PRONUNCIAMENTO do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em café da manhã com jornalistas
Ministro Paulo Pimenta — Bom dia pessoal. Pessoal, eu quero em primeiro lugar agradecer a presença de todos e de todas que atenderam o nosso convite. Muitos profissionais da imprensa gostariam de poder estar aqui nesse café. Nós tivemos que fazer um filtro, um critério para poder ter um grupo representativo de todos vocês que fazem a cobertura aqui do Palácio, mas com certeza teremos também outras oportunidades. O presidente Lula desde o início demonstrou essa disposição, essa vontade de poder conhecer os profissionais que cobrem no dia a dia, aqui no Palácio e, gentilmente, ele e a Janja estão aqui conosco para poder fazer esse café para que vocês possam conhecer um pouco mais também o nosso presidente, ter a oportunidade de ter esse contato. Afinal de contas, nós vamos trabalhar juntos e é muito importante que a gente possa ter essa interlocução e esse espaço de diálogo.
Chrispiniano é o nosso secretário de Imprensa, é a pessoa que vai no dia a dia ter esse contato mais próximo com vocês. Nós vamos também ter uma pessoa responsável pelo Departamento de Mídia Nacional, uma pessoa responsável pelo Departamento da Mídia Internacional. Ainda estamos na fase de montagem das nossas equipes, mas nos próximos dias nós já vamos estar com tudo organizado para poder iniciar o trabalho.
Eu quero somente, presidente, destacar que a Secom [Secretaria de Comunicação Social] e o nosso Governo realizaram uma importante reunião essa semana com todas as entidades representativas dos jornalistas profissionais; Fenaj, Sindicato dos Jornalistas aqui de Brasília e outras entidades. Especificamente sobre o tema da violência que tem sido vítimas os profissionais da imprensa. Somente no domingo, nós tivemos 12 casos de profissionais de imprensa que foram agredidos, aqui no Distrito Federal, ou tiveram seus equipamentos danificados.
No domingo nós tivemos situações que envolvem violência contra profissionais da imprensa. Nós fizemos uma reunião de trabalho. A Secom assumiu o compromisso de ser parceira destas entidades na defesa da liberdade de expressão e da garantia das condições de trabalho dos profissionais de imprensa. Em nome do nosso Governo, presidente, eu fiz o contato com o delegado chefe da Polícia Civil aqui Distrito Federal e ele designou um delegado que vai ser responsável especificamente pelos inquéritos que envolvem violência contra profissionais de imprensa.
Essa é uma iniciativa pioneira, ontem eu fui procurado pela Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] querendo saber mais sobre essa iniciativa, porque trata-se de uma iniciativa pioneira na defesa da liberdade de expressão e da garantia das condições de trabalho para os profissionais da imprensa. E eu recebi ontem o retorno das entidades dizendo que tudo aquilo que nós combinamos está funcionando em termos dos depoimentos e da investigação, para garantir a liberdade e a garantia do trabalho de vocês.
Esse é o nosso desejo.
Rapidamente, presidente, antes da gente passar a palavra para o senhor, nós vamos dar oportunidade para que cada profissional possa se apresentar, dizer o seu nome e dizer o órgão que trabalha para que o presidente possa também conhecer vocês, tá bom? Vamos começar pela nossa companheira. Eu não vou dizer que vou começar pela direita, porque é melhor. Vocês estão olhando, daí nós estamos começando pela esquerda, fica um olhar mais adequado. Por gentileza, colega.
Jornalista — Bom dia, presidente, ministros. Juliana Lopes, da CNN, Brasil.
Jornalista — Eu acho que eu não preciso muita apresentação. Marcelo Auler, 247.
Jornalista — Bom dia presidente, ministro e Janja. Lisandra Paraguassú, Agência Reuters. Obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente, Janja e ministros. Eduardo Gayer, da Agência Estado. Obrigado.
Jornalista — Bom dia presidente, Janja e ministros. Guilherme Mazui. Sou do portal G1. Obrigado pela oportunidade.
Jornalista — Bom dia a todos. Eu sou Ingrid Soares, do Correio Braziliense. Obrigada pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente. Sou Tom Phillips, sou correspondente do jornal inglês The Guardian, muito obrigado pelo convite. Eu queria publicamente também agradecer o senhor e a sua equipe pelo apoio que nos receberam no ano passado, depois do assassinato do nosso amigo Dom Phillips. Crispiniano e vários outros membros da equipe entraram em contato para mostrar solidariedade em momento muito difícil. Então, publicamente, obrigado.
Orador — Eu queria pedir que quando vocês falassem, falassem um pouco mais alto, porque nós não temos caixa de retorno aqui, então fica difícil de vez em quando a gente ouvir se pessoa falar baixo, então é importante falar mais alto.
Jornalista — Oi presidente, bom dia. Renata Varandas, da Record. Bom dia Janja, ministro e Cris, obrigada pelo convite.
Jornalista — Bom dia Janja, presidente, ministro, Crispiniano secretário. Obrigada pelo convite e parabéns pela iniciativa. Para gente da imprensa é muito importante ser bem tratado dessa maneira. Eu sou Débora Bergamasco, do SBT.
Jornalista — Bom dia presidente, primeira dama, ministro. Eu sou Lucas Teixeira do UOL, obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, ministro e Crispiniano. Eu sou Fabio Murakawa, sou setorista do Valor Econômico aqui. Também era setorista do cercadinho lá do Alvorada. É um prazer estar aqui. Muito obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente, Janja, Crispiniano e ministro. Eu sou Daniel Carvalho da Bloomberg. Também gostaria de agradecer a oportunidade.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, bom dia ministro. Eu sou Eduardo Meireles da revista Fórum.
Jornalista — Oi presidente bom dia, bom dia a todos. Eu sou a Bárbara Baião, do Jota. Cheguei aqui em Brasília no período Bolsonaro, então é muito importante pra gente como imprensa ter essa abertura, esse canal de diálogo, obrigada.
Jornalista — Bom dia presidente, Janja e ministros. Também agradeço pelo convite. Eu sou Túlio Amâncio, do Grupo Bandeirantes, da Band News TV.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, ministro Paulo Pimenta, Crispiniano. Sou Rodrigo Lopes, do Grupo RBS, de Porto Alegre.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia primeira dama, ministro e Crispiniano. Eu sou o Plínio Aguiar. Repórter do R7.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia primeira dama e ministros. Jeferson Couto, repórter cinematográfico, CNN Brasil. Muito obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, bom dia ministros. Ricardo Vieira, repórter cinematográfico da Rede Vida de Televisão.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, bom dia ministro. Obrigado pelo convite. TV Globo Brasília.
Jornalista — Obrigado presidente, Janja. Obrigado presidente, obrigado Janja, ministros, secretário. Obrigado pelo convite e uma boa reunião para todos. Desculpa, Sérgio Lima. Poder 360.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, bom dia ministro. Eu sou Adriano Machado, da Reuters, Agência Reuters. Obrigado.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia primeira dama, ministros. Sou Pedro Ladeiras, fotógrafo da Folha. Queria agradecer especialmente ao ministro Paulo Pimenta pela iniciativa em relação aos jornalistas, que foram agredidos no domingo. Muito importante. Obrigado.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, bom dia ministros. Marcelo Camargo, da Agência Brasil, EBC. Obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, bom dia ministro. André Borges, da Agência EFE.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia Janja, bom dia ministro Pimenta. Obrigado pelo convite. Meu nome é Sérgio Dutti, sou da Dutti Imagens.
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia primeira dama. Eu sou Matheus, lá na Anadolu, uma agência da Turquia,
Jornalista — Bom dia presidente, bom dia primeira dama, Paulo Pimenta, Zé. Sou Manoel Marçal, da sucursal do O Tempo aqui de Minas Gerais. Muito obrigado pelo convite. Paulo Pimenta, ao senhor, especificamente muito obrigado por ter recebido o nosso colega que foi agredido, pelo trabalho que vocês estão fazendo relacionada à imprensa.
Jornalista — Bom dia presidente, Janja, Ministro, Crispiniano. Sou Ranielle Veloso da TV Meio Norte, Grupo Meio Norte de Comunicação. Vim de Teresina, Piauí, desde 2019 aqui. Cheguei em um tempo sombrio, mas agora eu acho que a imprensa vai ser tratada como ela merece. Afinal de contas a gente é importante nesse processo democrático. Obrigada.
Jornalista — Bom dia presidente! Bom dia Janja! Bom dia Crispiniano! Bom dia Ministro! Sou a Sayonara Moreno, repórter da Rádio Nacional da EBC, queria aproveitar e agradecer o ministro pela visita que já foi feita logo depois que tomou posse à sede da EBC aqui em Brasília, e destacar a importância da comunicação pública e agradecer também o papel das assessoras aqui no Planalto, que dia a dia aguentam muito a gente. Obrigada muito pelo convite, pela oportunidade.
Jornalista — Bom dia presidente! Bom dia Janja! Os ministros, o Crispiniano, que me atura bastante, o pessoal da assessoria. Eu sou Caius Peixoto, repórter do Poder 360. Obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia Presidente! Bom dia Janja. Ministro Crispiniano. Sou a Gabriela Echenique, da Rádio CBN. Obrigada pela oportunidade e pelo convite.
Jornalista — Presidente, primeira dama, ministro, secretário. Bom dia! Obrigado pela oportunidade de participar desse café e presidente, é uma satisfação voltar a revê-lo. Eu sou André Barrocal, da revista Carta Capital.
Jornalista — Bom dia Presidente Lula! Bom dia primeira dama, Crispiniano, Ministro Pimenta. Eu sou o Matheus Teixeira, repórter da Folha de São Paulo. Queria também agradecer pelo convite.
Jornalista — Bom dia Presidente, Janja, Ministro e secretário. Eu sou a Flávia Sayid, do Metrópolis. Também agradeço pelo convite e pela oportunidade.
Jornalista — Bom dia, Presidente, Janja, ministros, Cris. É um prazer estar aqui representando o Grupo Bandeirantes, BandNews FM. Eu sou Natália Pazzi, obrigada pela oportunidade.
