Discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cerimônia de posse da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Queridas companheiras e queridos companheiros,
Eu quero começar cumprimentando a minha querida companheira Janja.
Cumprimentar o companheiro ministro dos Portos e Aeroportos, companheiro do PSB, Márcio França.
O companheiro Chico Macena, que está aqui representando o companheiro Marinho, que está numa viagem à Índia.
O companheiro Paulo Teixeira, que é o nosso ministro que cuida da pequena e média agricultura brasileira.
O companheiro Silvio Almeida, que é o companheiro que cuida dos direitos humanos no meu governo.
O companheiro Márcio Macêdo, que é o secretário-geral da Presidência, que cuida da relação com os movimentos sociais e populares.
A nossa querida presidenta Nacional do PT, a nossa deputada Gleisi Hoffmann.
A minha querida companheira Amanda Selerges, mulher do companheiro Moisés Selerges.
Eu estava aqui, não sei se estava. Mas era importante lembrar que aqui tinha bastante dirigente desse sindicato. Estava aqui o Meneguelli. Estava aqui o Vicentinho. Está aqui o Sérgio Nobre, que foi presidente desse sindicato. Não vi o Wagnão, eu não vi o Guiba, mas eu vi o Feijó, eu acho que eu vi o Feijó. O Feijó estava em Brasília também.
Está todo mundo trabalhando no governo. Todo mundo.
Nunca teve tanto sindicalista trabalhando no governo como agora.
Mas eu queria...
Hoje não é dia de fazer um discurso.
Hoje é dia de ter uma conversa com vocês.
Eu, Moisés, estou vendo aqui na minha frente o Topo Giggio. O Topo Giggio, quem não conhece, ele tem um restaurante ali no Bairro Assunção, na Avenida Cristiano Ângelo, lá na esquina que eu não sei com que outra rua.
Mas o companheiro Giggio era o companheiro da Karmann Ghia. Era um companheiro sócio do sindicato nos anos 1968, 1969, nos anos 1970. Toda vez que tinha uma festa, o Topo Giggio ia trabalhar no sindicato. Ganhava acho que dez mil réis, ganhava pouquinho, mas a verdade é que a gente bebia muito, né Giggio? Ganhava-se pouco, mas bebia bastante.
Ou seja, estou vendo algumas pessoas que conviveram comigo há muitos anos aqui. E eu fico com muito orgulho cada vez que venho a São Bernardo, e cada vez que eu tenho uma atividade no sindicato, Gleisi, porque, sem desmerecer nenhum sindicato, mas o sindicato dos metalúrgicos do ABC, junto com o Sindicato dos Bancários do ABC, junto com os metalúrgicos de outras cidades, são na verdade os sindicatos que simbolizam a luta nesse país histórica.
São os sindicatos que fizeram as primeiras greves, são os sindicatos que ajudaram a derrotar o regime militar, e são os sindicatos que ajudaram a criar um partido político e fazer a coisa impossível até então, que era fazer com que um metalúrgico, saindo daqui, conseguisse ser presidente da República.
Não é apenas o fato de ser presidente da República. É o fato de que nós criamos um partido, que, com apenas nove anos, nós já fomos o segundo colocado na primeira eleição para presidente. Depois nós fomos o segundo colocado na segunda eleição para presidente. Depois nós fomos o segundo colocado na terceira eleição para presidente.
Depois nós fomos o primeiro colocado na quarta, o primeiro colocado na quinta, o primeiro colocado na sexta, o primeiro colocado na sétima, o segundo na oitava e o primeiro colocado em 2022.
E eu estou dizendo isso porque o fato de a classe trabalhadora brasileira ter eleito um peão de chão de fábrica para presidente da República significa uma mudança muito grande na política brasileira.
Uma política extraordinária porque quem dirigiu esse país sempre foi gente da elite econômica. Ou era intelectual, ou representava banqueiro, ou representava empresário, mas trabalhador, trabalhador, trabalhador de verdade, nós somos a primeira experiência.
E o que me dá orgulho? É que na nossa primeira experiência nós temos a mais exitosa experiência de governança nesse país. No primeiro mandato nosso, nós tiramos 36 milhões de pessoas da extrema pobreza e elevamos 40 milhões de pessoas a um padrão de consumo de classe média-baixa.
Só na categoria metalúrgica, nós recriamos um milhão e duzentos mil postos de trabalho no Brasil inteiro. Mais importante: nós conseguimos provar que era possível aumentar o salário mínimo todo ano. E aumentamos o salário mínimo em 74%.
