A resposta aos ataques à democracia é melhorar a vida das pessoas
A Espanha foi um dos primeiros países que tive a honra de visitar no início do meu terceiro mandato, como etapa importante do retorno do Brasil ao mundo.
Neste 6 de março, será a vez do Brasil receber a visita do Presidente de Governo Pedro Sánchez.
» Link para a publicação no jornal espanhol El País
A Espanha é o segundo principal país de origem de investimento direto estrangeiro no Brasil. O estoque de investimentos é de cerca de 60 bilhões de dólares e o fluxo anual, de cerca de 3,3 bilhões de dólares nos últimos anos.
Mas não é com qualquer parceiro econômico que compartilhamos tantas afinidades culturais e políticas.
Centenas de milhares de espanhóis contribuíram para forjar a identidade nacional brasileira.
Temos em comum valores fundamentais, como a defesa da democracia e dos direitos humanos, a promoção de políticas de inclusão social, e o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com o enfrentamento da crise climática.
Isso é fundamental em um momento em que estamos passando por mudanças profundas na ordem internacional, que desafiam nosso senso de humanidade.
Em um mundo que gasta US$ 2,2 trilhões por ano em armamentos, a paz continua sendo privilégio de alguns, enquanto guerras provocam destruição, sofrimento e mortes de inocentes.
Em um mundo que produz riquezas da ordem de 105 trilhões de dólares por ano, mais de 735 milhões de pessoas seguem não tendo o que comer.
Nas últimas décadas, um modelo econômico excludente concentrou a renda e ampliou disparidades. A desigualdade tornou-se terreno fértil para o extremismo.
Quando a democracia falha em garantir o bem-estar do povo, prosperam figuras que vendem soluções simplistas para problemas complexos, semeando a desconfiança no processo eleitoral e nas instituições políticas.
Enfrentamos um preocupante aumento da extrema direita e de suas tradicionais ferramentas de desagregação social: o autoritarismo, a violência, a precarização do trabalho, o negacionismo climático, o discurso de ódio, a xenofobia, o racismo e a misoginia.
Nossas sociedades, felizmente, apostaram em governos que acreditam que a chave para responder aos ataques à democracia é melhorar a vida das pessoas.
O Brasil voltou a figurar entre as dez maiores economias do mundo. A economia brasileira cresceu 2,9% e o desemprego caiu para 7,6%, menor índice desde 2015 .
Ampliamos programas de transferência de renda e reinstituímos a política de valorização do trabalho e do salário mínimo. Aprovamos uma reforma tributária que finalmente corrigirá as distorções que vinham onerando mais quem tem menos. Buscamos na Espanha inspiração para projeto de lei, enviado nesta semana ao Parlamento brasileiro, para assegurar os direitos dos trabalhadores por aplicativos. Reduzimos o desmatamento na Amazônia em 50% e apoiamos o esforço espanhol no combate à desertificação.
Estamos fazendo nacionalmente o que acreditamos que precisa ser feito internacionalmente.
Na presidência brasileira do G20, lançaremos uma Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza, mobilizando recursos para a implementação políticas de eficácia testada e comprovada. Defenderemos a criação de um imposto global sobre bilionários. Proporemos iniciativas para garantir o trabalho decente. Promoveremos uma transição justa para uma economia de baixo carbono, de modo a garantir que a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia, resulte em soluções eficazes para o planeta.
Poucas vezes na história o apoio entre forças progressistas mundiais, como a parceria que temos com a Espanha, se fez tão necessário e urgente quanto agora.
É nossa responsabilidade trabalhar juntos para que a indiferença não prevaleça sobre o humanismo e para que as injustiças que se espalham dentro dos países e entre eles deem lugar à solidariedade e à cooperação.