Mensagem do presidente Lula pelos 90 anos de Dom Angélico
Hoje é dia de celebrar o amor. O amor aos pobres, aos trabalhadores, aos injustiçados e aos que têm fome. O amor ao próximo. Hoje é dia de celebrar os 90 anos de Dom Angélico.
Quando uma pessoa chega aos 90 anos espalhando a palavra de Jesus Cristo, ela é digna da nossa profunda admiração. Quando essa mesma pessoa, aos 90 anos, insiste em pregar o amor nesses tempos de tanto ódio, ela se torna merecedora de todas as homenagens do mundo.
Mas não existe homenagem maior para Dom Angélico do que estarmos vivos e fortes para celebrar a vitória da verdade sobre a mentira, da esperança sobre o desespero, e do amor sobre o ódio.
“Amai-vos, e não armai-vos”, disse dom Angélico, ecoando as palavras de Cristo, num dos momentos mais dolorosos da história recente do Brasil.
Não podíamos esperar dele outra atitude diante da violência política que se abateu sobre este país nos últimos anos. Com essa mesma coragem, Dom Angélico ousou enfrentar a ditadura, quando tantos brasileiros, inclusive religiosos, eram torturados, assassinados e desaparecidos.
Sua solidariedade e seu apoio foram fundamentais durante as greves dos metalúrgicos do ABC, nos anos 70 e 80. Foi quando tive a oportunidade de conhecer aquele bispo que encontrou nas palavras de Cristo uma razão para estar ao lado dos trabalhadores e das vítimas da ditadura.
A partir daí nos tornamos amigos. Dom Angélico casou meus filhos, batizou meus netos, celebrou meu casamento com a Janja. Ele também rezou a missa em memória da Marisa, diante do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, poucas horas antes que eu me entregasse à Polícia Federal para cumprir 580 dias de uma prisão injusta.
Naquela ocasião, ao lado de Dom Angélico, eu disse: “Podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera.”
A primavera chegou. E entre milhões de mãos que com tanto carinho cuidaram de replantar a democracia neste país, estavam as de alguém que, aos 90 anos, vive de semear o amor.
Parabéns, Dom Angélico.