazelas da má economia. Nós temos que discutir o quê que nós precisamos fazer, constatar o dado, o diagnóstico, todo mundo constata, a empresa publica, fala na televisão, fala no rádio. Agora nós temos que, enquanto governo, sentar na mesa e ver o que a gente vai fazer para mudar. Essa é a nossa tarefa e nisso, eu quero agora me colocar à disposição de vocês, dizendo para vocês que eu ontem passei um dos piores dias da minha vida, porque o que aconteceu em Blumenau não é, humanamente, explicável, não é humanamente explicável. Ou seja, o que aconteceu lá só pode ter sido coisa de alguém, de um planeta diferente, que não pode ser humano, não pode ser de alguém que tenha sentimento de alguém que tenha um mínimo de sensibilidade. Por que fazer aquilo que foi feito? Não faz parte do humanismo que eu aprendi a conhecer — e aprendi a praticar.
Sabe, eu espero que nós tenhamos que tomar uma medida nacional, porque também não tem muito o que fazer, mas nós vamos tentar a nível nacional, ver se a gente consegue ajudar com que a Polícia Municipal, a Guarda Municipal e a Polícia Estadual, guarda pelo menos de forma preventiva, evitar essas loucuras e tentar ver se os especialistas desse país conseguem nos explicar como é que um ser humano pode ser tão perverso. E não é, não é, essa creche aconteceu agora, mas nós temos sinais de muitas coisas acontecendo em escolas, de muitas ameaças, de muitas denúncias, de gente ligando e dizendo que foi ameaçado, que ameaçaram soltar bomba na escola, ameaçaram matar não sei quem e nós precisamos encontrar um jeito de resolver isso, mudando certamente a cabeça da humanidade.
Eu acho que não é uma tarefa para um governo, não é tarefa para o homem, é tarefa para a humanidade resolver, porque não é só no Brasil, é no mundo inteiro que está acontecendo, porque o mundo está tomado por um clima de ódio que nós não conhecíamos. Um clima de intolerância que nós não conhecíamos, um clima muito perverso, que está tomando conta da humanidade. E eu acho que ainda não é possível a gente detectar o que está acontecendo de verdade na humanidade. É, eu ontem fui para casa, eu sou avô, eu sou bisavô, como eu tenho neto, eu não posso acreditar que alguém teve coragem de matar uma criança de três anos, de quatro anos, de cinco anos, da forma perversa. Eu acho que isso chocou vocês e chocou todo mundo. E eu espero que a gente tenha competência de não permitir que isso aconteça em nenhuma escola do Brasil. Eu me coloco a inteira disposição de vocês para vocês fazerem as perguntas. Eu não sei quantas são, mas eu estou à disposição. Alguém vai coordenar, tá? Não posso ser eu.
Orador 1 — Esse café da manhã, que a gente faz com jornalistas, a gente tenta ser o mais plural e aberto possível. Tem demanda já de fazer um com a imprensa estrangeira, por exemplo, que a gente ainda não fez. E como a gente tenta, a gente traz o máximo de pessoas, quem não vêm, reclama, quem não vem, reclama dos veículos, e a gente, quem vem, a gente não consegue que todos perguntem. Mas a gente vai tentar, o máximo possível, aqui dar conta disso. Andréa e a Tatiana estão aqui também, ajudando a gente a pegar meio que pergunta, a gente, ficou a primeira com a Julia Duailibi, a gente vai listar e vai ver como a gente distribui, conforme for.
Julia Duailibi — Presidente, bom dia, aqui é Júlia Duailibi, GloboNews, G1. O senhor colocou muito foco na economia, falou da importância do dinheiro circular, das políticas de crédito e isso, evidentemente, tem a ver com juros. O ministro [Fernando] Haddad esteve com o senhor esta semana e disse que o novo, o nome dos novos diretores do BC [Banco Central], fiscalização e política monetária, devem ser anunciados na volta da viagem da China. Qual o perfil? Fiscalização? Parece que o senhor já aceitou a indicação da Fazenda, a questão é política monetária. Qual o perfil que o senhor espera para essa indicação? O senhor avalia que tem que ter mudança na direção do BC também, por exemplo, um acordo para Campos Neto sair em uma indicação da Fazenda. E aí, puxando um pouco "a brasa para sardinha" do arcabouço fiscal. A avaliação, a informação que a gente tem é que o senhor não morreu de amores pelo arcabouço. Queria saber se o senhor, como o senhor avalia a tramitação dele no Congresso? E muita gente, do setor financeiro, acha que tem que endurecer as regras na tramitação. Se o senhor acha que há espaço para tornar essas regras mais rígidas ou o senhor vai colocar o governo para atuar na contramão disso.
Presidente Lula — Eu vou. Eu vou dizer uma coisa que vocês já ouviram da minha boca, muitas vezes. A questão da economia, não existe mágica. Não é possível você imaginar que, num país do tamanho do Brasil, você pode dar um cavalo de pau naquilo que vinha acontecendo e mudar, radicalmente, as coisas para construir a mudança das coisas. Quando você é oposição, você fala o que você quer. Quando você não tem responsabilidade, você fala o que você quer. Quando você é governo, você faz o que você pode, e você faz o que você pode, muitas vezes, de acordo com a conjuntura. Nós temos que levar em conta a correlação de força do Congresso Nacional, tanto na Câmara como o Senado, para você propor qualquer mudança que possa ser de interesse da sociedade brasileira. O marco regulatório foi uma engenharia muito bem pensada pela equipe do companheiro Fernando Haddad. Eu estou convencido que, do jeito que ela foi articulada e conversada com todos os setores políticos, nós vamos conseguir aprovar o marco regulatório e nós vamos garantir que, com seriedade, a gente vai mudar a política econômica desse país.
Veja, é humanamente inexplicável a taxa de juro de 13%, o juro real de 8,52%, não é possível. Não é possível a economia funcionar e não é o Lula, que não é empresário, que está dizendo isso. Qualquer empresário que vocês entrevistarem, daqui pra frente, vocês vão dizer. Eu tive reunido com o pessoal do varejo, eu tive reunido com o pessoal da indústria. É humanamente impossível imaginar, inclusive o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] emprestar dinheiro para o desenvolvimento com a taxa de juro, real tão alta assim. Eu não vou ficar brigando com o presidente do Banco Central. Não vou ficar brigando porque ele tem dois anos de mandato. Quem indicou ele foi o Senado e daqui dois anos vai se discutir o novo presidente do Banco Central e os novos diretores, que precisar mudar, nós vamos mudar de acordo com os interesses do governo. É importante saber que nós vamos indicar as pessoas de acordo com os interesses do governo, e pessoas da mais alta responsabilidade, porque nós não vamos brincar com a economia. A história de vários países do mundo mostra que quando você tenta brincar com a economia e a brincadeira não dá certo, o resultado é desastroso para todo mundo. E eu sou muito cauteloso. Sou muito meticuloso para tratar da questão econômica.
Só posso dizer para vocês, essa taxa de juros é incompreensível para o desenvolvimento do país. Nós vamos ter que encontrar um jeito de que o Banco Central comece a reduzir a taxa de juros. Não é compreensível porque não temos inflação de demanda, não existe inflação de demanda no país. Eu não sei se foi por algum de vocês, que eu ouvi uma frase esses dias, eu não sei se foi dita pelo presidente do Banco Central de que, para atingir a meta de 3%, precisaria ter juro de 20%. Ora, eu não sei se foi verdade, se ele disse isso, mas é, no mínimo, uma coisa não razoável de ser dita, porque se a meta está errada, muda-se a meta. O que não é compreensível é imaginar que o empresário vai tomar dinheiro emprestado a essa taxa de juro.
