Pronunciamento do presidente da República durante reunião com reitores de universidades e institutos federais
Pronunciamento na abertura da reunião
Bem, vocês precisam saber que o encontro com vocês é o encontro da civilização. Eu nunca consegui compreender qual era a dificuldade que um Presidente da República tinha de se encontrar com reitores, uma vez por ano. Eu não conheço, na história, Presidente que não tenha recebido conjunto de reitores e a única explicação era medo de que vocês iriam fazer reivindicações. E eu e o Haddad colocamos em prática a ideia de que todo ano a gente tinha que fazer uma reunião, vocês sempre apresentavam uma pauta de reivindicação, a gente ficava de estudar cada pauta, no ano seguinte a gente faria uma reunião, avaliava o que tinha sido atendido e vocês apresentavam outra pauta de reivindicação.
Eu tenho orgulho de ter vivido um momento em que a gente mais acreditou na educação, o momento em que a gente mais investiu em ciência e tecnologia, investiu na educação universitária, investiu no ensino fundamental, no ensino médio e nos institutos federais. Por uma única razão: é que não existe, na história da humanidade, nenhum país que conseguiu se desenvolver sem que antes tivesse resolvido o problema da formação do seu povo. Então, nós estamos começando um novo momento. Eu sei do obscurantismo que vocês viveram nesses últimos quatro anos. E eu quero dizer que estamos saindo das trevas para voltar à luminosidade de um novo tempo.
Vocês vão conhecer de perto o nosso novo ministro da Educação, o ex-governador do estado do Ceará, e o estado do Ceará é no Brasil o estado que tem a melhor experiência política do ensino básico e do ensino integral. Vocês vão conhecer a companheira Luciana, que foi prefeita de Olinda que foi vice-governadora, deputada federal e que hoje assumiu o Ministério de Ciência e Tecnologia e é importante vocês saberem que ela é uma indicação de um companheiro extraordinário, talvez eu acho que o melhor ministro de Ciência e Tecnologia que eu tive, e foi o nosso companheiro de Pernambuco, o nosso companheiro mais extraordinário que participou comigo de quase cinco anos de governo, e a gente conseguiu fazer os maiores e mais importantes investimentos na frente de tecnologia. Vocês vão conhecer o nosso companheiro Márcio, que é o nosso companheiro ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, e o nosso companheiro Rui Costa, que vocês sabem, foi o governador da Bahia durante dois mandatos e hoje é o ministro Chefe da Casa Civil. Eu na verdade, se pudesse teria convidado o Sérgio Rezende para vir aqui, mas eu esqueci de convidá-lo. Então, temos uma lista de reitores aqui que vão falar: primeiro o nosso companheiro, presidente da ANDIFES - me parece que é o Ricardo Marcelo Fonseca, que é o presidente da ANDIFES. Marcelo, por favor, tem que vir para frente para as pessoas te verem, senão vai falar de costas para os companheiros…venha para frente.
Pronunciamento no encerramento da reunião
Vocês perceberam que nós ainda não temos um chefe de cerimonial para anunciar as pessoas, nós mesmos estamos nos anunciando aqui. Quando comecei falar com vocês, vocês perceberam que eu até gaguejei um pouco porque eu estava emocionado com esse encontro. Emocionado porque era impensável… eu tenho 77 anos de idade, eu nunca vi o Brasil tomado pelo ódio que ele foi tomado. Ele foi tomado pelo ódio porque em algum momento esse país teve muita gente que começou negar a política, e na hora que você nega a política acontece o que aconteceu nos Estados Unidos com o Trump, acontece o que aconteceu no Brasil com o coisa, que eu não quero falar o nome dele, acontece o que aconteceu na Hungria, acontece o que aconteceu na Itália, e acontece no mundo inteiro o surgimento de uma extrema direita fanática, raivosa que odeia tudo aquilo que não combina com que eles pensam. É um novo monstro que nós temos que enfrentar e derrotar, porque não é uma coisa apenas brasileira, é uma coisa do mundo a fora.