Jornalista — Bom dia presidente Lula, Primeira Dama Janja, Ministro Pimenta, Crispiniano, Stuquinha que está por aí, Raquel, Flávia, Ana. Todo mundo que organizou, os assessores que organizaram, Tati, aqui à vista. Sou Kennedy Alencar da Rede TV! Obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia, presidente, Janja, Crispiniano, Ministro, toda a equipe de comunicação, as meninas do presidente, nossos colegas da imprensa, eu sou Edilene Lopes da Rádio Itatiaia de Minas Gerais.
Jornalista — Bom dia presidente, Janja, ministros. Eu sou Milena Teixeira, do SBT News. Obrigada pelo convite.
Jornalista — Bom dia, presidente! Bom dia, Janja. Bom dia, Ministro! Bom dia, Crispiniano! Bom dia a todos os colegas e a todos da equipe do Palácio. Eu sou Felipe Frazão. Do Jornal Estadão. Agradeço a oportunidade do senhor receber a gente e o convite também.
Jornalista — Bom dia Presidente, Janja, Secretário, Ministro Pimenta, Obrigada! Muito obrigada pela oportunidade. Mudança de ares em relação ao tratamento da imprensa. Sou Marina Francischini, repórter da GloboNews.
Jornalista — Bom dia! Vou dizer primeiro a primeira dama, Janja. Bom dia! Bom dia, presidente Lula. Bom dia, Ministro Pimenta! Bom dia, Crispiniano. Bom dia a todos! Eu quero agradecer esse momento. Esse café da manhã e a oportunidade dessa conversa. Meu nome é Délis Ortiz, da TV Globo.
Jornalista — Bom dia, presidente! Bom dia, Janja! Bom dia, Ministro Pimenta. Bom dia, Crispiniano. Eu sou Sérgio Roxo, do GLOBO e estou chegando em Brasília agora, acompanhava o senhor em São Paulo, agora estou chegando aqui. Queria agradecer pelo convite também.
Jornalista — Bom dia, Janja. Bom dia, presidente, ministros, assessores, a todos. Meu nome é Caio Messina. Sou da TV Bandeirantes. Cubro o Palácio do Planalto desde 99. Então, a gente já se cruzou por aí. Queria dizer que eu sou palmeirense. Então uma saudação palmeirense para o senhor.
Jornalista — Bom dia, presidente, Rosângela, Ministro, Crispiniano. Eu sou Romualdo de Souza, da Rádio Jornal do Comércio, de Pernambuco. Agradeço a gentileza do convite e retribuo esse convite com um convite. Diariamente, no final da tarde, no comitê de imprensa, nós temos um café de qualidade do agreste pernambucano. O senhor e sua equipe são convidados.
Jornalista — Bom dia, presidente! Bom dia, Janja, primeira dama. Ministro Crispiniano, os colegas da assessoria, os colegas jornalistas, aqui, enfim, todos os presentes. Meu nome é Edson Sardinha, sou diretor de redação do site Congresso em Foco. Obrigado pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente! Bom dia Janja! Bom dia, Ministro Paulo Pimenta. Bom dia a todos! Bom dia a todos os repórteres, cinegrafistas e auxiliares. Ao Stuckert, que nos convidou a estar todos aqui. Muito bom estar aqui nesse momento. Obrigado. Isaac, SBT.
Jornalista — Bom dia, presidente! Meu nome é Elicarlos. Bom dia, Janja! Bom dia, Paulo Pimenta. Eu sou da Rede Record de Televisão. Muito obrigado.
Jornalista — Bom dia, presidente! Eu sou Aldo Silva Pinto, da empresa EBC. Trabalho há 35 anos na empresa EBC e a gente quer agradecer pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente! Bom dia, primeira dama! Bom dia Ministro! Bom dia a todos! Eu sou o Chiquinho do Fogo, conhecido Francis Cardoso. Sou jornalista da TV Bandeirantes e repórter cinematográfico. Quero agradecer essa oportunidade pela primeira vez depois de 40 anos. É a primeira vez que eu vejo a imprensa tão unida. Isso é bonito e aproxima mais. Então você está de parabéns, o presidente, o ministro e a todos. Eu quero agradecer em nome da Bandeirantes, pelo convite.
Jornalista — Bom dia presidente! Eu sou o Wilton Junior, repórter fotográfico do jornal O Estado de São Paulo. Agradeço, senhor presidente, a primeira dama, ao ministro Pimenta, ao Crispiniano. E quero fazer um agradecimento especial a Ricardo Stuckert e a equipe maravilhosa. Essa equipe das meninas que têm tido um tratamento diferenciado conosco após tanto tempo. Muito obrigada pelo convite.
Jornalista — Bom dia aos colegas de trabalho. Bom dia, presidente! Bom dia, Janja. Bom dia, ministro. Eu sou Débora Siqueira, da Globo. É uma honra estar aqui pela primeira vez. Faz um ano que eu entrei na TV e é a primeira vez que eu vejo a gente ser tão bem tratada. Muito obrigada.
Ministro Paulo Pimenta — Bom, pessoal, feitas essas apresentações iniciais, fiquem à vontade com café. Nós vamos então passar a palavra para o nosso presidente para que ele possa fazer essa saudação a todas e todos. Tá bom? Obrigado, presidente! A palavra está com o senhor.
Presidente Lula — A Janja está dizendo que, diferentemente dos partidos políticos, nessa reunião com a imprensa, tem uma equiparação entre homens e mulheres. Eu estou achando que tem mais homens do que mulheres. De qualquer forma, creio que já tem muitas mulheres. Meus companheiros e companheiras, o objetivo dessa conversa é uma apresentação do governo para a imprensa que faz a cobertura da Presidência da República, aqui dentro do Palácio. Faz 12 anos que eu deixei a Presidência e estou de volta. Eu acredito, mais experiente, mais maduro, mais consciente do que tem que acontecer nesse país. E vocês sabem que nós estamos apenas há 12 dias, hoje está completando 12 dias que estamos no governo.
Nós nem ainda terminamos de montar o governo, porque até agora foram indicados pouca gente. Nós estamos no momento de fazer uma triagem profunda. Porque a verdade é que o Palácio estava repleto de bolsonaristas, de militares e nós queremos ver se a gente consegue corrigir, para que a gente possa colocar funcionários de carreira, de preferência funcionários civis, ou que estavam aqui, ou que foram afastados, ou que estão em outro departamento. Para que isso aqui se transforme num gabinete civil.
Um presidente da República com maneira e convivência com a sociedade, com mais civilidade do que vocês estiveram acostumados nesses últimos quatro anos. Nós estamos num momento em que estamos conversando com os ministros, que podem oferecer propostas de trabalho imediata. Por exemplo, eu fiz reuniões com a ministra da Saúde, porque nós já podemos apresentar em poucos dias uma nova política de vacinação nesse país. Nós já podemos apresentar recuperação da farmácia popular. Nós já podemos apresentar de volta o programa Brasil Sorridente. Nós já poderíamos apresentar algumas coisas na área da saúde que estavam paralisadas há muito tempo.
Eu já fiz reunião com os companheiros ministros que tratam da questão do desenvolvimento e política social. O companheiro Wellington, que também já está preparando coisas para que a gente possa apresentar ainda este mês. Eu vou fazer hoje reunião com o Ministério das Cidades, vou fazer reunião com o Ministério do Transporte, porque também eles têm coisas para apresentar e a gente, então, vai começar a partir deste mês viajar o Brasil para anunciar algumas coisas. A retomada de obras que estavam paralisadas há quatro anos, há cinco anos, há seis anos, há sete anos, tem muita coisa paralisada. São quase 14.000 obras só na Educação. São quase 4.000 obras de coisas que estão paralisadas, que vai de creche a Instituto Federal e nós então vamos tentar pegar essas obras, que já tem projeto que já foi aprovado, e a questão ambiental. E essa obra que já está, às vezes, mais da metade construída, nós vamos começar imediatamente retomar essa obra para que o governo comece a funcionar muito rapidamente.
E isso vai valer para o Ministério do Transporte também, porque tem muitas rodovias no Brasil totalmente esburacadas e é preciso começar um processo de recuperação. Na questão da Educação, também, ontem tive reunião com a ministra para perceber tudo que a gente tem que começar a fazer imediatamente, a começar de tentar recuperar a qualidade do ensino para as crianças que voltaram depois do Covid, de forma muito precária. Nós vamos ter um trabalho imenso para recuperar a capacidade de aprendizado dessas crianças.
Então, em cada área nós vamos tentar começar a trabalhar imediatamente. Mesmo com esse processo de montagem do governo porque ainda nós temos que discutir todo o segundo escalão do governo. Temos que discutir as empresas públicas, temos que discutir os conselhos e tudo isso a gente vai fazer com muito tempo, com muita tranquilidade para que a gente não possa e não precise cometer nenhum erro. Quando percebemos que nós estamos vivendo um momento, (em>sui generis nesse país. Eu e Janja, ainda não temos casa para morar. Quando eu ganhei as eleições, em 2003, o Fernando Henrique Cardoso me fez a gentileza de permitir que eu ficasse quase 40 dias na Granja do Torto até tomar posse. Então ir para o Palácio do Alvorada. Agora não foi possível, porque o Guedes estava morando na Granja do Torto. Quando ele saiu, dia 20 de dezembro, eu e a Janja fomos lá, fazer uma visita, para ver se era possível a gente morar lá. O Torto precisa ser recuperado. Parece uma coisa abandonada, apesar de o Guedes estar morando lá. Tem coisas totalmente deterioradas e eu espero que a gente possa, dentro do mais rápido tempo possível, tentar dar uma reparada no Torto para a gente poder começar a frequentar o Torto. O Alvorada, eu fiquei decepcionado, porque eu herdei o Alvorada do Fernando Henrique Cardoso, herdei uma coisa bastante tranquila. O sofá que eu já tinha sentado, porque eu já tinha feito reunião com o Fernando Henrique Cardoso. Sabe, o Fernando Henrique Cardoso me levou para ver o quarto, me levou para ver o banheiro. Estava tudo arrumado. Do jeito que ele saiu eu entrei, sem nenhum problema.