Então, eu vou te dizer que nós vamos escolher as pessoas corretas para o lugar certo. Nós temos duas pessoas nesse ano, o ano que vem tem mais duas pessoas e, quem sabe, eu vou discutir com o governo a mudança do presidente do Banco Central, que vai passar pelo Senado. Eu nunca, nunca transformei numa questão de princípio, de autonomia ou não do Banco Central, porque ninguém vai ter mais autonomia do que o Meirelles teve. Ninguém vai ter mais autonomia do que o Meirelles teve. Só que a gente tinha um jogo muito acertado. Os bancos públicos eram públicos. O BNDES funcionava como banco público, emprestando dinheiro a taxa de juro mais barata e juro de longo prazo. O Banco do Brasil emprestava muito dinheiro. A Caixa Econômica emprestava muito dinheiro e bancos como o BNB e o Basa fazia muito microcrédito, espalhado por esse país. Vamos ter que voltar a fazer isso. Nós vamos apenas preparar, porque a gente também não pode emprestar sem ter dinheiro e é preciso ter dinheiro para gente poder fazer empréstimos. E nós vamos ter que discutir como captar os recursos necessários para que a gente volte a fazer crédito desse país. E isso será tudo depois dos cem dias. Quando eu voltar da China, nós vamos discutir política de crédito desse país, para que a gente possa dar às pessoas que querem investir, um mínimo de horizonte, de perspectiva, de que esse país vai ter a economia voltando a crescer, gerando emprego e distribuindo renda nesse país.
Mauro Lopes — Mauro Lopes, da Fórum. Presidente, aqui, pediram para ficar em pé, na ponta esquerda. Mauro Lopes, da Fórum, prazer estar aqui, viu?! A educação, presidente foi um tema que atravessou os seus dois primeiros mandatos. Atravessou também os mandatos da presidenta Dilma e novamente está no centro do seu governo e das preocupações do país. Seja por esse episódio, dantesco, do massacre e da sequência de massacres que são herança do tempo do extremismo no Brasil, que ainda persiste, seja por conta da reestruturação da educação. Um tema crucial é o novo ensino médio. Nós temos acompanhado em detalhes, há um clima quase que de rebelião dos professores e estudantes do país contra a proposta da reforma do ensino médio, do novo ensino médio, que nós recolhemos, muita insatisfação na área da educação com a presença que se considera ostensiva e excessiva das fundações privadas, especialmente ligadas a bancos, no Ministério da Educação. Foi anunciado agora a suspensão da reforma. O ministro Camilo Santana, entretanto, disse que a reforma será retomada. Foi apenas suspensa, nos deu a impressão de que o senhor defende o fim desta reforma do ensino médio, que é a reivindicação de estudantes e professores, tradicional base de eleitores e ativistas da esquerda brasileira. Uma posição, presidente, essa reforma foi suspensa e será retomada? Ou ela será revogada. efetivamente?
Presidente Lula — Primeiro, só explicar uma coisa para justificar o comportamento do ministro Camilo. Veja, o Camilo pura e simplesmente, estava cumprindo uma decisão extraída da comissão de transição. A comissão de transição, que cuidou da questão da educação, disse. explicitamente. que era para continuar, sabe, esse programa educacional com o ensino médio, tal como estava tentando aprimorar. O que nós fizemos, nós não vamos revogar. Nós suspendemos e vamos discutir com todas as entidades interessadas em discutir, como aperfeiçoar o ensino médio nesse país. É isso. Ontem teve reunião com a UBE [União Brasileira de Estudantes], teve reunião com a UNE [União Nacional de Estudantes], teve reunião com a entidade que representa os educadores brasileiros de educação dos Estados. E nós vamos suspender por um período até a gente fazer o acordo, que deixe todas as pessoas satisfeitas com o ensino médio desse país. É isso, não foi revogado, foi suspenso para que a gente rediscuta com a sociedade brasileira ligada à área de educação o quê que a gente quer do novo ensino médio.
Vera Magalhães — Bom dia, presidente! Bom dia ministros, colegas. Obrigada pelo convite. Presidente, eu queria perguntar sobre Petrobras. Ontem, numa entrevista à GloboNews, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, falou de política de preços da Petrobras e disse que vai ser estabelecido uma nova política. Isso causou um certo ruído, inclusive com a direção da companhia, que respondeu. Eu queria ouvir do senhor, qual é a orientação do presidente, do governo, para a questão da política de preços de combustíveis. E se nessa, nesse ruído, houve um passo em falso do ministro, sem que ele devesse ter falado que ele falou, obrigado.
Presidente Lula — Olha, eu, na verdade, fui pego de surpresa hoje com uma discussão na imprensa entre uma posição do ministro de Minas e Energia e uma suposta decisão da direção da companhia. Deixa eu te dizer uma coisa, primeiro a política de preço da Petrobras ainda será discutida pelo governo, no momento em que o presidente da República convocar o governo para discutir política de preço. Enquanto o presidente da República não convocar o governo para discutir política de preço, a gente não vai mudar o que está funcionando hoje. Nós vamos mudar, mas com muito critério, porque durante a campanha eu disse que era preciso "abrasileirar" o preço da gasolina e o preço do óleo diesel. O Brasil não tem porquê, sabe, está submetido a PPI [Preço de Paridade Internacional]. Não tem porquê. Mas esse é um problema que nós vamos discutir, sabe, no momento certo. Eu fiz a primeira reunião do Conselho Nacional de Política Energética para discutir uma série de coisas e vou convocar outra reunião, sabe, para ir discutindo as coisas, inclusive a política de preços da Petrobras, sabe, a política de investimento da Petrobras. A Petrobras não pode continuar distribuindo a quantidade de dividendos que ela está distribuindo e não sobrar dinheiro para fazer investimentos. A Petrobras precisa fazer investimento porque o Brasil precisa dos investimentos da Petrobras. É isso, então essa divergência é uma coisa extemporânea. Eu ainda não conversei nem com o nosso presidente da Petrobras e nem com o ministro, porque eu fiquei sabendo hoje dessa divergência. Vim aqui e depois eu vou conversar para saber o que houve. Ou seja, se houve divergência entre os dois, ela deixará de existir na hora que eu conversar com os dois, porque o governo não está discutindo isso.
Igor Gadelha — Bom dia presidente Igor Gadelha, do portal Metrópoles. Hoje foi publicada no Diário Oficial da União a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski, a partir do dia 11, que é a próxima segunda-feira [terça-feira]. Eu queria saber se o senhor já decidiu um nome e queria emendar uma pergunta... duas perguntas. O que o senhor acha da proposta de alguns senadores e até do próprio Lewandowski, que apoia que é de ter mandato para ministro do Supremo Tribunal Federal? E também queria que o senhor comentasse: o ministro Gilmar Mendes numa entrevista para o jornal O Globo, ele até defendeu o nome do presidente do Senado Rodrigo Pacheco, como um bom nome para o Supremo Tribunal Federal. Então, eu queria saber se o senhor já decidiu, o que o senhor acha de mandato para ministro do Supremo e dessa sugestão do Gilmar, do Rodrigo Pacheco para o Supremo Tribunal Federal. Obrigado.
Presidente Lula — Eu acho que tem muita gente precipitada. Primeiro porque quem escolhe sou eu. Eu não estou preocupado com a escolha. Eu lamento que o ministro Lewandowski tenha completado 75 anos e tenha tido que se aposentar, mas a escolha do substituto dele será feita por mim, no momento que eu achar que deva fazer. Não adianta as pessoas ficarem plantando nome, tentando vender candidato pela imprensa, que não é assim que se escolhe o ministro da Suprema Corte. Tem muita gente boa e muita, muita gente mesmo. Eu acho que tem mais gente preparada para ir para a Suprema Corte do que tinha quando eu tive que escolher, há 13 anos. E eu, com muita tranquilidade, não tem data, não tem mês, eu não tenho pressa de escolher. Sabe, eu estou lendo, vejo o que cada um indicar. Tem muita gente indicando gente, gente que eu conheço, gente que eu não conheço, mas o critério de escolha, da forma que vai ser escolhida, para apresentar ao Senado, vai ser feita por mim, sabe, bem pensado, bem discutido e com o nome que eu indicar, certamente será um nome que vai fazer, sabe, justiça ao povo brasileiro.
Eu jamais indicarei o ministro da Suprema Corte por conta de precisar dele de algum favor. Não foi assim com nenhum que eu indiquei e não será assim daqui para a frente. O ministro da Suprema Corte, ele tem que ser uma pessoa que leve em conta que ele tem que cumprir a Constituição. Eu, inclusive, quero escolher um ministro que não deu o voto dele pela imprensa sobre nenhum processo. O ministro tem que dar o seu voto em função dos autos do processo, na hora que ele for votar. E isso eu quero discutir com a nova pessoa que eu vou indicar. Tem que ter alguns critérios para que a pessoa seja indicada e eu vou escolher com muita seriedade os critérios, porque já indiquei seis, já tenho muita experiência, sabe? E vou tentar aperfeiçoar as coisas que me fez escolher da outra vez. Só lamento pelo Lewandowski, porque é uma figura que engrandece o Poder Judiciário brasileiro, engrandece a Suprema Corte, pela postura digna dele.