Eu dizia para os meus companheiros que eu fui ter uma reunião com o primeiro-ministro da Grécia e ele me dizia que, na Grécia, a extrema direita usa o mesmo jargão: Pátria Amada, Família e Religião; é um jargão! Eu acho que o Brasil não merecia ter passado por isso. A gente não tem dimensão do retrocesso que aconteceu nesse país, em cada escola, em cada local de trabalho, em cada local que as pessoas estavam habituadas a uma certa civilização, as coisas mudaram no Brasil. Mudaram a ponto de acontecer o que aconteceu no dia oito, aqui em Brasília. Nós estamos aqui nesse salão, que foi semidestruído, e nós estamos podendo fazer reunião nele, porque um grupo de funcionários de empresas terceirizadas, que ganham um salário-mínimo, que não tem sequer plano de saúde, limpou isso aqui para que a gente pudesse se reunir. Eu disse ao meu companheiro, Rui Costa, que é o meu Chefe da Casa Civil, que não tem nenhum sentido dentro do Palácio, onde está o Presidente da República, que vive falando de justiça social, todos os dias, a gente ter trabalhador terceirizado aqui dentro. Aqui a gente tem que contratar as pessoas, sabe profissionalmente, essas pessoas tem que ser tratadas dignamente, essas pessoas tem que ganhar mais que o mínimo, e essas pessoas tem que ter plano de saúde, porque senão o nosso discurso fica evasivo.
A segunda coisa que eu queria falar para vocês é que hoje a gente tá comemorando 5 anos e quatro meses de uma aberração que aconteceu nesse país, que foi a morte do reitor Luiz Carlos Cancellier. Faz 5 anos e 4 meses que esse homem se matou, pela pressão de uma polícia ignorante, de um promotor ignorante, de pessoas insensatas, que condenaram as pessoas antes de investigar e antes de julgar, e a gente não pode nem fazer um ato em homenagem a ele porque nesse país deixou de existir reunião de reitores há muitos e muito tempo. Eu quero aproveitar esse momento com 5 anos e 4 meses de atraso, e dizer para você meu caro Luiz Carlos Cancellier, que você pode ter morrido a sua carne, mas as suas ideias continuarão no meio de nós, a cada momento que a gente pensar em educação, a cada momento que a gente pensar na formação profissional e intelectual do povo brasileiro. Esteja onde você estiver, pode ficar certo que aqui tem muita gente disposta a dar sequência ao trabalho que você fazia e as ideias que você acreditava. Você morreu, mas as suas ideias continuam vivas, e nós haveremos de recuperá-las e trabalhar para que a gente nunca mais permita que aconteça o que aconteceu com aquele reitor em Santa Catarina.
A terceira coisa, companheiros e companheiros, eu na verdade eu pensei como é que eu ia tratar vocês, se eu ia falar magníficos reitores e magníficas reitoras, porque eu acho bonito, eu acho chique, eu acho o chique quando aparece na minha nominata, magnífica reitora, magnífico reitor. É mais bonito do que Excelência… é mais chique, é mais culto...sei lá. Eu estou alegre de estar com vocês porque nós temos outra vez a chance de mexer com a educação. Nós temos a chance de mexer com a única coisa que pode salvar esse país, com a única coisa que pode fazer esse país deixar de ser um eterno país em desenvolvimento, para se transformar num país desenvolvido. E para que isso aconteça, meu caro Camilo, minha cara é companheira, ministra da Ciência e Tecnologia, eu queria dizer para vocês que nós precisamos acreditar, que nós temos que investir mais em Universidade, mais em escola profissional e mais no ensino fundamental. Mas nós precisamos também orientar, sabe, quais os cursos que seriam mais importantes para o país e o que o país mais precisa. A gente não pode só formar advogado quando a gente precisa de médico. A gente não pode só formar médico quando a gente precisa de enfermeiro. A gente não pode formar enfermeiro, quando a gente precisa de anestesista e assim sucessivamente. Nós temos uma série de áreas em que nós não temos gente. Eu lembro que quando nós começamos a fazer a ferrovia Transnordestina, a gente não encontrava mais no Brasil o engenheiro ferroviário. Eu lembro que quando a gente começou a recuperar a indústria naval, a gente não tinha mais ninguém na Engenharia Naval, porque tudo tinha sido dizimado, e a gente não estava fazendo curso para formar essa gente. Então é preciso que a gente tente aprimorar para combinar a necessidade e o desejo da pessoa estudar, com a necessidade que o país e a sociedade têm das pessoas que nós precisamos qualificar, e para quê que nós queremos qualificar.