Dessa vez eu achava que ia ser a mesma coisa. Acontece que quando você entra no Palácio, está todo desarrumado. Ou seja, a sala que tinha sofá já não tem mais. O quarto que tinha cama, já não tinha mais cama, já estava totalmente... eu não sei como é que fizeram. Não sei porque que fizeram. Não sei se eram coisas particulares do casal, mas levaram tudo. Então a gente está fazendo a reparação, porque aquilo é um patrimônio público. Tem que ser cuidado. Vocês sabem que em 2005 eu fiz uma grande reforma no Palácio do Alvorada. Fizemos um acordo com a Abdib [Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base], que era uma associação empresarial. Eles fizeram, gratuitamente, a reforma do Palácio para me entregar. O Oscar Niemayer veio me visitar para ver a reforma que tinha sido feita e agora o Palácio está uma coisa assim, pelo menos a parte de cima, está uma coisa como se não tivesse sido habitada, porque está todo desmontado, não tem cama, não tem sofá. Possivelmente, se fosse dele, ele tinha razão de levar mesmo. Mas, ali é uma coisa pública. Não sei porque tem que levar cama embora, troca o colchão e troca a roupa de cama e dorme à vontade. Vamos levar um tempo, nós vamos levar um tempo. Eu estou preocupado, porque se você for fazer licitação para comprar um colchão ou fazer uma cama, vamos demorar 90 dias. E eu, sinceramente, estou cansado de ficar no hotel, porque não é o local adequado para governar o país. E parece até uma coisa irônica. Eu já acho que nunca antes na história do Brasil, eu sou obrigado a voltar a dizer isso, um presidente da República não teve onde morar. Tem pessoas que me ofereceram casas para morar, eu não quero morar como se fosse um clandestino, se tenho um lugar para morar.
Eu quero entrar lá dentro e morar, decentemente. Enquanto estamos tentando fazer a reforma. Eu não sei quanto tempo vai demorar ainda, porque vai depender de fazer um acerto com o Tribunal de Contas, para saber se é possível comprar as coisas em caráter emergencial, sem passar por um processo de esperar 90 dias de uma licitação para comprar uma cama, para comprar um colchão. Senão nós vamos ficar no hotel por mais tempo do que é necessário. E lá no hotel, estamos eu, a Janja e duas cachorrinhas que nós trouxemos, ou seja, porque nós não iríamos abandonar as nossas cachorrinhas — sobretudo a Resistência, que tem muito a ver com a minha volta à Presidência da República.
Vocês deveriam ter recebido, e se não receberam, foi falha nossa, porque eu decidi que depois que terminou a transição, era importante que vocês recebessem o relatório geral da transição e ao mesmo tempo, vocês recebessem o relatório por ministério. Era importante que vocês tivessem conhecimento sobre cada coisa que aconteceu nesse país, cada política que foi desmontada, cada coisa que estava deteriorada, cada coisa que foi, sinceramente, abandonada. Muitas políticas públicas foram abandonadas e para nós, é interessante que vocês saibam o que aconteceu e o que vocês não receberam ainda, Pimenta, é importante tomar a responsabilidade de entregar para cada companheiro.
Como é que nós encontramos o Ministério das Cidades? Como é que encontramos o Ministério do Trabalho? Como é que nós encontramos o Ministério da Previdência? Como é que nós encontramos o Ministério do Transporte, o Ministério de Minas e Energia, para que vocês saibam o desgoverno que aconteceu nesse país. Eu, sinceramente, jamais imaginei que esse país pudesse ser tão abandonado na sua essência como foi o nosso governo. Além disso, nós estamos agora fazendo um processo muito sério de aprimoramento do banco de dados, para que as políticas sociais possam chegar diretamente na mão das pessoas que mais necessitam. Ontem eu tive uma reunião com o Wellington. E ele vai ter que trabalhar muito rapidamente, e de forma muito criteriosa, porque a melhor coisa de sucesso das políticas públicas que nós implantamos no período que o governo fez no país, era o cadastro.
Eu lembro de uma frase da Ruth Cardoso, quando o Fernando Henrique Cardoso era presidente, que ela falava assim: se o governo continuar fazendo política social desse jeito, é melhor jogar o dinheiro de helicóptero e deixar o povo pegar, que vai atender mais à necessidade do povo. Porque o grande problema da política pública é fazer o dinheiro chegar na mão de quem precisa. E aí você tem que ter um cadastro sério. Este cadastro não é controlado pelo governo, porque no nosso caso, a pessoa que recebeu o Bolsa Família não tinha contato com o Governo Federal, não era o governo que cadastrava, era a Prefeitura de cada Estado, a fiscalização do Ministério Público, e essa pessoa ia na Caixa, pegava o seu dinheiro sem saber de conversar com qualquer vereador, com qualquer deputado, com qualquer agente da Presidência da República.
Nós queremos voltar a fazer esse cadastro sério, porque me parece que o cadastro foi utilizado para fazer campanha eleitoral com o "Zap". Me parece que é a coisa mais importante no cadastro era um "Zap", para que se pudesse mandar fake news durante todo o processo de campanha. Eu penso que nós, em menos de 100 dias, vamos estar com toda essa política pronta, para que a gente possa fazer com que o governo ande numa velocidade normal.
Nós temos muita pressa, eu tenho muita pressa, porque o mandato é muito curto para quem ganha e ele é muito longo para quem fica na oposição. Vocês não têm a noção da eternidade que é quatro anos de espera e como passa rápido quando você ganha e tem quatro anos para governar. Parece que foi ontem, mas já faz 12 dias que nós estamos governando, ou seja, já não faltam mais quatro anos — e nós temos pressa de fazer as coisas acontecer nesse país. Todo mundo sabe que durante a campanha eu tinha três obsessões: primeiro, a questão da Educação. Eu estou convencido que se a gente não investir mais no ensino básico, no ensino fundamental, a gente não qualifica a sociedade brasileira para o futuro. Ou seja, não é possível as crianças na quarta, na quinta série, estarem numa sala de aula sem saber ler ou fazer uma conta. Então, nós precisamos ter em conta, se bem que é por conta de Estado e Município (o ensino fundamental), mas o Governo Federal tem que estar participando junto com o governo, com prefeitos, para que a gente possa melhorar substancialmente a qualidade do ensino no ensino fundamental. Senão, essa criança não vai bem para o ensino médio e essa criança não vai bem para a universidade.
Ao mesmo tempo, a questão da Saúde é outra obsessão a que nós temos, ou seja, hoje, quando uma pessoa vai no médico, qualquer pessoa vai no médico é até atendido na primeira consulta vai numa UPA [Unidade de Pronto Atendimento], vai numa UBS [Unidade Básica de Saúde], é atendido, mas quando o médico pede um exame ou pede uma consulta com um especialista, esse especialista não é visto nessa consulta. Às vezes demora nove meses, dez meses, 11 meses, um ano, e muita gente morre sem sequer ter acesso. Tenho dito para a nossa ministra da Saúde que é tornar prioritário a gente conseguir fazer com que a pessoa tenha a possibilidade de ter o acesso a uma consulta de especialista.
E outra coisa é a questão de acabar com a fome nesse país. Eu confesso a vocês que eu não imaginava, depois que nós deixamos o governo, que o Brasil voltasse a ter a situação que o Brasil está tendo. Eu nunca, nunca vi a quantidade de gente na rua que eu estou vendo agora. Eu nunca vi a quantidade de gente pedindo comida na rua, não pede mais esmola, pede comida ou as pessoas com vergonha de pedir. As pessoas escrevem num cartaz e ficam nos semáforos nas grandes cidades. Aqui em Brasília, deve ter muito, Brasília não tem muita esquina, mas a pessoa com um papelzinho pedindo comida. Às vezes mulher com criança. Parece que em São Paulo já tem 40.000 moradores de rua, ou seja, uma coisa que era impensável. Eu achei que a gente tinha terminado com isso. Foi reconhecido pela ONU e, lamentavelmente, o Brasil voltou à estaca zero. Ou seja, a irresponsabilidade da governança foi tão grande que as pessoas voltaram a pedir esmola, outra vez a pedir comida. E nós vamos resolver isso. Não com o Bolsa Família. O Bolsa Família e a seriedade do Bolsa Família no cadastro e também as condicionantes. Você não pode dar dinheiro para uma pessoa sem ter algum compromisso da pessoa. E qual era a grandiosidade do Bolsa Família? Primeiro, a obrigatoriedade de as crianças em idade escolar estarem na escola. Se elas não tiverem escola, a mãe não recebe o Bolsa Família. A segunda condicionalidade eram as vacinas. Tem que ter cartão de vacina e as pessoas têm que tomar as vacinas. É preciso que a gente convença a sociedade, que ninguém vai virar jacaré, ninguém vai virar onça. Ou seja, a vacina é para evitar que as pessoas morram ou tenham doenças graves quando a gente pode evitar. Então, o Bolsa Família exige que as crianças estejam vacinadas.
E a terceira coisa importante é cuidar da gravidez das mulheres que estiverem grávidas. Elas têm que fazer todos os exames, que a medicina exige que sejam feitos, para que ela tenha um parto saudável. E a criança possa nascer saudável. Por que é que nós colocamos crianças até seis anos de idade? É porque é exatamente nesse período em que a criança tem a formação do seu cérebro. E se ela não comer as calorias e as proteínas necessárias, a criança pode ter alguma sequela. E nós então achamos que nós temos que cuidar disso. E nós achamos que é obrigação do Estado assumir a responsabilidade, e é o Estado que é responsável por quase tudo que acontece nesse país.
Tem muita gente que aprendeu a negar o Estado. Tem muita gente que acha que todo o Estado é ruim. Mas se a gente pegar os últimos dez anos, vamos perceber que todas as grandes crises que aconteceram no mundo quem salvou foi o Estado. Quando o banco Lehman Brothers quebrou, em 2008, não foi nenhum banco grande que resolveu emprestar dinheiro para o Lehman Brothers. Quem salvou foi o Estado, o Estado que colocou dinheiro para salvar. Aqui, o Fernando Henrique Cardoso já tinha salvado do banco quando ele criou o Proer. Vocês vão lembrando que no começo do governo do Fernando Henrique Cardoso. E agora, quando teve a pandemia, não teve nenhum banqueiro que resolveu bancar a vacina, resolveu bancar. Quem é que resolveu? O Estado. É um Estado que tem que colocar dinheiro para garantir que as pessoas recebam alguma coisa para comer. É o Estado que tem que financiar a vacina. Lamentavelmente, nós tivemos um presidente que não teve competência de comprar vacina. Brincou com a doença e gerou com que, embora a gente tenha apenas 3% da população mundial, nós tivemos 11% das pessoas que morreram por conta do governo, ou seja, é um disparate. Mostra a irresponsabilidade de um governo que agiu quase como se fosse um genocida.