Orador 1 — Denise, por favor.
Denise — Bom dia presidente! Bom dia a todos, bom dia, ministros. O senhor falou, logo na sua primeira resposta, em verificar a correlação de forças no Congresso Nacional. A gente tem aí muitos parlamentares dizendo: ah, o governo Lula completa cem dias, mas ele ainda não tem uma base forte para aprovar medidas, para aprovar, por exemplo, propostas de emenda constitucional. Como é que o senhor vai fazer? A gente tem agora essa briga pelas medidas provisórias entre Câmara e Senado e a gente sabe que quando tem uma disputa política no Congresso, sempre sobra para o Governo Federal. Os deputados estão meio decepcionados porque eles consideram que há um número imenso de ministros, senadores, que eram mais ligados ao Senado, que está desbalanceada essa atribuição dos ministérios e muita gente reclama que tem lá, por exemplo, o União Brasil que tem três ministérios, mas nem vota com o governo. O Davi Alcolumbre indicou o ministro, que nem do partido dele é, ou seja, há muita confusão aí nessa base do governo, muita gente na Câmara reclamando. Como é que o senhor vai fazer? Aí eu vou dividir até em duas perguntas, aproveitando a deixa comigo. Em relação às medidas provisórias, o senhor vai suspender a edição de medidas provisórias e vai passar a mandar projetos de lei, até que essa questão seja equacionada? Ou o senhor vai continuar mandando medidas provisórias e eles que se resolvam? E em relação aos ministérios, o senhor pretende fazer alguma reforma agora, assim, para atender essa parcela da Câmara? Como é que o senhor vai fazer para atender Arthur Lira, que é um personagem importante e essa parcela que quer ser governo, mas quer ter mais participação? Obrigada.
Presidente Lula — Falta explicar uma coisa. Eu assisto muito telejornal, eu leio as notícias de jornal e quando a gente está no cargo de presidente, a gente tem que ter muito equilíbrio psicológico, porque eu fico vendo jornal, às vezes tem cinco jornalistas comentando, cada um tem uma ideia sobre uma coisa e vende a ideia como se fosse a verdade absoluta. E nem sempre é. Então, você tem que ter um certo equilíbrio para você tomar as decisões. Veja, eu até hoje, não senti nenhuma dificuldade com o Congresso Nacional. Veja vocês, que eu não era presidente ainda e nós conseguimos aprovar a PEC que parecia ser impossível de ser aprovada — e foi aprovada com a votação de deputados e senadores. Nós ainda não tivemos um teste, um teste, um teste. Nós tivemos um senador, eleito presidente, com o apoio do núcleo da bancada do PT. Nós tivemos um presidente da Câmara eleito com o apoio da bancada do PT. Nós temos uma construção de uma base que votou no presidente da Câmara e no presidente do Senado, e essa base não foi testada ainda em nenhuma votação. Nós temos, pelo menos é o que eu vejo pela imprensa, uma divergência entre o presidente do Senado e o presidente da Câmara, sabe, quem é que pode mais, quem é que pode menos.
Eu já tive oportunidade de conversar com o presidente do Senado, já conversei com o presidente da Câmara e eu tenho certeza que os dois vão se colocar de acordo, para começar a votar as coisas que precisam ser votadas, porque o país não pode ficar parado. Não haverá troca de ministro, a não ser que haja alguma coisa importante para trocar o ministro. Muito, muito tranquilo, mas muito tranquilo, sabe, com a construção da união que nós fizemos. É muito difícil, é muito difícil você pensar num sistema de coalizão política, com a quantidade de partidos que nós temos. É muito difícil, é muito mais fácil você fazer coalizão, sabe, no mundo que tenha três partidos políticos, que tenha quatro partidos políticos, mas com 30 partidos políticos é muito complicado você fazer coalizão. Porque é muita gente para você conversar e dentro dos partidos também tem muita divergência. Mas, eu até agora, não senti nenhuma dificuldade, vamos esperar a primeira votação de interesse do governo. Vamos esperar, por exemplo, a política tributária, que é o teste para o Brasil. É um teste para o governo e vamos ver o que vai acontecer. Eu vou te dizer, antecipadamente, eu tenho certeza que vai ser aprovado uma política tributária que tente resolver, em parte, o problema da tributação desse país. Eu tenho certeza que vai ser.
Da mesma forma que eu tenho certeza que vai ser aprovado o marco regulatório nesse país, o novo arcabouço fiscal, sabe, e vai ser aprovado porque nós vamos conversar com todo mundo. Eu não tenho preconceito de conversar com quem quer que seja, que tem importância política, que tenha poder de decisão no seu partido para votar. Não tem nenhum projeto do meu interesse pessoal, nenhum projeto. O projeto é de interesse no futuro desse país. Eu tenho conversado com empresários, sabe, de vários setores e todos eles estão de acordo que tem que mudar. Se todo mundo está de acordo, eu acho que nós vamos mudar. Então, como eu não vejo a divergência que você vê, você pode estar analisando por um ângulo, que eu não estou. Eu devo estar mais otimista do que você. É bem possível, porque para você, as pessoas podem contar uma coisa que não contam pra mim. A pessoa pode conversar comigo e dizer que vai votar comigo e conversar com você, dizer que vai votar contra, sabe. Eu, então, fico com o meu otimismo, nós temos conversado com muita gente e eu quero te dizer que, até agora, tanto o presidente do Senado como o presidente da Câmara têm tido um comportamento de muita decência e de muito respeito na relação com o governo. Isso tem sido com o ministro Rui Costa, tem sido comigo, tem sido com o Haddad, e eu acho que assim vai prevalecer durante todo o nosso mandato. Na hora que tiver divergência, a gente vai sentar numa mesa e vai tentar encontrar a solução. Nós vamos continuar mandando medida provisória, até... veja, eu tenho o líder do governo, que é o companheiro [Alexandre] Padilha, que é o ministro coordenador da Política Institucional. Eu tenho o Jaques Wagner, líder no Senado. Eu tenho o [José] Guimarães, líder na Câmara e tenho o Randolfe [Rodrigues], líder no Congresso. Esses três companheiros terão que me procurar e dizer: "presidente, estamos tendo dificuldade". Quando eles me disserem isso, então nós vamos chamar quem está criando a dificuldade, para ver se a gente consegue estabelecer a facilidade que o governo precisa.
Orador 1 — Carla Dias do UOL. Carla Araújo, Carla Araújo.
Carla Araújo — Bom dia presidente, Carla Araújo, aqui do UOL, aqui, à esquerda. Eu queria insistir um pouquinho na pergunta do colega Igor, aqui. Você fala que não tem pressa para essa questão do Supremo, mas, além da vaga do Lewandowski, a gente vai ter a vaga da ministra Rosa Weber. Eu queria saber se o senhor se compromete com a indicação de uma ministra mulher ou se o senhor acha... também há uma demanda por um ministro negro, já que o senhor foi quem indicou Joaquim Barbosa. Eu queria principalmente saber, nessa questão da mulher, o senhor se compromete na vaga da ministra Rosa Weber, a indicação de uma mulher ou nessa primeira vaga porque a gente já está considerando que o... [trecho incompreensível] está com a mão na taça. Não sei se está já, já emendando. Obrigada.
Presidente Lula — Se eu for responder o que você perguntou, eu estarei criando um compromisso que eu não quero criar agora. Se vai ser negro, se vai ser negra, vai ser mulher, se vai ser homem. É um critério que eu vou levar muito em conta na escolha. Mas não te darei nenhuma referência, porque se eu der uma referência, eu estarei carimbando a futura pessoa que vai ser ministro ou ministra da Suprema Corte. Será uma pessoa altamente gabaritada, do ponto de vista jurídico. A pessoa tem que ter uma compreensão do mundo social desse país, dos problemas sociais desse país. A pessoa tem que conhecer a realidade desse país, sabe? Tem que ter o mínimo, o mínimo, mínimo de sensibilidade social para assumir uma postura dessa, porque é muita responsabilidade. E veja que, mesmo no meu primeiro mandato, temos que levar em conta que os ministros votaram coisa muito importante nesse país. Quem é que esperava que fosse votado a união civil? Votaram. Quem é que eu esperava que fosse votar célula tronco? Votaram. Quem aqui esperava que fosse votar Raposa Serra do Sol? Votaram. Quem é que esperava que fosse votar as cotas, porque tinha uma pressão, votaram. Então, veja que do ponto de vista das coisas de interesse do país, eles votaram corretamente muitas coisas. Eu sou agradecido. Eu não vou indicar ninguém pensando num futuro problema do presidente da República. O presidente da República existe para resolver problemas e não para criar problema. E é assim que vai prevalecer o critério para a escolha de quem será ministro da Suprema Corte.