Mais importante: nós legalizamos a vida da empregada doméstica, que era tratada como escrava dentro das casas. E nós demos jornada de trabalho, direito a férias, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
E é importante lembrar que no tempo que o PT governava o Brasil, a gente gerou 22 milhões de empregos nesse país, enquanto a Europa desempregou 100 milhões de postos de trabalho.
E eu estou dizendo isso porque eu preciso explicar para vocês por que eu estou aqui de volta. Por que eu voltei a ser presidente da República desse país. Primeiro, porque nós precisamos recuperar o Brasil.
E eu quero aqui, na frente de vocês, prometer com palavras singelas aquilo que nós vamos fazer. Primeiro, nós temos que cuidar da geração de empregos, porque é o emprego que dá dignidade ao homem, à mulher, quando eles levam para casa o sustento das suas famílias às custas do seu suor e do seu sangue. Então nós vamos voltar a criar empregos nesse país.
A segunda coisa que nós vamos fazer é que nós vamos voltar a fazer com que a massa salarial nesse país cresça e o salário mínimo aumente todo ano acima da inflação, de acordo com o crescimento do PIB.
Terceira coisa que nós vamos fazer neste país: a gente vai fazer com que o povo possa voltar a comer a tal da picanha que tinha desaparecido.
Eu prometi, eu prometi, tem muita gente que não sabe o carinho que o povo tem com picanha. Mas uma picanhazinha, no final de semana, com a família reunida, os amigos reunidos e uma cervejinha gelada, é tudo o que a gente quer.
E vocês perceberam que a comida está baixando. Vocês perceberam que a carne está baixando. E vocês perceberam que a gente vai voltar a poder comprar mais, a consumir um pouco mais, porque é para isso que a gente nasce. A gente nasce não para sofrer, a gente nasce para viver bem.
A classe trabalhadora precisa dizer aos governantes desse país, só não precisa dizer para mim porque que eu sei. A classe trabalhadora quer viver bem, ela quer trabalhar bem, ela quer ganhar bem, ela quer morar bem, ela quer casar bem, ela quer criar sua família bem, quer que os seus filhos estejam em escolas de qualidade para eles poderem virarem doutor na vida. E mais ainda: a gente quer ter o direito de tirar umas férias e viajar de avião para onde a gente quiser.
É para isso que a gente trabalha. A gente trabalha não é só para os outros terem aquilo que a gente produz. A gente trabalha porque a gente tem que ter o direito de comprar aquilo que nós produzimos.
Se nós produzimos carro, nós queremos carro.
Se nós produzimos computador, nós queremos computador.
Se nós produzimos roupas, nós queremos roupas.
Ora, por que nós não temos esse direito? Por que a gente não tem o direito de hoje à noite, ou domingo, a gente poder sair com a mulher e os filhos, ou a mulher sair com os filhos e com o marido, e comer uma pizza? Por que não pode? Porque não tem dinheiro? Por que não tem dinheiro se a pessoa trabalha?
Então é preciso que a gente leve em conta que nós precisamos melhorar a vida das pessoas, e a vida das pessoas melhora com emprego e com salário, e salário de qualidade. É por isso que nós aprovamos uma lei e que daqui para frente a mulher que fizer o mesmo trabalho que o homem, ela tem que ganhar o mesmo salário do homem.
A mulher não quer ser mais tratada como se fosse cidadã de segunda categoria. A mulher não quer ser tratada como objeto de cama e mesa. A mulher tem que ser tratada como sujeito da história e ela está onde ela quiser e ela faz o que ela quiser e participa do que ela quiser. É esse mundo que nós queremos construir. E é por isso, companheiro Moisés, que eu voltei para ser presidente da República.
Primeiro, para convencer você a ser presidente do Sindicato.
Eu vou contar uma história.
Eu tive um câncer. E esse câncer me deixou com uma perna imobilizada.
Quando eu saí do hospital eu vim para São Bernardo, e eu fazia tratamento da minha perna na academia do São Bernardo Futebol Clube, aqui de São Bernardo do Campo. Eu fazia um tratamento lá.
Depois, o São Bernardo foi ter uma academia dentro do estádio da Vila Euclides, que era próprio da prefeitura. E o Marinho era prefeito. E o Marinho, então, pediu para mim que não era importante a gente continuar indo na prefeitura porque a imprensa ia explorar.
