Pronunciamento do presidente da República durante o encerramento da Marcha das Margaridas
Como hoje é o dia das margaridas, eu vou compartilhar meu discurso com a minha margarida.
Eu quero começar a minha fala pedindo desculpas a vocês por deixarem vocês tanto tempo no sol. Ontem, eu fui na posse do presidente do Paraguai e tive a sorte de ser premiado com a cadeira que ficou no sol. Eu fiquei uma hora e meia tomando sol no rosto, por isso eu tô com dó de vocês que estão desde a madrugada andando aqui em Brasília.
Mas isto vai me permitir começar a minha fala dizendo a vocês: os poderosos, os fascistas, os golpistas, podem matar uma, duas ou três margaridas, mas jamais, jamais evitarão a chegada da primavera.
E a vinda de vocês aqui hoje demonstra que só pensa em dar golpe, nos dias de hoje, quem não conhece a capacidade de luta dos homens e das mulheres desse país.
Eu, outra desculpa que eu quero pedir. É que eu tenho um telefonema internacional; e queria explicar pra vocês que quando a gente marca um telefonema com outro presidente de outro país, tem que ser horário marcado. E eu tenho que ler aqui, sair rapidinho, mas eu quero que você saiba que eu levarei comigo a emoção das lágrimas da Mazé aqui, porque eu tenho certeza que ela sentiu aquilo que muitas de vocês estão sentindo.
É uma alegria enorme estar aqui mais uma vez. A felicidade é ainda maior por poder assinar na frente de todas vocês esses atos que convergem para a autonomia econômica e inclusão produtiva das mulheres rurais.
A retomada da reforma agrária, com atenção especial às famílias chefiadas por mulheres. Os quintais produtivos para segurança alimentar e nutricional. O estímulo maior à Agroecologia, para produção de comida de verdade, saudável, sem agressão ao meio ambiente. O acesso à terra, à titulação, ao crédito, aos equipamentos e a todo apoio necessário para plantar, produzir cada vez mais.
Prioridades definidas por vocês.
Demandas que temos o prazer de atender para que as mulheres do campo, das florestas e das águas possam viver com dignidade, tendo assegurados seus direitos civis, políticos e sociais.
Queridas companheiras,
O Brasil voltou. Voltou para dar atenção à mulher do campo e cuidar das brasileiras e dos brasileiros que mais precisam. O Brasil voltou com ajuda das mãos de cada uma de vocês!
Quando vocês andavam sob o sol dessa Esplanada, em 2019, na última marcha, eu estava preso em Curitiba, vítima de uma perseguição dos que querem impedir o Brasil a mudar. Eu estava distante, mas ouvi o grito de vocês por justiça, ouvi quando repetiram tantas vezes o clamor de Lula Livre.
Aqui em Brasília, o companheiro Fernando Haddad [ministro da Fazenda] leu minha resposta a uma carta de vocês. Nela, eu reafirmava, e reafirmo novamente agora, nosso compromisso de construir um país mais justo, um país melhor. Um país mais carinhoso com as mulheres e mais generoso com os mais pobres.
Um país em que nenhuma mãe, do campo ou das cidades, passe pelo sofrimento de não ter o que dar de comer aos seus filhos. Um copo d’água.
Um país em que todas e todos possam tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias. Um país em que as crianças e jovens tenham oportunidade de estudar. Um país com emprego, melhores salários e oportunidades iguais. Um país sem violência doméstica, com menos armas e muito mais livros. Um país construído em conjunto, ouvindo os diferentes setores da sociedade.
Um país feito pelas mãos das mulheres como vocês, margaridas, que se organizam e luta pelo sonho de um amanhã melhor. Mulheres que saíram de tantos cantos do Brasil e do mundo, que viajaram quilômetros e longas horas para somar sua voz a esse grito de esperança. Mulheres do Cerrado, mulheres da Caatinga, mulheres da Amazônia, mulheres da Mata Atlântica, mulheres dos Pampas e mulheres do Pantanal.
Mulheres dos quilombos e das terras indígenas. Mulheres que plantam o alimento e semeiam o amor. Mulheres de tantas lutas e histórias.