Basília Rodrigues — Bom dia, aqui. Basília Rodrigues, CNN Brasil. Que bom que o senhor assiste a gente. Está ouvindo melhor agora? Meu nome é Basília Rodrigues, sou da CNN Brasil. O pessoal aqui tratou do Supremo Tribunal Federal, economia. Minha pergunta tem a ver com ódio. Eu gostaria de saber do senhor se há previsão de assinar o decreto que coloca para funcionar aquela Comissão dos Mortos e Desaparecidos da ditadura militar. Foi um dos últimos atos, do último governo a extinção desta Comissão. Ministério de Direitos Humanos instalou novamente a comissão, mas necessita, está dependendo do seu ato, de decreto para, de fato, funcionar. Ainda dentro dessa pergunta, a gente vê que o Brasil vai e volta nessa questão do ódio, da mágoa, das indisposições políticas e ideológicas. O senhor, no início de governo, acabou cometendo alguns excessos, considerados excessos, de fala ao tratar, por exemplo, da inimizade com o ex-ministro e juiz Sérgio Moro. Ao falar em algumas situações de Bolsonaro, queria saber primeiro: o senhor vai assinar o decreto da Comissão sobre a ditadura e segundo, o senhor vai parar de falar de Moro e de Bolsonaro, na sua gestão?
Presidente Lula — Deixa eu lhe falar uma coisa. Primeiro o decreto tem que chegar na minha mão, para eu saber o quê que diz, concretamente, o decreto, porque no primeiro governo meu e da Dilma, a gente fez o que era possível fazer, na circunstância em que nós fizemos, para tentar resolver o problema histórico desse país. Se o companheiro Silvio Almeida apresentar o decreto e o decreto tiver consistência, nós não vamos ter nenhum problema de fazer e assinar o decreto. A segunda coisa é que o Pimenta tem me orientado todo dia, para não falar esses nomes que você falou. Por isso é que eu não citei os nomes, porque ele me proibiu, porque eu não tenho que falar nem da coisa e nem do coiso, sabe? Deixa. Na verdade, é o seguinte: na verdade, o bom senso, o bom senso, a maturidade, a experiência me ensina que eu só tenho um compromisso, é de falar do futuro desse país, sabe, tenho um compromisso histórico com o mundo do trabalho nesse país, e eu estou com obsessão de criar condições de emprego nesse país, de melhorar a economia, de melhorar a educação, de melhorar a saúde, sabe, e é isso que eu tenho que me dedicar.
O passado eu pretendo falar o menos possível. Eu pretendo falar do futuro, mesmo das coisas que nós fizemos, vai terminar com os cem dias. Eu não vou ficar mais falando da coisa que nós fizemos e que retomamos. Eu vou começar a falar das coisas que nós vamos fazer daqui pra frente. Nós temos que fazer muita coisa, nós temos que fazer muito. Nós temos que fazer o verdadeiro milagre, pra discutir uma política de crédito nesse país que possa motiva os empresários voltarem a fazer investimento. Para isso, o governo tem que ser o indutor, o governo tem que fazer a sua parte. Se o governo não tem dinheiro para investir, se o governo não tem dinheiro para financiar, não vai acontecer nada. Nós não, não, não vamos privatizar nenhuma empresa. Nós suspendemos, inclusive todos os arquivos da Petrobras que estavam sendo, sabe, vendido, sabe, de 44 nós suspendemos 38. Não suspendemos outros seis porque já tinha sido assinado. E nós vamos tentar fazer coisa nova, retomar, sabe, o desenvolvimento industrial desse país, que é uma vergonha o que está acontecendo. Ou seja, o crescimento industrial no país é muito pouco, o PIB industrial está muito pequeno e o Brasil precisa investir na indústria para a gente poder exportar manufaturados e ganhar um pouco mais de mercado a nível internacional.
Então, não falarei mais das coisas, falei de economia, falarei de emprego, falarei de desenvolvimento industrial, falarei de desenvolvimento no comércio, falarei de desenvolvimento no serviço, falarei de uma grande política de relações internacionais, para que a gente possa retomar o protagonismo que o Brasil teve quando a gente deixou o governo. É isso que importa. Por isso, eu estou muito otimista com a minha viagem para a China. Depois da China eu vou para Portugal. Depois de Portugal, eu vou para Espanha. Depois da Espanha, eu vou ao Japão. E se duvidar eu ainda vou no coroamento do rei Charles da Inglaterra. Então, eu não tenho tempo de pensar nas coisas. Eu tenho tempo de pensar no futuro desse país. O meu compromisso, eu disse ontem na reunião com os governadores, aqui nessa sala, o nosso compromisso é o seguinte: todos nós fomos eleitos na mesma data e todos nós terminaremos o nosso mandato na mesma data. Nós seremos lembrados nos estados e no país pelas coisas que nós tivemos competência de fazer. E eu lembro, que nós já tivemos sucesso. E é fácil e possível a gente voltar a repetir o sucesso, tá?
Se o Brasil tivesse bem, maravilhosamente bem, tudo correto, certamente eu não teria ganho as eleições. Eu só ganhei as eleições porque tem muita gente que votou na perspectiva, primeiro a gente retomar a democracia e segundo a gente fazer esse país voltar a ser um país mais desenvolvido, com mais crescimento econômico. E isso eu tenho na cabeça que eu não posso falhar. Durante o meu primeiro mandato, eu cansei de dizer para vocês: eu não posso fracassar. E muitas vezes eu contei para vocês que eu tinha o [Lech] Walesa na cabeça, porque o Walesa tinha sido metalúrgico como eu, tinha sido grevista como eu nos anos 80, ele foi eleito presidente, eu não fui eleito. Quando ele tentou a reeleição, ele só teve 0,5% de votos. Quem só tem isso é um fracassado. E eu dizia: eu não posso fracassar porque se eu fracassar nunca mais um operário vai poder querer ser presidente da República. E agora eu posso dizer para você, eu não vou fracassar. Eu vim para presidir esse país, para que o Brasil tenha sucesso. E o sucesso do país depende do sucesso e da competência do governo, que é composto por 37 ministros e composto por um batalhão de gente nesse país que trabalha pelo sucesso. Esse é o nosso compromisso, o resto todo fica para trás.
Orador 1 — Thais Bilenky.
Thais Bilenky — Bom dia presidente, Thais Bilenky, da revista Piauí. Obrigada por receber a gente aqui. O senhor falou que não pretende falar da coisa nem do coiso. Eu tenho uma pergunta que enfim, tangencia essa questão, que é o seguinte: o Bolsonaro voltou para o Brasil, deu um depoimento ontem, sobre o "escândalo das arábias", vai ser julgado pelo TSE, pode se tornar inelegível, mas a eleição foi muito apertada. O senhor mesmo acabou... [trecho incompreensível] somente pelo fato de que é uma força que é capaz de fazer o que se fez em 8 de janeiro, que é capaz de ir para atos de violência, propriamente. Como é que o senhor vê essa divisão?
Presidente Lula — Olha, primeiro, a volta de um ex-presidente da República ao Brasil é uma coisa normal, que acontece em todos os países do mundo. Tenho consciência que o Bolsonaro tem pretensão de voltar a ser candidato a presidente da República. Eu tenho consciência que ele voltou a acreditar tanto em política que se filiou ao PL. Ele já não, ele já não discorda tanto da política como ele discordava. Para enganar a sociedade brasileira, porque depois de 28 anos de mandato dizer que não era político, era para enganar os incauto nesse país. Então, eu trabalho com a hipótese que o Bolsonaro vem, que ele vai voltar a fazer oposição. Ele tem que responder aos inquérito que ele tem que responder e vai ter muito processo. Vai ter muito processo contra o Bolsonaro, porque ele cometeu muitos erros e o mais grave deles, na minha opinião, ainda não está sendo sequer discutido que foi as 700 mil vítimas da Covid, de qual pelo menos metade é da responsabilidade — da irresponsabilidade — dele. Sabe, ele vai ter muito processo pela frente.
