Pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante inauguração da fábrica de ônibus elétricos
TRANSMISSÃO | Cerimônia de inauguração da nova fábrica da Eletra
Vocês já almoçaram? Se vocês já almoçaram, vocês saibam que a minha delegação tá com o estômago roncando, com vontade de comer alguma coisa.
Olha, a minha alegria de estar aqui numa empresa dirigida por duas mulheres. Eu já fui presidente duas vezes, tô pela terceira vez, nunca entrei numa empresa presidida por mulheres. Dessa vez, fui acompanhado por mãe e filha, criadora e dirigente dessa empresa, numa demonstração de que as mulheres brasileiras estão não apenas conquistando espaço na legislação brasileira, porque ontem à noite o Senado brasileiro aprovou a lei de que mulher e homem exercendo a mesma função deve ganhar o mesmo salário. Esse foi um avanço extraordinário. Eu espero que a mulherada brigue para que essa lei seja cumprida. A segunda coisa é que veio comigo uma quantidade de ministros muito grande. O Haddad, que teve que sair, que é o ministro da Fazenda, era ministro da Educação quando a gente construiu o Caminho da Escola. Era a necessidade da gente facilitar a vida das pessoas que moravam longe da escola chegar na escola, sobretudo o pessoal da área rural.
E, nós, sabemos que a nossa frota de ônibus escolar já está muito velha. Nós estamos aqui com o nosso ministro da Educação, o nosso querido companheiro Camilo, ex-governador do Ceará, senador da República eleito na última eleição, e agora ministro da Educação, que vai ter que conversar com o dono da Eletra, com as donas da Eletra para discutir a necessidade da renovação da frota de ônibus escolar que, segundo o presidente do sindicato, tá muito velha e é preciso renovar a frota para vender mais ônibus, gerar mais emprego e fazer a economia brasileira andar para frente.
Uma coisa importante, Beatriz e Milena, é que a indústria brasileira já representou 30% do PIB brasileiro. A indústria brasileira tinha muito incidência no resultado de tudo que acontecia nesse país. Eu lembro que só a indústria automobilística representava 23 do PIB industrial quando eu era presidente do sindicato dos metalúrgicos. E hoje, o que que a gente vê? A indústria brasileira está sumindo do cenário do nosso país. Hoje, a indústria representa apenas 10 ou 11% do PIB nacional e todo mundo sabe que houve campanhas imensas para destruir empresas nacionais. Houve discurso que dizia: “quem não tem competência não se estabelece, porque que a gente vai ficar comprando produto brasileiro se produto estrangeiro é mais barato, é de mais qualidade.” Todas as fábricas de autopeças aqui no Brasil fecharam num determinado tempo. E era bonito a gente ver os empresários brasileiros, como a Metal Leve, uma empresa extraordinária, do empresário extraordinário, ser vendida. Ou seja, uma empresa que era o símbolo da indústria brasileira foi vendida.
Além da quantidade de indústria brasileira que acabou, que fechou. Quando eu vejo, minha querida Beatriz, que eu conheço há um bom tempo, ter a coragem de montar uma empresa, que ela sabe que no início o ônibus elétrico, ele é muito mais caro do que o ônibus normal, mas no funcionamento dele, quando ele começa a operar, ele vai custar 73% a menos do que o ônibus normal a diesel. Por isso é que a gente tem que apostar numa empresa brasileira. Você, Beatriz, se prepare, porque daqui um tempo vai estar chegando empresa estrangeira por aqui. Vai estar chegando. E, aí, você vai ver a propaganda das pessoas dizendo: “não, mas o carro nacional é muito caro, é não sei das quantas e tal.” E, aí é que entra a importância do Estado. Quando as pessoas começam a dizer que o Estado não vale nada, que tudo tem que ser feito da forma privada, aí é que entra o papel do Estado. Cabe ao Estado Brasileiro garantir a sobrevivência da indústria brasileira para que a gente possa um dia ser competitivo com o mundo exterior.