Eu não tenho nada contra, mas o Brasil não pode ser o país do mundo que tenha mais Universidade para formar advogado. Nós precisamos formar outras pessoas, nós precisamos investir mais em engenharia, nós precisamos investir mais em médicos. Se você for falar para a Escola de Medicina lá em São Paulo, eles são contra formar médicos, porque dizem já ter médicos demais. É verdade, pode ter demais na Avenida Atlântica, na Avenida Paulista, na Avenida Boa Viagem, mas na maioria das cidades desse país a gente tem carência de médico. A gente muitas vezes tem lugar no Brasil que o médico passa uma vez a cada 3 ou 4 meses, quando passa. E é preciso que a gente adote uma política de saber que a pessoa que mora distante, nós temos que levar os benefícios para ela, porque senão ela vai vir para cidade vai ser mais uma pessoa pobre, inchando e inflando a pobreza nas grandes metrópoles brasileiras. Que custa muito mais caro do que levar o benefício até ela. Então nesse país nós precisamos voltar a reconstruir. Eu quero que vocês saibam que a única razão pela qual eu voltei à Presidência da República é porque eu acredito que a gente pode fazer isso.
Vocês sabem que eu sou um cara sou casado de novo, faz só 6 meses que eu casei, foi em maio que eu casei, sete meses. Eu, sinceramente, se tivesse juízo eu não estaria aqui, não estaria aqui, mas eu estou aqui porque eu tenho um compromisso com esse país, eu tenho um compromisso com o povo brasileiro. A gente precisa provar ao mundo inteiro que esse país não nasceu para ser um eterno país em desenvolvimento, ele precisa ser um país desenvolvido. Nós chegamos a elevar esse país a sexta economia em 2008, e esse país voltou a ser a décima terceira economia agora. Nós éramos motivo de orgulho e por isso eu sou brasileiro que mais ganhei título de Doutor Honoris Causa pelo que nós fizemos na educação no período em que eu fui Presidente da República. E isso precisa voltar a acontecer.
Não adianta me dizer que o FIES estava custando R$ 5 bilhões, já tinha uma dívida de 5 bilhões, não tem problema porque no FIES, eu não sei se vocês se lembram, os estudantes não pagavam durante todo o período que estavam estudando, depois que ele parava de estudar um outro período do mesmo período que ele estudava ele também fica sem pagar, ele passava a pagar depois. Ah mas vai dar o cano, não vai pagar... Isso é muito pouco, a gente achar que não vai pagar. Ele não teve nem chance de provar que vai pagar não, ele nem arrumou emprego. Mas esse o país tem tanta tolerância com ricos que devem nesse país, porque a gente não tem a compreensão de que um jovem que se formou pode pagar sua dívida? O Brasil tem quase R$ 2 trilhões de dívidas que as pessoas não pagam, de pessoas que não pagam imposto de renda, e vocês sabem que quem sonega não é trabalhador, porque o dele é descontado no holerite. O Brasil tem milhões de pessoas que dão cano na Previdência Social, que não paga os impostos, e essa gente deve quase R$ 2 trilhões e eu vou me incomodar com a dívida do estudante, que toma emprestado R$ 10 mil, R$ 12 mil para estudar para se formar. Eu tenho certeza que na hora que esse jovem arrumar um emprego ele vai cumprir com compromisso dele e de pagar sua dívida. Fazer isso não é só ter fé. É ter crença e dar credibilidade à juventude desse país. A gente não pode achar que todo mundo é culpado, a gente tem que provar que todo mundo é inocente até que provem o contrário, que todo mundo é bom pagador até ele não pagar.