Agora eu, como fui vítima nesse país, eu defendo que todos tenham o direito à presunção de inocência, que ele tem o direito de se defender. Que seja julgado corretamente, investigado corretamente e que se defensa. Vamos ver o que vai acontecer. Eu acho que, inclusive, o Bolsonaro pode correr o risco de ter processo no exterior. Porque o que ele fez com a Covid não foi brincadeira. Desrespeitar a ciência, como ele desrespeitou, sabe? Negar a ciência, como ele negou, não é qualquer coisa. Portanto, ele vai pagar pelo preço dos erros que ele cometeu. Agora ele está livre, para fazer motociata. Ele imaginava que ia ter uma grande recepção. Que ia ter milhões de motocicletas. Como não tinha ninguém para pagar a gasolina, não tinha mais motocicleta, fica mais difícil. Então, ele vai fazer a experiência que ele nunca fez, sabe. Vamos ver o que é que vai acontecer.
O meu papel não é ficar preocupado com o que ele vai fazer. O meu papel é ficar preocupado com o que eu tenho que fazer. Eu fui eleito para fazer algumas coisas e eu tenho que fazer. Em política, eu comecei dizendo que eu estou muito satisfeito com os primeiros cem dias. Eu não esperava que a gente conseguisse recolocar o avião, sabe, na pista com tanta rapidez. E eu tenho que agradecer ao pessoal que trabalha comigo, que é muita dedicação. Vocês estão percebendo que o Palácio funciona de verdade, se trabalha de verdade aqui até nove, dez ou onze da noite, porque senão você não dá conta. A dificuldade que nós temos que enfrentar e vencer para fazer o país voltar a crescer. Essa é a minha preocupação.
Eliane Catanhêde — Presidente, ... [trecho com corte no áudio] externa bastante audaciosa nos dois primeiros mandatos, e essa política externa já foi deflagrada, rapidamente, nesse terceiro mandato. Você já se encontrou com [Joe] Biden, já falou com [Vladimir] Putin, com o [Volodymyr] Zelensky, com o [Olaf] Scholz, com o [Emmanuel] Macron. E agora vai falar com Xi Jinping. Até o senhor falar com Biden, a guerra na Ucrânia era tratada como armas para a Ucrânia e sanções para a Rússia. E o senhor trouxe a palavra paz para o conflito. O senhor vai para a China, que é considerada — inclusive pelo seu chanceler, Mauro Vieira — como um país-chave, decisivo para um cessar-fogo. Eu gostaria de saber e eu acho que o mundo gostaria de saber, qual vai ser a sua conversa com Jinping sobre a questão da Ucrânia, primeiro, e qual é o papel que os Brics vão ter para tentar acolher na mesa de negociação... o Putin, que é... enfim, é o único lugar em que o Putin pode se sentir confortável para discutir a negociação.
Presidente Lula — Nós, no outro mandato nosso, nós criamos a Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], que era o único lugar que Cuba participava. Primeiro eu estou falando de paz. Já falei com o Macron, já falei com o chanceler alemão e já falei com Zelensky, já falei com Putin, já falei com a Argentina. Eu vou falar com o Xi Jinping sobre paz, igualzinho eu falei com o Biden. Veja, não há nenhuma justificativa para essa guerra continuar. Agora, quando uma guerra começa, é que a gente, quando vai fazer a análise, a gente faz a análise como se fosse uma coisa muito complicada, difícil diferente do nosso dia a dia. Ou seja, eu acho que essa guerra já passou da conta. O Brasil já fez a crítica que tem que fazer. O Brasil defende a integridade territorial de cada nação. Portanto, nós não concordamos com a invasão da Rússia à Ucrânia. Agora, nós achamos que o mundo desenvolvido, sobretudo a União Europeia e os Estados Unidos, não poderia ter aceitado entrar na guerra da forma com que entraram com rapidez, sem antes gastar muito tempo tentando negociar. E negociar a paz é muito complicado.
Olhe, eu tive a oportunidade de propor ao grupo de amigos no dia 23 de janeiro de 2003. Eu tinha apenas 23 dias de Presidência da República para tentar encontrar a paz para o referendo na Venezuela. E, naquela ocasião, eu propus que dois países participassem do Grupo de Amigos da Venezuela: Estados Unidos, que era considerado o responsável pelo golpe na Venezuela, e a Espanha, com o [José María] Aznar, que tinha sido o primeiro presidente do mundo desenvolvido a ter reconhecido o golpista da Federação das Indústrias. Quando eu propus os dois, o Chávez e o Fidel Castro ficaram muito irritados, achando que eu estava querendo entregar a Venezuela. E eu disse para ele que o grupo de amigos não era do Chávez, era da democracia e que, portanto, colocar a gente no grupo que pensasse diferentemente deles e que pensasse da oposição, porque só ia dar certo um acordo se a oposição participasse. E dos Estados Unido participou o Colin Powell, que tinha sido o general da guerra do Iraque e era o secretário de Estado e participou a Fundação Carter. Ou seja, nós conseguimos fazer um acordo e teve o referendo na Venezuela. Lamentavelmente, a oposição não quis participar.
Então eu estou dizendo isso porque a paz é mais complicada do que a guerra. A guerra é um desejo insano, você toma atitude e faz uma guerra. Mas a paz tem que ser construída. Isso é mais ou menos como decretar uma greve, Eliane. Um sindicalista para decretar uma greve vai de meia dúzia de pessoas falando no ouvido dele e ele não tem coragem de dizer não. Ele vai lá, decreta a greve, ele vai ser aplaudido, vai estar todo mundo muito bem e tal. Agora, depois de algum dia parar a greve, é preciso ter alguém com coragem de parar a greve e aí nem todo mundo tem coragem. Aí a greve fica um mês, 40 dias, sobretudo no setor público, que fica até meses. A guerra, se comparar, é mais ou menos semelhante. Ou seja, ela começou, alguém tem que parar. Os dois que começaram não vão tomar a iniciativa de parar. Alguém de fora tem que ajudar. E eu estou convencido que tanto a Ucrânia quanto a Rússia estão esperando que alguém de fora fale "vamos sentar para conversar". E por que é que eu quero conversar com o XI Jinping? Porque eu acho que a importância econômica da China, a importância militar da China, a importância política da China e a relação da China com a Rússia e mesmo a divergência da Rússia e da China com os Estados Unidos, dá à China um potencial extraordinário de conversar.
Eu, inclusive, estava propondo que a gente convocasse uma espécie de G-20 quando houve a crise econômica de 2008, para quem é jornalista novo não deve se lembrar. Ou seja, o Brasil foi convidado para participar do G-20 porque o Brasil tinha muita importância geopolítica, muita importância. E nós fomos construir o G-20 para tentar resolver o problema da crise econômica de 2008 e conseguimos resolver. Não conseguimos resolver tudo porque a gente não conseguiu mudar o FMI como a gente propôs e a gente não conseguiu acabar com os países que servem de paraísos fiscais. A gente até ia acabar com o bônus que pagava aos CEOs do sistema financeiro, que ficavam vendendo ilusão para ganhar dinheiro no final do ano e levou à quebradeira. Mas o G-20 funcionou.
E por que não criou um grupo de países para discutir a paz? A Europa, que sempre foi o caminho do meio, eu disse isso tanto ao Macron quanto o Scholz. Ou seja, a Europa sempre foi o caminho do meio. Eliane, eu considero a social democracia também. Uma coisa extraordinária do ponto de vista da consolidação da democracia. Você imagina um continente depois da segunda Guerra Mundial construir a União Europeia é uma coisa excepcional da democracia, um monumento à democracia aquilo. E, de repente, esse país que construiu essa coisa extraordinária se mete numa guerra, desnecessariamente. Então, o que eu acho a China tem peso, o Brasil tem peso. Eu acho que a Indonésia pode participar. Eu acho que a Índia pode participar. Vamos lá conversar com o Putin, vamos conversar com o Zelensky. Vamos conversar com o Biden e vamos tentar ver se encontramos um grupo de pessoas que não se conformam com a guerra. Não é necessário ter guerra. O que é que o Putin quer? O Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia, mas o que ele invadiu de novo vai ter que repensar. O Zelensky não pode também querer tudo que ele pensa que vai querer. A Otan não vai poder se instalar na fronteira. Então, tudo isso é assunto que a gente tem que colocar na mesa. E uma coisa de sucesso em negociação, você tem que perguntar para o negociador você vai negociar para construir ou você vai negociar para destruir. Porque se o cara for negociar com a visão de não querer fazer acordo, não vá. Não compensa negociar.