Bem, isso fez com que a gente voltasse para o governo na eleição mais difícil que eu já participei na minha vida. Todo mundo sabe que eu sou especialista em participar de eleição e já perdi muita eleição. Mas eu nunca participei de uma eleição tão difícil como essa. Eu não sei se vocês fizeram as contas de quanto dinheiro foi colocado em ação nessa campanha? Se você levar em conta as isenções, as desonerações, os financiamentos, com esse último da Caixa (de 8 bilhões de dólares) para emprestar dinheiro para as pessoas que estavam recebendo Auxílio Brasil, ou seja, para as pessoas pagar 13,45% de juros. Ou seja, isso dá 40% de juro ao ano — é três vezes a Selic, praticamente. E esse dinheiro foram jogando fora. Ou seja, ao todo, se você pegar todas as políticas de desoneração, todas as políticas de isenção fiscal e todos os programas que foram feitos, chegou-se a 300 bilhões de reais, que foi a soma de dinheiro utilizada para o Bolsonaro tentar ganhar as eleições. Ou seja, não foi uma briga normal entre dois candidatos ou dois partidos políticos. Era briga de um conjunto de forças políticas, liderada pela minha candidatura. E a briga contra o Estado brasileiro, que utilizou tudo o que pôde utilizar. Utilizou as Forças Armadas, a polícia em todos os Estados, a Polícia Rodoviária, uma parte da Polícia Federal, todo mundo, além do que, muitos empresários. Lá em São Paulo, no dia da eleição, nós descobrimos uma fábrica na zona leste que convocou os trabalhadores para fazer hora extra para não deixar eles votarem. Vocês sabem o que foi feito em muitos estados, as pessoas proibindo o eleitor de votar. Então foi uma eleição muito difícil.
Nós ganhamos as eleições e eu sou muito agradecido à coragem do povo brasileiro, porque nunca o povo participou de uma eleição tão raivosa, em que era proibido você utilizar qualquer roupa que não fosse verde e amarelo. Você já era chamado de comunista, ou seja, era chamado de qualquer nome. Mas nós ganhamos as eleições! Até hoje o cidadão não reconheceu a derrota. Até hoje ainda coloca em dúvida as urnas eletrônicas, quando no mundo inteiro a urna eletrônica é invejada, porque se não fosse correta a urna eletrônica, o Lula jamais teria sido presidente da República, e a Dilma jamais teria ganhado aquela eleição de 2014, que foi uma eleição muito tensa. E a urna eletrônica é perfeita porque a gente fica sabendo duas horas depois quem ganhou. A coisa mais extraordinária foi não ter que esperar dias e dias votando naquela cédula do tamanho de um caderno; não, aqui o cidadão vai, vota e ele sabe quem ganhou as eleições. Esse cidadão continua ainda desacreditando na urna. Eu, sinceramente, quero dizer da minha admiração pela Justiça Eleitoral e pelo comportamento corajoso, sobretudo, do presidente do TSE [Tribunal Superior Eleitoral], Alexandre Morais, que teve um papel extraordinário neste processo eleitoral, tentando repudiar todas as falsas acusações e a indústria de fake news que foi utilizada durante o processo eleitoral. Eu não sei se alguns de vocês já tinham tido a experiência de uma verdadeira fábrica de mentiras que foi montada nesse país, possivelmente igual ou maior do que a do [Donald] Trump nos Estados Unidos. É uma coisa extraordinária, eu sou eu de diabo, a demônio a tudo, eu fui. As mentiras mais absurdas e aquelas coisas que você não acredita que alguém acredite. É impressionante, coisa que não é possível. Ninguém vai acreditar nisso. E acreditam. Ou seja, então foi uma vitória que foi a mais importante vitória que eu consegui em toda a disputa. Aliás, eu acho que foi a eleição mais importante que esse país já teve depois da primeira eleição de 1989, aquela de um simbolismo de fazer muitos anos que ninguém votava. Eu mesmo, que estou com 77 anos, votei pela primeira vez para presidente da República em 89: votei em mim. A segunda vez eu votei em mim; a terceira vez votei em mim; a quarta vez eu votei em mim; a quinta vez eu votei, em mim; na sexta, já votei na Dilma e agora voltei a votar em mim, outra vez, porque eu estou acostumado a votar em mim sempre que eu puder. Eu estou lá porque eu tenho certeza que eu não vou anular o voto.
Eu quero dizer para vocês que eu estou com uma obsessão, que eu estou com obsessão, porque eu sempre fico orgulhoso, porque todas as pesquisas que são feitas, elas mostram que eu sou considerado o melhor presidente da história deste país. Então vocês precisam saber que a minha volta é para fazer mais e melhor. Eu não posso sequer empatar com os meus governos, eu tenho que fazer mais. Então, eu tenho que trabalhar mais, eu tenho que me dedicar mais. Eu tenho que inventar coisas novas para que a gente possa outra vez recuperar o brilho e o sorriso na cara do povo brasileiro, o brilho da esperança das pessoas, que acredito que esse país vai dar certo. Eu tenho muito orgulho de ter chegado à sexta economia do mundo. Eu tenho muito orgulho deste país ser um grande protagonista internacional e fico muito feliz com a quantidade de telefonemas de presidentes da República pela minha vitória aqui. Eu não sabia que o Brasil chamava tanta atenção e nós recebemos telefonema de quase todos os países do mundo. E depois dessa estupidez que foi feita no último domingo, eu recebi outra vez uma quantidade de telefonemas de todos os presidentes do mundo, todo mundo preocupado com o processo democrático no Brasil.
Para terminar, eu queria dizer para vocês o seguinte: eu ainda estava embevecido com a festa da posse. Eu recebi um telefonema do escritor Fernando de Morais, depois da posse, ele dizendo para mim: "presidente, eu, em 72, fui à posse do Perón, quando ele retornou ao governo da Argentina. E foi a posse mais extraordinária que eu vi. E eu não imaginava que alguém pudesse repetir". Aí ele me liga para dizer: “olha, a posse foi dez vezes mais bonita que a do Perón”. Ela não só foi bonita pela quantidade de gente, pelo simbolismo da alegria do pessoal. Era quase como se as pessoas tivessem sendo libertada de um pesadelo, como ela foi bonita pelo simbolismo do povo colocar a faixa no meu pescoço. Aquilo foi uma ideia, sabe, da Janja e das pessoas que cuidaram da posse. E foi uma ideia genial, porque ali tinha catadores de papel, ali tinha índio, ali tinha aquele menino que estava lá (era filho de uma catadora de papel), tinha um portador de deficiência, ou seja, a gente tentou mostrar o povo. A única coisa que eu não queria era que o Bolsonaro me passasse a faixa. Era a única coisa que eu não queria. E ainda nós fizemos, sabe, tivemos o orgulho de levar a cachorrinha, de levar a Resistência, que ela é o símbolo. Aquela cachorrinha, desde que eu fui para a Polícia Federal ela apareceu lá, ela foi cuidada, ela dormia com vários companheiros que estavam lá. Foi um companheiro metalúrgico de São Bernardo [do Campo] (SP), que trabalha em Ribeirão Pires (SP), que começou a cuidar dela em primeiro lugar. Depois a Janja viu a cachorrinha, pegou a cachorrinha, levou no veterinário, descobriu que ela estava com um problema, tratou da cachorrinha, levou para casa. Eu casei e adotei a cachorrinha, sabe, e adotei a outra cachorra também, que a Janja tem, e eu fiquei pensando: era muito sintomático levar essa cachorrinha para a posse. Que ela subisse a rampa comigo. Porque ela passou frio, ela passou frio, fome ela não passou porque o pessoal dava comida. Mas ela, sabe, viveu numa situação muito difícil. Então, eu falei: “bom, é simbólico essa cachorrinha ir comigo, porque ela faz parte da minha vida agora. Fez parte da minha prisão, fez parte da minha libertação, ou seja, fez parte da minha vitória e é o momento que ela tem que fazer parte do meu governo agora". Então, gente, eu estava tão feliz com a minha posse. Foi uma coisa tão extraordinária. Tanta gente do Exterior que veio que eu jamais imaginei que uma semana depois iria acontecer o que aconteceu aqui. Se você perguntarem para mim: "ô Lula, você sabia que ia acontecer o que aconteceu?" — eu não sabia. Não sabia e nem previa que ia acontecer, porque as informações que nós tínhamos e as fotografias que me mostravam era que os acampamentos estavam diminuindo, de que na sexta-feira o acampamento tinha, no máximo, 150 pessoas, com a perspectiva de na segunda-feira não ter mais.
No sábado, começou a chegar mais ônibus e me disseram que os ônibus não iam conseguir entrar lá e que não iam permitir que mais gente entrasse lá. Ora, ninguém pode proibir as pessoas de fazerem passeata. Eu mesmo já vim a Brasília e já fiz dezenas de passeatas. Então, eu jamais poderia proibir que alguém fizesse uma passeata protestando contra o governo. Eu, jamais. Mas não era uma passeata qualquer, protestando contra o governo. Era uma passeata pedindo o golpe. E eu fiz uma reunião com os comandantes das Forças Armadas, com o ministro José Mucio, com o GSI [Gabinete de Segurança Institucional] e com alguns ministros tentando mostrar que, por menos do que isso, muita gente que foi presa, foi torturada e muita gente morreu na década de 70. Eu lembrava às pessoas que a presidenta Dilma, por menos do que isso, ela foi presa por três anos e meio, ela tomou choque onde vocês nem possam imaginar que a pessoa vai tomar choque, e tomou choque muito tempo. Porque ela era contra a ditadura militar. Agora, eles se manifestaram não contra uma ditadura — contra um governo eleito democraticamente, pela maioria do povo brasileiro. E eles ficavam na porta do quartel gritando "golpe", gritando "golpe", gritando "golpe". E ainda hoje eu vi uma declaração infeliz do Bolsonaro, não sei se foi outro, ele ainda não acredita no processo eleitoral. Ele ainda continuou duvidando da urna eletrônica. Ou seja: é um cidadão que tem um problema de desequilíbrio mental. Um cidadão que foi eleito tantos anos pelo voto eletrônico e nunca questionou? Ele agora, que perdeu, resolve questionar.
