DISCURSO do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia de anúncio de reajustes e ampliação de bolsas
Eu pedi para me chamarem aqui só para dizer que eu não posso falar. Eu estou — não sei porque — mas minha voz ficou rouca hoje, e certamente não foi pelas atividades que nós fizemos ontem. Mas eu queria apenas dizer para vocês, que eu nunca pensei que um país pudesse retroceder em todas as áreas, da Economia à Educação; do Trabalho ao Investimento. Esse país sofreu um retrocesso que eu diria que nunca antes na história do Brasil tinha acontecido isso. Você tinha governo que não fazia coisas; o país não andava. Mas, nós tivemos um governo que destruiu parte daquilo que já estava construído, e que as coisas não aconteciam, apesar da quantidade de mentiras contadas todos os dias pelas redes sociais e pelos meios de comunicação.
Eu vou dar um exemplo para vocês. Ontem, eu fui à cidade de Maruim, dar início à reconstrução da ligação do Estado de Sergipe com a Bahia. E lá, eu fiquei sabendo que só no ano de 2023, o nosso governo vai investir mais em infraestrutura do que o "ex" investiu em quatro anos. Em quatro anos ele utilizou R$ 20 bilhões; e nós, em apenas um ano, vamos investir R$ 23 bilhões de reais. Nós temos 186 mil casas, quase acabadas, e que estão há quase dez anos paralisadas; algumas o "mato já tomou conta", noutras as pessoas já roubaram o "vitrô", roubaram janelas, roubaram as coisas, porque as casas estão abandonadas... com milhões de pessoas precisando de casa para morar.
Ontem nós fomos inaugurar, o primeiro conjunto habitacional na cidade de Santo Amaro; a famosa terra da família Veloso — Caetano e Betânia — e essas casas estavam abandonadas e o povo do lado de fora precisando de casa. E tem 186 mil casas abandonadas num país que tem um déficit habitacional muito grande; e nós vamos assumir um compromisso de fazer nesses quatro anos, mais 2 milhões de novas residências, sobretudo. Uma boa parte para as pessoas que ganham até 2 salários mínimos e também vamos tratar, companheiro Rui Costa, de atender a classe média. É preciso que a gente atenda a classe média, porque no fundo, no fundo, é a classe média que não é contemplada em quase nada das políticas públicas do Estado. Porque como ela ganha 8, 9, 10 mil reais, ou seja, não tem casa popular para eles, não querem morar numa casa de 40 metros quadrados. A gente não faz uma casa maior, então eles também não podem comprar, então ele fica órfão de pai, de mãe e de governo. Então nós precisamos pensar que, além de cuidar das pessoas mais pobres, nós temos que cuidar das pessoas da classe média, porque são eles que sustentam a economia desse país.
E é importante a gente saber que país a gente herdou. Um país que faz sete anos que não aumenta a merenda escolar! Sete anos que não se aumenta a merenda escolar deste país! Dez anos sem reajuste de bolsa para os estudantes brasileiros, para os pesquisadores brasileiros. Ou seja, um país que foi semidestruído na área da cultura, que foi semidestruído na área da educação, que foi semidestruído na área do emprego; porque trabalho intermitente, "bico" e "biscate" não é trabalho! Trabalho é aquele que o trabalhador, além de ter o seu salário, tem seguridade social para que, em momentos de incertezas, ele possa ter a garantia do Estado brasileiro.
Então, a coisa mais correta que nós fizemos foi bolar o lema: União e Reconstrução. Porque nós temos, companheiro Rui, companheiros ministros e ministras, em todas as coisas que a gente for falar, a gente tem que mostrar como é que a gente encontrou esse país.