Então eu acredito, eu estou muito feliz com essa ida do Xi Jinping à Rússia, muito feliz. Vocês sabem que o companheiro Celso Amorim foi à Rússia a meu pedido. O Macron está indo agora à China conversar com o Xi Jinping e eu acho que agora está começando a se fazer a conversa que deveria ter sido feita há um ano atrás. Então eu estou confiante. Eu espero que quando eu voltar da China e você me fizer essa pergunta, eu possa dizer "está criado o grupo que vai discutir a paz". E aí eu acho que a gente pode encontrar, que é o que o mundo está precisando. O mundo está precisando de tranquilidade, porque essa guerra da Ucrânia e essa guerra da Rússia ela começa a ganhar menos importância pela guerra que está no seio da humanidade.
O que está acontecendo nas escolas do mundo inteiro? O que está acontecendo na juventude do mundo inteiro? Nós precisamos encontrar uma solução que é uma crise humanitária mesmo. A minha ministra da Saúde disse que isso parece uma pandemia: o ódio, a intolerância, a radicalidade das pessoas, a capacidade de negar as coisas, a capacidade de produzir mentira, de produzir fake news virou normal. Antigamente, a mentira era uma coisa absurda, hoje virou normal. Mentir é bonito e as pessoas estão mentindo com coisa muito radical. As pessoas estão pregando a violência. Então, tudo isso a gente vai discutir e eu pretendo poder ser entendido pelo Xi Jinping. E quero que ele me convença que a China pode participar ativamente. E isso é uma das coisas que eu vou fazer. Além de discutir outros assuntos. Mas esse da paz é um dos temas prioritários que eu vou discutir. Além de discutir os interesses do Brasil, eu quero com os chineses que compreendam que o investimento deles aqui será maravilhosamente bem-vindo, mas não para comprar nossas empresas, para construir coisas novas que nós precisamos. O que nós estamos precisando não é vender os ativos que nós temos, é construir novos ativos. É isso que eu quero convencer os meus amigos da China.
Jornalista — ... [trecho do áudio corta a apresentação e o início da fala] de ter falado a respeito do espetáculo do crescimento, pensando que essa segunda etapa do governo vai ser muito pautada pela economia, se o senhor já tem uma palavra que entende que vai resumir esse ciclo econômico do terceiro mandato do senhor. E pensando que a economia está muito pautada também na política tributária, como o senhor também mencionou, eu queria tirar uma dúvida, porque em relação à reforma tributária, o senhor sempre dá a entender a segunda perna da reforma tributária que está lá no Congresso, a questão do Imposto de Renda, que seria algo prioritário. Pensando que o Congresso já está debatendo a tributária, a alteração sobre consumo, o que o senhor entende que pode ser importante nessa primeira etapa ser aprovado? Muito obrigado.
Presidente Lula — Olha a política tributária, possivelmente, seja a votação mais difícil que a gente vai ter no Congresso e em qualquer outro Congresso, porque você vai mexer com o bolso de pessoas. E sempre é muito difícil, porque a parte mais sensível do ser humano é o bolso. Lamentavelmente é assim. Eu lembro que quando se instituiu o cinto de segurança em São Paulo, ninguém usava, ninguém estava ligando para cinto de segurança. Aí, quando o [Paulo] Maluf criou a multa de R$ 500 para quem não usava, todo mundo passou a usar cinto de segurança. A política tributária é isso. Você tem gente que não paga, você tem gente que é favorecida. E você tem as pessoas mais pobres, que são as pessoas mais penalizadas, porque não tem como sonegar, o pobre é descontado na folha de pagamento. Ele não tem como e ele paga proporcionalmente mais do que os ricos pagam. O que nós queremos fazer? Nós queremos que as pessoas compreendam que sonegar é crime, sonegar é corrupção. Sonegar não pode ser motivação para alguém ficar rico não pagando imposto ao Estado. E tem muita gente que sonega. Essa questão do Carf [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais], que o Haddad fala sempre. É o único país do mundo que o governo já entra no jogo perdendo. É o único país do mundo que o governo já entra para perder, porque o governo deveria ter o direito do desempate. A Receita [Federal] deveria ter o direito. Não, ela não tem.
Então, com isso nós perdemos bilhões e bilhões em recursos que poderiam ir para a educação, para a saúde, para outras coisas. O fato da gente querer fazer com que a carga saia do setor produtivo é um sonho, um desejo de consumo de todas as pessoas que discutem tributo nesse mundo. Vamos ver se a gente consegue aprovar no Congresso Nacional. Se não for a reforma tributária perfeita, que a gente consiga aprovar o mínimo necessário para transformar o país num país mais justo. Do ponto de vista tributário, e eu acho que nós vamos conseguir fazer. Em 2007 eu mandei uma política tributária para o Congresso Nacional. Essa política tributária tinha sido aprovada pelos 27 governadores da época, tinha sido aprovada por 27 presidentes de federações da indústria e tinha sido aprovada pelas centrais sindicais. Quando eu mandei para o Congresso Nacional e vi que era a ser votada por unanimidade. Para mim, foi votada, sabe por quê? Porque a gente errou. Saiu no relatório, no relator. Então você tem que tomar cuidado, porque o relator tem que ser uma pessoa que esteja favorável ao projeto. Porque se ele for contra o projeto, ele não pode ser o relator.
Então, o Haddad e o nosso articulador político vão ter que ter muito tato, muita sensibilidade para, conversando com os partidos políticos, decidir quem é o relator e o relator tem que, no mínimo, estar de acordo com a proposta enviada pela Fazenda. Senão vai dar errado. Eu poderia te contar uma experiência minha na questão da política de regulação do pré-sal, Nós fizemos uma proposta e o [Michel] Temer, que era presidente da Câmara, veio conversar comigo. O [Cândido] Vaccarezza era líder do governo, veio conversar comigo e trouxeram o Henrique Eduardo Alves, que era deputado do Rio Grande do Norte, para conversar comigo, para ser o relator. Ao entregar o projeto do governo ao líder do governo, eu disse para ele "olha, só pode ser o relator se o relator votar o projeto que está aqui sem mudar". E eles assumiram um acordo comigo, que ia votar.
Acontece que, quando o projeto chegou na Câmara, o Ibsen Pinheiro apresentou uma proposta de que todos dos prefeitos do Brasil iriam receber royalties do pré-sal. Todos os prefeitos, mesmo aqueles que não tivessem nada com o pré-sal. O que aconteceu? Houve uma manifestação de prefeitos, todos os prefeitos queriam receber. E olha o que aconteceu, o nosso jogou o nosso relatório fora e votou o relatório do Ibsen Pinheiro. Eu fui obrigado a vetar na íntegra e repor o nosso relatório com outro relator. Aí nós conseguimos aprovar. Eu estou te contando essa história para dizer o seguinte: o relator é peça fundamental na aprovação da proposta que você deseja que seja aprovada. Então vamos esperar ser escolhido relator. Eu já ouvi dizer que talvez seja o companheiro do PP. Já ouvi alguém dizer que foi ministro da Dilma. Ainda não sei se será ele, mas se for ele, é para vocês perguntarem para ele "escuta aqui, relator, você está de acordo com a proposta?" Porque se ele estiver, a chance de ser aprovada é grande. Se ele for contra, a chance de ser reprovada é grande também.
Agora, como nós temos boa articulação política no Congresso, eu estou otimista que a gente vai aprovar dessa vez a mais eficiente política tributária que você, jornalista, não sei se você é PJ ou CLT, vai pagar menos imposto e vai ser mais feliz. Deixa falar uma coisa a você, eu ainda não utilizei a palavra espetáculo do crescimento porque eu prefiro, quando falar isso, fazer acontecer. Eu vou ter uma reunião segunda-feira, que para mim é muito importante. Você está lembrada que nós tivemos uma reunião com os 27 governadores. Eu pedi para cada um dos governadores apresentar aquilo que eram os projetos mais importantes para cada estado. Esse projeto que está sendo trabalhado pela Casa Civil, o companheiro Rui Costa e a companheira Miriam Belchior estão trabalhando esse projeto.