O companheiro Tarcísio, que vocês conhecem, que foi diretor desse sindicato, da Mercedes Benz, e hoje é diretor da TVT, grande companheiro nosso, cadê o Tarcísio, que eu não vi? Está lá o Tarcísio. Companheiro Tarcísio convenceu o companheiro Moisés que era preciso comprar uma esteira para garantir que o Lulinha voltasse a jogar bola. E eles compraram uma esteira, uma bicicleta, e eu passei a fazer ginástica junto com o Moisés.
Agora que vai entrar a história. Quando eu conheci o Moisés, o Moisés era todo faceiro. Todo faceiro. Ele se achava. Ah, porque eu vou me aposentar, porque eu vou para Piabetá, estou fazendo uma casinha lá em Piabetá, porque eu quero parar de trabalhar.
Eu falava: “Moisés, você não vai para Piabetá. Moisés, você vai ser presidente do sindicato”.
“Não, eu não vou ser, porque não quero ser, porque ‘eu não sei das quantas’. Já acertei com a Amanda. Tô fazendo a minha casinha. Eu vou embora para o Rio de Janeiro”.
Eu falava: “Moisés, você vai ser presidente do sindicato. Eu tenho certeza de que você vai ser. A história e o destino já estão traçados. Você vai virar presidente do sindicato”.
E aconteceu exatamente aquilo que o Orixá dele não falou para ele, mas falou para mim. O Orixá falou: “Lula, esse cara vai ser presidente do sindicato”. E ele virou presidente do sindicato. E o que é importante dizer para vocês. É que eu conheço todos os companheiros que foram presidentes do sindicato, depois de mim e antes de mim.
E posso garantir uma coisa para vocês: com todo o respeito a todos os companheiros que já foram presidentes do sindicato, o Moisés é e vai ser o mais importante sindicalista desse país nesses próximos anos.
Primeiro porque o Moisés gosta de uma coisa: o Moisés gosta de ser verdadeiro. E o Moisés não tem preguiça de levantar de manhã para ir à porta de fábrica. E o bom dirigente sindical não é bom dirigente sindical ficando com a bunda da cadeira na sua sala. Ele tem que estar na porta da fábrica conversando com trabalhadores e com trabalhadoras.
Seja cinco horas da manhã, quatro horas, 11 horas da noite. Era assim que a gente fazia. E é por isso que esse sindicato se transformou no grande sindicato brasileiro. E o Moisés gosta disso. Eu às vezes ligo para ele às seis horas manhã. Eu acordo para fazer ginástica e ligo para o Moisés. Ele fala: “Presidente, eu estou aqui na porta da fábrica, eu estou aqui na porta da Mercedes, estou aqui na porta da Volkswagen, estou aqui na porta de não sei das quantas”. Ele vai quase todos os dias na porta de fábrica, quase todo dia.
E Moisés: não perca essa intimidade com a porta de fábrica porque o sindicato você não faz daquele prédio, o sindicato você não faz aqui nessa festa. O sindicato você faz é exatamente na porta de fábrica ouvindo o que a peãozada tem para dizer para você. Ouvindo as reclamações.
E você, Moisés, só tem um defeito que você pode corrigir: é que o dia que você vestir uma camiseta do Corinthians, você vai perceber que é muito melhor do que ser são-paulino. É muito melhor.
Se quiser ganhar o povão, se quiser ganhar o povão, vai ter que ser corintiano. É apenas uma questão de escolha. É apenas. Eu não sei se você sabe, mas o Silvio Almeida, o Silvio Almeida foi filho de um grande goleiro do Corinthians chamado Barbosinha, nos anos 1960 e 1970. E você, Moisés, você pode colocar uma camisa do Corinthians. É mais leve, é mais suave, te da mais prazer. A Amanda vai gostar mais de você. Você vai ver. É apenas uma questão de tempo.
Olhe, mas, passado esse momento de euforia corintiana que não sai de mim, eu queria dizer para vocês o seguinte, gente: eu quero que vocês confiem. Eu tenho três anos e seis meses de mandato. E esses três anos e seis meses de mandato serão dedicados a melhorar a vida do povo brasileiro.
Eu quero cuidar de vocês como a mãe cuida do filho, como o pai cuida do filho. Eu sei o que passa a vida do trabalhador. Eu sei o que é ele não ter o dinheiro para pegar o ônibus para ir trabalhar e ir a pé. Eu fui muitas vezes a pé. Eu vim muitas vezes a pé do Ipiranga até São Caetano a pé porque não tinha dinheiro para o transporte. Eu sei o que é levantar de manhã e levar a marmita e não ter um ovo para colocar dentro da marmita, levar feijão e arroz puro. Eu sei o que é o sofrimento da peãozada. Eu sei o que é abrir uma marmita com dois pés de frango dentro de mistura ou às vezes dois pescoços de frango.