Então, se nós temos que comprar alguma coisa, nós temos que valorizar aquele produto brasileiro, que gera emprego no Brasil, que gera renda no Brasil e que melhora a qualidade de vida das pessoas. Nós estamos, agora, Beatriz, para fazer um acordo com a União Europeia. Você já deve ter lido no jornal que o Brasil está para concluir um acordo com a União Europeia e o Brasil não quer assinar o acordo sem que haja um ajuste desse acordo. O que que os europeus querem no acordo? Que o Brasil abra as portas para compras governamentais. Ou seja, eles querem que o governo brasileiro compre as coisas estrangeiras ao invés das coisas brasileiras. E a gente não vai fazer isso. E se eles não aceitarem a condição do Brasil, não tem acordo. Porque nós não podemos abdicar das compras governamentais, que são a oportunidade das pequenas e médias empresas sobreviverem nesse país.
Então, como é que a gente vai falar em crescimento de indústria, reindustrialização do país se a gente não tem uma política concreta de garantir o crescimento da micro, pequena e média empresa, do micro e pequeno empreendedor brasileiro? Quando a gente vai discutir isso não falta artigo de jornal para dizer que nós somos atrasados. Não falta artigo de jornal para dizer que nós somos atrasados, colunista escrevendo que nós somos atrasados. E, eu, sinceramente, eu adoro que o Brasil participe do comércio mundial, eu adoro que o Brasil mantenha uma relação com todos os países do mundo. Os chineses são os nossos maiores parceiros comercial e eu agradeço sempre. Mas, em se tratando de negócio, eu prefiro fazer negócio com os brasileiros para fortalecer a indústria nacional. Você pode ter certeza, Beatriz, que a gente vai estar junto nessa briga. A gente vai estar junto não apenas para ajudar a comprar ônibus, aqueles que os municípios precisem, que o estado, através do Mini... (sem áudio), essa mudança energética extraordinária, que nós tanto precisamos, porque não adianta a gente falar da questão climática, da questão climática, da questão climática, falar da Amazônia, da Amazônia, mas na hora de fazer as coisas não faz absolutamente nada.
Desde 2009, Beatriz, desde de 2009, na COP de Copenhague, que o mundo desenvolvido ofereceu US$ 100 bilhões para ajudar o mundo em desenvolvimento a cuidar da questão do clima. Eu estou até agora esperando os 100 milhões de dólares. Esses dias, o presidente Biden anunciou 500 milhões para o Brasil, na questão da Amazônia. A Inglaterra anunciou 500 milhões. Ou seja, os dois juntos dão 1 bilhão. Mas no fundo, Alemanha e Noruega dão um pouco mais. Mas, não é só o Brasil. A Amazônia não é só brasileira. Se tem floresta em oito países amazônicos, você tem floresta no Congo, você tem floresta na Indonésia. E se eles que são industrializados já desmataram o que tinha que desmatar, eles precisam pagar para que quem tenha floresta ainda mantenha a floresta em pé. E convencer a sociedade brasileira que você não precisa derrubar uma árvore para plantar uma soja.
O Brasil tem 30 milhões de hectares de terras degradáveis que podem ser recuperadas e dobrar a nossa produção agrícola sem precisar adentrar na floresta amazônica. Aí, sim, a gente vai estar trabalhando a questão do carbono com a seriedade que precisa ser tratada. Eu quero te dizer, querida mãe e filha, quero dizer pra vocês o seguinte: eu, primeiro, o orgulho de estar aqui com vocês, que eu conheço há um bom tempo, tá na minha cidade que me formou politicamente. Hoje, quando eu desci no estádio da Vila Euclides para ir na Universidade Federal, eu fiquei emocionado, porque na minha vida tudo começou naquele estádio, tudo começou naquele estádio em 78, 79, 80. A Universidade Federal do ABC era um sonho, era um sonho! São Paulo só tinha a Universidade Federal em São Carlos, se não me falha a memória. E nós resolvemos fazer em Santo André, aí as duas juntos já estão com 20 mil estudantes.