Vamos chamar os governadores de volta e vamos anunciar quais são as obras de infraestrutura que nós vamos priorizar, novas, e quais são as obras que nós vamos priorizar que estão paralisadas. Eu vou dar um número para você que não sei se você sabe. Nos últimos quatro anos do governo anterior, esse país investiu R$ 21 bilhões na área de transporte, R$ 21 bilhões em quatro anos. Nós, só este ano, vamos investir R$ 23 bilhões. Ou seja, nós vamos investir em 2023 o que foi investido em quatro anos. E daqui para frente vai ser assim, porque você vai ver que nós vamos colocar mais dinheiro na Educação, mais dinheiro na Saúde. E as coisas vão acontecer com o Congresso aprovando as medidas que a gente mandar, porque nós vamos conversar e vamos conversar muito com o Congresso Nacional para que o voto não seja, nunca, ideológico, mas que seja um voto, pensando efetivamente no futuro deste país. Nós temos que, em algum momento da nossa história, definir na nossa cabeça que Brasil que a gente quer deixar quando terminar o mandato de um deputado, de um senador e de um presidente da República. E é disso que eu quero convencer eles. E você pode ficar certa que nós vamos convencer e nós vamos fazer a economia brasileira voltar a crescer. Ela precisa voltar a crescer. Não é um desejo do presidente da República, é uma necessidade do país.
Andréia Coutinho — Bom dia, presidente! Bom dia, ministros! Andréia Coutinho, colunista do Nexo Jornal. Nos últimos anos a gente assistiu o desmonte de políticas socioambientais e climática... [trecho do áudio com corte] no Brasil.
Presidente Lula — Olha, uma coisa importante que eu queria comunicar a vocês é que o Brasil está brigando para que a COP 30 seja feita no estado do Pará, na cidade de Belém. Já que a gente vai discutir a questão climática e quando se fala na questão climática da Europa, se fala muito na Amazônia, eu quero que vocês saibam que, para mim, a questão climática é a lei da Amazônia, Eu quero discutir a qualidade de vida das pessoas na periferia desse país. Eu quero discutir as palafitas. Eu pedi para fazer o levantamento da quantidade de palafitas que tem nesse país, porque não tem sentido uma pessoa morar numa palafita. É o modo mais degradante de um ser humano morar. Viver mulher, marido, dois ou três filhos em um espaço de três metros quadrados, ali faz a sua necessidade fisiológica, ali cozinha, ali dorme. Não é possível a gente não colocar isso no debate climático. É a qualidade de vida da espécie humana, a qualidade de vida da periferia desse país, é a qualidade de saneamento básico desse país. Então, a questão climática vai levar uma relevância muito grande. A companheira Marina [Silva] não está no Ministério apenas porque ela é um símbolo. Ela está no Ministério porque ela está comprometida a que a gente faça o que a gente não fez. E obviamente que a gente sabe que ela não poderia, em três meses, remontar o que ela tinha montado quando ela foi ministra da outra vez. Leva mais tempo para a gente evitar o desmatamento, para a gente evitar as queimadas, leva envolvimento dos prefeitos. Não é a gente ficar gritando de Brasília, que é crime queimada, que é crime não sei das quantas, se você não envolve o prefeito que está lá na área. O prefeito sabe quem é o dono da fazenda, o prefeito conhece quem é o dono da fazenda, o dono da terra. Então, em vez de você criminalizar, você para trazer, para que ele seja seu parceiro nessa política de contenção do desmatamento, da queimada nesse país, e isso vai ser levado em conta por nós.
Eu tenho muita confiança na disposição que a equipe nossa, que vai cuidar do meio ambiente tem de consertar esse país. O BNDES está muito entusiasmado na constituição e no fortalecimento de fundos para que a gente possa financiar a proteção da Amazônia, para que a gente possa financiar uma política de reflorestamento nesse país, é preciso que a gente tenha competência para isso. Então, vamos dedicar e ver que a Marina está magrinha, sabe, ela tem trabalhado muito. Ela está angustiada porque o que fizeram com o Ibama, por exemplo, No nosso tempo de governo, tinha 1.700 funcionários. O Ibama está com 700 agora. Ou seja, nós temos que repor isso. E o parâmetro nosso é o meu governo. O parâmetro nosso é o que a gente tinha quando eu deixei a Presidência da República. Nós não estamos nem pensando no futuro de 2025. A gente está pensando em 2010, quando eu deixei o governo, o Ibama tinha 1.700 trabalhadores, tem que botar 1.700 trabalhadores. E assim nós vamos reconstruir esse país. E por isso, a questão climática ganha importância porque também ela será utilizada como a forma de desenvolvimento e de crescimento econômico desse país.
Eu tenho repetido várias vezes que nós não temos dimensão da riqueza, da biodiversidade, da Amazônia e nós falamos muitas vezes de forma muito genérica. Nós temos que levar em conta a existência de 25 milhões de pessoas que moram na região. Nós temos que levar em conta que a Amazônia não é só brasileira. Além do Brasil, tem Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia e Peru, que nós estamos convocando uma reunião para que a gente possa discutir como, em conjunto, os países da Amazônia vão cuidar da Amazônia. Porque o garimpo que está em Roraima é o garimpo que está do outro lado na Venezuela. Então, é preciso pactuar com a Venezuela, que lá também não pode ter garimpo. Você sabe o trabalho que a gente está tendo para esvaziar aquele garimpo. Já tivemos 80% de sucesso, mas ainda falta muita coisa e nós temos que tentar demover o surgimento de outros garimpos. Nós vamos aumentar a demarcação de terras indígenas e nós vamos aumentar a questão de parques e reservas neste país.
Agora, nós vamos ter que pensar de forma diferente, que uma reserva tem que se autofinanciar. Portanto, nós precisamos tentar saber como a gente pode explorar uma reserva para que ela possa gerar recurso para sua própria manutenção e quem vai tomar conta das reservas são as pessoas que lá moram. São os indígenas, os ribeirinhos, são os povos que vivem da seringa. Nós vamos ter que pensar rapidamente esse país. Nós quase construímos este país. Ele foi desmontado, pois agora vamos remontar e é uma obrigação, não da Marina. É uma obrigação do governo e do país. É um compromisso do governo aquilo que parecia impossível não vai ser impossível.
Até o fundo que nós criamos quando eu era presidente, com a Noruega e com a Alemanha, vai voltar a funcionar e nós vamos tentar estabelecer o fortalecimento desse fundo com as instituições brasileiras também, para que as pessoas assumam a responsabilidade de que cuidar da própria floresta não é uma obrigação do presidente da República, é uma obrigação da sociedade brasileira. Quando um cidadão acha que tem o direito de ir no Estado do Norte e cortar uma árvore que tem 300 anos para fazer móveis, esse cidadão tem que saber que aquela árvore não é dele, aquela árvore é de quem mora lá, mas é também de quem mora aqui. E ele não pode cortar. Aquilo é um patrimônio de 215 milhões de habitantes. Eles não têm o direito de cortar. E nós também não temos medo de proibir e não temos medo de ser duros com quem desrespeitar a política correta de preservação ambiental desse país.
Orador 1 — A gente está a 1h30. Já o café da mesa está virando almoço. Eu sinto, mas a última uma pergunta é Luiz Fara, da Record.
Luiz Fara Monteiro — Bom dia, presidente! Bom dia a todos aqui presente. Luiz Fara Monteiro, do Jornal da Record. Presidente, ao mesmo tempo que a gente teve a notícia da chegada de uma montadora chinesa na Bahia para assumir as instalações da Ford, a gente tem também algumas montadoras dando férias coletivas aos trabalhadores no momento em que muito se fala de reforma tributária. Eu queria saber o que o senhor tem previsto de incentivo à indústria, de incentivo à produção? Será que esse discurso fica apenas na reforma tributária? O governo pode fazer alguma coisa específica para incentivar a produção, para incentivar a geração de empregos aqui no Brasil? Então, queria saber também como o senhor vê a questão da desoneração da folha de pagamento dos principais setores? Uma segunda pergunta, queria saber se o senhor, como corintiano, também fica feliz com os tropeços do VP no Flamengo.