E eu quero melhorar a vida do povo porque a gente tem direito. O nosso filho tem direito.
Não tem nenhuma explicação você ter 735 milhões de seres humanos passando fome. Não tem nenhuma explicação que esse país tenha 33 milhões de pessoas passando fome. Um país que acaba de bater recorde na produção de grãos: mais de 300 mil toneladas de grãos. Esse país é o primeiro produtor de carne do mundo. Por que a gente tem de ver as pessoas na fila do osso?
Então eu quero que vocês saibam: o meu compromisso não é com os banqueiros. O meu compromisso não é com os empresários. Eles sabem que o meu compromisso é com o povo trabalhador desse país. E eles sabem que eu voltei para tentar melhorar a nossa vida.
Eu quero ter o orgulho de quando deixar a Presidência da República, poder andar na porta de fábrica. Poder andar na Marechal, poder andar na Paulista, em Santo André, em São Caetano, na rua, e poder cumprimentar as pessoas de cabeça erguida porque cumpri com a minha missão.
Agora, vocês têm que estar preparados. Porque nós derrotamos o Bolsonaro, mas não derrotamos os bolsonaristas ainda. Os malucos estão na rua. Ofendendo pessoas, xingando pessoas, e nós vamos dizer para eles que nós queremos fazer com que esse país volte a ser civilizado.
As pessoas não têm que se gostar, as pessoas têm apenas que se respeitar. Você não tem que escolher o seu vizinho. Você apenas tem que aprender a conviver com ele decentemente. Respeitando ele e ele respeitando você. Você não tem que gostar da pessoa que mora na frente da sua casa, nem ela de você. Vocês têm que se respeitar apenas. Isso é democracia.
Quando você entrar num restaurante, se tem lá uma pessoa que não gosta de você, ótimo. Ela não e é obrigada a gostar, mas ela não é obrigada a te xingar, não é obrigada a te ofender como aconteceu esses dias com o Alexandre de Moraes no Aeroporto de Roma, em que um canalha não só ofendeu ele, como bateu no filho dele. Não sei se você sabe, Moisés, esse cara era um empresário de uma empresa alemã. Eu entreguei o nome dele para o chanceler alemão. E esse cara foi expulso ontem pelo Kassab. Ele tinha sido candidato.
Então. Nós temos que dizer. Eu agora proibi a venda de pistola 9 milímetros, porque esse negócio de liberar armas é para favorecer o crime organizado a comprar armas. O que nós precisamos é baratear o preço do livro. É abrir biblioteca em cada conjunto habitacional. O que nós precisamos é fomentar as crianças a ter acesso a cultura, e não ter acesso a armas, a violência.
E o Moisés terminou o discurso dele dizendo o seguinte: o nosso amor venceu o ódio. E eu agora vou começar uma campanha, vou começar uma campanha, já falei com o Papa Francisco, já falei com o Conselho Mundial de Igrejas, eu vou começar uma campanha Mundial contra a desigualdade.
É necessário acabar com a desigualdade no mundo. Tem gente procurando espaço para morar na lua e tem gente que não tem espaço para morar aqui na Terra. E nós precisamos é cuidar do povo aqui. Esse é o nosso planeta, essa é a nossa casa. E por isso nós vamos cuidar dela.
Acabar com desigualdade racial, a desigualdade de gênero, a desigualdade de salário, a desigualdade de roupa, a desigualdade de educação, a desigualdade de saúde. Nós nascemos e temos o direito de viver a nossa vida dignamente e decentemente.
E é isso que eu quero garantir para vocês. Acreditem. Esse país vai voltar a ser o país do amor, da esperança, e não o país do ódio e da mentira.
Metalúrgicos, parabéns e obrigado por terem eleito o companheiro Moisés presidente do sindicato.
Olha, é o seguinte: agora vocês tratem de baixar o fogo. Ninguém vai embora agora, porque quando a gente parar de tagarelar, vai vir uma pessoa bonita, charmosa, chamada Maria Rita. Uma cantora extraordinária. Eu não vou nem dizer de quem ela é filha. Porque ela é filha de outra mulher charmosa e bonita que morreu, que foi a nossa querida e saudosa Elis Regina. Então, eu vou ficar aqui, vou assistir ao show, quero bater palma para cada música dela. E quando terminar o show, nós vamos para casa descansar porque também nós somos filhos de Deus. Um beijo no coração de cada um de vocês. Um beijo no coração de cada criança.
Um beijo, gente!