Discurso do presidente de República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao tomar posse na Presidência do Mercosul
Olha, primeiro que queria reiterar os agradecimentos ao trabalho extraordinário que a Argentina conduziu nesses últimos seis meses. Não sei se vocês se lembram, me parece que a última vez que eu presidi o Mercosul foi em 2010, exatamente no último ano que eu deixei a presidência, não sei se foi aqui, mas foi uma reunião aqui na tríplice fronteira, do lado brasileiro. Portanto, fazem 13 anos que eu fui presidente do Mercosul e reassumo agora.
Nós temos alguns compromissos que já não podem mais ser adiados. Eu quero chamar a atenção de vocês porque dirigir uma entidade que a gente quer valorizar, como a gente quer valorizar o Mercosul, pressupõe que sejam dirigentes aqueles que estão no cargo e aqueles que não estão no cargo. Nós precisamos concluir o acordo Mercosul e União Europeia. Já não há mais explicações porque tantos anos de espera na reunião Mercosul União Europeia.
Eu lembro, amanhã vou falar por telefone com o Pedro Sanchez, o nosso presidente do Conselho de Ministros na Espanha, que vai assumir a União Europeia. E eu vou falar com ele porque ele acha que nós precisamos discutir, ele acha que a Espanha seria importante fazer o acordo enquanto ele presidisse. E eu lembrei que o Zapatero, quando assumiu a presidência da União Europeia, também ele queria que a gente fizesse o acordo no momento em que tivesse um espanhol presidindo a União Europeia.
Eu vou conversar com o presidente Pedro Sánchez e vou tentar estabelecer com ele uma relação para ver se a gente consegue, nós temos no Brasil um material estudado, nós temos que enviar para todos os presidentes que compõem o Mercosul, para que a gente possa avaliar, quem sabe convocar uma reunião de ministros para poder definir o texto que nós queremos apresentar. Quem sabe não seja a Celac o momento de discutir o Mercosul, porque nós vamos roubar a cena da Celac, mas nós vamos ter que ter uma proposta e enviar a proposta para eles e chamá-los para discutir para ver se a gente consegue nesse semestre fazer o acordo definitivo entre União Europeia e Mercosul. E vamos tentar brigar para fazer outros acordos. Essa é a primeira coisa que eu quero me dedicar.
A segunda coisa é que nós vamos ter que fazer um esforço imenso para tentar diminuir a demanda entre nós. Uma demanda, se ela perdura muito tempo, ela acaba ficando uma coisa amarga, uma coisa, sabe, desagradável. As pessoas toda hora reclamam e vai ficando uma coisa muito desagradável. Então, eu também quero ver se me dedico para pegar as principais demandas, as principais divergências que nós temos, e tentar ver se a gente consegue alinhavar para a gente dar um salto de qualidade no funcionamento do Mercosul.
Eu sou daqueles que diz que não há nenhuma possibilidade de qualquer saída, nem para um país do tamanho do Brasil, se a gente não tiver junto. Ou seja, juntos nós formamos um bloco. Juntos nós somos mais gente. Juntos nós temos mais capilaridade, mais capacidade de negociar com quem quer que a gente queira. Eu acho que é muito, é muito, é muito difícil a gente imaginar que sozinho, “ah, a Argentina vai sair porque vai negociar”, não vai. É importante que a gente tenha clareza da importância da unidade. E nós tivemos avanços extraordinários. A gente reclama porque é normal que a gente reclame. É normal que a gente queira mais, é normal que a gente queira crescer. Mas se a gente pegar o que nós crescemos nesses últimos 20 anos na questão do Mercosul, é um crescimento extraordinário, excepcional, pelo número mostrado pelo companheiro Alberto Fernández. Ou seja, a gente pode fazer mais, a gente pode querer mais, mas a gente não pode negar que nós tivemos avanços extraordinários. E quanto mais a gente criar mecanismos, instituições democráticas do nosso meio, melhor para nós.
Eu quero me dedicar, companheiro presidente da Bolívia, para ver se o Brasil consegue aprovar o mais rápido possível a sua entrada definitiva. E com relação à questão da Venezuela, gente, todos os problemas que a gente tiver de democracia a gente não se esconde deles, a gente enfrenta eles. Eu não conheço pormenores do problema com a candidata na Venezuela. Não conheço pormenores. Pretendo conhecer. Eu estive com o Papa Francisco agora e assumi o compromisso de falar com o Daniel Ortega na próxima semana a respeito da disputa lá com os setores da igreja.
Naquilo que a gente puder contribuir, quem tiver relação, quem puder dar um palpite, quem puder conversar, nós temos que conversar. O que não pode é a gente isolar e a gente levar em conta que apenas os defeitos estão do lado. Os defeitos são múltiplos. Então nós precisamos conversar com todo mundo. Eu lembro que no melhor momento da relação da Venezuela, sabe, melhor momento da Venezuela com o Chavez, eu fui pessoalmente ao Obama, numa reunião em Trinidad e Tobago que a Argentina estava, que estava a Bolívia, e conversamos os presidentes todos da América do Sul e falamos pro Obama: “Obama, estabelece a relação com a Venezuela. Chama o Chavez para conversar, sabe, por ocasião do encontro das Nações Unidas”. O Chavez tinha entregado para ele o livro Veias Abertas da América Latina e ele ficou muito feliz e eu falei: “Bom, agora quem sabe se reestabeleceu a relação”. Não aconteceu nada. O Celso se lembra quantas vezes nós conversamos com o Bush. “Ô Bush, você é o maior. Você é país maior, mais rico, mais importante, toma a iniciativa”. Não toma.
Então, eu acho que entre nós aqui, nós temos que conversar com todas as pessoas e tentar não deixar ninguém para fora. Durante a minha campanha a gente criou um lema: “Ninguém, sabe, larga a mão de ninguém”. Ou seja, então a gente vai ter que estar junto para sair junto. Nós queremos trazer outros países para o Mercosul. Nós precisamos trazer as pessoas da América do Sul para o Mercosul e fazer um bloco de quase 450 milhões de pessoas. Com alguns trilhões de PIB. A gente vai ganhar força para negociar. Para negociar com a China, para negociar com a União Europeia, para negociar com os Estados Unidos, para negociar com outros países. Esse é o nosso papel.
E eu pretendo, eu disse ao Celso Amorim e ao ministro Mauro Vieira, eu pretendo montar uma equipe de excelência para que a gente possa pelo menos igualar ou superar a Argentina no semestre deles porque senão ninguém vai aguentar os portenhos falando da presidência brasileira.
Só prometo a vocês dedicação. Prometo a vocês dedicação, sinceridade, sabe, e que ninguém, ninguém que tem algum problema, deixe de falar. Às vezes é muito melhor as pessoas falarem, fazerem a crítica, cobrarem, do que ficarem quietas. Porque somente assim a gente vai avançar. Prometo a vocês lealdade ao Mercosul e prometo a vocês muita dedicação para que o Mercosul cresça mais do que já cresceu.
Muito obrigado e muito obrigado companheiro Alberto Fernández.