Então, o que aconteceu foi um alerta, uma alerta muito grande, que nós temos que ter mais cuidado. Nós temos que saber que a gente ganhou a eleição, nós derrotamos o Bolsonaro, mas o bolsonarismo está aí, e o bolsonarismo fanático é uma coisa muito delicada, porque eles não respeitam ninguém. Eles não respeitam gênero, não respeitam a idade, não respeitam nada. Eles se dão ao direito de ofender todo mundo que não pensa igual a eles. Ainda ontem eu vi uma coisa na internet, o Cristiano Zanin no banheiro do aeroporto escovando os dentes e o cidadão xingando ele, filmando ele e xingando, porque essa é a lógica. Aliás, eu queria alertar vocês, se aparecer alguém xingando vocês em algum lugar com um telefone, tirem o telefone de vocês e comecem a filmar ele. Porque ele xinga e filma que é para poder colocar na rede. Nós temos de colocar a cara dele na rede, porque nós temos que pegar essa gente. Essa gente tem que ser presa. Essa gente não tem o direito constitucional de ficar ofendendo as pessoas na rua, provocando pessoas na rua, ou seja, como se fosse dono do espaço, como se fosse dono da verdade absoluta neste país. Eu fiquei muito, muito, muito, muito, muito raivoso com o que aconteceu. Eu estava em Araraquara fazendo uma visita por conta de um desastre que houve em Araraquara, uma chuva muito forte, que fez um buraco muito grande, uma cratera, e caiu uma família. Seis pessoas dentro do carro caíram dentro do buraco e morreram todas as pessoas. E eu fui lá para dizer, não apenas da minha solidariedade, mas dizer que o Governo Federal vai ajudar o prefeito Edinho [Silva] na reconstrução. O Governo de São Paulo também vai ajudar. Quando eu me deparo com a manifestação aqui na frente, começando a invadir. Eu quero dizer para vocês que eu ainda não conversei com as pessoas a respeito disso. Eu estou esperando a poeira baixar. Eu quero ver todas as fitas que foram gravadas dentro da Suprema Corte, dentro da Câmara, dentro do Palácio do Planalto.
Teve muita gente conivente. É importante dizer: teve muita gente da Polícia Militar conivente. Teve muita gente das Forças Armadas, aqui dentro, conivente. Eu estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada na porta de entrada. Ou seja, significa que alguém facilitou a entrada deles aqui. E nós vamos, com muita calma, investigar e ver o que aconteceu de verdade, porque nos vídeos que eu vi, eu vi soldados do Exército conversando com os invasores, eu vi soldados cantando junto com os invasores. Nós fomos obrigados a fazer a intervenção na Polícia do DF, porque ela tinha muita responsabilidade no que aconteceu. No dia da minha diplomação, vocês ficaram sabendo do quebra-quebra que houve em Brasília, do ateamento de fogo em ônibus e a polícia, simplesmente, estava acompanhando. É como se estivesse tomando conta das pessoas que estavam tocando fogo em ônibus, depredando as coisas. Ou seja, então, a polícia ou o comandante da polícia... nós tínhamos que fazer o decreto de intervenção. Ontem, a Câmara e o Senado aprovaram a intervenção e daqui para frente a gente vai ser mais duro, vai ser mais cauteloso, vai ser mais prudente, porque não pode acontecer o que aconteceu neste final de semana. Não pode. Se você ver a destruição que foi feita dentro da Suprema Corte. Ou seja, o cidadão tem o limite de não gostar das pessoas, ter o limite de não gostar de fulano ou beltrano, mas ele não tem um limite de invadir o poder público, um patrimônio público, e fazer a quebradeira que eles fizeram. Não respeitaram nem a imagem de Cristo. Aqui, nós tínhamos um relógio que Dom João VI trouxe para o Brasil, sabe, as pessoas não respeitaram nada. Eles só respeitaram a minha sala. Só respeitaram a minha sala. Porque como eles acharam que estavam dando um golpe, eles falaram "não vamos quebrar porque o Bolsonaro vai voltar". Eu acho que foi esse o pensamento deles, mas a sala da Janja, que é vizinha da minha, eles, sabe, bagunçaram muito a sala da Janja. Então, o que aconteceu durante a semana foi um alerta de que nós precisamos, sabe, construir narrativas para que a gente possa tirar da cabeça dos bolsonaristas raízes e raivosos a ideia de que eles são superiores ao resto da humanidade, ao resto do povo brasileiro. Eu acho que o Pimenta, o ministro da Secom, vai ter que trabalhar, vai ter que construir narrativas, construir novas ideias. Não é apenas governar bem, porque nós vamos governar com muito mais competência do que ele. Eu não tenho dúvida disso. Mas não é apenas governar bem, é construir uma narrativa para que a gente restabeleça a paz, a tranquilidade e a harmonia nesse país.
Eu quero que os pais voltem a conversar com os filhos. Eu quero que as noras voltem a conversar com as sogras. Eu quero que os irmãos voltem a conversar com os irmãos. Embora, cada um continue com seu pensamento político. Eu não quero saber se um soldado qualquer votou no Bolsonaro, não votou no Lula. Eu não quero saber se um general não votou no Lula. Não é essa a minha preocupação. A minha preocupação é que, quem tem e participa de carreira de Estado, tem que pensar nesse país e tem que servir ao país. E não pode ter lado. O lado deles é o cumprimento daquilo que está garantido na Constituição, como função de cada um de nós. É isso que nós vamos fazer que aconteça daqui para frente. E, dito isso, eu já falei demais. Eu quero ouvir algumas perguntas de vocês. Eu não vou coordenar. Eu não vou dizer nem não, nem sim. É o companheiro Cristiano [Chrispiniano] que vai coordenar as perguntas.
José Chrispiniano — Tudo bem. Espera só um pouquinho, pessoal. A gente vai alternar aqui. Vamos começar pelo Barrocal, ali. Depois a gente vai indo com calma.
André Barrocal (Carta Capital) — Obrigado, Chrispiniano. Presidente, os acontecimentos do último domingo, eles provocaram uma espécie de união nacional. A gente viu, aqui, a reunião, segunda-feira, do senhor com os poderes, com os governadores, noticiário da imprensa foi amplamente condenatório com relação ao que aconteceu. No dia da sua posse, aqui no parlatório, o senhor mencionou a palavra ou a expressão "combate às desigualdades" 19 vezes e combater a desigualdade é algo que desune o Brasil, porque o Brasil é um país com muita desigualdade, uma das maiores do mundo. Pelo que a gente já viu, e de palavras do senhor e do ministro da Fazenda, é possível que nesse plano de combater as desigualdades a gente veja mais a proposta de cobrar mais impostos dos mais ricos na renda e no patrimônio. Como é que o senhor imagina que isso seria possível de levar adiante?
Presidente Lula — Olha, primeiro você me lembrou uma coisa importante, que eu quero aproveitar nesse café e agradecer o comportamento da Câmara, dos deputados e do Senado, que é aprovar uma PEC para garantir que a gente começasse a governar este país. Porque, embora vocês escreveram muitas vezes que a PEC era do Lula, na verdade, a PEC era do genocida. A PEC era do governo Bolsonaro, para que ele colocasse no orçamento as coisas que ele tinha colocado como gasto. E era preciso que a gente tivesse dinheiro. Então, eu agradeço, publicamente, o Senado e a Câmara por ter votado e agradeço a solidariedade que essas pessoas tiveram depois do que aconteceu aqui, em Brasília. Ou seja, a Câmara e o Senado aprovaram a intervenção feita em Brasília. E a vinda, aqui, dos governadores do Brasil inteiro é uma demonstração de que você tem mais gente defendendo a democracia do que gente querendo destruir a democracia. É aquilo que eu digo. O governador não podia ser meu aliado. O presidente da República não precisa ser aliado do governador. Ele pode ser adversário político, pode ser adversário ideológico, mas como governante a gente tem que se tratar com muito respeito, porque tanto um governo precisa da instituição Governo Federal, como o Governo Federal precisa da instituição Governo Estadual. É apenas uma questão de bom senso, uma questão civilizatória e a gente tem que se relacionar de forma adequada. Bem, eu tenho dito, na última reunião que eu fiz com o companheiro Fernando Haddad, com a companheira Simone e com alguns companheiros da Economia que eu tenho dito que é preciso a gente de parar de utilizar a palavra gasto, porque o mercado construiu uma narrativa, que tudo o que você faz no Brasil, que não seja pagamento de juros, é gasto. Não sei se vocês já perceberam, qualquer dinheiro que vai para a Saúde é gasto. Qualquer dinheiro que vai para a Educação é gasto. Qualquer dinheiro para pagamento de salário é gasto. Qualquer dinheiro que você faça para qualquer coisa que não seja pagamento da taxa de juro, que está 13,5%, é gasto. Eles deveriam falar: o governo não pode gastar tanto com a taxa de juro, o governo não pode pagar tanto juro como está pagando. Eles não falam: isso o governo tem que fazer. Agora, veja, eu acho que nós temos que tratar como investimento. O Bolsa Família é um investimento. Você colocar dinheiro na Saúde é um investimento. Imagina, quanto vale um trabalhador curado, sadio, trabalhando? Quanto vale um trabalhador doente, sem perspectiva de trabalhar, em casa? Quanto vale, sabe, o investimento na Educação? Às vezes, a gente fica perguntando "o que é gasto, o que é gasto, o que é gasto?". E eu queria fazer uma boa provocação para vocês, que são as pessoas que escrevem todo dia. A gente tem que, de vez em quando, se perguntar: o quanto custou neste país, a gente não fazer a coisa certa no momento certo? Quanto custou não se cuidar da pandemia, quando deveria se cuidar da pandemia? O que custava o presidente ter criado um comitê de crise? Convocando os principais secretários da Saúde dos estados, convocando os principais institutos de pesquisa? Criar um comitê e comprar a vacina e começar a aplicar a vacina logo? Isso, efetivamente, custaria menos do que custou o negacionismo. Quanto custou a gente não alfabetizar esse país na década de 50 ou na década de 60? O atraso que nós fomos submetidos? Eu digo sempre, o Peru teve a primeira universidade dele em 1554. O Brasil só foi ter a sua primeira universidade em 1920. Quanto custou? Quanto custou esse atraso de não ter investido na Educação, como os outros países investiram? Então, eu acho que mundo tem que fazer o esforço que for necessário. E todo mundo sabe que é preciso fazer uma política tributária nova. É preciso fazer com que as pessoas mais ricas paguem mais imposto do que os pobres, porque hoje os pobres, comparativamente, pagam mais imposto que os ricos. E é preciso que a gente tenha noção da responsabilidade do Estado. Quem tem que cuidar das pessoas na rua (eu nunca vi a Febraban se reunir e dizer que está preocupado em pegar uma parte do juro que recebe para dedicar ao padre Júlio Lancelotti para cuidar do morador de rua; eu nunca vi). Quem tem que cuidar disso é o Estado ou as pessoas fazendo solidariedade. Então, é preciso que a gente mude um pouco de discurso. O que é que eu tenho ponderado? Eu tenho ponderado o seguinte: eu não sou marinheiro de primeira viagem. Eu fui presidente da República durante oito anos e fui o único presidente da República do G-20, onde participava as 20 maiores economias do mundo, a fazer superávit primário durante todo o período do governo do PT. Nós fizemos superávit primário! Eu cheguei a fazer superávit de 4,25%. Algumas pessoas até saíram do PT, porque não queria que eu fizesse superávit primário. Nós pegamos uma dívida de 60,5% do PIB [Produto Interno Bruto] e deixamos com 37,7%. Nós pegamos um país com R$ 30 bilhões de dívida, deixamos um país que era devido virar credor e deixamos US$ 370 bilhões de reserva, que é o que está sustentando esse país até hoje. Então, qual é a preocupação que as pessoas podem ter com o governo do PT? Nenhuma! Nenhuma.