Uma universidade que é um centro de excelência e pode ajudar essa empresa, porque eles têm convênio com várias empresas brasileiras para ajudar no desenvolvimento tecnológico. Nós vamos ter que fazer uma campanha para os nossos queridos prefeitos, que estão aqui na frente, comprarem ônibus elétricos, de preferência da Eletra, né? Tentar convencer. Eu vou pra COP, nos Emirados Árabes, e eu quero levar um folder da Eletra pra gente mostrar que no Brasil a gente já está produzindo ônibus, sabe. E, eu conheço a nossa querida Beatriz há muito tempo com a tentativa de criar o ônibus elétrico. Ela começou com ônibus com motorzinho a diesel, que ligava o dínamo e depois esse motorzinho produzia, sabe, eletricidade.
Naquele tempo muita gente não acreditou, muitos prefeitos não acreditaram e as coisas não aconteceram. Mas teimosa, como todas as mulheres são, ela teimou como dizia a minha mãe: “teima, Lula, teima, Lula”. A Beatriz teimou, teimou, teimou e hoje ela é a primeira empresa brasileira a mostrar a cara ao Brasil e ao mundo.
E pra terminar, eu queria dizer um pouco aos trabalhadores que é muito importante vocês, mesmo estando trabalhando, não pararem de estudar. Por favor, não parem de estudar porque as pessoas que não estudam têm pouca chance na vida. Teve eu, que fui presidente; o Silvio Santos; o Amador Aguiar, presidente do Bradesco, mas nem todo mundo tem chance. O Zé de Alencar era um empresário bem de vida. Mas, ele teve sorte também.
Porque que eu tô dizendo isso, gente, é porque o emprego tá difícil. E quando eu passo numa fábrica que eu vejo as pessoas trabalhando, até com a mão suja, eu acho que é extraordinário porque não tem nada que dignifique mais o ser humano do que a sua autonomia financeira. A pessoa trabalhar, chegar no final do mês e receber seu salário, comprar as coisas pra dentro de casa, comprar roupa pra mulher, pro filho, com seu dinheiro. E a mulher também trabalhando, ela não precisa de favor do marido, ele não vai ficar gritando com ela porque ela fala: “não preciso de você, você fala baixo comigo aqui, meu, senão eu vou te dar uns trancos aqui.” A mulher de muitos aqui faz, eu tô vendo uma.
Então, eu quero dizer pra vocês, companheiro, que continue estudando. Gente, quando a gente estuda a gente ganha mais salário, a gente tem menos chance de ser despedido, a gente tem mais facilidade de arrumar emprego e a gente tem mais facilidade, sobretudo homem, de garantir a tranquilidade da sua família. Então, por favor, estudem e trabalhem ao mesmo tempo porque o Brasil precisa competir com o mundo que, muitas vezes, investiu primeiro do que nós. O Brasil, em 1980, tinha muito mais força industrial que a China, a renda per capita brasileira era maior do que a China. Vejam o que a China virou e veja aonde a gente tá. A gente chegou a ser a 6ª economia do mundo. Hoje somos a 12ª economia do mundo. E o Brasil pode voltar a crescer.
Eu tenho dito para as pessoas, Beatriz, que eu voltei a ser presidente da República pela disposição que eu tenho de recuperar esse país . Esse país tem que voltar a ser democrático, as pessoas têm que voltar a ser civilizadas, as pessoas precisam trabalhar, as pessoas têm que receber um salário melhor, as pessoas precisam conversar mais, as pessoas precisam parar de se odiar, parente não pode ficar com parente por causa de política. A gente tem que ser mais paixão, mais amor, mais solidariedade, mais fraternidade e menos ódio. É isso que vai fazer esse país ir pra frente. Beatriz, que Deus te abençoe, mãe e filha, e que surjam mais mulheres como vocês para que o Brasil possa desenvolver mais rapidamente.
Um beijo no coração de vocês e um beijo no coração dos funcionários.