A gente não pode esquecer porque a gente tem uma fábrica de mentiras que, neste momento, está com as portas mais ou menos fechadas, depois da "surra" que ele tomou nas eleições. Mas que vai voltar a mentira nesse país, porque esse outro governo não sabe trabalhar com a verdade. E nós então precisamos saber que nós, além de reconstruímos o que foi destruído, temos que fazer coisas novas. É importante vocês saberem, que a gente vai fortalecer outra vez a educação, a começar do Ensino Fundamental, a começar do Ensino Básico, da creche à Universidade. E é proibido nesse governo tratar como gasto o dinheiro que vai para educação, dinheiro que vai para a bolsa, dinheiro que vai para cuidar da saúde. Por que que a saúde é gasto e não investimento? Por que fazer uma pessoa ficar sã é gasto?
Eu tenho dito aos meus ministros: a gente precisa mudar as palavras. Tudo que a gente investe para que uma pessoa não fique doente, é investimento! Porque muitas vezes é tratado como se fosse gasto. Porque muitas vezes, a única coisa que não incomoda ninguém do lado do sistema financeiro, do lado dos ricos é o pagamento da taxa de juros. Isso é a única coisa que eles acham que é investimento. Pagar juros é investimento; dar comida para o povo é gasto. Dar educação é gasto. Dar investimento em pequena e média empresa é gasto. Investimento em cooperativas é gasto. Então que nós precisamos dizer é que nesse governo, tudo que a gente for fazer para atender as necessidades do povo brasileiro, vai se chamar investimento!
E as pessoas têm que saber, que investimento em educação é o melhor e o mais barato investimento que o Estado pode fazer. Porque esse país não quer a vida inteira ser exportador de minério de ferro ou exportador de commodities soja e milho; esse país quer ser exportador de conhecimento, quer ser exportador de alta tecnologia, quer ser exportador de inteligência e não apenas de minério de ferro, de soja e de milho. E para isso, nós temos que investir na educação, e para isso nós temos que investir em pesquisa; e é logico que investir em pesquisa, às vezes, você colhe um resultado negativo, mas é preciso pesquisar. Se a gente não pesquisasse, a gente não tinha encontrado o Pré-Sal. Que foi grande investimento em pesquisa, para que a gente pudesse dar esse salto de qualidade. E o que eles fizeram? A Petrobras que era tido para nós como passaporte do futuro, pra gente exportar derivados; a gente tá exportando óleo cru e a gente tem importando gasolina e óleo diesel de outro país, pagando em dólar, enquanto a nossa gasolina e o nosso petróleo, é extraído em reais.
Então, nós viemos para mudar as coisas. É importante vocês saberem que muita coisa, muita coisa vai mudar nesse país. É importante vocês saberem que as pessoas passarão a ser tratadas com decência, as pessoas passarão a ser tratadas com respeito. Mesmo que a gente não puder fazer alguma coisa no momento que vocês reivindicam, nós não temos que deixar de conversar com vocês, e explicar porque a gente não pode fazer. Porque nesse governo, se tem uma coisa que a gente não tem é medo de falar com o povo. É medo de discutir com o povo, para dizer sim; ou para dizer não; porque foi esse povo que nos colocou aqui. E nos colocou aqui para que a gente fizesse coisas diferentes do que estava sendo feito nesse país.
Eu quero terminar, Camilo, parabenizando você e a nossa querida ministra Luciana, pelos anúncios que vocês fizeram hoje. Eu acho que no mês que vem, nós vamos começar a viajar pelo Brasil, para tentar recuperar as escolas técnicas que não foram inauguradas, os Institutos Federais que não foram inaugurados, e fazer as coisas novas que precisam ser feitas; ou seja, porque eu disse na minha campanha que educação, saúde e emprego eram três coisas que nós deveríamos colocar como prioridade máxima nossa, porque sem essas três coisas, o país não vai para frente!
Por isso, parabéns a vocês, cientistas brasileiros que lutaram tanto para que esse momento acontecer. Parabéns aos estudantes, que brigaram tanto para esse momento acontecer e parabéns Luciana e Camilo, por vocês terem tido a competência, em tão curto prazo, já preparar o programa de reparação do estrago na educação que foi feito no governo anterior. Então parabéns a todos vocês e até o nosso próximo encontro, se Deus quiser!