Agora, vocês sabem porque vocês são todos magníficos reitores e reitoras e que há uma explicação para os números que disse o companheiro Camilo, para os números que disse o companheiro reitor sobre a fragilidade da quantidade de jovens nossos que estão na universidade. Todos nós sabemos por que que o Brasil foi o último país a fazer a independência, o último a abolir a escravidão, último ter voto de mulher, último a ter voto de adolescente, último a ter voto de analfabeto e o último a ter Universidade Federal. Vocês estão lembrados, eu digo isso sempre para ninguém esquecer, a primeira Universidade no Peru, nasceu em 1554. A nossa foi em 1920. E não foi porque se queria criar a Universidade para o povo estudar, era porque o rei da Bélgica vinha para cá e ele precisava receber um título de Doutor Honoris Causa e precisava de uma Universidade. Então juntou-se várias faculdades que a gente tinha e se criou a Universidade Brasil. A elite brasileira nunca se importou com a educação do povo. Afinal de contas esse povo era negro, esse povo era índio, essa gente não precisava estudar, segunda lógica da elite daquele tempo . Eles tinham que trabalhar. Só estudava aqueles que podiam ir para Paris, aqueles que podia ir para longe daquele que podia para Coimbra, aquele que podia para Madrid, para Barcelona, para os Estados Unidos, ou seja, a maioria do povo nascia só para trabalhar.
Esse país nunca será grande se a gente não virar essa página da história e fazer o que nós conseguimos provar, que uma filha de uma faxineira pode ser médica, que um filho de um pedreiro pode ser engenheiro, que um trabalhador de cemitério pode ser diplomata. As pessoas pobres precisam de uma chance, e o governo o que ele tem que fazer é apenas criar as oportunidades. Abre a porta e deixa esse povo entrar pra gente ver como é que a gente vai ter um país altamente melhor do que a gente tem hoje. Porque não é possível que a gente não tenha sabe indignação com isso, o Brasil é o país da desigualdade, é da desigualdade no salário, é desigualdade no trabalho, é desigualdade de raça, desigualdade de gênero, entre mulher e homem, é desigualdade na educação, na Universidade, é tudo desigual. Uns podem tudo e uma grande maioria não pode nada. Uns conseguem juntar bilhões e os outros não conseguem tostões. É esse país que nós temos que mudar.
Qual é a explicação do nosso país que é o terceiro produtor de alimento do mundo e o maior produtor de proteína animal do planeta, ter 33 milhões de pessoas com fome? Ter 105 milhões de pessoas com algum problema de desnutrição e a gente ter pessoas na fila do açougue pegando osso? Qual é a explicação? Da mesma forma que eu dizia que a seca era um fenômeno da natureza, mas a fome causada pela seca era falta de vergonha de quem governava esse país. A mesma coisa eu digo agora. A fome neste país não é um fenômeno da natureza, porque o Brasil produz alimento suficiente para o seu povo. O que falta na verdade é dinheiro para as pessoas poderem comprar, o que falta na verdade é a gente qualificar melhor a nossa pequena e média propriedade para aquela porta produzir mais e cada vez com mais qualidade.
Não sei se vocês sabem, a nossa querida e heroica EMBRAPA, só tem dois por cento de investimento, o resto é tudo custeio. Então, você deixou de investir naquilo que é sagrado, que é pesquisa, você deixou de qualificar porque o resultado do sucesso da nossa agricultura a gente deve a Embrapa. A EMBRAPA também tem que ter um salto de qualidade, por isso ela precisa ter dinheiro, e dinheiro para investimento. E nós precisamos aprender uma lógica, eu estou dizendo isso todo dia, talvez alguns companheiros meus ligados à economia não gostem, mas eu digo todo dia. Você não pode falar em educação que as pessoas falam que é gasto, você não pode falar em saúde que é gasto, você não pode falar em urbanização de favela que é gasto, você não pode falar em construir casa que é gasto. A única coisa que não é tida como gasto por essa gente de mercado, é o pagamento de juros da dívida. Eles acham que isso é investimento. Qual é a explicação da gente ter juros de 13,5% hoje? Qual é a explicação? O Banco Central é independente? A gente poderia não ter nem juros; não é verdade, por quê? Se a inflação está 6,5 %, 7,5 %. Por que que os juros está 13,5%? Qual é a lógica? Qual é a lógica da desconfiança que o mercado tem de tudo que a gente fala de investimento?