Eu, às vezes fico muito, mas muito irritado, e peço desculpa para as pessoas que eu fiquei irritado, porque é o seguinte: o mercado não tem coração, não tem sensibilidade, não tem humanismo. Não tem nada de solenidade, é só "venha a nós", "vosso reino" nada. É preciso saber que o governo tem a obrigação de cuidar das pessoas mais necessitadas e pronto. Por que é bonito a gente pagar 3,5% de juros para o sistema financeiro, para a nossa dívida, e não é bonito a gente dar R$ 500 para o pobre comer? Então, as pessoas vão fica irritadas, vão ficar nervosas. Mas nós vamos fazer com que esse povo deixe de ser miserável. Eu quero dizer para vocês, nós acabamos com a fome uma vez e vamos acabar com a fome mais uma vez. Por que que fazer 1,4 milhão de cisternas no Nordeste era gasto? Não, é investimento. É investimento que gera emprego e gera qualidade de vida. Ou seja, será que as pessoas são malucas de não entender que é investimento você levar água na casa de pessoas que passam um ano sem ver um pingo d'água? Então, quando a gente fez o [Programa] Luz para Todos, nós investimos R$ 20 bilhões. Mas a gente tirou pessoas das trevas, do século XVIII, para, sabe, a cidade luminosa de Paris do século XXI. Custou R$ 20 bilhões e eu considero (aquilo) investimento. Porque depois que chegou a luz no mais longínquo lugar da Amazônia, o cara comprou televisão, o cara comprou geladeira, o cara comprou máquina para fazer farinha, o cara comprou liquidificador. O cara começou a fazer o que? Ela começou a fazer suco. Ou seja, o cara começou a virar cidadão e cidadã. Esse é o papel do Estado. Eu queria dizer uma coisa para vocês: a Eletrobras foi privatizada. Vocês se deram conta para quanto foi o salário da diretoria da Eletrobras? Eles aumentaram 3 mil e pouco por cento o salário deles; me parece que o salário ultrapassa R$ 300.000 por mês. Acho que era 60 mil quando a empresa era pública. Mais grave ainda, eu vou dizer uma coisa para vocês que eu fiquei sabendo hoje — agora, agora eu fiquei sabendo. Nós temos que indicar os conselheiros da Eletrobras. Você sabe quanto ganha um conselheiro na Eletrobras, para participar de uma reunião uma vez por mês, depois que ela foi privatizada? Todos vocês abandonariam a carreira de jornalista de vocês para ser conselheiro: R$ 200.000 por mês, para participar de uma reunião por mês. Isso não é gasto? Isso não é jogar dinheiro fora? Como é que eu vou explicar? Como que eu posso colocar o ministro de conselheiro da Eletrobras ou pegar um secretário executivo e colocar? O cara vai ganhar R$ 200.000 por mês; cinco vezes o que ganha o presidente da República. Ou seja, cadê a seriedade nisso? Cadê a seriedade das pessoas que cobram da gente seriedade? Então, eu voltei para consertar o país. Quero que vocês — sabe, não precisa acreditar agora — eu quero que vocês vigiem. Eu quero que vocês acompanhem. Porque só tem uma razão para eu ter voltado a ser presidente desse país. Estou recém casado, não precisava voltar aqui. Tô bem casado. Eu digo todo dia: casado e apaixonado. Então, eu poderia ficar namorando e eu vim para cá. Porque o povo brasileiro precisa voltar a sorrir. Esse povo tem que voltar a tomar café, almoçar e jantar todo dia. Esse povo tem que ter oportunidade de ter emprego. Esse povo tem que ter o salário mínimo aumentado. É isso que nós precisamos fazer por esse país e vamos fazer, vamos fazer. Não precisa ficar de "beicinho" contra mim. Quem não gostar, não tem problema. Nós vamos fazer. Esse povo vai voltar a sorrir. Esse povo vai voltar a ser feliz.
A gente vai fazer com que o Enem tenha 15, 20 milhões de crianças participando. Como é que pode ter caído de 16 pra 1 milhão e 900 pessoas no Enem? Como é que a gente vai recuperar esse país, se você joga sempre no atraso, sempre no atraso, nada pode, nada pode e nada pode. Então, nós vamos. Pode escrever aí e pode cobrar. Dia 12 de janeiro estou tomando café com vocês. Pode dizer: o Lula disse no dia 12 de janeiro, às cinco pras 11, que ele vai consertar esse país e que esse povo pobre vai voltar a sorrir. Vai voltar a tomar café, almoçar e jantar como eu faço todo dia. Esse é um compromisso de vida e é isso que eu vou cumprir. O resto é conversa fiada.
Orador (assessoria) — Pessoal, eu sei que todo mundo quer fazer pergunta, mas não é uma coletiva. Ele vai ter uma agenda daqui a pouco. A gente vai conseguir alguns nomes. E, já antecipo, sinto por quem não for possível. Por favor, Débora.
Jornalista Débora Bergamasco (SBT) — Débora, do SBT, novamente. Presidente, no domingo durante os ataques golpistas, os senhores tinham várias possibilidades para interromper o que estava acontecendo e a decisão foi a intervenção federal na Segurança Pública do DF. Uma das opções na mesa era GLO [Garantia da Lei e da Ordem], então, vocês decidiram, optaram por não fazer a GLO. Se essa tivesse sido a escolha, o senhor acha que o resultado que foi positivo poderia ter sido diferente?
Presidente Lula — Olha, se eu tivesse feito GLO, eu teria assumido a responsabilidade de abandonar a minha responsabilidade. Aí sim, estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. Então, quem quiser assumir o governo, disputa uma eleição e ganha. É por isso que eu não fiz GLO. Porque nós tínhamos que fazer a intervenção na Polícia do DF, porque ela é responsável pela Segurança do DF, e sabe quem paga eles? Nós. É importante saber que quem paga a Polícia do DF é o Governo Federal. Portanto, o Governo Federal tem o direito de fazer a intervenção se somos nós que pagamos o salário e se eles não cumpriram com a função deles. É isso! Muito simples. Eu recebi proposta de fazer GLO, e eu, na hora, recusei. Não tem GLO, não tem GLO. Então, vamos ter que resolver de outro jeito. Teve muita confusão, porque era domingo e dia de domingo nem sempre você encontra as pessoas no local que você espera que elas estão. Mas de qualquer forma, voltamos à normalidade. Serviu de lição para todo mundo. Eu só quero aproveitar vocês para dizer o seguinte: não brinque com a Democracia. A Democracia ela garante o direito de você ter liberdade para tudo. Mas ela não lhe dá o direito de ocupar o espaço do outro. E quando tentam fazer isso, estão passando por cima da Constituição. E nós seremos duros, duros em fazer com que a Constituição seja cumprida. E quem vacilar ou brincar, a lei será utilizada para proteger a democracia.
Orador (assessoria) — Kennedy, por favor.
Jornalista Kennedy Alencar (Rede TV) — É Kennedy Alencar, da Rede TV. Presidente, houve uma reação dos três poderes muito forte. Uma união do senhor com o Lyra, o Pacheco, do Congresso Nacional, os ministros do Supremo Tribunal Federal. O Datafolha mostra que há uma condenação veemente, ampla, da população ao que aconteceu no domingo. É uma oportunidade para mudar a mentalidade golpista e essa visão que as Forças Armadas têm de que elas são tutoras da vida civil, que elas têm a tutela da vida civil, que são avalistas da Democracia, que é o que elas fazem desde 1889, né? Eles têm um protagonismo. Os Golpes de Estado: 30, 45, 64, 79. E no governo Bolsonaro, a gente viu ministro da Defesa fazer nota contra ministro do Supremo Tribunal Federal. Ministro do Palácio fazer nota contra os poderes democráticos. Pergunto se é uma oportunidade, se o senhor pretende mudar a forma como se relaciona com as Forças Armadas, porque a estratégia do Mucio, que prometeu que ia acabar os acampamentos, deu errado. Ele falava que é o democrata, que o presidente Bolsonaro é um democrata. Isso é uma oportunidade para mudar, acabar com essa visão de que elas são avalistas da Democracia e tutoras da vida civil. Sobre a GLO, se o senhor não fez por uma desconfiança em relação às Forças Armadas? Em relação ao presidente Jair Bolsonaro, o ministro Flávio Dino diz ver responsabilidade política, mas ele usa as redes sociais, como o senhor lembrou há pouco, para negar a vitória eleitoral legítima. A AGU estuda alguma medida objetiva, uma responsabilização objetiva do Bolsonaro? Pedir a suspensão das redes sociais como fizeram com Trump nos Estados Unidos? Alguma medida cautelar: prisão, multa? São essas as perguntas, presidente.