Presidente Lula — Eu só acho que o Corinthians vai honrar o futebol brasileiro, ganhando hoje de um time chamado Liverpool, que não tem o Salah. De qualquer forma, o Flamengo ontem disse que jogou com time misto e o Palmeiras diz que jogou com time misto. Vamos dar uma chance. Luiz, primeiro acho que fazia 13 anos que você não me faria uma pergunta. Então eu estou querendo dizer para você o seguinte: quando eu deixei a Presidência da República, em 2010, a indústria automobilística brasileira vendia aproximadamente 3,8 milhões de carros por ano. Eram licenciados 3,8 milhões de carros por ano. A previsão da indústria automobilística em 2010 era que em 2014, eles tivessem licenciando 6 milhões de carros. O que aconteceu é que hoje não estamos licenciando metade dos carros que nós licenciávamos em 2010.
O que aconteceu é que a indústria automobilística parou de vender porque o povo parou de comprar. Você sabe que hoje um carro, o carro, não existe mais carro popular. Então o povo pobre que tinha vontade de comprar um carro, ele comprava para pagar em 30 meses, 40 meses, 50 meses, nós chegamos a financiar carro em 60 vezes. Você está lembrado que o Bamerindus era o banco que financiava carro usado. Ele tinha uma carteira de quase R$ 90 bilhões e quando o Bamerindus quebrou e parou de financiar carro usado, o que nós fizemos? Nós compramos o Bamerindus porque o Banco do Brasil não tinha expertise e a gente continuou financiando carro utilizado, porque as pessoas mais humildes, as pessoas trabalhadoras que ganham R$ 3 mil, R$ 4 mil não podem comprar carro novo. Ele compra carro usado e quando a pessoa vende o carro usado a pessoa compra um novo.
Isso parou de acontecer neste país. Por isso é que as empresas estão dando férias coletivas, todas elas, praticamente. Eu já disse ao companheiro [Geraldo] Alckmin que convidasse a indústria automobilística e que convidasse os companheiros dirigentes sindicais do setor automobilístico, para ter uma conversa. Não é ter uma conversa para discutir se a gente vai incluir IPI, se a gente vai fazer qualquer coisa. Não, essa conversa já fizemos há muito tempo atrás. É preciso ter uma discussão mais profunda. O que a gente quer da indústria automobilística brasileira? Porque eles também têm que assumir a responsabilidade de facilitar o financiamento. Hoje, como é que uma pessoa compra o carro? Eu poderia perguntar para vocês que são de classe média, está fácil comprar um carro hoje? Não está fácil. E todo mundo sabe que o sonho de muita gente nesse país continua sendo o carro. Então eu vou reunir a indústria automobilística, vou reunir sindicalista e vou tentar discutir uma programação, que pode envolver alguma política de isenção fiscal em algum item, mas também pode não incidir, mas também vai ter que influir na capacidade deles. Por exemplo, tem empresário que acha que o governo deveria ter uma política de comprar caminhões velhos. Veja que engraçado, essas pessoas são inimigas de empresa estatal e ao mesmo tempo eles propõem para o governo comprar carro velho. Por que é que o governo haverá de comprar carro velho? Ora, se quer vender carro velho, vende para a empresa de desmanche, vende para a siderúrgica, não para o governo. Então nós vamos discutir, Luiz, com muita seriedade, porque eu estou preocupado. Eu recebi um telefonema do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que todas as empresas estão paralisando as suas atividades. E também vou discutir os chineses, o nosso governador Jerônimo [Rodrigues] da Bahia está na China para que, possivelmente, haja a assinatura do acordo da China vir produzir carro elétrico na Ford da Bahia.
Nós já fizemos desoneração da folha de pagamento uma vez. Eu não quero discutir com as empresas, apenas aquilo que eles acham que facilita a vida deles. É preciso que a gente retome a capacidade produtiva desse país de outra forma. A política tributária pode ajudar, mas é preciso saber o seguinte: nós não podemos continuar produzindo carro muito caro para um povo que não pode comprar. Para quem a gente está produzindo? A gente está com dificuldade de exportar, porque as matrizes não permitem que a gente exporte para o continente africano, porque é ele que exporta. A gente não exporta para a América Latina, porque ele exporta. Nós não temos o mercado interno para ter 30 indústrias automobilísticas. Então é preciso ter uma discussão e eu pretendo discutir com a Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores] com muita seriedade, com o dirigente sindicais. Qual é o futuro da indústria automobilística no Brasil? E aí me interessa a ideia da produção de carro elétrico do Brasil, de carro elétrico, de ônibus elétrico, Essa discussão vai acontecer nesses próximos dias e vamos ver a hora que a gente sentar com a indústria. Qual é a pauta deles? Qual é a pauta do sindicato? Porque tudo tem que ter um jogo combinado. Se você vai dar o benefício para o empresário saber o que é que o trabalhador vai ganhar porque senão não tem sentido você negociar só para um lado ganhar. Mas eu estou muito preocupado. Estou muito preocupado com a situação do desemprego no Brasil. A indústria automobilística, que já teve muita importância, mais do que tem hoje, ela já representou praticamente 20 e poucos por cento do PIB industrial brasileiro. Hoje ela não representa mais isso. Mas ainda continua sendo um setor muito importante na atividade econômica brasileira.
Ministro Paulo Pimenta — Pessoal, quero agradecer muito a vocês, o presidente já ficou aqui uma hora e meia.
[Participante do café faz comentário inaudível]
Ministro Paulo Pimenta — Cátia, já tem muita gente pedindo para falar. Muita gente quer falar. Até mesmo por uma questão de manter o critério. Depois a gente vê, talvez, com o ministro, diretamente, ou com alguém. Mas o presidente já fez aqui um ótimo exercício de debate e conversa com todo mundo. O presidente já está com a voz cansada. Eu quero agradecer a vocês e com certeza, daqui a um tempo a gente marca uma outra oportunidade.
Secretário José Chrispiniano — Espera só um pouquinho... Foi de superação... Um pouquinho. Foi uma coisa que foi tuitada e gerou uma revolta.
[Mais participantes do café fazem comentários inaudíveis]
Presidente Lula — Eu apenas contei um caso, não disse nem o nome da pessoa da imprensa que citou um assunto. Mas eu contei um caso (que eu ouvi uma pessoa da imprensa dizer) que o presidente do Banco Central, em uma conversa com ela, disse que para atingir a meta de 3% de inflação, os juros precisavam dar 20%. Isso eu disse que ele disse para uma jornalista. É isso, eu não falei, eu não fiz um comentário. Eu já fui presidente da República, eu já discuti com o Banco Central, eu já estabeleci meta de inflação nesse país. Já cumprimos a meta que nós estabelecemos. É importante lembrar que quando eu cheguei, em 2003, a inflação era 12% e nós conseguimos levar, durante o governo, a inflação para dentro da meta de 4,5 (mais dois e menos dois), que era o que nós decidimos e conseguimos fazer. Ora, se você tem alguém que estabelece uma meta e não vai cumprir, é como você estabelecer uma meta para a sua vida e você saber que você não vai cumprir, então não estabeleça a meta, você está mentindo para você mesmo. Então, eu disse que não ia discutir meta porque esse é um problema da autonomia do Banco Central e do Senado, que aprovou o nome do presidente do Banco Central. Eu já tive o prazer de, durante oito anos, discutir meta, discutir inflação, discutir política monetária, discutir câmbio. Quando eu tinha relação com presidente do Banco Central, que ele era indicado por mim, agora não é mais. Então ele exerça a sua autonomia e o povo brasileiro sabe que fica analisando.
Ministro Paulo Pimenta — Muito obrigado a presença de todos e de todas. Até uma outra oportunidade. Um abraço, pessoal. Se quiser tirar foto...
Presidente Lula — Deixa só eu dizer uma coisa para vocês: nós vamos entrar em uma fase agora em que eu vou ter mais disposição, acertando com Pimenta e com Chrispiniano, de fazer entrevista para os principais órgãos de imprensa deste país. Nós vamos ter que começar a marcar. O presidente da República não pode falar toda semana, porque vai chegar uma semana que ele não vai ter o que falar e quando a gente não tem o que falar, a gente fala bobagem. Então vocês vão ter que ter paciência, mas eu estou disposto a ser entrevistado por vocês.