PRONUNCIAMENTO do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em Boa Vista (RR)
Olha, apenas uma informação pra vocês: se alguém se alguém me contasse que aqui em Roraima tinha pessoas sendo tratadas da forma desumana, como eu vi o povo yanomami sendo tratado aqui, eu não acreditaria. Eu por acaso tive acesso a umas fotos essa semana, as fotos efetivamente me abalaram, porque a gente não pode entender como é que um país que tem as condições que tem o Brasil, deixar os nossos indígenas abandonados como eles estão aqui. Ou seja, são pessoas que são trazidas para cá para receber salário e depois não sabem quando voltam, eles são agentes de saúde, são pessoas que estão há seis meses aqui, tem filha, tem crianças lá na aldeia e não tem como voltar. Ou seja, ninguém tem certeza de nada aqui. Ou seja, então eu vim para cá para dizer que nós vamos tratar os nossos indígenas como seres humanos, sabe? Responsáveis por parte daquilo que nós somos, e nós vamos cuidar para aqueles que eles sejam tratados como seres humanos de primeira classe, não ser tratado como gente de quarta classe ou de quinta classe. É desumano o que eu vi aqui.
Sinceramente, o presidente que deixou a presidência esses dias, se ao invés de fazer tanta "motociata", tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não estivesse tão abandonado como tá. Eu vim aqui assumir o compromisso com os caciques, com os companheiros aqui, eu vim aqui com o Ministro do Desenvolvimento Regional combater a fome, eu vim com a Ministra da Saúde, que é a ministra Sonia, com a Ministra dos Povos Indígenas, vim com o Ministro da Justiça, vim com a presidenta da Funai, dos Direitos Humanos, vim com meu companheiro Ministro Secretário-Geral, vim com a minha mulher Janja, porque eu tô viajando amanhã para a Argentina e eu não queria sair do Brasil se fazer uma visita, sabe? Num território brasileiro. E quis Deus que eu viesse aqui, e eu saí daqui com um compromisso com os nossos queridos irmãos, que nós vamos dar a eles a dignidade que eles merecem, na saúde, na educação, na alimentação e no direito de ir e vir, para fazerem as coisas que eles necessitam na cidade. É simplesmente isso que eu vim fazer aqui, sabe? Nós vamos levar muito a sério essa história de acabar com qualquer garimpo ilegal, e mesmo que seja uma terra que tem autorização da agência para fazer pesquisa, eles podem fazer pesquisa sem destruir a água, sem destruir a floresta e sem que colocar em risco a vida das pessoas que dependem da água para sobreviver.
Então, é importante as pessoas saberem que esse país mudou de governo e o governo agora vai agir com seriedade no tratamento do povo que esse país tinha esquecido. Muito obrigado a vocês da imprensa, muito obrigado, e obrigado aos companheiros, obrigado ao governador, obrigado ao prefeito, obrigado aos deputados, obrigado a todos. Eu prometo para vocês que em março eu virei na assembleia que vai ser na Raposa Serra do Sol e prometo a vocês que nós vamos resolver esse problema daqui. Essas pessoas vão ser tratadas decentemente. Tá bem, gente? Um abraço e um beijo no coração!
Quais medidas vão ser tomadas imediatamente, presidente, para socorrer os povos?
Veja, a primeira coisa que nós temos que fazer é garantir transporte para as pessoas que estão há seis meses esperando aqui para ir embora. Pessoas que deixaram crianças na aldeia e que estão aqui. Pessoas que vieram pra receber o salário e não sabem quando voltam. O trabalho de transporte, sabe, é precário, é muito precário. É preciso que a gente dê um jeito de aumentar a pista para pousar um avião um pouco maior, em Surucucu, para que a gente possa transportar mais gente, que a gente possa levar mais alimento. Então, é preciso que a gente faça o que tem que ser feito, sabe? Não pode ser feito de um dia para outro, não pode ser feito em poucas horas, mas o meu compromisso é de fazer.
Já vem as equipes de saúde a partir de segunda-feira?
As equipes de saúde vão vir pra cá, eu tava dizendo para a ministra que a saúde deve ir lá na aldeia e não esperar que eles venham aqui na cidade. A gente é que tem que ir lá para tratar deles, para cuidar deles, sabe? É isso que nós vamos fazer, nós vamos civilizar o tratamento que se dá aos povos indígenas aqui.
Presidente, o senhor que combate tanto a fome, como foi para o senhor ver essas pessoas?
Eu, sinceramente, não acreditava. Eu não queria crer que eu ia ver, sabe, as pessoas com a fome que essas pessoas têm. Quase todos… eu não posso julgar a qualidade da comida, porque eu não comi, mas quase todos se queixam da comida. Eu não sei se é por causa do hábito alimentar, não sei o que que é, mas quase todos se queixaram da comida, quase todos reclamaram do frango, quase todos reclamaram do peixe, sabe? Eu não sei se é por conta do hábito alimentar ou porque não tava bom mesmo. Todos se queixam que estão aqui e não sabem quando voltam, não sabem quando vai ter um avião para levar ele de volta. Então, e eu vi as criancinhas bem magrinhas, bem desnutridas, significa que essas crianças precisam tomar vitamina, sabe? E eu acho que uma das formas da gente resolver isso, é fazer com que a gente monte o plantão da saúde, sabe, nas aldeias, para que a gente possa cuidar deles lá. Fica mais fácil a gente transportar dez médicos do que transportar duzentos indígenas que estão aqui. É apenas uma questão de mudança de comportamento. A nossa ministra Lívia sabe que tem que fazer. Nós queremos mostrar que o SUS é capaz de fazer um trabalho, sabe, que que honra e orgulha o povo brasileiro, como fez na covid-19. E eu prometo a vocês que nós vamos melhorar a vida dele, é isso.
Presidente, quais medidas vão ser feitas para expulsar o garimpo ilegal?
Eu não posso dizer quais medidas que serão feitas, o que eu posso dizer para você é que não vai existir mais garimpo ilegal. E eu sei da dificuldade de tirar o garimpo ilegal, eu sei que já se tentou outras vezes tirar e eles voltam, sabe? Mas nós vamos tirar! Lamentavelmente, eu não posso dizer pra você até quando, o que posso dizer é que nós vamos tirar.