Muito obrigado por estarem aqui mais uma vez. Vocês são parte fundamental desse Brasil que volta à democracia, à justiça social e à busca do bem viver.
Queridas Margaridas,
É preciso criar uma cultura de respeito no campo e nas cidades. Não tolelaremos mais discriminação, misoginia e violência de gênero. Não podemos conviver com tantas mulheres sendo agredidas e mortas diariamente dentro de suas casas. Como também não é possível achar normal que, exercendo a mesma função, uma mulher ganhe menos que um homem. A mulher não é e não pode ser tratada como cidadã de segunda categoria. Vocês são protagonistas da história e podem fazer escolhas.
Companheiras,
É esse país que nós queremos construir. É esse o país que estamos construindo com vocês, e que dialoga com as reivindicações que vocês nos entregaram.
Trabalhamos para o fim da violência, do racismo e do sexismo. Pela proteção da natureza e da justiça e justiça ambiental e climática. Pela segurança alimentar e nutricional. Pela qualidade da saúde e da educação pública. Pelo acesso à terra e crédito para produção. Pela universalização da internet e inclusão digital. Pela autonomia da mulher no campo e oportunidades para seus filhos.
Nossas pautas são convergentes. Nossos sonhos são os mesmos. Foi para isso que eu voltei. Para fazer do Brasil um país capaz de corrigir as injustiças. Um Brasil sustentável, que vive em harmonia com a natureza, sem necessidade de destruir nossas florestas.
Que bom estar de mãos dadas com tantas margaridas na reconstrução do Brasil. O Brasil voltou para retomar a rota de crescimento, gerar emprego, mudar a vida dos mais pobres.
Era o que fazíamos até o golpe contra a presidenta Dilma. A gente sonhava e construía juntos um Brasil melhor para todos e todas, com um olhar especial para as pessoas que mais precisam.
Naquela época, nenhum de nós poderia imaginar pelo que passaríamos menos de uma década depois. Ninguém podia imaginar que o Brasil pudesse retroceder tanto, sair do trilho da inclusão, destruir políticas voltadas para os mais pobres e entrar de novo no Mapa da Fome.
Nenhum de nós poderia imaginar que o Estado poderia fechar totalmente os olhos para as demandas dos que mais precisam. Ou pior: que voltaria a usar toda a sua força para perseguir nosso projeto de um país inclusivo e com justiça social.
Foi o mesmo tipo de perseguição que há 40 anos tirou a nossa querida Margarida Alves, essa nordestina à frente do seu tempo. Essa mulher que foi morta a tiros, na porta da sua casa, por defender o básico que todo trabalhador e toda trabalhadora deveriam ter: carteira assinada, férias, 13º salário e jornada de trabalho de oito horas diária. Margarida é símbolo dessa marcha e de muitas lutas. Inspiração para tantas outras mulheres.
Mulheres que seguem resistindo e lutando por um mundo melhor, sendo ainda vítimas de tanta violência. Mulheres iguais a vocês que estão aqui hoje, novamente, nesta sétima Marcha das Margaridas.
Queridas companheiras margaridas.
Os primeiros sete meses deste novo mandato que vocês me deram foram dedicados à retomada e ao fortalecimento de políticas públicas destruídas nos últimos anos.
O Plano de Aquisição de Alimentos, o nosso querido PAA, voltou mais amplo, priorizando as mulheres. O Plano Safra da Agricultura Familiar deste ano será o maior da história. Vai fortalecer a agricultura familiar, aumentar a produtividade no campo, levar alimento mais saudável para as famílias brasileiras e gerar mais renda para melhorar a vida da mulher do campo.
Tenho também, temos também linhas de crédito exclusivas, com juros melhores, no Pronaf Mulher. Mulheres quilombolas e assentadas da reforma agrária terão condições facilitadas. Outros programas importantes foram recuperados e também beneficiam as mulheres do campo, das florestas e das águas.
O Bolsa Família voltou melhor e maior. O Minha Casa, Minha Vida; o Luz para Todos; o Mais Médicos; a Farmácia Popular, e a construção de cisternas também voltaram.