Presidente Lula — Olha, eu nunca imaginei e fiz questão de dizer isso aos comandantes das Forças Armadas, que existisse um presidente que tinha sido expulso das Forças Armadas por má conduta. E que, ao assumir a Presidência da República, tivesse criado um clima negacionista dentro das Forças Armadas. O cidadão negou, inclusive, chamar as Forças Armadas, o Exército, o Exército de Caxias, e passou a tratar o Exército como se fosse uma coisa dele. Pois bem, esse cidadão conseguiu poluir todas as Forças Armadas. Eu disse aos comandantes que eu convivi oito anos muito bem com as Forças Armadas. Você se lembra que quando eu cheguei aqui em 2003, é importante o Major se lembrar. O Exército Brasileiro liberava os recrutas às 11 horas da manhã porque não tinha dinheiro para pagar o almoço da molecada. Você se lembra que a Aeronáutica não tinha avião para gente transitar. O avião do presidente chamava-se "sucatão" e o menor chamava-se "sucatinha". Não tinha avião pequeno para levar os ministros para lugar nenhum. Tinha um avião pequeno que quando ligava o motor começava a sair fumaça. Quantas vezes ele voltou depois de dez minutos de subir. E nós equipamos as Forças Armadas brasileiras, equipamos a Aeronáutica, equipamos a Marinha e equipamos o Exército. O Exército que estava falido, o seu Batalhão de Engenharia, ou seja, nós fizemos do Batalhão de Engenharia do Exército, quase que uma empresa grande de construção civil para ajudar o governo a construir obras em lugares inóspitos. Sabe, então, tudo isso nós fizemos, inclusive pagamos um salário mínimo para os recrutas. Criei, sabe, um curso no Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] para que os soldados estudassem, quando saíssem do Exército tivesse uma profissão. Então, eu tenho a imagem das Forças Armadas desse período que eu governei o país em que eu não tive nenhum problema. Quando eu deixei a presidência, os três comandantes que ficaram que a Dilma, ela não trocou, ela ficou com os três comandantes.
Então, era essa a imagem que eu tenho das Forças Armadas, sabe, uma Força Armada que sabe que o seu papel está definido na Constituição, as Forças Armadas não são um poder moderador como eles pensam que são. As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos. É isso que é o papel das Forças Armadas e está definido na nossa Constituição. E é isso que eu quero que eles façam bem feito. É isso que eu quero. Por isso que eu defendo que eles estejam bem armados, bem treinados, porque essas coisas, sabe, não acontecem quando a gente quer que aconteça. Às vezes uma invasão acontece, sabe, como agora, a gente imaginava uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia agora em tempos tão modernos. Então, esse é o papel. E é isso que eu espero das Forças Armadas. E é isso que eu quero que eles voltem a cumprir. Eu acho que a democracia deve ser cuidada pela sociedade civil, pelos partidos políticos. Eu disse para os comandantes, o que explica uma comissão de general ir cuidar da urna eletrônica. Por quê? Qual é a lógica? Quem tem que ter preocupação com a urna eletrônica são os cientistas, são os presidentes de partidos, são os deputados, os senadores, ou seja, são juízes, mas nunca as Forças Armadas. Então, eu acho que o país é como se tivesse dado um terremoto e mudou tudo de lugar, mudou de lugar. O Bolsonaro mudou o comportamento de muita gente nesse país. O Paulo Pimenta sabe que, quando ele chegou na Secom, quase ele não consegue andar de tanta gente, sabe, militar que estava lá dentro. Sabe, então, é o seguinte: o que nós queremos é restabelecer a forma mais democrática possível, colocar a sociedade civil para fazer o que ela tem que fazer. Os militares para fazer o que tem que fazer, e tocar o barco para esse país crescer. Eu não sou um cara que tem uma má imagem das Forças Armadas. No período que eu vivi, a minha imagem é a melhor possível. Eu tive uma convivência extraordinária. Agora, por exemplo, eu não tenho ajudante de ordem, meus ajudantes de ordem são os companheiros que trabalhavam comigo antes.
Por que eu não tenho? Eu pego no jornal o motorista do Heleno dizendo que vai me matar e que eu não vou subir a rampa. E um outro tenente diz que vai me dar um tiro na cabeça, que eu não vou subir a rampa. Como é que eu vou ter uma pessoa na porta da minha sala, sabe, que pode me dar um tiro? Então, eu coloquei como meu ajudante de ordem meus companheiros que trabalharam comigo, desde 2010, todos militares. O Morais é capitão aposentado, o Moura é capitão, o Rodrigues é tenente paraquedista, os outros são sargentos. Todos eles estão comigo há dez anos. E vão continuar, até que a gente readquira uma relação civilizada, só isso que eu quero. É isso que eu quero, gente, esses acampamentos ficar esse tanto tempo que ficaram gritando "golpe, golpe, golpe". E você acha que isso é democrático? Quem estava financiando isso? Quem estava bancando os ônibus, quem estava bancando o churrasco, quem estava bancando o almoço? Sabe, então, o que nós queremos descobrir é isso! Porque é isso que coloca a Democracia em risco. Sabe, nós vimos no acampamento, mulher de general, mulher e filha de general, gritando golpe. Sabe, isso não é normal. Eu disse aos comandantes e vou voltar a conversar com os mandantes, junto com o Zé Mucio, junto com o general Gonçalves Dias, que trabalha comigo desde 2003.
Sabe, nós temos que colocar um relacionamento, relacionamento civilizado, respeitoso. Cada um sabendo o que tem que fazer e consolidar a democracia na relação com o Congresso Nacional. Eu não vou mandar nenhum projeto para a Câmara, que é de interesse pessoal. Todo o projeto que eu vou mandar para a Câmara eu quero discutir com o presidente da Câmara, quero discutir com o presidente do Senado, quero discutir com os líderes do partido, porque não é projeto para mim, é projeto para esse país. E eu espero que as pessoas avaliem e que o bom senso prevaleça e as pessoas aprovem, fazendo as modificações que querem fazer. Eu sinceramente, acho que o ministério está bem estruturado, está bem montado. É a primeira vez na história do Brasil que um presidente começa a governar antes de tomar posse. Uma coisa inédita no Brasil. Ou seja, eu não tinha nem tomado posse, com 30 dias antes estava governando esse país, discutindo PEC, porque o genocida, depois que perdeu as eleições, se trancou dentro de casa. Sinceramente, eu confesso a vocês que nós, eu espero contar com a ajuda de vocês. Nós vamos normalizar esse país. Eu quando eu digo a palavra normalizar, é cada um voltar a cumprir a nossa função. Vocês voltarem a escrever, a filmar, a gravar, a falar aquilo que vocês falam, sem interferência de nenhum brutamontes, atacando vocês. É o Congresso votar sem precisar ter orçamento secreto, é o presidente da República executar o orçamento tal como ele foi aprovado, de acordo com as orientações e o cumprimento do Tribunal de Contas da União e as Forças Armadas, cumprindo com seu papel. Eu sou contra a judicialização da política. Sou contra a politicagem do Poder Judiciário, ou seja, se cada um voltar a cumprir as suas funções esse país volta a viver tranquilo. E nós vamos, completo a vocês, eu não sei como, eu prometo, eu tenho a obrigação de encontrar uma solução, nós vamos ser muito duros quanto a fábrica de fake news. Esse povo não pode estar subordinado à mentira, não pode. Uma mentira é muito legal quando é contada por um filho da gente querendo negar a nota que ele teve no boletim. Mas, hoje com celular, não precisa nem ele dizer, porque a gente recebe a nota do filho no celular da gente. Mas, a partir daí você mentir para ganhar uma eleição e você mentir para governar! Você mentir contra uma vacina! Você mentir contra uma doença! Um presidente esconder que ele tomou vacina ou não? Não chegamos no Palácio do Alvorada tinha dois tubos de oxigênio grande, não era tubinho pequeno, era grande, e foi ele que utilizou! Por que é que não conta? Qual é o problema? Manaus não tinha! Faltou para Manaus oxigênio, mas na casa dele tinha.
Então é isso! Responsabilizar politicamente o Bolsonaro? Olha, veja, eu não (pede um cafezinho para mim), eu não quero passar a ideia, de que a gente vai fazer aquele processo de perseguição sistemática contra ninguém. Eu não quero! Sabe, eu apenas disse ao Controlador-Geral da União que era preciso que a gente, sabe, publicasse, sabe, essas coisas do total do orçamento, do sigilo, porque aquilo que for de interesse dele e da família dele, não tem nenhum interesse de saber as coisas particulares. Mas aquilo que for de interesse público eu quero saber. Por que decretar sigilo do Pazuello em 100 anos? Sabe, qual é a lógica? O cidadão foi ministro da Saúde, o cidadão se negou a comprar vacina. Nós temos que tornar público por que é que ele tomou essas atitudes. Eu não quero fazer disso o meu mandato. O meu mandato é outro, o meu mandato não é ficar brigando com Bolsonaro. O meu mandato, é brigar contra a fome, brigar contra desigualdade, brigar contra o desemprego. Esse é o meu mandato.
Jornalista Delis Ortiz (TV Globo) — Presidente, Delis Ortiz, da TV Globo.
Orador (assessoria) — Onde você está? Levanta a mão.
Jornalista Delis Ortiz (TV Globo) — Aqui, quer que fique em pé, ou não? Evidentemente, presidente, aquele esquema montado ontem de segurança era adequado, necessário, porque... mas todo mundo sabe que o terror, quem quer praticar o terror, usa a tática de espalhar medo e insegurança. E, às vezes, é só um blefe. O senhor achou conveniente, prudente, o interventor passar 1h30, ontem, dando entrevista, onde, na verdade, ele acabou fazendo uma publicidade para essa ameaça e ajudando até a espalhar o medo? Chegou a dar o local e a hora de onde seriam essas manifestações, que depois se mostraram ser um blefe. O senhor acha que está prudente essa estratégia do interventor?