Eu não vejo essa gente falar uma vez em dívida social. Nós temos uma dívida social de 500 anos com esse povo. É uma dívida milenar quase que nós temos com esse povo. As pessoas nascem pobres, as pessoas ficam adultas pobres, seus filhos nascem pobres, morrem pobres e a gente não tem uma voz de alento para essas pessoas. Quem tem que estender a mão para essa pessoa é o Estado. Nós vimos o papel do Estado quando quebrou Lehman Brothers nos Estados Unidos em 2008, quem salvou o sistema brasileiro, o sistema financeiro? O Estado. Quando é que os bancos quebraram quem salvou o estado como PROER. Agora que veio a pandemia, quem cuidou? O Estado. Então é preciso que a gente não aceite a negação do Estado. O Estado é importante porque o Estado pode ser o regulador da justiça social nesse país. O que é preciso é a gente distribuir os recursos da forma mais correta para quem mais precisa, o que precisa a gente tem uma reforma agrária para quem ganha mais pague mais, e para quem ganha menos pague menos. Não é possível que uma pessoa que ganha 5 mil reais, pague proporcionalmente mais do que um cara que ganha 100 mil reais. É uma política tributária ao inverso e nós vamos precisar da ajuda de vocês, porque para aprovar isso no Congresso Nacional. E a gente vai ter que contar com pessoas que a gente não gosta, com pessoas que não gosta de nós, de pessoas que são ideologicamente diferentes, mas a gente tem que conversar.
Ontem em uma entrevista que eu dei para Natuza na Globo News, e ela perguntou quem era a minha base? A minha base são 513 deputados e 81 senadores, porque eles não tomaram posse ainda. Quando eles tomarem posse nós vamos ter que saber quem vai voltar ou quem não vai votar, porque não vai ter projeto de interesse do Lula, não vai ter projeto de interesse do Rui, da Luciana, do Camilo, do Márcio, não. Os projetos são de interesse do povo brasileiro e nós queremos conversar com todo mundo para votar favorável. E nós vamos precisar que as Universidades brasileiras discutam isso também. Hoje, nesse mundo do trabalho, esse mundo quase que invisível, só para você ter ideia nos anos 80 eu trabalhava na Volkswagen, tinha 44 mil trabalhadores, hoje tem 7 mil trabalhadores, e produzia o dobro de carros do que é produzia antes. Então a tecnologia é um benefício extraordinário para o país, para a produção, mas ainda esse benefício não chegou ao povo pobre, porque ele perde o seu emprego e ele não tem formação, ele vai morar onde? Onde ele pode morar na beira de córregos e na beira de encostas. Então, a gente vai ter que discutir esse novo mundo do trabalho, esse novo mundo do trabalho, as Universidades têm que participar junto com o empresário, junto com o sindicato, junto com o governo, para a gente desvendar o que que a gente vai fazer para colocar essa gente no mercado de trabalho. Porque do jeito que as coisas vão, a gente vai ter uma parte da sociedade não qualificada que não tem o que fazer e é o Estado que tem que cuidar dela. E a gente não vai criar os empregos senão vocês não participarem.
O que é essa economia criativa? O que que é essa economia sabe do terceiro setor? Como é que a gente vai tratar esse pessoal que trabalha de Uber, trabalha de motocicleta entregando comida e que pensa que são pequenos empreendedores? Como é que a gente vai fazer essa pessoa reconquistar os direitos? Então, eu queria pedir para vocês que as Universidades que a gente deseja nesse país, ela não esteja preocupada apenas com os problemas da sala de aula. É importante que ela se preocupe com os problemas que estão acontecendo também fora da porta da Universidade, na rua que a gente mora, na cidade que a gente mora. É esse novo educar que nós precisamos no Brasil. Então as Universidades precisam se importar com tudo também.
E eu acho, por exemplo, a questão ambiental há 20 anos atrás, a questão era uma coisa de uma elite muito sofisticada. Hoje não. Hoje é a questão do clima é uma necessidade de sobrevivência da humanidade. Isso está no currículo escolar das nossas universidades? Está no currículo das nossas crianças na escola? Não está. Como não está a questão do racismo. E se a gente não colocar isso para ser matéria de debate nas escolas, a gente não forma. A gente não forma a pessoa com lei proibitiva. A gente forma uma pessoa com educação, se a pessoa aprender na idade certa o que é a questão climática e o que é necessidade de não poluir o planeta, a gente está salvo. Mas, se a gente achar que a gente vai resolver o problema do mundo proibindo, vamos ser francos, nem nas nossas casas tem coleta seletiva de lixo, são poucos os que tem porque a gente ainda não se deu conta de que o mundo mudou.