Nenhuma mãe precisará ver o filho se esforçando para estudar à noite sob a luz de um candeeiro. Porque terá luz na casa de todas. Nenhuma mãe precisará ver o filho com fome ou morrendo por falta de remédios ou medicamento. O salário mínimo teve aumento real, o repasse para a merenda escolar também teve. Fazia seis anos que não se reajustava a merenda escolar.
O resultado dessas ações já são visíveis. O preço dos alimentos está caindo, o desemprego também cai. O Brasil já está melhor e vai melhorar ainda mais. A economia vai continuar crescendo e nós vamos dividir o resultado desse crescimento com o povo brasileiro. Só faz sentido um país crescer se a riqueza desse crescimento for distribuída, chegar às mãos de vocês, fazer a roda da economia girar e melhorar a vida das pessoas.
Foi isso o que fizemos uma vez. É isso que vamos novamente fazer. Foi muito bom estar com vocês mais uma vez. Voltem bem para casa e não desistam nunca de lutar.
Um querido abraço e um beijo no coração de cada mulher! Pega água pra mim, amor.
Companheiras, companheiras, eu queria terminar dizendo uma coisa pra vocês que é muito importante: é importante que a imprensa registre e fotografe vocês.
Porque a única razão pela qual eu voltei a ser presidente da República deste país, tirando aquele fascista, aquele genocida do poder, foi para provar a este país e para provar ao mundo que este país tem condição de tratar o seu povo com respeito. Que esse país tem condição de melhorar a vida de vocês. Que esse país pode cuidar da saúde das nossas crianças, da saúde do nosso trabalhador, da saúde da nossa mulher. Eles têm que saber que filho da agricultora vai entrar na universidade e vai virar doutor. Eles têm que saber que nós não queremos apenas andar de jegue – se bem que, às vezes, andamos no nosso jeguinho –, a gente quer ter carro, a gente quer ter moto, a gente quer ter o que a gente precisar. Eles têm que saber que nós queremos melhorar de vida.
Chega de 500 anos de exploração em que a gente melhora um ano, eles botam a desgraça na nossa vida outra vez. Eu quero que vocês saibam, companheiro Aristides [Santos], presidente da Contag [Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares]; e querida Mazé [Mazé Morais, secretária de Mulheres da Contag] – que me fez chorar enquanto falava –, eu li o meu discurso para não chorar falando. Eu queria dizer para você, Mazé: Deus queira, Deus queira que o nosso país possa, numa homenagem à companheira Margarida, que foi hoje transformada em herói nacional, eu quero que a gente saiba do seguinte, Mazé: este governo nunca faltará com vocês.
Vocês, eu quero que vocês saibam que vocês não têm nesse governo um presidente da República, eu quero que vocês saibam que vocês têm na presidência um companheiro de vocês, que jamais se negará a conversar com vocês. Eu quero que vocês saibam que todos estes ministros e ministras que estão aqui só têm sentido estar no governo para atender o povo brasileiro que mais necessita, o povo brasileiro que mais precisa do Estado. Por isso, queridas companheiras, eu quero me despedir de vocês, que eu tenho que sair correndo. Dizer pra vocês: não tenham medo de reivindicar. Não tenham medo de reivindicar. Pode reivindicar, porque nós estamos aqui para atender. E, se tiver dificuldade, a gente vai conversar com vocês com a mesma honestidade que vocês conversam conosco.
Por isso, eu quero que vocês carreguem na viagem de volta um beijo no coração do companheiro Lula. Um beijo na testa de cada mulher. E, quando chegar em casa, quem for casada, para o marido não ficar com ciúme, dê um abraço nele e fale que foi o Lula que mandou um abraço pra ele; e que eu tô beijando o coração deles também. Porque nós, companheiros do governo e nós que fazemos parte dessa extraordinária Marcha da Margarida, nós não queremos ódio, nós queremos amor. Nós não queremos fome, nós queremos comer. Nós não queremos auxílio, nós queremos trabalhar. E é isso que nós vamos garantir pra vocês.
Um abraço queridas companheiras, muito obrigado e até o próximo encontro nosso.