Presidente Lula — Olha, eu não vi a entrevista do interventor, porque ontem eu tive muitas reuniões, sabe, aqui dentro do Palácio, mas eu não acho correto ficar espalhando coisas que a gente não sabe se vai acontecer ou não. Eu, durante a minha posse, eu tive vários atritos, várias polêmicas, até com a Janja, porque eu não tinha tanta preocupação com a segurança como eles tinham. O pessoal sabe, tinha uma segurança, era uma proteção que eu não achava necessária. Então, eu fiquei sem decidir se eu ia em carro aberto (ou não) até a hora que eu cheguei no carro, porque: “não, você tem que ir em carro fechado, você tem que ir em carro aberto; você tem que ir em um carro que abre o capô em cima, você levanta e coloca o rosto para fora". Aí, quando eu cheguei lá, eu vi aquele carrão que logo ele vai ser doado para uma escola de samba, porque ele já está quase que inadequado. Outro dia, eu falei: “ah, vou subir em um carrão”, ainda peguei o álcool [inaudível], coloquei lá, não aconteceu nada. Eu acho, veja, eu acho que obviamente que ontem havia muito boato. Toda a rede do mal estava dizendo que ia ter passeata, convocação. "Vamos ocupar Brasília"! Cachorro que late, não morde. Essa gente é muito terrorista também. Essa gente já prometeu muita coisa que não aconteceu. Eu acho que a gente tem que estar precavido, mas não assustado. A gente tem que ter sempre consciência de que se acontecer a gente vai ter que estar preparado. Mas a gente não tem que ficar falando toda hora nisso, sabe? Criando um clima de pânico na sociedade. Eu não me comporto assim, eu não me comporto. Eu, se tiver que ter mais segurança, você coloca segurança. Não precisa fazer alarde da segurança e deixa ver o que vai acontecer. Aqui em Brasília, houve muita suspeita do comportamento dos comandantes da Polícia Militar. Houve... há várias cenas, não é de hoje, não.
Durante a campanha, em muitos lugares, a polícia protegia os agressores. Eu estou te dizendo, sabe, dada a minha experiência como candidato. Em vários lugares que a gente foi, que a gente era agredido na rua, a polícia dava proteção. Não sei se vocês perceberam, que, quando, no domingo à noite eu pedi para o José Mucio, pedi para o companheiro Rui Costa, irem até o acampamento para dizer que iam desativar. Vocês viram que tinham dois tanques lá, né? Aquele tanque, pela imagem que eu vi, estava mais protegendo o acampamento do que, sabe, protegendo Brasília. Aí o general me ligou, dizendo para mim: “presidente, é muito perigoso entrar de noite no acampamento; tem muita gente, pode acontecer uma desgraça”" Eu falei: “tudo bem, não estou pedindo pra entrar; eu estou pedindo para não deixar ninguém sair". E no dia seguinte, às 6h30 da manhã, as pessoas saíram e foram para o ônibus, e foi o que aconteceu. As pessoas foram para o ônibus, não sabiam que iam ser presas e foram presas. E aí alguns começaram a chorar, outros começaram a lamentar, outros começaram a dizer que estão doentes. É sempre assim. Sabe, mas eu acho que foi feito o que tinha que ser feito e a gente vai ter que, daqui para a frente, ter em conta o seguinte: Brasília não pode sofrer nos ataques. Eu, eu acho que pouca gente nesse país participou de tanta manifestação como eu participei aqui em Brasília. Acho que pouca gente. Entretanto, vocês nunca viram eu ir na porta da Suprema Corte, ofender a Suprema Corte. Nós não passávamos ali do lago de Brasília. Aliás, o lago foi feito para a gente não ir mais para frente. Mas a gente não passava. Um chamado sindicalista, radicalista, fica muito no discurso, mas ninguém vai lá invadir qualquer coisa. E os civilizados? A extrema direita não, ela partiu para cima. Coisa que nós não aceitamos, e por isso nós vamos ser duros daqui pra frente. Não sei se vocês viram a cena de um cidadão defecando, sabe? Um cidadão daquele não pode ficar impune. Não pode aquilo. Se ele tiver neto, é mostrar para o neto dele: "olha como teu avô é canalha". A gente não pode achar que não aconteceu nada. A gente tem que mostrar aquilo, divulgar aquilo. Se ele tiver mulher, levar para a mulher dele, falar "tá aqui, esse aqui é o teu marido, o bonzão dentro da tua casa, esse canalha aqui". Porque se a gente não fizer assim, eles não aprendem. Então é isso, querida, que nós vamos fazer. Eu espero que você esteja em Brasília cobrindo a política, que você vai ter mais prazer de cobrir a política, entrevistar o presidente.
Orador (assessoria) — O presidente tem agendas na sequência, é a primeira vez que a gente está fazendo isso. Esperamos que... vamos fazer outras vezes. A última pergunta, por favor.
Jornalista Juliana Lopes (CNN) — Presidente, Juliana Lopes, da CNN. Queria fazer duas perguntas para o senhor. Durante todos esses dias existiu um questionamento com integrantes, dentro do próprio governo, sobre a permanência do ministro José Mucio, pelo que ele disse sobre os acampamentos e sobre as manifestações. Eu queria que o senhor comentasse isso. E para mudar um pouquinho de assunto, ontem o senhor recebeu o governador de São Paulo aqui, ex-ministro de Bolsonaro, que defende privatizações, a privatização do Porto de Santos. E o senhor falou agora sobre a Eletrobras. Eu queria entender se existe um caminho do meio para essas privatizações no governo.
Presidente Lula — Olha, primeiro quem coloca ministro e tira ministro é o presidente da República. O José Mucio fui eu que o trouxe para cá. Ele vai continuar sendo meu ministro, porque eu confio nele. É um companheiro da minha relação histórica. Tenho o mais profundo respeito por ele. Ele vai continuar, se eu tiver que tirar a cada ministro na hora que ele comete um erro, sabe, vai ser a maior rotatividade de mão de obra da história do Brasil, porque todos nós cometemos erros. Então o José Mucio vai continuar. O que você está vendo é notícia, especulação. Na minha cabeça, o José Mucio é meu ministro, sabe? A segunda coisa é o fato de eu ter recebido o Tarcísio [de Freitas], e vou receber todos. Eu recebi o governador do Rio [de Janeiro], antes do Tarcísio. É que eu sempre conversei com os governadores. Eu fui inimigo do [Geraldo] Alckmin na campanha, mas durante o mandato dele no governo de São Paulo eu mantinha boa relação com ele. Com o [José] Serra, a mesma coisa. Eu nunca deixei de conversar com governador porque ele não era do meu partido. Nunca, nunca, nem prefeito! E o Tarcísio vê que ele tem interesse em algumas coisas e veio conversar comigo e eu disse que estou disposto a conversar sobre determinadas coisas. Eu não conheço o Tarcísio de agora. O Tarcísio, quando a gente estava fazendo o gasoduto Coari-Manaus, o Tarcísio era capitão do Exército. Ele trabalhava lá, naquele gasoduto, porque o Exército começou a trabalhar na obra. Depois o Tarcísio foi três anos com a Dilma. Trabalhou no DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] três anos com a companheira Dilma. Ele não é uma figura desconhecida. Agora, mesmo que ele fosse uma figura com quem eu tivesse a mais profunda divergência, ele é o governador de São Paulo, o estado mais importante da federação. E eu, da forma mais civilizada, mais humilde possível, eu vou conversar com ele, eu vou conversar com o do Rio Grande do Sul, eu vou conversar com o de Roraima, vou conversar com o do Amazonas. Eu vou conversar, respeitando o povo que votou neles. E vou fazer as parcerias que forem necessárias fazer. Sempre foi assim e vai continuar sendo assim. Marcelo, você tá inquieto. Faça uma pergunta, Marcelo.
Jornalista Marcelo Auler (247) — Desculpa, presidente, é que eu estou voltando para o Rio hoje.
Presidente Lula — Vai voltar pro Rio?
Jornalista Marcelo Auler (247) — Hoje vou. Depois de 40 dias aqui eu tenho que ver minhas filhas, né? Primeiro vou lhe dar uma sugestão. Tomo a liberdade. O senhor falou em viajar pelo país, lançar os programas. Visite Irati (PR), com Programa de Aquisição de Alimentos {PAA} e limpe a honra dos agricultores que foram presos pelo Sérgio Moro, ilegalmente. É uma sugestão para o senhor pensar nisso. Agora, o senhor falou das mulheres de general gritando por golpe. O senhor já tentou (alguém do governo) relacionar a lista de demitidos no dia 2 de janeiro com os parentes de quem foi preso no acampamento? Se no acampamento tem parentes daqueles que perderam os cargos, no dia 2 de janeiro...
Presidente Lula — Veja, eu não sei quem é que está preso. As pessoas que foram presas eram pessoas que estavam no acampamento. Eu não conheço ninguém. Essas pessoas vão ser presas, essas pessoas vão passar por uma triagem. Quem tiver mais culpa fica, quem tiver menos culpa, sai. É assim que funciona. Eu acho que aqui no Palácio todos os ministros sabem o seguinte (é preciso que cada ministro saiba o seguinte): não pode ficar ninguém que seja suspeita de ser bolsonarista raiz aqui dentro. Veja, se o cidadão... eu também não quero fazer um processo de perseguição, porque o cara um dia foi lavajatista, não. Houve o momento que a sociedade brasileira foi tão enganada e a imprensa foi tão enganada, a imprensa foi tão ludibriada por um procurador e por um juiz, sabe? A imprensa foi tão enganada de forma tão, tão triste que às vezes o cara é lavajatista. “Ah, então não vou querer”, não, eu não posso perseguir as pessoas assim. Eu quero saber se a pessoa tem qualidade, se a pessoa tem uma função respeitada, essa pessoa é trabalhadora. "Ah, se o cara votou no Bolsonaro, eu não vou ficar aqui com o cara porque votou em mim não". Se o cara votou no Bolsonaro, é um direito dele votar. Se o cara é um funcionário de carreira e ele presta o serviço dele com retidão, por que que ele não pode ficar? Eu não quero fazer um "Palácio de petista". Eu quero fazer um Palácio de pessoa séria, que trabalhe, que tenha um compromisso com o país, que tenha compromisso com o povo, que atenda bem o povo e que cumpra com suas funções. É assim que vai funcionar. Eu não vou chegar em cada repartição e perguntar "em quem que você votou, em quem você votou"? Até porque eu vou encontrar mais gente que votou em mim do que os votos que eu tive. Então, para não ser enganado, eu não preciso perguntar isso. Obrigado.
Ministro Paulo Pimenta — Pessoal, quero então concluir esse nosso primeiro encontro, agradecer muito a presença de todos vocês, terem atendido o nosso convite. Agradecer a Janja, que esteve aqui conosco no café. Vocês sabem que nós estamos com as portas abertas. Temos dois secretários aqui: o secretário de Imprensa e o secretário de Audiovisual, [Ricardo] Stuckert. Não é mais fotógrafo do presidente, agora o Stuckert é secretário de [Produção e Divulgação de Conteúdo] Audiovisual, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. E com certeza, especialmente o senhor, pela disposição e vontade de ficar aqui conversando conosco até agora. Um abraço pessoal. Muito obrigado.