O mundo mudou na Universidade, o mundo mudou no mundo do trabalho, o mundo mudou na nossa vivência em sociedade. Então eu quero companheiros, dizer para vocês: eu tenho orgulho de ter sido presidente que mais visitou a Universidade, que mais visitou escolas técnicas. Nós tivemos um tempo que nenhum presidente tinha coragem de ir na Universidade e nenhum ministro da Educação tinha coragem de ir na Universidade. Eu lembro da primeira vez que o companheiro Cristóvão foi na Universidade Federal de Goiás, que os estudantes deitaram na porta e não deixaram ele entrar. Pois eu nunca tive, Camilo, nenhuma dificuldade em nenhuma Universidade desse planeta, e você não vai ter. Você só vai ter se você tiver medo de conversar com os estudantes e a gente tem que ter força para encarar todos os problemas.
Não é todo mundo que queria o PROUNI viu, tinha muita gente que não queria o PROUNI, diziam que a gente estava privatizando a educação. Era o governo e os companheiros da União Nacional dos Estudantes que íam para briga. E conseguimos provar! Tinha muita gente que não queria o FIES, que é que a gente estava privatizando a educação, mas o FIES colocou quase 2 (dois) milhões de jovens que não podiam estudar para estudar, porque é verdade que não fomos nós que criamos o FIES, o FIES já existia. Mas acontece que a Caixa Econômica não liberava dinheiro porque o jovem estudante ia lá pedir dinheiro, ele pedia um avalista, pedia um fiador e nem o pai tinha coragem de ser fiador do filho quando tá na idade de estudar. Ele não trabalha ele não tem salário, porque que o pai vai ter fiador para depois tem que pagar. Quem é que tem que ser pai? É o Estado. E aqui foi uma briga quando nós decidimos aqui quem vai financiar o FIES é o Estado brasileiro, a gente vai dar um voto de confiança a nossa juventude e nós colocamos em pouco tempo mais de 5 milhões de jovens na Universidade.
Eu quero que você saiba que a nossa disposição é voltar a fazer isso. Não apenas aumentar a quantidade, mas aumentar a qualidade. Nós vamos melhorar tudo que nós fizemos. Nós temos que fazer melhor e, se possível, fazer mais. Eu quero que vocês saibam que é autonomia universitária será garantida nesse mandato nosso inteiro. Vocês vão ter o direito de ser responsáveis, porque quem é eleito para reitor, também é gostoso ser eleito, mas também deve ser gostoso ter responsabilidade com o dinheiro da Universidade, com a administração da Universidade, e com o zelo pela Universidade. Portanto, e não pensem que o Lula vai escolher o reitor que ele gosta. Quem tem que gostar do reitor são os professores da Universidade, são os funcionários da universidade, é a comunidade Universitária que tem que saber quem é que pode administrar bem por ele. Isso eu posso garantir para vocês, vocês vão ter.
E posso garantir para vocês nós vamos fazer reunião anual, todo ano a gente vai ter uma reunião para vocês se queixarem, para vocês cobrarem, para você dizer que está faltando alguma coisa, para o ministro explicar, para eu explicar, e a gente pode continuar divergindo, mas de forma civilizada. Porque a democracia é isso, a democracia é a gente conviver na diversidade da forma mais democrática possível.
Então, companheiros e companheiras, eu estou de volta para junto com vocês a gente fazer muito mais por esse país, e eu não farei sozinho, vocês é aqui farão, porque vocês é que tem que ajudar. E você sabe que nós embora derrotamos o Bolsonaro, nós temos que derrotar o ódio, nós temos que derrotar a mentira, temos que derrotar a fake news, nós temos que derrotar os fanáticos, porque essa sociedade ela tem que voltar a ser civilizada, ela tem que voltar a sorrir, ela ter que voltar a gostar de música, ela tem que voltar a gostar de samba, ela tem que voltar a gostar de carnaval, ela tem que voltar a gostar de futebol, ela tem de voltar a gostar da gente ser humanista. A gente ser mais fraterno, mais solidário e a gente gostar mais um dos outros, afinal de contas, nós estamos no mesmo barco. Que Deus abençoe vocês. Muito obrigado e até o próximo encontro se Deus quiser.